Poemas, frases e mensagens de leonardofreire

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de leonardofreire

Menino Travesso

 
O menino corre e se esconde
De um pai com o chicote à mão,
Travessuras feitas não se sabe onde
Por um moleque isento de afeição.

Horas depois o menino volta
Pega a bicicleta e sai a pedalar,
Sorri brejeiro e a alegria solta
Sorvendo da infância feliz patamar.

Mistura-se a outros garotos
No jogo de bola cheio de alvoroço
Onde a gritaria é a felicidade que impera.

Estudar é a única obrigação a cumprir,
Mata aulas sem preocupar-se com o porvir
Para cantar na gandaia sua vida sincera!
 
Menino Travesso

Véi, na boa...

 
Véi, na boa...
Despachei a velha para o Cariri,
Pois a danada deu pra fazer xixi
Todas os dias na cama à toa...

Véi, na boa...
Pintei minha cachola de piche,
Pois me envergonho de tanto chifre
Que bota em mim minha coroa...

Véi, na boa...
Cê venha amanhã aqui no sítio,
Pois nunca vi carente tanto periquito
E muita comida pra um só enjoa...

Véi, na boa...
Perda de tempo é prejuízo
E como num tenho juízo
Vou dormir com minha patroa...

Véi, na boa...
Sei que quem furta é ladrão,
Mas vou roubar um coração
E fazer amor na garoa...

Véi, na boa...
Aquele menino é bonito,
O corpo dele é um palito,
Porém no amor não perdoa...

Véi, na boa...
Estou mesmo apaixonado
Por uma guria de corpo arretado
Que é uma sublime pessoa...

Véi, na boa...
Até!
 
Véi, na boa...

Bichos da Infância

 
Quando criança sofri horrores
Com histórias que hoje são lendas,
Vivia anestesiado por tantas sendas
Que estava sempre enfermo e sem amores.

Lembro-me de que havia o bicho-papão
Que sequestrava meninos para o fígado comer...
Eu me apavorava, via isso comigo acontecer
E uma taquicardia ribombava meu coração.

Noutros tempos apareceu o homem de sebo
Que andava nu e em cujo corpo bala não entrava,
Para aumentar meu pavor a perna cabeluda perambulava
Pelos telhados a fim de roubar e meter medo.

Assim cresci entre papa-figos e outras ilusões,
Hoje os bichos são as drogas que destroem as gerações!
 
Bichos da Infância

Vida Operária

 
Prevenindo-se do inverno trabalha a operária
Carregando o alimento e estocando seu quartel,
Tanto no verde quanto no seco cumpre seu papel,
Pois é muito organizada sua vida comunitária.

Trata-se de inseto que não perde tempo,
Nos minúsculos grãos de areia está presente
Levando adiante sua faina que é intermitente
Embora se desconheça na íntegra seu sentimento.

É tão pequenina que passa desapercebida,
Causa atropelos à fotossíntese dos vegetais,
Sem dúvida é um dos mais ínfimos animais.

Eis o danoso bichinho que se conhece por formiga,
Inimiga das flores, carrasco de qualquer pomar,
Mas fonte de energia e alimento do tamanduá!
 
Vida Operária

Êta gatinho dorminhoco...

 
O gatinho malhado andava triste pela casa,
Não conseguia abocanhar o ratinho que roera a meia da vovó,
Haveria de apanhá-lo, comê-lo, sem piedade nem dó,
Por isso resolvera esconder-se atrás de um móvel da sala.

Tarde da noite quando todos se retiraram para seus aposentos,
O gatinho tomou assento e ficou sozinho de tocaia,
Era preciso pegar o bandido que vivia de gandaia
E que dava prejuízos sem importar-se para aborrecimentos.

Eis que o ratinho aparece no meio da madrugada...
Sorridente, passa bem em frente ao focinho do inimigo
Que de tanto esperar dormira profundo diante do perigo
E ainda teve sua cauda roída porque estava suja de mangaba...

E no dia seguinte ainda teve de escutar a chateação
Do povo da casa que comentava:“Este gato serve para nada não!”
 
Êta gatinho dorminhoco...

