Poemas : 

Gargarejos

 
Num mundo de não sei o quê,
Feito de espelhos curvos,
Árvores sem braços
E Homens sem ramos,
Desfolhado em forma de Vê.
Margem de rios turvos
Com flores em seus regaços
Pai de seres anfígamos.

Sou moldado em barro seco,
Esculpido em dor de cinzel
Por doutrinas de anciães
Mãos rasgadas de amor.
Sou verbo nulo, arquisseco,
Vírgula solta de aranzel,
O orgulho de tantas mães,
Raio de Sol sem vigor.

Castrada consciência muda,
Decepada no falso horizonte,
No ténue dealbar da mente
Rascunho de vida.
Segredos que fazem a dor aguda,
Portas férreas do aqueronte,
Bactéria negra depascente
Em universo apólida.

Pensamento afrodisíaco
De nudez pura e religiosa,
De curas sedentos de carne,
Lésbios homens sem voz.
Carrasco de passado aríaco
De olhos secos, boca silenciosa,
Cãs cor de cirne,
Pulido lioz.


A Poesia é o Bálsamo Harmonioso da Alma

 
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Alemtagus
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Enviado por Tópico
VónyFerreira
Publicado: 22/05/2008 10:43  Atualizado: 22/05/2008 10:43
Membro de honra
Usuário desde: 14/05/2008
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Mensagens: 10301
 Re: Gargarejos
Que bela surpresa este seu poema. Lindo, profundo, de uma riqueza enorme.
Adorei.
Vóny Ferreira


Enviado por Tópico
ana alves
Publicado: 22/05/2008 12:14  Atualizado: 22/05/2008 12:14
Membro de honra
Usuário desde: 24/01/2008
Localidade: castelo branco
Mensagens: 391
 Re: Gargarejos
HUM ...GOSTEI DE ALGO SEM DIVAGO BEIJO .


Enviado por Tópico
Julio Saraiva
Publicado: 22/05/2008 12:16  Atualizado: 22/05/2008 12:16
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Localidade: São Paulo- Brasil
Mensagens: 4206
 Re: Gargarejos p/Alemtagus
Caro Amigo,
Sem querer ou não, todo o poeta, ao conceber um poema, está a escrever a biografia de si mesmo.Você me diz que está mórbido ultimamente. Morbidez é estado de alma."Árvores sem braços/E homens sem ramos"Percebe-se aí um olhar de desespero, voltado para uma paisagem cruel e dolorosa. Mais adiante você se vale de outra imagem pesada: "Rascunho de vida" O gargarejo limpa a garganta. E neste caso, o gargarejo é o grito, quase estrangulado. O sagrado e o profano convivem neste seu poema.Não gosto muito de interpretar poemas. Mario Quintana dizia que quando se pergunta a um autor o que ele quis dizer, um dos dois é burro. Às vezes o autor não quis dizer nada - apenas achou a imagem bonita e a escreveu. Críticos e leitores esmiúçam o texto e descobrem ou inventam coisas que não existem. Eu penso,sem qualquer pretensão acadêmica, lendo este seu poema, que há nele o conflito dos vários "eus" do autor: o amargo, o lírico, o erótico, o místico.O orgulho de tantas mães. O raio de sol sem vigor, que no entanto brilha. E brilha graças ao milagre da poesia. Este texto, mais do que um gargarejo, bem poderia ser um vômito, que impede o grito.

Júlio




Enviado por Tópico
Carolina
Publicado: 22/05/2008 12:17  Atualizado: 22/05/2008 12:17
Membro de honra
Usuário desde: 04/07/2007
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Mensagens: 3422
 Re: Gargarejos
Gargarejas muito bem, em todos
os sentidos...
Belo poema de introspecção, cujas
imagens se cruzam com belas palavras,
muitas delas dignas de dicionário.


beijo




Enviado por Tópico
RoqueSilveira
Publicado: 22/05/2008 15:31  Atualizado: 22/05/2008 15:31
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Mensagens: 8102
 Re: Gargarejos
Por muito que queiras fingir, não estás nada morto! Vivinho da Silva!


Enviado por Tópico
Ledalge
Publicado: 22/05/2008 17:14  Atualizado: 22/05/2008 17:14
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Mensagens: 6868
 Re: Gargarejos
AL, COMO DE COSTUME FICO MARAVILHADA COM TUA POESIA.BJ,NÚRIA.