O balanço
Em uma árvore no alto da colina
Tinha um balanço que hoje é lembrança.
Lá ficaram os sonhos da menina
Se balançando em fantasias de criança.
A menina até ao céu cantarolava
E sua voz se espalhava na colina
Quanto mais o balanço balançava
Mais alto cantava a menina
A menina não sabia o q' era dores
Apenas se entretinha a balançar
Cantava sorrindo para as flores
E só com flores vivia a sonhar
Um dia deixou de ser criança
Mas não matou dentro del' a menina
Quis retornar a balançar naquela dança
Quand' o balanço já não está mais na colina.
Criança
Ah! Como é bom ter o berlinde do mundo
entre os dedos naquele rodar maravilhoso
enquanto o tempo passa a mil, tão buliçoso
que mais nos parece apenas um segundo
Oh! Como é bom ter as tranças brilhantes
caídas sobre as promessas do vestido
naquele prazer de brincar descontraído
sem apreensões, viver apenas os instantes
Ah! Como é deliciosa a tal companhia
da bola de futebol debaixo do braço
numa pressa de se acabar o espaço
e marcar o golo que à equipa dará alegria
Oh! Como é deliciosa a boneca de trapos
esfomeada pela atenção da mamã
enfeitando os braços de cada manhã
de ternuras e juras em doces farrapos
E como são virtuosos os tais direitos
perdidos tantas vezes na selva adulta
por egoísmo e loucura que se diz culta
mas que os mantém apenas escritos
Todos os dias são dias de venerar
a geração mais mimosa e pura
sempre é tempo de lhes dar ternura
sempre é tempo de aprender e ensinar!
Ao Bisavô, com carinho
Eu era criança, ainda me lembro
aquele pai levando seu filho na escola
num fusquinha branco de janeiro a dezembro
pelo mesmo caminho até virar um rapazola
O tempo também foi seu passageiro
acompanhou sua luta e sua história
os filhos casaram, levando um exemplo verdadeiro
daquele pai trabalhador na sua geração e na memória
Os netos nasceram e o Vovô também com eles
fizeram do seu colo o seu porto seguro
e o pai pela segunda vez ouviu seus quereres
tirou das suas lutas diárias, o sonhado futuro
E agora, os netos agradecidos abrem passagem
para seus filhos, bisnetos daquele primeiro pai
pela terceira vez, deixou de herança na linda imagem
o sentido das suas vitórias, enquanto o tempo se vai
De todas as homenagens que nesta vida já recebeu
a melhor de todas foi a que Deus lhe deu
balançar sua vida ao lado da bisneta amada
feito criança, ao lado do anjo, de alma alada
grão a grão
como água em debandada
foi-se a minha alegria
lágrimas à beira do vazio
nos confins sem tempo
vai a minha estrada...
e eu tão só na nostalgia,
simples o resumo da vida
que voou entre meus dedos
intensa, dizem as linhas da mão
ora oásis, ora deserto
- grão a grão, sem medos.
ouvindo o sangue à distância
na janela de par em par aberta
do coração de criança, sempre
alerta...
como água em debandada
agora mais negra, mais cansada
-vida é só já, chapinhar!
com desolada luz me alucina o olhar
já não sou a menina, trago dedos
de solidão e a saudade
que floresce feita obstinação.
natalia nuno
fecha-se a saída
os girassóis abrem de dia,
aguardam o sol com paixão
já não reconheço o meu rosto
tal foi a destruição...
um grito perdido no vazio
dou comigo
a defender-me do medo
que só o espelho percebe,
será castigo
que minh' alma recebe?
a criança senta-se num canto
na sua boca um sorriso
outra vez a vida, o sonho
maravilha...
e a morte sem dar tempo
senta-se ao lado
logo a arrastará na armadilha,
fecha-se a saída
é este o fado...
natalia nuno
rosafogo
Vou levando meu barco
às vezes canto
quando quero chorar
e uma uma frágil ave
atravessa-me o peito,
as flores que florescem comigo
tremem procurando abrigo,
o coração consome-se por inteiro
habita nele a fraca luz de janeiro
cortam-se ramos e até a raiz
destes tantos anos
em que sonhando, fui feliz!
absurdas as horas
ando devagar
vou levando meu barco,
o tempo não me é favorável
e num momento, posso tropeçar
uma parte de mim diz-me que consigo
enche-me de certezas e esperança
a outra diz-me que cheguei ao fundo
perdi de mim a criança,
a solidão é agora meu mundo.
no rosto os sulcos são sinais
dum navio perdido na rota
será que ainda tem volta
ou não voltará jamais?!
natalia nuno
rosafogo
Desenho
Com o lápis na mão,
voando na imaginação
parece brincar
a todo instante.
