Colchão de papel e poesia
A folha que caiu
denunciou o momento
que se foi longe
perdida ao vento
mas deixou seu aroma
perfume presente aqui
de folha em folha
construí nosso jardim
das arvores tirei o papel
nele rabiscos de poesia
em letras coloridas
algumas com tons brilhantes
para enxergar versos
até na madrugada escura
que chegou mansamente
e nas folhas deitei
meus sonhos e pesadelos
mistura de esperança
com medo de perder-te
(eu já perdi)
refiz minha cama
colchão de papel e poesia
para acordar cedinho
e mesmo sozinho
te mandar um beijo
rosto e lábios molhados
(devo ter chorado, sei lá)
sorrindo sozinho
ao te falar baixinho
bom dia linda...
como as flores que foram
regadas diariamente
com tanto carinho
para seu cabelo
um dia quem sabe
enfeitar
Todo jardim começa com uma história de amor, antes que qualquer árvore seja plantada ou um lago construído é preciso que eles tenham nascido dentro da alma. Quem não planta jardim por dentro, não planta jardins por fora e nem passeia por eles.
Rubem Alves.
Quem explica a poesia?
Se eu fosse tentar
descrever o que sinto
quando termino um poema
apesar de sempre achar
que eles nunca estão concluídos
diria que tenho a sensação
como quase vontade de gritar
que mesmo que mil folhas
eu tivesse para descrever
o que sinto aqui
e as lotassem de versos
certamente ainda iria existir
uma folha em branco
ou um monte de palavras
soltas no ar, flutuando
esperando sua hora
e nesta jornada errante
vou buscando rimas
juntando alegria e tristeza
para virar poesia
mas ainda tenho comigo
o sentimento da espera
do verso perfeito
da palavra definitiva
e acabo me imaginando
como autor de nada
ao notar que nenhuma linha
veio das minhas mãos
acho que nem mesmo
da minha cabeça surgiu
tantos poemas
que nem sei enfim
se bons ou ruins
e só consigo pensar
de tudo isto que eu
não explico nem entendo
de onde podem surgir
só me resta viajar
e com os olhos fechados
enxergar palavras soltas
saindo da minha alma
germinando e crescendo
para frutificarem no meu
coração
Merlot, Cabernet?
Merlot, Cabernet?
tanto faz a casta
pois castos não somos
quero minha boca
roxa e molhada
com um sabor raro
o gosto da uva é você!
como os seus lábios
juntos do meu beijo
Numa taça o sonho
Numa taça a ilusão
de te querer mais
sempre mais
Como uma safra rara
nobre, pele macia
em beleza e cor
Teu cheiro, minha lingua
Combinação mais que perfeita
Quero ter sempre mais
Até o fim
Boca roxa e borda molhada
líquido vivo na taça
Que escorre lentamente
Dentro de mim
Não me negues o último gole
Quero-te inteira
Recomeço, bebo novamente
você sempre, mais um gole
não me importa se você é....
safra rara ou vinho barato
Nada muda
Levemente gelada, temperatura ideal
do vinho mas me acende, incendeia
Minha boca será sempre tua
Roxa, para te sorver lentamente
para te ter inteira
nos meus lábios
saboreando suas bordas
e dobras
desde o começo
até a última gota
Sonhando você
Em tantos momentos sonhei
que poderia ter o teu amor
nem que por um instante
apenas um beijo sequer
sempre acordei sozinho
sem querer abrir os olhos
para o dia que chega
Mas não te culpo
jamais teria este direito
nunca me prometeu nada
só falou em saudade
vontade de estar perto
mais nada além
somente agora enxergo
como fui um tolo
achar que num dia
o amor dentro de mim
poderia te buscar
não só ter vida
nos versos desta poesia
onde infelizmente
terminei rimando
solidão com desilusão
Ainda me faço de bobo
engano meu coração
para poder voltar a dormir
e ter nesta hora
você tão perto aqui
que sonharei novamente
com o amor imaginado
que só existe mesmo
doce ou amarga ilusão
Espere meu abraço
Então me espere
pode até ficar na porta
que estou chegando
com um abraço apertado
tanto quanto a saudade
de ti
e neste enlace
as palavras escondidas
não serão faladas
somente sussurradas
em teu ouvido
e te direi
sempre esteve certa
ao me esperar
mesmo questionando-se
você sempre soube
que este dia
tempo de nós dois
iria chegar
Repleto
Já fui mundo
só pude ser
porque um dia
você foi tudo
nenhum espaço
ficou sem ti
nenhum pensamento
foi meu sem você
Hoje sou vácuo
não quero mais
nada desta vida
mas se pudesse
fazer um pedido
trocaria tudo
para fazer parte
do seu mundo
seremos plural
em toda noite
olharei o céu
diante da escuridão
vou te enxergar
como fonte de luz
estrela brilhante
como seus olhos
valem o meu céu
valem a noite
te quero sempre
como meu farol
por tudo
que sempre senti
ainda sinto por ti
teremos juntos
um mundo repleto
de nós dois
Um beijo
Se você pedir
eu posso beijar
seu corpo inteiro
parte por parte
vagarosamente
até mesmo aquelas
que envergonhada
terá que abrir
para minha boca
mas se eu puder
escolher o local
para o primeiro beijo
beijaria sua testa
como representação
do seus pensamentos
e do seu olhar assustado
escolheria seus olhos
tendo alguns motivos
pois são como portas
da sua alma
terna e eterna, linda
muito mais bonita
que seu corpo bonito
e também para que
sua visão agora
tenha sempre a frente
o melhor da vida
o melhor caminho
livre de amarras
mas depois disso
não se esqueça
beijarei o resto
longamente.....
