Segunda feira, 06 de outubro de 2025
Uma sonolência em plena onze horas da ensolarada manhã, quando relia o clássico de todos os clássicos da literatura inglesa do século XIX – o grande mestre inconteste Dickens e o seu icônico “Oliver Twist” – Sr. Com o lera há uns quarenta anos atrás, no sótão assoalhado de tabuas de madeiras e coberto por telhas de amianto Brasilit na Casa Grande dos Bambas no Desterro. Nessa época o poeta principiava-se no mundo magico do universo da literatura. E Dickens era o seu farol, possuía quatro livros de sua autoria: “As Aventuras do Sr. Pickwick”, “David Copperfield”, “Grandes Esperanças” e logico “Oliver Twist” – era inicio dos anos 80 e chegara a ter mais de duzentos exemplares de vários autores, na maioria americanos, ingleses, russos e outros.
Colhão ou Marinaldo irmão consanguíneo do carroceiro maneta Mariano ou Marujo enxugava uns copos de água ardente no impassível Pai Cardoso.
Sr. Con sonhara que recebia o cheque de cinco mil. O que é um mal pressagio e que significa que não receberá nada. Acabou. As coisas boas só aconteciam nos livros que lia ardentemente. Deixa prá lá. Queria apenas a benção de Deus para o seu filho arranjar um emprego, o resto levaria como sempre levou.
Colhão ou Marinaldo atravessou a pista da estreita avenida para urinar no recuou do beco divisor e na volta mareado como um marinheiro deu dois dedos de prosa com o poeta:
- Tomei umas, agora vou para casa, almoçar uma boa tilápia que a mulher comprou. Eu gosto de peixe – enfatizou – Como carne ou galinha, mas não me satisfazem, mas o peixe, esse sim como por prazer, por que me dar sede e me faz beber bastante água.
Collorgate , o radialista da velha cepa do tempo áureo das ams a caminho do Restaurante Popular. Sanatonio, l’homme des pulpes de fruits empurrando seu carrinho vindo do mercado local, depois de uma exaustiva manhã a mercê de seus fregueses.
A sra. Vince desfila enrolada na toalha pela cozinha após o banho. Que Dickens e London/Eden me perdoem, mas Henry Miller bate-me forte e impiedosamente como um cafetão esmurrando a sua puta inadimplente. Deixei Londres do século XIX, assim como Oakland para me situar na Paris do começo dos anos 30 do século passado. Henry sempre cutucou a minha sofrida e desiludida alma com a esperança de que um dia serei um grande escritor. Nessa semana o Nobel de Literatura povoa os meus sonhos e já me vejo diante do rei da Suécia em Oslo, recebendo o gordo cheque de mais de um milhão de dólares. Ai, papai! Aqui o sonho morreu com o sonho. Valeu enquanto durou. Havia feito vários planos: comprar uma cama retratável, limpar e esvaziar a fossa no terraço, retelhar o telhado todo e outros ajustes – Mas tudo foi por água abaixo. O expresso da existência continua. Espirro como um bode velho gripado. Seu Castro, o factótum da pensão vem avisar-me que o computador esta liberado. Levanto-me da minha velha cadeira estiolada e lá vou eu e Miller e seu divino “Tropico de Câncer” vai comigo – e enquanto digito ouço a segunda sinfonia de Beethoven – E no terraço a sra. Vince, a senhoria da pensão berra para a sua irrequieta cadelinha que teima em correr na rua vazia:
- Pretinha! Pretinha!