Até sempre...
As mãos perdidas definem sonhos,
Fecundo gesto que paira,
Como uma ave sem porto…
Naquela carta afogada.
As palavras deslizam sem sons,
Pétalas de uma rosa desfolhada varrem o vazio,
Despindo o jardim
Entre as vagas dos acenos da saudade.
Letra a letra,
Desnudo a minha alma,
Sereno…
Sinto o sangue dos espinhos,
Entre as lágrimas derramadas.
Talvez…
A minha face dispa o túmulo da minha voz,
Soletrando em murmúrios
Os silêncios libertos da memória.
Corvos que pairam no destino,
O meu… o meu talvez,
Nas dúvidas que engoliram a terra crua,
Libertando o triste aroma,
Entre o ventre dos desejos esquecidos.
Um dia…
Os meus dedos irão despertar
As sombras partirão das raízes
Novas linhas serão preenchidas,
Para de novo,
Acariciar o céu com as minhas asas.
E, se eu escrevesse um poema?
Os meus poemas são palavras apenas,
Não pertencem ao tempo,
Não esperam por nada
Não alimentam as horas,
Se existe hora, nos versos marginais
Onde fico esperando,
Que alguém os chame.
Sedento fico,
Como qualquer poeta que se preze,
Presunção minha… talvez
Ser considerado um destes Deuses,
Afinal…
Os meus poemas são aquilo que vês.
É não ter terra, nem eco,
E mesmo que parta nas palavras,
Que vista a folha branca,
Vivo a liberdade em meu canto
Abraçando o espaço nu…
Retornando ao meu mundo
Onde poucos entendem isso.
Estocada final em meu peito,
A dúvida que persegue o meu leito,
Nesta luta intemporal em mim…
Sou filho de boa gente,
E as minhas palavras não são tão pálidas assim.
Escrevo no vazio, perdido em cálices
Onde os lábios suavizam o som,
Vivendo numa solidão conjunta,
Onde escrevo para ti…
Ontem, não sei para quem foi!!!
Não me importa…
As almas não entendem este meu viver,
Este pecado de querer ser,
Aquilo que sonho, e num sonho,
Querer declamar em vagas e ventos
Suspirando o ar fresco que me embala
Amando sempre…
E escrever um poema,
Para quem me quiser ler.
Nada...
Nada…
O grito parido,
Numa boca em silêncio,
A morte que ceifa o tempo,
Vestindo o rosto de negro.
Nada…
Lágrimas que caiem,
Num rosto sangrento,
A dor que consome,
Sufoca o peito.
Nada…
Crianças sem sonhos,
Afogam o mar deserto,
Como um fim que chega,
Naquele amor, sem o beijo.
Nada…
A paisagem despida,
As horas congeladas,
Uma ave de asas partidas,
Hiberna num espelho sem imagem.
Nada…
A bala perdida,
Os corvos no limbo,
Ouve-se a profecia sem palavras,
Arde a vela sem luz.
Nada…
Os porquês sem resposta,
Estrelas moribundas,
A tela vazia de cor,
O nevoeiro que cospe o medo.
Nada…
Porque nada só existe,
Sem ti meu amor...