sem pressa para
terminar
Ah.. como eu queria
Ah como eu queria
ter um poema
escrito por você
onde dissesse
mesmo sem ser poeta
que sente minha ausência
falaria em saudade
em querer me ver
Ah que bom seria
pensar que procura
desesperada
em algum momento
meus beijos
meu carinho
Ah quanta ilusão
imaginar sozinho
que num momento
olha para o céu
e me chama
pelo menos
no seu coração
Ah que loucura
te imaginar
no meu lugar
sofrendo minha falta
Ah quanto sonhar
em pensar assim
quem sofre
quem sente falta
o tolo sonhador
sou eu
sozinho
Ah menina
jamais vais sentir
o que me move agora
jamais
Cartomante
Por tantas vezes
tentei me fazer entender
em palavras tão banais
quis me explicar
ou explicar o inexplicável
Hoje eu tenho como certo
que não queres saber
do que tenho para te dizer
mas tenho claro comigo
que tu sabes tudo
sempre soube de tudo
mesmo fingindo inocência
Reconhece em cada letra
no meio de cada verso
uma declaração
de um amor presente
mas que é só
deste tempo sim
do meu tempo apenas
não tem futuro
Me sinto agora
como se a cartomante
desvendasse minha sorte
em apenas uma carta
toda branca e vazia
sem significado algum
talvez uma outra carta
inteira tingida de vermelho
com um coração pulsando
o meu, apenas o meu
sem futuro para ele
sem nada para mim
Será...
Affonso:
Será que no fundo
dos seus olhos
um dia encontrarei
as respostas que busco
o que quero achar?
ou a minha busca
só o vazio vai encontrar?
duvido, seus olhos
já valem a busca
buscar seu olhar é achar-te
aprofundar-se neles então
nem definição tenho
só me basta caminhar
só me basta o olhar
deixo as perguntas
de lado, quietas
nem sei formular
caminho mais uma vez
olho mais mil vezes
novamente esqueço
várias questões
que quis formular
do que fez comigo
trago apenas uma certeza
minha senhora
tens o poder
de me encantar
a cada dia mais...
Berloques:
Porque me questiono assim
porque é uma incerteza
se eu te quero tanto...
por que,
por quê?
em qualquer poema
em que reúno
palavras e pontuações
és Tu que apareces
nas minhas revelações.
Se o meu alimento
baseia-se no teu olhar
por onde anda o meu
que te olha dia e noite
e parece não te alcançar?
mas não cruzo os braços
nem o meu peito
fica vazio
sempre que te olho
de novo, arrepio.
E mais uma vez
e de novo outra
e mais outra
até cansar
volto a questionar,
será que no fundo
do teu olhar
tem a resposta
que espero encontrar?
Affonso:
E mesmo que
nunca encontre
respostas que busquei
no meu caminhar
enxerguei-te inteira
como uma lupa
de cada pedaço seu
nada deixei escapar
hoje não me importa
se sofri, se chorei
pois nestes momentos
mesmo sozinho
mergulhei no fundo
deste olhar
que ainda detém
o poder de encantar
Affonso + Berloques Imaginários:
http://www.luso-poemas.net/modules/yogurt/index.php?uid=13913