Prosas Poéticas : 

"Reaprendendo a beijar"

 
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"Reaprendendo a beijar
"

Escrevi este texto pensando em como, atualmente, o beijo já não é mais aquele momento cheio de magia, de uma forte expectativa, que sempre povoou meus sonhos.

Olha só: Em meu poema, Nosso Beijo, eu nem descrevi um beijo desesperado, molhado, grudento, não, aliás, eu apenas descrevi "aquele momento antes", cheio de tudo de bom que há no namoro: um acariciar nos cabelos, um passar de mão pelo rosto despertando o tato, pequenos toques, as texturas, os choques, o cheiro do parceiro advindo da aproximação, o primeiro contato dos corpos, o início de uma entrega, os arrepios, calor e frio, o ficar na ponta do pés, perder o chão, o fechar automático dos olhos que, neste instante, desprivilegia a visão, dando passagem ao acordar dos demais sentidos.

Tudo isto era a mágica perfeita do beijo...

Agora vejo nos filmes e nas novelas um beijo que passa por cima destes prelúdios todos e vai direto ao assunto imediatamente: línguas e saliva num engolir literalmente o outro - e nada mais! Bocas se comendo alucinadamente. É tudo cru e rápido demais, talvez tentando expressar avassaladoras paixões... mas, para mim, o beijo perdeu sua característica principal: o conhecer delicado do outro ser e o bem-querer que isto nos desperta.

Um beijo bom de fato, exato e de verdade, começa fluindo da 'corte' naquele namorico e, sim, claro, no olho, mas logo arrasta tudo o mais consigo, além de apenas corpo: mente e alma. Só assim esse beijo é completo, pleno - e fica. E, então, pode chegar ao coração.... Não só corpo. Não só boca e língua. É um conjunto. Desperdiçar essas doces etapas, é desaprender o beijo.

Beijo é mágico. Cada pequena zona sensorial sendo descoberta, desbravada pouco a pouco, acendendo luzes, girando estrelas, desligando devagar o resto do mundo. Só depois é que vai crescendo, aumentando de intensidade, partindo para outra etapa mais além - onde a empatia e a química deram muito certo. Muitas vezes isto não acontece, e o beijo termina assim como começou - sem porques e apenas mais um beijo sem muita graça e sem lembranças.

Posso estar falando uma enorme bobagem e todos que estejam agora lendo este texto desejem mesmo apenas um desses beijos cinematográficos esquecendo-se que, ali, tudo é mera ilusão sob luzes e holofotes e são apenas atores trabalhando por seu dinheiro e sua fama.

Entanto, da próxima vez que beijar alguém, não queira apenas um beijo de filme ou novela, mas faça desse seu beijo o momento mais incrível que puder, um instante mais que doce, mais que belo e, sem pressa, mais que terno - eterno.

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Silvia Regina Costa Lima
14 de abril de 2008

Publicado no Recanto das Letras em 14/04/2008
Código do texto: T945211[/size][/size]

 
Autor
SilviaReginaLima
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 04/05/2009 21:45  Atualizado: 04/05/2009 21:45
 Re: "Reaprendendo a beijar"
Sílvia

É dos textos mais inteligentes e lúcidos que li na área do Amor!

A começar pelo título! Porque não reaprender. Estamos sempre convencidos que se sabe tudo ou quase tudo! E existem pormenores que descreveste que passam ao lado de muitos de nós! O que interessa é beijar! Se esse gesto envolve amor, por vezes não interessa!

Uma lição pertinente de vida!

Beijo com carinho


Enviado por Tópico
Fhatima
Publicado: 08/05/2009 04:33  Atualizado: 08/05/2009 04:33
Membro de honra
Usuário desde: 12/02/2008
Localidade: Joinville - SC
Mensagens: 3336
 Re: "Reaprendendo a beijar"
Olá Silvia,

Adorei este poema romântico, que nos remete ao passaso, o namoro era uma espera, um cortejar, uma descoberta devagar, tudo ao seu devido tempo.
Gostei muito como abordastes sobre o beijo.
Parabéns amiga.

Beijinhos

Fhatima