A minha vagina tem dias que diz sim
Ao ouvido que a escuta
não lhe contem nada
sobre o poder da recusa
Ainda há dias
assim como há vaginas
que nos enviesam o coração
Sou uma caixa de ressonância
nunca, por nunca, só
sou a foda lírica
e voo
voo num gemido.
Um poema do nada
tem
esqueleto
memória
cruzamentos
rotundas
pessoas
sorrisos
estrelas
ondas
sangue
tem ainda mais palavras do que as consigo listar
resta-me a derradeira
o silêncio!
Menina bonita não diz palavrões
Treina ao espelho
beicinho
treina ao espelho
choro
treina ao espelho
discurso
depois do treino
limpa vidro com luvas Prada
se fode ou nem fode
pouco importa
agora eu
sou menina feia
faço um quase-poema
penduro artigos definidos que havia mutilado
na orelha esquerda o a
no mamilo direito o o
na orelha direita o as
no mamilo esquerdo o os.
A toda e qualquer alma sensível
Um beijo
[comecemos assim]
Um ramo de acácias
[nivelados por cima]
Uma jarra
[a testa como alvo?]
Uma lareira
[ardem as saudades]
Um naco de carne
[pénis?]
Um papel celofane
[embrulha o coração]
Uma vagina plastificada
[há falta de melhor]
À conversa com o pénis
E a gaivota?
maldito paralelo
sei, sei, apenas uma ave confusa
devia ter feito madeixas
sobrou arroz do almoço
o verde fica-me bem
serei uma migalha?
pragmatismo, pragmatismo
coitada da vizinha, o filho morreu de cirrose
já ressonas?
tenho fome
amanhã, compro uns sapatos novos.