Vela
Deixe-me á meia luz,
Á meia sombra,
Á meia vela,
Com a minha cruz.
Vela que se consome,
O tempo some
E nessa esfera
Ninguém me espera.
Explosão do combustível;
Meu peito explode,
Líquido escorre.
O barulho me torna inaudível.
Eu me habito,
Querendo me ouvir.
A filha do fogo
Olhar intenso, porém sutil
Perdido no imenso céu cor de anil
Se esquivando do comando sem nenhuma reverencia
De tudo o que sentiu o que restou foi essa ausência
Ausência de vingança que expandiu toda essa mágoa
O que se faz quando a esperança escorrega como água?
Sublime insanidade; Não há razão, não há saída
Vivendo uma verdade que revira a sua vida
Revira o rio da mente que fica a transbordar
Presa em suas margens, refúgio num mar morto
Não há lugar pra santidade
Dá pra ver no seu olhar
Sombria claridade
A filha do fogo
Lágrima fria como um grão de neve
Interior quente, sangue que ferve
Faz o mundo acabar, virar cinza em um só sopro
Faz as feras despertarem
A filha do fogo
Sentimento ruim
Está cravado em meu peito
Um sentimento ruim,
Que me faz sucumbir
E eu rastejo.
Depois de todos os meus feitos,
Agora chego ao estopim.
Criando essa peste, o eleito
Como causa natural de meu fim.
Depois que ele estiver satisfeito,
Não restando um pedaço de mim.
Sua fome retornará a cumprir
A desgraça de outro pobre sujeito,
Que alimenta como alimentei
Os sentidos e o mal de sentir
Cada maldito sentimento ruim
No mais fundo do peito,
Cessará sua fala em seu leito
Quando o lamento cessar e assim
Repetindo o meu triste roteiro
Restará uma mancha carnim.
Lúcifer
Sua luz apagou
Suas asas caíram
Ele deixou seu amor
Onde os santos ouviram
Sua musica
O silencio castiga
Sua melodia morreu
Em seu rosto as estilhas
De um falso deus
Não há fogo
E nada aquece sua pele
Em seu corpo
O inferno se repete
E o repele
Os rejeitados o seguem
Buscam em seus olhos a salvação
Mas o inferno se entristece
Em um longo suspiro de solidão.
Desencontro
A luz concede sentido á visão,
Mas eu enxergo no escuro onde não há sentido.
Não há coisa sã em minha carne
E nem em meus olhos aflitos.
Concedeste misericórdia
À miséria do meu coração.
Mas tua luz trouxe discórdia
Alimentando minha escuridão.
Em teus olhos enxergo insígnias
De fulgor, amor e verdade.
Eles são duas pedras ígneas
De intensa claridade.
Em que consiste a tua essência
Eu desconheço, não sei dizer.
No entanto tomo por referência
A esperança do nascer.
Não quero eclipsar a tua luz,
Escurecer tua visão.
Meu distanciamento traduz
O que falta em meu coração.
Queres meu calor,
Mas meu corpo está tão frio.
Sentes sede de amor,
Mas meu corpo está vazio.
E em nosso desencontro,
Eu me encontro,
Me assombro
E me encanto.
Está tudo em mim
A história da verdadeira dor
Como uma manta caindo sobre mim
Essa dor é real
Sinto-a aqui
Quando choro tudo acontece lentamente para mim
Não há luz
Parece ser o fim
Quando choro as folhas secam para mim
Está em mim
Está tudo em mim
Quando choro o mundo pára para mim.
Voltas
Voltas e voltas sem intervalo
Voltas e voltas
Está tudo girando
Sou um corpo celeste no espaço
Na inércia, só, gravitando
Voltas e voltas
Quero me desvencilhar
Voltas e voltas
Me deixe ir embora
Se esse ciclo não parar vou continuar a sangrar
Está tudo girando a minha volta
O pesar de meus pensamentos me faz sufocar
Sinto algo violento me partindo
Solte as correias, me deixe respirar
Me sinto desmembrando, esvaindo
Voltas e voltas ao fundo penetrando
Violando, absorvendo devagar
Voltas e voltas nas entranhas me tomando
Se esse ciclo não parar vou continuar a sangrar.
A dor
Abrange todo o meu corpo e vai além.
Me segura por dentro e arremete
Lavando meu todo e mais alguém,
Que mora em mim e me acomete.
Falo da dor que meus olhos refletem.
Sinto o ardor de suas mãos que repetem
Movimentos pesados e brutais,
Que caíram outrora sobre meus ancestrais.
A dor que devora e desmancha a ternura,
Preenche por dentro a carne em fervor.
Submetida á lagrimas em alta temperatura.
A dor que prepara a carne a tortura
E de cada carne quer sentir o sabor,
De cada clamor quer extrair a loucura.
Marcia
A cada dia que passar
Em cada noite que cair
Nossa amizade nunca morrerá
Sua lembrança nunca vai sumir
A cada lágrima que em meu rosto rolar
Em cada suspiro que minha alma sentir
Nossa amizade nunca morrerá
O tempo não vai destruir
A cada batida do meu coração
Em cada momento que nós sorrimos
Não deixe lugar para solidão
Pense em tudo que nós sentimos
A cada segredo confidenciado
E a confiança que passou a crescer
Não tenho você aqui do meu lado
Mas a nossa amizade nunca vai morrer.
Infância
Repudio a minha ignorância
Neguei-me, pois nada sei
Não resta lugar em mim pra arrogância
Humilhei-me, subjuguei
Onde ficou a minha infância?
Nas margens do meu saber,
Minguando sem relevância
No ato de reviver?
Ela que ainda vive
Mas não quero perceber
Sinto que não desiste
Inda resiste pra não morrer
Ela que me agride
E me impõe o que não sei
Então me mostra que o saber
É bem mais do que eu pensei.