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Era véspera das eleições municipais de 92, ele apoiava um candidato malucão a vereador que prometia mergulhar fundo no mar da lama politica da cidade.
- Conheço um escafandrista de aguas profundas – disse-lhe enquanto apertávamos um bom ‘baseado’ no banheiro da oficina no beco das Picas no Portinho.
- Oh! Meu peixe que legal. Quem é ele? – perguntou muito interessado.
- É o senhor Mario Brothers.
- Me apresente ele, mestre, quero trocar umas ideias com ele. Talvez possa me arranjar um escafandro para o meu amigo – E coçou o bigode, enquanto tragava selvagemente a chila.
Narrei em poucas palavras a complicada vida do mineiro Mario Magalhães, mergulhador profissional, especialista em resgate de navios afundados, ganhou muito dinheiro, tornou-se empresário, investiu errado em muitos negócios que não dominava e acabou falindo, a esposa e o sogro expulsaram-no de uma mansão e vivia como mendigo dormindo em pé no abrigo do Largo do Carmo e sonhando em ganhar um processo que nunca fora a julgamento. Foi um dos primeiros até uma camionete Ford cabine dupla.
- É bem complicado a situação desse rapazinho, mas darei um jeito para ajuda-lo em alguma coisa – O velho Salomas sempre condoído e disposto a auxiliar alguém em situação precária.
Coincidência ou não Seu Mario Brothers irrompeu oficina a dentro guiado pelo cheiro da ‘bicha’ que empesteava o ambiente. Apresentei-o e foram se confraternizar apertando ‘unzinho’ no mesmo banheiro que acabávamos de sair. Minuto depois, Seu Mario saiu na frente apressado e ele mais atrás naquela paz, aproximou-se de mim:
- Mestre, esse seu amigo é maluco mesmo – cofiou o bigode e saltou uma estrondosa gargalhada – Não é que a figura vem me dizer que tem um projeto revolucionário para Coca-Cola. Kkkkk.
- Foi mesmo? Perguntei ironicamente, já ouvira essa loucura e cair também na risada.
- Sió, acho que a diamba já comeu a metade do cérebro dele.
E caímos na risada.
O cortejo saiu da alameda e Fernadim, o irmão serpenteava entre os túmulos bem acabados, a maioria em mármore branco já encardido pelo tempo e pela falta de manutenção. Uma gigantesca escultura de duas mãos em prece – “Aqui jaz um benfeitor” – uma singela homenagem gravada na lousa. Fernandim indicou o local e os coveiros começaram a cavar, o barulho das pás e das picaretas batendo nas pedras. Os acompanhantes separaram-se, formando vários grupinhos. O caixão descansava sobre um tumulo próximo.
Um bacana bem vestido gesticulava inutilmente na vã tentativa de explicar o inexplicável:
- Não tinha ninguém do Corpo de bombeiro lá. Sai da praia do Caolho até o Iate Clube e não encontrei um samaritano que cedesse ou emprestasse uma lancha. O cara passou mais de meia-hora debatendo-se nas ondas até afundar. No Iate as lanchas dos salva-vidas estavam sem gasolina. Como é que pode? – perguntou exaltado ao triste parceiro do lado – O Clube de Paraquedismo vai emitir uma nota cobrando das autoridades. Como num movimentado domingo, a praia lotada e nenhuma lancha fazia a ronda. É foda!
A entrada triunfal na oficina branco como cera ao meio dia, depois de desvencilhar-se classicamente um flagrante delito no Anel Viário ao lado da loja “Ilha da Miudezas” no Dique.
Ele e mais dois boyzinhos fumavam tranquilamente um ‘catatau’, quando percebeu aproximação sutil de um Gol branco. Dispensou o ‘bagulho’ na mão de um dos incautos e inexperientes playbozinhos que se embananou todo jogando a ‘bia’ perto de onde estavam. Os tiras da Entopercente caíram em cima com abutres para extorqui-los. Salomas malandro velho tomou a frente das negociações. Depois de muitas idas e vindas chegaram ao acordo. Então apareceu o pai de um dos boyzinhos, brabo como terra soltando os cachorros contra o filho e fazendo um escândalo que chamou atenção dos transeuntes e moradores do local que curiosos cercaram-nos.
- Mestre foi um para acertar com um grande barraco, o velho vermelho esculhambando e gente chegando. Aproveitei e fui me esgueirando de mansinho no meio da multidão como se não tivesse nada com a história e tirei pra fora e os deixe lá com o parangolé deles. Tive sorte que eles não revistaram se não que ia se foder era eu – E puxou de dentro da calça – Olha o flagrante, mestre! E mostrou-me um pacote fornido dela.