Poemas, frases e mensagens de C_Ferreira_23

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de C_Ferreira_23

Perdido no mar.

 
O amor estranha-se
Depois arrebata-te...
Tira-te as forças
Mas dá-te outras
de forma inexplicável.

As mais simples coisas
Que hoje parecem não importar
Amanhã quando estiveres ao pé dela
Vão ser os pormenores que vais amar.

Acredita...
Já estive no teu lugar
Só não fui o oceano
Que a costa dela precisava
Não fui vela no veleiro
Nem lava no vulcão
Fui ramo numa árvore
Vitima de mais uma ilusão.

Ainda assim
Mais que tudo...
Ela continua a significar muito
Mais próximo que qualquer outra pessoa
Um dia ousou significar...
Consegue ser o meu farol,
sem saber...
E a âncora que me afunda,
Sem o querer...

Estás próximo de ser para ela
Tudo aquilo que sempre ambicionei
Não a magoes,
Porque ao o fazeres,
Estás a magoar-me também.
E quando me magoam,
Liberto ódio e escuridão
Desperto a raiva e intuição.
Qual animal ataco sem parar
Trituro tudo até nada restar...

Não te atrevas a não lhe dar mão
quando ela estiver com medo
Nem a negar-lhe um abraço que ela te peça.
Um beijo que ele te beije
Um sorriso que ele te dê.

Tens ao pé de ti
A mulher mais fascinante que conhecerás,
Consegue dizer-te tudo sem a boca abrir
Os seus olhos serão o teu espelho
E o seu corpo o teu templo...
Usa-os com sabedoria,
porque senão Deus castiga...
Posso não ser o tal Deus,
Mas se um dia a ousares largar
Correrei de novo para ela
Porque não a deixarei à deriva.

Pegarei nas mãos dela
E à minha volta a vou prender
Sufocá-la-hei num abraço eterno
Sem nunca mais a largar...

Porque o que há em mim é sobretudo restos de ti
E mesmo não sendo o centro do meu mundo
És tu quem me faz andar
A minha madrugada,
A insónia de que não quero acordar.
O sonho que respiro,
Noite e dia
Sem nunca me cansar...
O sangue que me possui
A alma que me completa
A mão que me toca
O pensamento que me domina.

És o amor da minha vida
Sabes disso a cada novo amanhecer
Respeito que não me ames
Mas não me digas para não te amar...

Porque prefiro morrer
A não acreditar
Que a vida um dia
Uma segunda oportunidade me vai dar

Aguardarei ansioso
Mesmo que no destino me recuse a acreditar
Há coisas mais fortes que as nossas crenças
Mesmo que tudo passemos a abominar.

Serei o teu boneco
Mas imploro-te para não fazeres vudu.
As marionetas também têm vida
Por muito que não queiras acreditar.

Não sou um príncipe encantado
Mas o cavalo branco está além
Foge daqui comigo...

Vamos ser felizes sem limites.

César Ferreira.
 
Perdido no mar.

Ode à Paixão.

 
Tenho saudades de ti...

O teu corpo junto ao meu
A minha mão na tua mão
Os nossos olhos entrelaçados
Os nossos lábios apaixonados

Perdidos largados
À nossa sorte abandonados
Sem água nem comida
Sobra-nos a química.
A matemática do tu mais eu
É pura simetria
Mais do qualquer metáfora
Para lá de alegoria

A história não tem datas que cheguem
O céu ficou sem estrelas
A língua enrolou-se na minha
Não há mais quem nos entenda.
A ciência não consegue explicar o amor
E a filosofia representa-nos
Somos livres pensadores
Mas sobretudo amadores.

Desistimos de tudo
E trocamos por um beijo
Um carinho na cara
Uma caricia no cabelo
O beijo no pescoço
Que a chama reacende
Uma ode à paixão
Que acende o fogo do amor...

