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27ª foto - O escritor esgotado

 
Há uns dias para cá que o escritor se anda a sentir morto, sem vontade de respirar as letras da forma viva que sempre fez. O sentimento é real e apalpa-se em todos os pontos, mesmo nos que não se vêem. As frases são desconexas e até brutas, parecem todas lugares comuns copiados de outros lugares comuns e não dizem nada que se ouça. O escritor quer escrever, força-se a escrever, tenta manter-se longe dos contágios mortíferos e fáceis mas, tudo o que vê, lê ou produz parece inquinado, envenenado e baço. Dói-lhe a escrita e ninguém sabe.
Rodeado de sins e nãos, nenhum lhe parece verdadeiro. A paranóia é legítima e põe-lhe a verdade à prova. Os outros escritores seus amigos mordem-no, porque escrevem e escrevem e escrevem e ele já não os lê como lia. Não consegue.
Há uns dias para cá que o escritor se interroga se deve continuar. Se lhe vale de alguma coisa fazê-lo. Lá continua por vício.
Não há nada que lhe diga que o seu esforço vale a pena e, ele, não se adequa a uma forma que não é a sua.
Há uns dias para cá que nele não se sente mais do que um escriba.

Valdevinoxis



A boa convivência não é uma questão de tolerância.


 
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Valdevinoxis
 
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Enviado por Tópico
Nanda
Publicado: 21/08/2008 01:01  Atualizado: 21/08/2008 01:01
Membro de honra
Usuário desde: 14/08/2007
Localidade: Setúbal
Mensagens: 11076
 Re: 27ª foto - O escritor esgotado
Eh amigo e a diferença entre o escriba e o escritor é abismal.
Bjs
Nanda

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 21/08/2008 13:47  Atualizado: 21/08/2008 13:47
 Re: 27ª foto - O escritor esgotado
Um texto importante.
Escrever é contrariar estas dúvidas.
Escrever dói.
É sofrimento e agonia também.
Se nunca enfrentarmos esses muros nunca vamos escrever nada de jeito.
Se têm estas preocupações, chegou a uma fronteira que lhe compete a si ultrapassar ou não. Se a ultrapassar, há escritor. A maioria, é uma dura realidade, não consegue.
Eu, por exemplo, neste aspecto, vou viajando, e ainda não sei onde estou.

Um abraço.