Sonetos : 

CEM SONETOS DE AMOR

 


Soneto XLIII

Un signo tuyo busco en todas las otras,
en el brusco, ondulante río de las mujeres,
trenzas, ojos apenas sumergidos,
pies claros que resbalan navegando en la espuma.
De pronto me parece que diviso tus uñas
oblongas, fugitivas, sobrinas de un cerezo,
y otra vez es tu pelo que pasa y me parece
ver arder en el agua tu retrato de hoguera.
Miré, pero ninguna llevaba tu latido,
tu luz, la greda oscura que trajiste del bosque,
ninguna tuvo tus diminutas orejas.
Tú eres total y breve, de todas eres una,
y así contigo voy recorriendo y amando
un ancho Mississippi de estuario femenino.


Soneto XLIV

Sabrás que no te amo y que te amo
puesto que de dos modos es la vida,
la palabra es un ala del silencio,
el fuego tiene una mitad de frío.
Yo te amo para comenzar a amarte,
para recomenzar el infinito
y para no dejar de amarte nunca:
por eso no te amo todavía.
Te amo y no te amo como si tuviera
en mis manos las llaves de la dicha
y un incierto destino desdichado.
Mi amor tiene dos vidas para armarte.
Por eso te amo cuando no te amo
y por eso te amo cuando te amo.


Pablo Neruda
( 12/07/1904 — 23/09/1973)
Autores Clássicos no Luso-Poemas



Soneto - X L I I I



UM SINAL teu busco em todas as outras,

no brusco, ondulante rio das mulheres,

tranças, olhos apenas submergidos,

pés claros que resvalam navegando na espuma.



De repente me parece que divino tuas unhas

oblongas, fugitivas, sobrinhas de uma cerejeira,

e outra vez é teu pêlo que passa e me parece

ver arder na água teu retrato de fogueira.



Olhei, mas nenhuma levava teu latejo,

tua luz, a greda escura que trouxeste do bosque,

nenhuma teve tuas mínimas orelhas.



Tu és total e breve, de todas és uma,

e assim contigo vou percorrendo e amando

um amplo Mississipi de estuário feminino.

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Soneto - X L I V



SABERÁS que não te amo e que te amo

posto que de dois modos é a vida,

a palavra é uma asa do silêncio,

o fogo tem uma metade de frio.



Eu te amo para começar a amar-te,

para recomeçar o infinito

e para não deixar de amar-te nunca:

por isso não te amo todavia.



Te amo e não te amo como se tivesse

em minhas mãos as chaves da fortuna

e um incerto destino desditoso.



Meu amor tem duas vidas para amar-te.

Por isso te amo quando não te amo

e por isso te amo quando te amo.

 
Autor
Pablo Neruda
 
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