Poemas : 

Alentejo

 
Tags:  árvores    silvado  
 
Vejo as árvores peroladas
pela chuva da manhã
e o céu caindo escuro
enfada a claustrofobia
que sinto por dentro da janela
Ouço a custo o baque do ar pesado
nas vidraças enjauladas
pela máscara asquerosa do vento
Renovo as lágrimas suspensas
que o bafo do dia arrota
no meu rosto
Cheguei à estação das chuvas
e o meu peito é prado
açoitado desde as ervas
às pedras sós.
Sinto o trote da primavera
cobrindo os caminhos
desabrochando cachos
de camélias e campainhas
Um odor ténue de terra húmida
encima clareiras e montes
Vejo um bando de estorninhos
quebrando a silhueta
no semblante dos horizontes
Um raio rasga duas nuvens
plúmbeas parecidas
e distantes
Enquanto a chuva cava
barrancos, fósseis e fossas
num gorgolejar
morrendo de ar rarefeito
e agonizante
Sinto a giesta e o silvado
na minha memória
de sobros que sobram
de velhos
na paisagem (ainda) fulgurante
Coloco no altar a surpresa
de um Alentejo áspero
mas de beleza constante
E rezo à delicadeza a oração
que defende cada pedra
cada pássaro
cada pedacinho de terra gigante!
Felisbela Baião

 
Autor
Felisbela Baião
 
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Enviado por Tópico
Alpha
Publicado: 04/09/2025 19:39  Atualizado: 04/09/2025 19:39
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Mensagens: 2246
 Re: Alentejo
Olá, Felisbela

Chove sobre o teu destino,
No peito há sol a brilhar
Terra dura, pão divino,
Sempre belo a germinar!

O Alentejo com sua rudeza e beleza surge como altar onde cada pedra e cada pássaro são dignos de oração. Em todos os dias do ano nos oferece imagens contemplativas. Verdadeiros hinos á natureza!

Abraço com o carinho de sempre