De repente,
um círculo
vira bola,
um quadrado
é um avião.
Assim horas
e horas
viaja longe
em toda direção.
O desenho
da criança
as vezes não é fácil
de adivinhar
e você sem saber
tenta interpretar.
Misturam cores,
inventam formas,
falam de seus
sentimentos,
sem constrangimentos!
NÃO FUI MENINO PERALTA
NÃO FUI MENINO PERALTA
Não fui menino peralta...
A inapta velhice
Na estultícia da noite alta
Agora, bem agora
Lembra, sem matriz,
Aquela peraltice
Das tolices
Que não fiz...
Justo ela, a manha,
Aquela entranha
Que por ora me falta...
Ter sido obediente
: A desobediência
Mais casmurra e burra
Da inteligência
Daquele menino tão paciente
Sentadinho à beira
Da calçada da rua
Quando criança
Hoje a nostalgia encontrou-me sorrateiramente
Como quem quer fazer morada fez-me chorar
Copiosamente sem motivos-, quem sabe aparente.
Quão saudosa lembrança quando criança de gritar
Ser feliz poder voltar por um instante e acalmar
Deitar na relva ouvir o canto dos pássaros inocentes
Hoje a nostalgia encontrou-me sorrateiramente
Como quem quer fazer morada fez-me chorar.
Recordação de um passado distante hoje ausente
Na noite serena iluminada pela luz da lua constatar
A beleza do céu pontilhado de estrelas praticamente
Deixava-me sonhando mesmo sem entender confiar
Hoje a nostalgia encontrou-me sorrateiramente
Mary Jun
Autorais reservados
Lei. 9610/98
Eu estou por aí...
Estou por aí, a espera de um doce...
Me dê um doce de vida, que eu te dou o sol que brilha, que brilha no meu peito, aguardando acolhida.
Somente a comida é que enche a barriga.
Não a comida que eu faço, essa é pra não morrer de tédio, durante o caminho que faço.
Quero comida feita por mãos de Alice, Branca de Neve ou Bela Adormecida.
Porque na caminhada, não encontrarei com o Homem de lata, nem Anões, nem mesmo uma Bruxa pra me furar com uma agulha.
Sei que parece delírio tudo isso.
Tem momentos que parece que flutuo em minha própria mente.
Mas mente de criança, não tem delírios...
Tem dias de vida, sem se misturar com a desgraça de caminhos entrelaçados de vícios obscuros, que de dia, tem rotina pousada na sequência que desagrada a alma bandida...
E de noite, tem pausa, que sem querer, mas desejando o infame, se solta em uma roleta russa sem nome, pra poder da conta de sua fome.
Acho que fome de crescer, entender, de ter sem se arrepender...
Mas é que voltar a ser criança enquanto passo pela vida sem saber a andar por onde...
Ajuda a estar por aí, sem me acusar de não mais está engajado em ser apenas o que a vida me trouxe até aqui...
Se não o peso é grande...
E não suportarei a mudança de sair de uma vida de esperança, pra fazer o mundo girar ao redor de mim.
Mas principalmente ser criança na inocência da estrada que mora dentro de si, e não nos caminho que vejo em minha frente, e que decido escolher, mesmo que me leve a sofrer.
Mas assim mesmo estarei por aí...
As vezes ao vento...
Sem me arrepender de sair da casa que morei quando criança, e que me traz tantas lembranças, de quando não tinha nome de gente, apenas um apelido que dançava conforme a música e o tempo...
Mas que não imaginava que em um simples dia, um belo nome eu seria, cheio de mistérios, e que se misturou em um mundo de cheio de velhos...
Só que seria bom se fosse os idosos, mas só os que trouxeram sabedoria em suas costas surradas...
Só que não são os idosos não, é um povo egoísta em sua jornada, caminhada...
Que estão por aí...
Sofrendo e fazendo o outro sofrer!
Simples assim.
Antonio de J. Flores
Uma reflexão com uma pequena homenagem ao ser criança!