Menino Travesso
O menino corre e se esconde
De um pai com o chicote à mão,
Travessuras feitas não se sabe onde
Por um moleque isento de afeição.
Horas depois o menino volta
Pega a bicicleta e sai a pedalar,
Sorri brejeiro e a alegria solta
Sorvendo da infância feliz patamar.
Mistura-se a outros garotos
No jogo de bola cheio de alvoroço
Onde a gritaria é a felicidade que impera.
Estudar é a única obrigação a cumprir,
Mata aulas sem preocupar-se com o porvir
Para cantar na gandaia sua vida sincera!
Véi, na boa...
Véi, na boa...
Despachei a velha para o Cariri,
Pois a danada deu pra fazer xixi
Todas os dias na cama à toa...
Véi, na boa...
Pintei minha cachola de piche,
Pois me envergonho de tanto chifre
Que bota em mim minha coroa...
Véi, na boa...
Cê venha amanhã aqui no sítio,
Pois nunca vi carente tanto periquito
E muita comida pra um só enjoa...
Véi, na boa...
Perda de tempo é prejuízo
E como num tenho juízo
Vou dormir com minha patroa...
Véi, na boa...
Sei que quem furta é ladrão,
Mas vou roubar um coração
E fazer amor na garoa...
Véi, na boa...
Aquele menino é bonito,
O corpo dele é um palito,
Porém no amor não perdoa...
Véi, na boa...
Estou mesmo apaixonado
Por uma guria de corpo arretado
Que é uma sublime pessoa...
Véi, na boa...
Até!
Bichos da Infância
Quando criança sofri horrores
Com histórias que hoje são lendas,
Vivia anestesiado por tantas sendas
Que estava sempre enfermo e sem amores.
Lembro-me de que havia o bicho-papão
Que sequestrava meninos para o fígado comer...
Eu me apavorava, via isso comigo acontecer
E uma taquicardia ribombava meu coração.
Noutros tempos apareceu o homem de sebo
Que andava nu e em cujo corpo bala não entrava,
Para aumentar meu pavor a perna cabeluda perambulava
Pelos telhados a fim de roubar e meter medo.
Assim cresci entre papa-figos e outras ilusões,
Hoje os bichos são as drogas que destroem as gerações!
Vida Operária
Prevenindo-se do inverno trabalha a operária
Carregando o alimento e estocando seu quartel,
Tanto no verde quanto no seco cumpre seu papel,
Pois é muito organizada sua vida comunitária.
Trata-se de inseto que não perde tempo,
Nos minúsculos grãos de areia está presente
Levando adiante sua faina que é intermitente
Embora se desconheça na íntegra seu sentimento.
É tão pequenina que passa desapercebida,
Causa atropelos à fotossíntese dos vegetais,
Sem dúvida é um dos mais ínfimos animais.
Eis o danoso bichinho que se conhece por formiga,
Inimiga das flores, carrasco de qualquer pomar,
Mas fonte de energia e alimento do tamanduá!
Êta gatinho dorminhoco...
O gatinho malhado andava triste pela casa,
Não conseguia abocanhar o ratinho que roera a meia da vovó,
Haveria de apanhá-lo, comê-lo, sem piedade nem dó,
Por isso resolvera esconder-se atrás de um móvel da sala.
Tarde da noite quando todos se retiraram para seus aposentos,
O gatinho tomou assento e ficou sozinho de tocaia,
Era preciso pegar o bandido que vivia de gandaia
E que dava prejuízos sem importar-se para aborrecimentos.
Eis que o ratinho aparece no meio da madrugada...
Sorridente, passa bem em frente ao focinho do inimigo
Que de tanto esperar dormira profundo diante do perigo
E ainda teve sua cauda roída porque estava suja de mangaba...
E no dia seguinte ainda teve de escutar a chateação
Do povo da casa que comentava:“Este gato serve para nada não!”
Bichinho de Pelúcia
O bichinho de pelúcia que enfeita sua cama
É confidente de seus mais secretos desejos,
Recebe profundo carinho e os mais efusivos beijos
Da fidelidade pueril que caracteriza sua dona.
Sonhador coadjuvante de inconfessáveis devaneios
É a primavera que moldura sensível jardim suspenso
Em que a inocência é o espelho que molda o senso
Da criatura que o tem na intimidade de seu seio.
Nas noites de chuva é o fogo da paixão que aquece
E deixa o sono sonhar com infindáveis quermesses
Que tornam doce e inesquecível o alegre despertar.
Aconchego que se aperta com sublimidade e ardor,
Manifestação autêntica de uma relíquia de amor
Que os lábios osculam sentimentalmente devagar!
Colibris do Amor
Sonhar é sinônimo de vida sadia
Especialmente se o devaneio é dos anos infantis,
Senti-me em meus sonhos amigo dos colibris
E pude captar o néctar das flores de minha fantasia.
Imenso manjar foi a tônica do meu olfato
E a natureza declarou-me invencível super-herói,
Espalhei pelo mundo substância que não rói,
Mas que alimenta a sede dos sentidos, de fato.
Em minhas asas que eram a alegria de fazer o bem
Voei grandes distâncias e fui inclusive ao além
De onde trouxe um jardim inteiro e um lindo beija-flor.
Um aroma inefável que distribuí com outras crianças
Foi implantado em todos os sonhos para germinar nas lembranças
A vontade uníssona de viver-se intensamente o amor!
Pipoca Sensual
Severino adora uma pipoca
Com bastante manteiga e muito sal,
Não se preocupa se faz bem ou mal,
Expediente que ele usa e não se toca.
Diante da Tv assistindo a uma fita
A pipoqueira estala a noite inteira,
O filme retrata o íntimo de uma freira
Que em seu claustro come pipoca sem ser vista.
Para Severino pipoca é um tenaz afrodisíaco,
Mas ele chega à conclusão que é vício demoníaco,
Pois, como a freira, tornou-se impotente e frio.
A pipoca continua pululando na panela,
Severino e a freira tornam-se tagarelas,
Mas no remelexo sensual têm o tesão vazio!