Bichinho de Pelúcia

 
O bichinho de pelúcia que enfeita sua cama
É confidente de seus mais secretos desejos,
Recebe profundo carinho e os mais efusivos beijos
Da fidelidade pueril que caracteriza sua dona.

Sonhador coadjuvante de inconfessáveis devaneios
É a primavera que moldura sensível jardim suspenso
Em que a inocência é o espelho que molda o senso
Da criatura que o tem na intimidade de seu seio.

Nas noites de chuva é o fogo da paixão que aquece
E deixa o sono sonhar com infindáveis quermesses
Que tornam doce e inesquecível o alegre despertar.

Aconchego que se aperta com sublimidade e ardor,
Manifestação autêntica de uma relíquia de amor
Que os lábios osculam sentimentalmente devagar!
 
Bichinho de Pelúcia

Colibris do Amor

 
Sonhar é sinônimo de vida sadia
Especialmente se o devaneio é dos anos infantis,
Senti-me em meus sonhos amigo dos colibris
E pude captar o néctar das flores de minha fantasia.

Imenso manjar foi a tônica do meu olfato
E a natureza declarou-me invencível super-herói,
Espalhei pelo mundo substância que não rói,
Mas que alimenta a sede dos sentidos, de fato.

Em minhas asas que eram a alegria de fazer o bem
Voei grandes distâncias e fui inclusive ao além
De onde trouxe um jardim inteiro e um lindo beija-flor.

Um aroma inefável que distribuí com outras crianças
Foi implantado em todos os sonhos para germinar nas lembranças
A vontade uníssona de viver-se intensamente o amor!
 
Colibris do Amor

Pipoca Sensual

 
Severino adora uma pipoca
Com bastante manteiga e muito sal,
Não se preocupa se faz bem ou mal,
Expediente que ele usa e não se toca.

Diante da Tv assistindo a uma fita
A pipoqueira estala a noite inteira,
O filme retrata o íntimo de uma freira
Que em seu claustro come pipoca sem ser vista.

Para Severino pipoca é um tenaz afrodisíaco,
Mas ele chega à conclusão que é vício demoníaco,
Pois, como a freira, tornou-se impotente e frio.

A pipoca continua pululando na panela,
Severino e a freira tornam-se tagarelas,
Mas no remelexo sensual têm o tesão vazio!
 
Pipoca Sensual

Litoral

 
Peteca lá, peteca cá...
No calor do sol amarelo em brasa
Criança corre e se abraça
Às ondas carentes do imenso mar.

Bolas rondam banhistas distraídos...
Mãos tapeiam a redonda nos ares,
Pés afoitos rolam a pelota nos bares
Improvisados dum litoral destruído...

Ao longe barcos levantam suas velas
Na imundície de um oceano tagarela
Para o brinde ousado da meninada em festa.

Surfistas passeiam em suas pranchas destemidos
Dos peixes carnívoros, famintos pelo libido
Dos jovens que extasiados e ébrios emprestam...
 
Litoral

Comadre Fulozinha

 
Senhora das florestas, bosques e matas,
O corpo arde quando é vítima do seu chicote,
Ela tem forma de menina e seu ódio é forte,
Pois se ofende quando a natureza alguém maltrata.

Protetora das plantas e dos inofensivos animais,
Age sem remorso e aparece sempre sozinha,
Sua lenda ficou conhecida como Comadre Fulozinha
Que existe até hoje por notícia dos nossos ancestrais.

Guardiã impiedosa e amiga íntima de Pererê,
Assume vez por outra o cachimbo porque
O fumo alimenta sua força com o veneno da fumaça.

Adora mingau de mandioca e detesta pimenta,
Faz tranças nas caudas dos cavalos e enfrenta
Aos assovios homens que se perdem no mato quando caçam...

Para muitos Fulozinha é um espírito que caricatura
Uma mitologia que não faz morada em sepultura,
Mas que vive alerta no espaço em que se disfarça!
 
Comadre Fulozinha

Vítimas da Situação

 
Acorda cedo, banha-se, toma café.
Mochila às costas rumo aos estudos...
Na escola aprende, perturba, faz de tudo,
Depois para casa retorna pé ante pé...

Banha-se novamente... Almoça.
Na televisão ou no computador descansa
E engana a tarde com os artifícios de criança.
Quando chega a noite, janta. E as tarefas? Pouco importa...

