Intimidades
Nos dias em que a noite é o sol da manhã, parto para o limiar da escuridão ao encontro da luz, por cimentos descodificados nos sentimentos cinzelados, com a máquina na mão procuro vestígios das corridas do tempo. Gravo numa pasta que a ninguém vou mostrar.
Gritos
chorem os homens
deixem as mulheres em prantos
larguem as crianças
num abandono
sem lei
...gritem, gritem
em vozes que se escutem
para lá dos vidros escuros...
Adormeçam a madrugada
Adormeçam
e deixem os sonhos
planar
na aurora que cedo chega,
com os raios de sol
queimados pelo tempo
que não se esgota
mas cansa
as ânsias de uma madrugada fria...
Adeus até já
Adeus
eu vou partir
vou para onde tenho espaço
mas volto para agradecer
a falta de espaço...
Adeus
até já
Jardim do nada
O calor sopra
as vertinges do sol
calam a lua,
que chora nua
numa noite de Verão...
Era Agosto
e os dias vestiam
longos cabelos
num banco vazio
deitado no jardim do nada...
Náuseas
Tenho náuseas
quando encontro
puristas
incharmos de pecado,
fico ébria
sem conhecer
os limites da sátira
desumana onde a mentira
é o vasto campo em ascensão...
Servem-se iguarias
lambuzadas de fel
em frascos de mel
com produz no agricultor…
Resta o vómito!
Vulgar
Ouvi por aí
que as frases morreram
mas afinal
o final foi o mesmo
de tantas outras frases
que somente aguardam aplausos...
Junto dos pés tenho um livro
aquele que não li
porque o assunto
era tão banal
como as páginas que vejo aqui...
Vulgar
vulgar são os lugares
onde nada de novo se encontra...
Eu estou confusa
Numa reflexão às escuras
procuro os rostos
escondidos
nas mascaras...
São tantas...
Entram pelo mesmo portal
em várias formas
com conteúdos
difusos...
Eu estou confusa!
A razão das palavras
Se o pensamento existe
o pensador faz parte da existência.
Se a vida é um acaso
o destino
é traço obliquou da esfera
por onde as vestes se negam...
Se a poesia é mera utopia
porque razão nascem as palavras
em tantas vozes humanas!
De um qualquer
Serão castas as mulheres
que se escondem
no materno ser,
e no escuro dos dias
se enrolam
nos fenos ardidos
de um qualquer...