Noite
És farra, és folguedo
És trabalho, és cansaço
És escuridão, és medo
És amor, és ternura
És solidão, és tristeza
Ou simplesmente
Inabalável fortaleza
Sabes ouvir, sabes guardar
Ensinas a ponderar
E nos dias mais cinzentos
Meu refúgio, companheira
Encontro-me comigo
És meu porto de abrigo
Confidente, conselheira
Aconchego-me em teu regaço
Apertas-me com teu abraço
E assim, nessa calma infinda
Nessa paz que me arrepia
Recarrego de alento
Para o começo de um novo dia
Pedido
Acordo pela manhã
Olho o mundo à minha volta
Sinto a ânsia de sair
De falar… De saltar…
De viver … De sorrir…
Empresta-me as tuas pernas
Eu quero dançar, dançar
Empresta-me os teus braços
Eu quero voar, voar
A metade de mim que a vida não alcançou
Tomou-me como refém
e assim me mantém
sedenta de liberdade,
Empresta-me as tuas pernas
Eu quero dançar, dançar
Empresta-me os teus braços
Eu quero voar, voar
Esta vida que pulula no meu peito
me sufoca, me domina, me transcende, me fascina
É a outra metade de mim
Que me grita que me empurra
Que me impele para a luta
Que me solta as amarras
Da imaginação
E me liberta desta prisão
Empresta-me as tuas pernas
Eu quero dançar, dançar
Empresta-me os teus braços
Eu quero voar, voar
Empresta-me o teu sonho
Porque eu quero sonhar, sonhar,
… sonhar
Largo da Praça
Quando para ti olho
Apetece-me ser o pintor
Da tela que ninguém pintou
Retratar tua beleza
Que o tempo não desgastou
Laranjeiras e limoeiros
Viçosos no seu esplendor
Emolduram-te de harmonia
Em mistura de cheiro e cor
As crianças em correria
Entre brigas e risadas
Futebóis e apanhadas
Enchem o quadro de alegria
Passam casais de namorados
Alguns bem atrevidos
Não querem ficar na tela
Procuram ninhos mais escondidos
Os bancos de madeira
Antigos mas renovados
Carregam a nostalgia
De rostos outrora jovens
Hoje gastos e cansados
Nessa sua travessia
Pelo tempo que já foi seu
São testemunhas fiéis
De que ao velho Largo da Praça
Coube o mais nobre dos papéis
Com pinceladas de luz
Cenário de emoções
És a sala de convívio
Entre as várias gerações
Porque os símbolos da nossa terra são raízes
que a ela nos prendem < para sempre >
Vazios
É sempre assim…
Na hora da partida
Disfarçada de alegria
Vem uma estranha sensação
Que me invade o pensamento
Entra dentro do meu peito
E me causa sofrimento
São os vazios
Vazios que ficam
No coração da gente
Vazios que partem
No coração dos outros
Feridas que doem devagar
Que só o sábio tempo
Consegue cicatrizar
Desvanecer, preencher
Com outros rostos, outras vidas
Que à minha vão pertencer
São vazios que ficam em mim…
E cada ano que termina … é sempre assim!
Julho 2012
Gosto de comparar cada ano letivo ao pôr-do-sol:sempre diferente,sempre inesquecível!
Flor amarela
O amor é uma flor amarela
Que tu pões à janela
Para o sol beijar
Sempre que desejar
Para que possa crescer
E nunca a vires a perder
Não te esqueças de a tratar
Com a seiva do carinho
A luz da lealdade,
Fertilizante natural
Que é a amizade
O vaso deves encher
Com terra da compreensão
Que há no teu coração
Assim…
A tua flor amarela
Será a flor mais bela!
E um dia…
Pura magia!
Olha a tua flor amarela:
Que lindo fruto nasceu dela!
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O despertar
O sol chega…
De mansinho
Traçando o seu caminho
E acorda com um beijo
A serra que eu vejo
Ao longe a verdejar
Não resisto, quero lá estar
Quero sentir o novo dia
Que o canto das aves anuncia
Quero pedir-lhes ao ouvido
(não sei se faz algum sentido)
Que trinem muito baixinho
Não perturbem seu vizinho
Lá de baixo, que é o mar
Não vá ele acordar mal disposto
E dar-nos o desgosto
De estragar a harmonia
Daquele despertar
Imagem Google(Serra da Arrábida-Setúbal)
Contradições
Hoje, eu não quero ver o sol
Sei que ele lá está
Em todo o seu esplendor
Cheio de luz, cheio de cor
Repleto de vida para dar
E aquela minúscula fresta
É tudo o que lhe resta
Para me alcançar
Mas hoje…
Eu não quero ver o sol
Sinto-me invadir
Por uma estranha forma de sentir
Quero correr o mundo
Com vontade de ficar
Dou por mim a sorrir
Com vontade de chorar
Contenho o meu grito
Com vontade de gritar…
Emoções em turbilhão
Se apoderam de mim
E me deixam assim
Minha mente em desassossego
Numa grande confusão
Baralha - me os sentidos
Este querer não querer
São tantos os meus dilemas
Não consigo me entender
Resta-me …
Viver intensamente
As minhas contradições
Dúvidas, inquietações
E amanhã, talvez
Determinação e coragem,
Façam parte do meu rol
E então...
Bem alto eu gritarei
Hoje, eu quero ver o sol!
Há dias assim...
Regresso
Levo na bagagem
Saudades que lá quero deixar
Da minha casa, da minha gente
Da minha infância, do meu presente
Cada regresso é único
Carregado de emoção
Sentimentos em turbilhão
Me invadem, me dominam
Me preenchem, me fascinam
Ao ninho que foi seu berço
Sou ave que quer voltar
À procura de alento
Até ao novo regressar…
Recordações
Meu corpo verga, abandonam-me as forças
O peso dos anos, há muito que chegou… e ficou
Neste pedaço de gente ressequido e gasto
Morou outro ser que eu já não sou
Sonho. Avisto dentro de mim
Uma jovem sem idade, primavera florida
Gargalhadas, amores efémeros
A correr de encontro à vida
Nos olhos, o brilho da esperança
No futuro que já passou
No tempo…resta a lembrança
Lembrança que o tempo não apagou
És tu, audaz fantasia
Meu porto de abrigo, salvação
Na descida vertiginosa, desalento em contramão
Rompendo as fronteiras do tempo
És tu que me agarras
És tu que me devolves
Ao meu dourado pretérito, oceano de alegria
És tu, audaz fantasia
Devaneio, irreal, ilusão? Pouco importa!
Neste meu entardecer, em que o ocaso não demora
Meu alimento é de emoções
E tu, audaz fantasia
Dás sentido ao meu viver
E fazes-me acreditar
…nas minhas recordações