A vida um dia que nos leva
Para lá sem saber onde
Leva-nos a nós,
Mas ao que as nossas almas escondem
Isso nem que nos torturem.
O nosso segredo
A nossa segurança da sanidade
A mental já foi
Resta a carnal.
Morremos por fim
Largados ao ar
Em cinzas
Em nada
Em ondas que vão
Mas não vêm mais.

César Ferreira
 
Ode à Paixão.

1+1=1

 
Nesta mesa estou sentado
A uma cadeira encostado
Com os pés a flutuar.

Em cima da mesa está o nada
O vazio,
Coisa nenhuma.

Não és tu,
porque és algo
Mesmo sendo tão pouco
Não deixas de ser mais do que zero

És um virgula qualquer coisa,
Porque possuis algo que não é teu
Tem algo sangrento por entre os dedos
Que me faz ser zero virgula pouco.

Tens de mim aquilo que de mais valioso
Algum dia sonhei dar...
Só foi pena teres de o roubar.

Não foi por esticão,
Nem por extorsão.
Foi um puro assalto
Efectuado com o teu simples olhar.

Mais eficaz que uma pistola
Que mete mais medo que uma faca
Penetraste-me sem ser preciso me tocar
Bastou-te um simples e singelo olhar.

Um sorriso sincero
E a voz dos meus sonhos
Rouca e melodiosa
Acompanhada por um beijo quente
Uns lábios encarnados
De um bâton de todo desnecessário...

És linda,
Mesmo ao natural
O cabelo preso
Desperta-me o pecado carnal...
Solta-o,
Só para mim...
Fá-lo voar
E trazer-te a mim

Para sempre
Ou para um bocadinho assim...
Não interessa, porque um dia,
Vou ter-te só para mim.

César Ferreira.
 
1+1=1

Rosa Com Espinhos

 
 
Tu e Eu
Espinho da tua rosa
um nada que já não se preenche
Uma dor que se me sente
Não é nada, senão amor
Paixão pelos espinhos daquela uma rosa...
Loucura pelo rosa de seus espinhos...
pelo ramo de sentires...
Sem sequer de mim saíres...

Jardim... inquilino do meu espinho mental
que só te vê como a tal
que te sente a desaparecer
que não peca simplesmente por te querer...

As flores da minha vida desvivida já morreram
e só me sobra a tua rosa
não deixas que te a destruam
pede-lhes antes que levem os espinhos
mas que nos deixem as pétalas da rosa....

César Ferreira
 
Rosa Com Espinhos

C.F

 
Quero libertar-me destas amarras
Ultrapassar toda esta loucura
Engolir todo este caroço
Olhar para trás
E pensar que tudo isto foi apenas um pesadelo

Preciso de despir estas roupas
Largar de vez esta capa
Estou cansado de ser super herói
Sem ser super
E para herói falta-me quase tudo.
Dizem que todos eles são loucos
Essa parte eu já tenho...
Agora os super poderes
Esses ficaram guardados na minha sanidade...
O espelho não me mostra o que os outros vêm,
Resta saber se sou eu que vejo demais
Ou os outros de menos

O certo é que não aguento mais
Desisto de carregar o coração e a cabeça
Mas não suporto andar com o vazio
Sou pior que uma mulher na hora de decidir o que vestir
Elas conseguem decidir-se
Eu ainda estou por descobrir.

Temo ter levantado demasiado as muralhas
Ou que haja crocodilos
O certo é que estou aqui all alone
E sem saber o porquê de cá estar.

Processo-me como o verde
E sou mistura de azul com amarelo,
Não sei o que isso quer dizer
Ou será que não quero apenas saber.

Persigo os sonhos
Como persegui um dia a perfeição
Ela já me passou à frente no dia em que nasci
E os sonhos passarão no dia em que morrer.
Porque me sinto inútil
Qual barco levado pela maré
Que está aqui sentado a escrever
Mas que tudo o que anseia
É por estar num outro lado qualquer
A fazer não sei o quê..

