
Estás a ver aquele pássaro? É capaz de completar uma volta ao mundo de uma só vez, de seguida. Bem quase de seguida.
O seu dedo esticado para o horizonte, parecia ele próprio quase outra linha de horizonte, de tão fino que era. Confundia se com a cor de carne do céu daquele dia, com esvoaçares ocasionais de bandos de pardais, que aproveitavam o impulso das capas das árvores bamboleantes para ganhar impulso, e assim cumprirem o desígnio de fugirem daquele sítio, para quem sabe voltarem mais tarde.
Ela nunca parecia querer falar de si própria. Só de superlativos diversos como o livro mais intenso que conhecia, as voltas certas dos lençóis de linho da sua cama. Ate o mergulho em apneia mais arriscado que tinha feito, num pico inexplicável de inconsciência da sua juventude. Eu achava me em silêncio, como me parecia ser o mais adequado. Olhava em volta, e aquela solidão estival, com raios de sol monocromáticos, que beijavam o chao de restolho daquele arrabalde de cidade, parecia afastar me dali, e permanecer só com o grau de atenção suficiente a que a boa educação me obrigava.
Fraco para o tempo, forte para o tempo a passar