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A mortalha do amaldiçoado

 
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Luz de olhos infantis perdeu-se nos labirintos tecidos a fios nobres de tristeza
Hoje emoldurados por normalmente indesejável morada,
Chorei sozinho até a dor fustigar incansável meu corpo tão magro partido em gritos calados de ossos finos,
Ressoando apenas em meu coração pertubado,nas batidas do pulso latejante saltando em veias de feridas inflamadas,
Braços estendidos,desespero e vertigens trancadas por longos portões gradeados terminados em lanças romanas,
Não suporto mais viver,covarde abandonarei este fardo.

No estremecido hausto o egrégio anêmico consome entranhas de pesadelo,
Dedos,torcidos feito galhos de árvores mortas ressequidas,
Terra,usurpada do paraíso manto apodrecido batendo no caixão,
Orquídeas negras,cróton silvestre,floresce um jardim inteiro denso de lamúrias,
Espalhando-se entre cores púrpuras sentidas passeiando na face disforme de sufocado,
Resisto envolvido em silêncio,sempre foi tarde,do nascimento ao banquete dos vermes.

Violações de lembranças em nostálgicos dias não vividos,tão nítidos,
Perdidos em incontáveis formas diferentes de infelicidade e patológico receio,
Sem amigos, o amor esvaindo-se nas asas torpes de rastejante desgraça,
Com discretos olhares e imagens amalgamadas na confusa realidade dopada,
Na ironia perversa de acordado cataléptico, finalmente partindo,miseravelmente.

Não mais o despertar inesperado,assombroso mesmo entre conhecidos,
Avisos formais em bilhetes nos bolsos:Não velem por este aparente defunto!
Exames minunciosos de lábios espelhados e passos cambaleantes,vergonha,
Quem sabe era o destino,o presságio não entendido tal parábola grotesca,
Remédios não triunfam sobre doenças idealizadas por espíritos condenados,dantescas feito ira dos deuses do Olimpo,
Miríades de sombras abatendo a luz roubada dos meus dias brincam com sua letárgica fraqueza,esparsa.

Vozes cada vez mais próximas nas trevas de flébil sinfonia,
Lamentos e gritos,pedidos e súplicas em turbilhões uníssonos,coral fantasmal de suicidas,
Não movo um músculo e órbitas inúteis dão voltas sobre si mesmas quando mãos agarram-me pelos pés,
Tateiam-me por inteiro fétidas,longas patas de aranhas esmagadas enterrando-se na garganta,
Sem alvos lampejos edênicos n`algum túnel, anjos de socorro e perdão esperançoso ,é o fim apenas,inteiro e satisfeito reproduzindo-se nele mesmo,
Faminto e insaciável Imperador último de reinado abismal,vampiro andrógino arrependido.

Apenas isto,a escuridão cada vez mais pesada esmagando a vontade tênue de alma doente no velório em segredo,
Guiado pelos martírios desejados em últimos momentos,adormecendo pesaroso,despedindo-se amargamente aos vinte anos.

 
Autor
RaimundoSturaro
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 18/08/2008 22:26  Atualizado: 18/08/2008 22:26
 Re: A mortalha do amaldiçoado
Cruento e sombriático!Deu gelo no corpo.Feito pesadelo que a gente fica na dúvida se quer ou não acordar.Bravo!
Bjins, Betha.