Dispo-me de trapos
Dispo-me
De trapos
Visto roupa nova
Mudo de sapatos
Ponho meias pretas
Nuns saltos bem altos
Retoco a maquilhagem
Olho-me no espelho
Tenho uma miragem
A lágrima secou
O sorriso voltou
levanto a cabeça
Subo a avenida
É o começo
De uma nova vida
Vesti-me de Cetim...
Vesti-me de cetim...
para que teu olhar
De príncipe encantado
Pousasse sobre mim
Mas depressa
Viraste um sapo
E do meu vestido de cetim
Fizeste um trapo...
Candidato
Ter alguém a meu lado
Por simples companhia
Provoca-me ansiedade
E até alguma agonia
Precisa o candidato
Ser inteligente e sensato
Sensível e amoroso
Leal e muito cordato
De profissão...
Apenas se exige
Que venda humor ao desbarato
Ter boa apresentação
Ser bonito e elegante
Não é de todo condição
Bastam sorrisos largos
Alegria e boa disposição
Com os olhos da imaginação
Vejo sempre o outro
Com os olhos da imaginação
Ser bom
Mau ou ruim
São julgamentos
Que não me competem a mim
E não julgando
Fico assim
Sonhando com uma ilha
Na beleza da partilha
Olhando o infinito
E no vai vem
Das ondas
Em constante conflito
SOU NADA
E de novo
Sou nada
Caminho ao vento
À chuva
Ao lamento
Deambulo sozinha
Pelo pensamento
E de novo
Sou nada
Alma rasgada
Em sofrimento
Cabeça perdida
Mão estendida
Esperança
E tormento
Na minha frente
A encruzilhada
Terra batida
Estrada asfaltada
Entro no túnel
Desesperada
Ao longe
A luz da esperança
Anunciada
Tudo é vago...
De tantas sequências...
Sofro agora...
As consequências...
Não acredito em nada...
Nem em ninguém...
Tudo é vago...
Ora aqui...
Ora além...
Sou como a onda do mar...
Que Tanto vai como vem...
SONHO
Se eu um dia
Te pegasse
E nos meus braços
Te levasse
Pelos sonhos
Da minha mente
Voaríamos docemente
Na distância do universo
Na ternura do regresso
Na simples frase dum verso
Se um dia
Me deixasses amar
Se me deixasses falar
Ficarias a saber
Que no mundo
Dos meus sonhos
Não há lugar à distância
Nem mora a arrogância.
Acesso de Raiva no Supermercado
Hoje fui ás compras...
Cheguei ao supermercado...
No parqueamento...
Carro estacionado...
Subi as escadas rolantes...
E envolta em pensamento...
Notei que já nada era como dantes...
Peguei num carrinho...
Caminhava devagarinho...
Mas de repente!...
Eis que me passa pela mente!...
Um filme surpreendente!...
Entrei no recinto cheio de gente...
Corri pelos corredores...
Derrubei todos os expositores...
E num acesso de raiva...
Tudo das prateleiras saltava...
Atrás de mim o recinto devassava...
Não comprem nada, gritava!...
Peixe, carne, legumes...
Estão todos envenenados!...
Não toquem nos enlatados!...
Nem em produtos transformados!...
Nem sequer nos refinados!...
Alguns nem estão etiquetados!...
Muitos deles estão alterados!...
Estamos encurralados!!!!!
Gritei, gritei, gritei!...
Pelos ombros as pessoas abanei...
Mas de repente lembrei!...
Do colégio onde estudei!...
Diziam então as freiras!...
Menina! comporte-se!...
Tenha maneiras!...
Deixei de escrever
Deixei de escrever
Como se as palavras
Mexessem num passado
Que preciso esquecer
Como se virassem
As costas ao dia
Num longo entardecer
Deixei de escrever
Porque o barulho
Das palavras
Não me deixa adormecer
Gritam dentro de mim
Tiram-me o sorriso
Que um dia me
Prometeram devolver
ENCANTAMENTO
E os meus olhos
Se encantaram nos teus
E os teus desejos
Passaram a ser os meus
E como eu te quero amar!
Como a flor que murchou
E voltou a rebentar.
E de novo
Sou rosa encarnada
Sou alegria
Sou vida
Sou cor
Sou mulher encantada