Cresce sem aprender, quase analfabeto...
Ao chegar à mocidade, vê que não foi esperto,
Pois emprego requer além do papel, conhecimento.

Assim ocorre aprovação por instrução do Governo
Que se torna conivente com quem vai meter medo
Visto que trabalho para essa gente é um tormento...
 
Vítimas da Situação

Brincar de Médico

 
A meninada se reúne no meio da praça,
Diante de tantos folguedos pareço cético...
Vamos agora brincar de médico?
Pede um garotinho à menina cheia de graça...

A menina espertamente inverte os papeis...
Sim, guri... eu sou a médica e, você, o doente...
Vamos logo fazer uma vistoria nestes dentes,
Pois você come muito açúcar e engole pasteis.

Pego de surpresa, o garoto não pode recuar,
Senta-se num banco e deixa-se examinar
Enquanto a “doutora” os dentes peteleca...

Depois cuidadosamente olha a barriga do paciente...
Levanta a camisa do garoto e não se dá por contente:
Bem, preciso que você agora baixe sua cueca...
 
Brincar de Médico

Dona Carochinha

 
Dona Carochinha apareceu esta madrugada...
Num canto da boca prendia um pirulito,
No outro soprava estridente apito
Despertando do ostracismo as vertentes do nada...

A criançada acordou-se tonta e espavorida
E correram afoitas ao encontro da cinderela
Que narrou histórias e prometeu divinas aquarelas
Para que se adocicasse os momentos da vida...

Os inocentes creram no que a fada previra
E não se lembraram de suas antigas visitas,
Mais uma vez caíram em promessas esquisitas
Que mostraram que Carochinha é a rainha das mentiras...

Portanto, meninos e meninas: estudem, trabalhem, saiam do ócio
Para que Carochinha não lhes empreste o nariz de Pinóquio!
 
Dona Carochinha

Batuta Infantil

 
Crianças gostam de açucarar a vida,
Vivem na sacarose alegre dos folguedos,
Correm e se divertem associadas aos brinquedos
E choram de desencanto quando se sentem reprimidas.

Nos castelos da infância gravam-se segredos
Que arrepiam os mais inomináveis sonhos,
Esboçam-se sorrisos de um palor nada tristonho
Em que se encobrem astúcias isentas de medo.

Na suntuosidade angelical que vivifica a inocência
O desvelo pueril é a marca que cicatriza de excelência
Os anos dourados que ficam exilados da maturidade.

Ingênuos cálices de esperança que alimentam o coração
Em que se vinculam fiel sinceridade e nobre afeição
Na batuta que rege este universo repleto de felicidade!
 
Batuta Infantil

Dialogando com o Sítio

 
Criança também conhece desenganos,
Em sua identidade infantil percebe-se uma melancolia
Que a torna rebelde, distante e arredia
Diante do espelho em que se elaboram seus planos.

A garotada precisa navegar pelo universo da ficção,
Daí retirar ingredientes e colorir grandes castelos,
Mergulhar de cabeça pelo Sítio do Pica-Pau Amarelo
E consumir dos personagens a sapiência para a sua formação.

Ouvir construtivas histórias relatadas por Dona Benta,
De Emília e Pedrinho contar e escrever o que não se inventa
E saber exatamente que doze dúzias formam uma grosa.

Não se pode deletar o Saci e o deixar de lado,
Longe do Sítio sobrevive Jeca Tatu que é criação de Lobato
E nesta encantadora fábula vive também o Visconde de Sabugosa!
 
Dialogando com o Sítio

Pânico Púbere

 
Fui uma criança capeta,
Até dez anos usei chupeta
E mamei do leite de minha ama...

Puberdade em mim foi escândalo,
Vi-me de repente me transformando
Em pelos e pelos feito uma rama...

Meu tórax crescia e o peito inchava,
Eu pensava que estava era doente,
De todos eu escondi o corpo diferente
E ninguém qualquer orientação me dava.

Chegou o instante em que julguei o fim,
O órgão adornado ficou deveras ereto
E eu meio atônito o apertava decerto,
Pois no líquido branco me desvendei a mim!
 
Pânico Púbere