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«« Pequeno Grão de areia«« reeditado

 
Hoje acordei sem saber se vou, ou me deixo levar
Tenho a mente encoberta, dividida, repartida, atrofiada
Olho pela janela, nem os pássaros vejo voar, as crianças pararam de brincar
Um velho caminha lentamente, triste pedaço de gente
Há muito que deixou de ver, a alma decidiu manter escondida
Os anseios da juventude, enterrou, ou tão somente abafou
Na ânsia de viver mais um pouco, se atrofiou, camuflou
Hoje senti-me cobaia em laboratório de génio enlouquecido
Não me importei com o que escrevi, nem com o que li
Pouco importa se sou má a juntar as sílabas, medíocre, convencida
Nada mais sou que pequeno grão de areia, se rimo ou não rimo tanto faz
Os que antes me criticaram amanhã me elogiarão, eu pobre demente farei o mesmo
Novo olhar pela janela, e o velho lá está, o seu rosto alterou-se
Decido olha-lo com atenção, que vejo agora
Um rosto enrugado, olhar extasiado, sorriso maroto, gaiato
Ombros curvados, passos compassados, mãos calejadas, mente arejada
Olho com atenção redobrada, a primeira imagem, ultrapassada
Afinal velho sisudo, nada mais és que o verbo gerado, idealizado
Foste mente brilhante, em mundo retrógrado, foste cientista louco num mar de ideias
Cruzastes os mares, subiste aos céus, matastes milhares, em nome de Deus
E descobriste que nada mais precisas fazer, resta-te saborear a obra
Aqui estou eu pequeno grão de areia para teus passos seguir, tuas ideias fazer subsistir,
Posso nunca conseguir desvendar teus medos, não entender tuas palavras
Posso não saber ver a tua imagem curvada com o peso do mundo
Mas sei que posso sempre dizer-te, gosto de ti, és gente, e o que dizes conta,
Posso fazer -te sentir importante, tornar a tua jornada mais leve, dizer que te amo.

Amanhã quando acordar quem sabe me apetece dormir.

Antónia Ruivo


Era tão fácil a poesia evoluir, era deixa-la solta pelas valetas onde os cantoneiros a pudessem podar, sachar, dilacerar, sem que o poeta ficasse susceptibilizado.

Duas caras da mesma moeda:

Poetamaldito e seu apêndice ´´Zulmira´´
Julia_Soares u...

Publiquei este texto em Janeiro passado, volto a fazê-lo porque penso que faz todo o sentido
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Autor
Antónia Ruivo
 
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Enviado por Tópico
cleo
Publicado: 10/04/2009 23:40  Atualizado: 10/04/2009 23:40
Usuário desde: 02/03/2007
Localidade: Queluz
Mensagens: 3731
 Re: «« Pequeno Grão de areia«« reeditado
alentejana
Este teu texto fez-me pensar na importância que cada um de nós tem perante a perspectiva de nós mesmos e a dos outros que nos observam, tal como esse velho curvado que muito provavelmente sentirá o mesmo...

Gostei muito e até me lembrei de um poema meu já antigo, que fui buscar ali ao meu baú e te deixo aqui.

E ali estava eu...
... no meio do nada...
Num lugar perdido
Ao fundo daquela estrada
Sem rumo... sem sentido!
Apeei-me... desci uma escada
Espreitei
Era escuro como breu!
Nem sei porque ali estava...
Coisas do destino
Mas era eu... ali sentada!
Como num filme
E a protagonista era eu...


Beijo


Enviado por Tópico
GlóriaSalles
Publicado: 11/04/2009 00:31  Atualizado: 11/04/2009 00:31
Colaborador
Usuário desde: 28/07/2008
Localidade: Flórida Pta-SP
Mensagens: 2514
 Re: «« Pequeno Grão de areia«« reeditado
Denso, forte.
Um convite à reflexão...
Meu beijo, querida.
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 11/04/2009 10:25  Atualizado: 11/04/2009 10:25
 Re: «« Pequeno Grão de areia«« reeditado
Grão de areia no deserto dos sentires...
faz sempre sentido, mesmo que o sentido seja diferente


Gostei muito

Pascoa feliz


Enviado por Tópico
VónyFerreira
Publicado: 11/04/2009 11:43  Atualizado: 11/04/2009 11:43
Membro de honra
Usuário desde: 14/05/2008
Localidade: Leiria
Mensagens: 10301
 Re: «« Pequeno Grão de areia«« reeditado
Gostei muito de te ler nesta vertente, em prosa.
Devias explorar mais vezes a prosa porque é ao diversificar que vamos aprendendo a dominar as palavras e aprendendo a descrever emoções.
Grão de areia, todos somos amiga! E ai daquele que o esquecer por pedantismo, e outras coisas mais acabadas em (ismos...)
Beijo
Vóny Ferreira