Saudade
Saudade é coisa sem jeito
Um nó dentro do peito
Que faz sangrar o coração
Saudade é uma semente
Que cresce dentro da gente
E faz brotar a solidão
A saudade é a madastra
Que aprisiona e castra
Nosso desejo de voar
Saudade é coisa ingrata
E apesar de abstrata
Faz a alma dilacerar
Saudade é onda eterna
Que mesmo sem ter pernas
Corre livre pelo infinito
Irmã da distância e do tempo
A saudade vive no pensamento
Se esconde no coração aflito
Quietude
Silencia a tarde, os pássaros se recolhem
Encolhem-se nos ninhos, entre carinhos
Aquecem-se mutuamente em harmonia
A espera de um novo dia
Chega a noite... fria... sombria
Com seu manto negro em plenitude
E o poeta insone vaga entre palavras
Com a alma alva e leve, coração quietude
Escreve feito um escravo do sentimento
Entre brisas e tormentos, compõe magia
E põe o coração na ponta dos dedos
E sem medo... cria, recria... se ilude
Mas, não há nada que o afaste
Dessa lírica e lúdica quietude
Se fosse para sempre
Se fosse para sempre esse sentimento
Seria como o vento, que muda a direção
Seria um acalanto vindo do coração
Para fazer adormecer as estrelas e a lua
Porém, a vida continua e nua é a saudade
Pois não se reveste da esperança
Que semeei no canteiro de minh'alma
Se fosse para sempre essa calma
Que me faz lembrar o mar,
no verde do teu olhar
Na calmaria da poesia que vem de ti
Ah, como eu queria sorrir o teu sorriso
Sussurrar no seu ouvido que perdi o juízo
Quando te encontrei no meu caminho
Você me abriu os portais do paraíso
Fez do meu coração o seu ninho
Mas, depois simplesmente me abandonou
E se fosse para sempre essa espera?
Eu esperaria cantando versos para você
Porque te esperar é minha sina
Você nem imagina como é difícil te esquecer
Se fosse para sempre esse sonho
Juro que não queria mais acordar
Por enquanto eu me decomponho
Em palavras soltas que vagam pelo ar
MINH'ALMA
Minh'alma é esta
Que faz festa, se alegra, celebra,
Chora, canta e sorri
O reflexo complexo
Dos fragmentos que juntei pelo caminho
Um sopro que sózinho
Não busca limites,
pois é imortal
Acredite! Minh'alma é passarinho
Que fez seu ninho nesse corpo, nessa carne
É o cerne do meu ser
Sob a derme e a epiderme
Expressa a liberdade da prisão
É ela que faz acelerar meu coração
E comanda meus pensamentos
O momento que julguei perdido
É a escrava encravada na palavra
O sentimento que vai além do conhecimento
Minh'alma é como o vento
Solto e sem parada
Ah, minh'alma calada
Que tanto diz
Ave aprendiz com vontade de voar
Quando a matéria for plantada
Na terra fria, calculada
Minh'alma finalmente se libertará
Não posso negar que te amo...
Não posso negar que te amo
Que te levo no coração
Até nos sonhos te chamo
Não dá para negar a paixão
Ouvir sua voz, me anima
Sentir seu perfume entorpece
Em você encontrei a rima
Que me alegra e fortalece
Teu nome rima com beleza
Com afago e com carinho
Você é a minha princesa
A suavidade do meu caminho
Não posso negar que te amo
Eu sou plural e nós singular
Onde eu estou, sempre estamos
Eu te amo! Não posso negar
PLANTIO...
Planto sonhos
nos versos que componho
no vasto terreno do meu interior
Colho o amor e alguns sorrisos
Planto meu paraíso
Nos campos d'alma
E na palma da mão, levo sementes
De gente que encontro no caminho
Tenho um coração passarinho
Que canta a alegria nos arvoredos
Que espalha segredos
em terrenos baldios
Que afugenta seus medos
Faz da colheita um brinquedo
Feito sonho de criança
Mas, às vezes vivo no estio
E no arado da esperança
Prossigo meu eterno plantio
Sobre as ondas
Ando sobre as ondas
Onde o mar canta a tristeza
Tropeço n'alguma saudade
numa gota de esperança
Não caio
Não afundo
Mantenho firmes os passos
Sobre as ondas
Sondo a aspereza das marés
Marejo os olhos
Manejo palavras
Ando sobre as ondas
buscando respostas
Mas, só me restam as indagações
Não se esconda
Sob as ondas
Para qu'eu não pise nossas ilusões
DESESPERO
Debruço-me sobre palavras frias
Escuto um sussurro no vento
Sinto seu toque, sua mão macia
Esvazio-me do vão sentimento
Saio de órbita, sou sofrimento
Penso em apagar a luz do meu dia
Enlaça-me o medo e a covardia
Rompo as cordas do pensamento
Ouso cair nos braços da poesia
Aconchego
Quando estou contigo
Não percebo o tempo
Não ouço os ecos do passar das horas
Pois, o pulsar do seu coração
Canta em meus ouvidos
Não sinto o vento
Porque seu perfume me envolve e seduz
Não enxergo se é dia ou noite alta
Pois, o brilho dos teus olhos
é mais intenso
Quando estou em seus braços
Sinto-me liberto das amarras
como se asas brotassem em mim
e voasse rumo ao infinito do teu ser
Preso aos teus afagos me embriago
desse mar de amor que preenche tua alma
Quando me perco em teu corpo
Me encontro no éden
Escondo minha vida dentro de ti
e adormeço...
Porque é em ti que perco os sentidos
renasço incólume no lume do teu sorriso
E descanso das batalhas intermináveis
dessa vida que segue seu rumo
Quando tocas meu rosto
Fecho os olhos e te vejo mais linda
Flutuo feito folha outonal
E simplesmente me encontro feliz
No calor desse teu aconchego
FUGA
Quero correr sem rumo
sem destino ou direção
Feito menino brincando de pique-esconde
Tomar o bonde das estrelas
viajar pelo infinito
Soltar meu grito e libertar o eco
Fugir de mim mesmo
Andar a esmo por qualquer estrada
Fazer da noite meu abrigo
E do dia minha morada
Quero voar além das paisagens
Acima das nuvens e dos sonhos
Cruzar desertos, admirar miragens
Pisar sobre os campos floridos
Quero ser esquecido pelo mundo
Um ser errante e errado
Ser o avesso travesso do desejo
Quero fugir de mim
Para me descobrir em você...