O medo da duna …
Afastamos o bondoso pescador do nosso pequeno deserto de areia.
Não acreditamos no que ele nos diz…
Ele apenas grita suavemente a brisa soprando:
- O mar é a seguir à duna …
Na verdade, preferimos a perfeição do sonho idealizado
Supomos que um dia o azul infinito se tornará eterno nos nossos lábios
Tocados por um beijo de um náufrago, chegando com o seu barco de papel …
Para isso basta ficar …esperando …
Quero ser céu …mas não posso ser o teu …
Quero voar
Repetir acenos de asa …
Em todas as partidas
Sem as lágrimas …
Sem a prisão do chão …
Quero morrer
Voltar a ser ave
Tornar-me leve
Fora
Da gaiola
Feita de carne
Quero ser gota …
Quero ser o contrario de ti,
Que te tornaste
Sede
Fora da boca …
E renasceste mar…
Amantes de verão…
Desalinharam os dentes
Num torcer de línguas …
Chamaram de beijos,
Essa tentativa assassina
De se comerem …
E se esvaziaram …
No quarto
Entre amanheceres…
No final do verão,
Trocaram contactos e moradas erradas
Para que o destino não coincidisse com o destinatário…
E assim voltarão a ser estranhos
Depois de partilharem
Um milhão de suores,
Entornados de paixão nos corpos…
Um desporto chamado sexo
Um tempo achado sem o afecto,
Intimamente desejado
No coração …
O pacífico transborda diante de um robalo…
No lugar onde moro, o sentimento tem nome de peixe e a emoção nome de mar oceânico …
É frequente ouvirmos alguém a dizer:
- “Os meus cardumes são verdadeiros por ti…”
- “É com muito índico que me despeço …”
Sempre que chegas a este cume do Buçaco e escreves com a tua alma …ficamos inundados de palavras mestras …
Sempre que chegas ,
Se formam lágrimas de contentamento …
Nas fendas…
Na pele…
Nas células…
Nas telas retumbantes
Do céu…
Sempre que os teus olhos falam letras ,
Tudo à minha volta se encolhe num poema …
Nas profundezas
De um mar ardente…
Correndo como menino …
Como ave peregrina,
Iniciando o primeiro voo
No infinito das linhas…
Sempre que partes ,
O silêncio despenha meu coração
Ruindo cada gosto
Fardado
Em meus ombros ….
Deixando o mofo nos lábios
E um fado sem gente …
Poema dedicado á ave Oceanites oceanicus …por outras palavras, à ninfa deste mar …por outras palavras ,à fada mais bela deste lugar…
Só ele pode voar nos teus braços
Chegou como pássaro misterioso,
Trazendo na boca
O gosto a primavera ...
Acordando
Todos os sorrisos
Da tua pele...
Todos os sonhos
Engavetados
No coração…
Se tornou gigante na delicadeza dos teus olhos ...
Sabia como ninguém todos atalhos … todos o trajectos da tua felicidade …
Despertou o amor e agitou suas asas para longe, deixando a saudade imatura e todas as verdades sedentas de toque…todos os sabores com fome…
Rezo, para que um dia ele volte, ao colo do teu ser e os dois, possam renascer no afecto …
Apesar de saber, que fui um dos tais que soletrou o sentimento no teu ventre, mas nunca poderia estar presente no seu interior …
Um dos tais, banais …que deu flores e beijos nas pálpebras…mas nunca soube ser digno do teu amor …
Ouvistar = audição do olhar…
Tenho “ouvisto” aquela mulher da rádio
Que veste a melodia fina e tão perfumada
Das palavras sino …das palavras gancho…das palavras pombo…
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Há aquele menino, reinante, a “ouvistar ” os ruídos coloridos dos turistas de pele tão lavada, que as suas barreiras dérmicas parece mais com a placenta dos golfinhos…
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Está na hora de “ouvistar ” a saudade incómoda da brisa, admitida pelo mar bravo …quem me disse foi um pássaro de cor mármore que anda a “ouvistar ” as fronteiras mediterrâneas dos dois lados das praias e dos lagos ….
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Um olho no ouvido, outro no mundo ,porque dois sentidos juntos, alcançam mais ondas, “ouvistadas ”…
Não sei como idealizas o amor !?
Minha avó ensinou-me que o amor é como o queijo fresco .
Não necessita de muitos ingredientes, só de dois …depois, basta juntar dedicação infinita, um tempo preciso, um lugar ideal para que a união dos temperos não azedem e se moldem de forma compacta e equilibrada …
Na minha vida esperei que o amor fosse dessa simplicidade tão difícil de alcançar …
Por isso procurei o outro “ingrediente “ a alma gémea que todos sonhamos encontrar…
Errei, sobrevoei o céu, mudei de continente há procura desse chão com a mesma cor dos seus olhos …
Depois de muitas tentativas, resignei-me nos braços de um mártir …de uma causa emancipada de Deus vivo...
Mais tarde, numa tarde de domingo, ouvi a minha avó dizer que o segredo para realizarmos o melhor queijo fresco é sermos exigentes connosco mesmo e percebemos que podemos melhorar sempre ….
Em forma de desabafo me dizia que ainda sonha em fazer o melhor queijo de sempre …
Talvez meu erro, foi não perceber que temos de ser dignos de encontrar essa alma, e quando a encontramos, fazer de tudo para não deixarmos de ser a mesma alma que a outra pessoa sempre procurou …
Teus dedos tristes …
Os dedos fechados
Servem de lenço
Para limpar os olhos …
Percebi isso,
Quando olhei o céu
Concentrado
No teu rosto...
Fugindo
Devagar
Nas mãos cheias de mar
…
Os dedos fechados
Servem também
Para substituí os lábios
No adeus …
Entendi isso
Quando
No silencio da boca,
As vogais desistiram de soar.
Sobrando o instinto
De acenar …
A solidão nova
E a saudade fresca
De um amor estampado
Na pele
Indizível da alma...
Espero que esses dedos fechados
Se curvem para cima
E me convoquem de novo
A ser a tua menina …
sonhar… uma forma bela de sentir o céu
nos olhos inocentes de uma criança
as estrelas adormecem de dia
no teu coração de ave “flaminga”
as estrelas são mais felizes de noite
para mim
o sentir do teu peito
é um céu azul
aberto
no recreio dos astros
no saudável desassossego
de todas as luzes que correm para o teu abraço …