César Ferreira
 
C.F

Poema 13

 
Aqui deitados...
Esta noite é nossa
Eu, tu...
as estrelas e o mundo.

Neste chão correram mundos
Se moveram fundos,
Já passaram jovens,
velhos e crianças
Mulheres, homens...
Vagueando ou não
Correndo contra o tempo
Ou contra a vida...

O tempo os limpou do chão
Mas a nós não...

Hoje já só restam ossos
Pedaços de nós que um dia nos representaram...
Esmigalhados pela pressa
Ignorados pela perseverança...

Casamos para sempre as nossas almas
E do nosso céu aquela rua vigiamos...
Até que dois como nós apareçam,
E o nosso pedaço de mundo tomem...

César Ferreira
 
Poema 13

Sorriso Escondido

 
Um dia todos verão o meu sorriso,
Verão a minha felicidade...
Estampada no meu rosto.
Os meus olhos já cá não estará
E do meu eu gelado
Restará um pedaço de alma
Por este mundo
Para sempre a vaguear...
E mesmo nesse dia
Ainda vai haver
Uma réstia de tristeza em mim.

César Ferreira.
 
Sorriso Escondido

Sonhar Contigo

 
Um dia beberemos café
Sentados à mesma mesa.
Conversaremos do trivial
Olharemos um para o outro
E tudo parecerá natural.
Sorriremos sem porquê
Enquanto a chuva lá fora cai.
As mãos dadas,
Ao sofá levar-nos-hão ao sofá
E lá no meu colo, adormecerás.

Os teus cabelos enrolados nos meus dedos
As minhas pernas de almofadas
Enquanto te encho a testa de beijos.

Ripostas,
Tentas que pare.
Fazes-me cocegas
Até à exaustão me cansar.

Caímos cada um para seu lado
Com vontade de recomeçar
Voltas-te a a deita
E uma vontade descontrolada
Faz-me querer cantar.

Canto versos de alegria
De paz e amor
Toco guitarra na perna que me sobra
Com as mãos que decidiste soltar.
Toco baixinho,
Musicas de solidão
Que toco para mim
E te tocam o coração.
São o espelho do que era
Antes de ter aqui comigo.
Agora é diferente...
Mesmo a sós,
Nunca me sinto sozinho
Tenho sempre a dor comigo...

Porque sei que estou apenas a sonhar
Não há guitarra nem voz no ar
Apenas a ausência e uma perna carente.
Pronta servir de almofada
Ver-te enroscar...

E no fim,
Sem te acordar...
Deitar-te na minha cama
E perder-me a olhar...
A olhar para ti...

César Ferreira.
 
Sonhar Contigo

Mãe

 
Pudesse eu
dar-te de volta
Tudo aquilo que ao longo de mim me deste

Seria sempre pouco
Tendo em conta tudo o que já aconteceu
A vida já me tirou muita coisa
Mas nunca te vai tirar de mim.

És grande és única
O amor maior de alguém
Não há outra forma de dizer
Mas porra, amo-te Mãe.

César Ferreira.

Para a maior de todas as mulheres.
 
Mãe

Vicios

 
Sonho,
Com o dia
Em que à minha porta tocarás...
Com um maço de tabaco e uma garrafa de whisky em mãos
E deixarás os teus olhos falar
No lugar da tua boca
Deixarás o teu coração sentir
No lugar da tua racionalidade.

Sonho com esse momento,
De cada vez que ouço a porta tocar
E preciso desse momento
Como um viciado,
da cocaína para se sentir saciado...

Não é que sejas para mim
Apenas um desejo
És para mim o sonho que me rega a alma
O fumo que me sai da boca
O ar que inspiro
E que não chego a expirar.

És a sensação do primeiro trago de whisky da garrafa
E como o último gole do copo...
Que sabem sempre como nenhum outro
E que transpiram sempre o desejo
De que haja uma vez mais...
Para que possa viver
O meu sonho a cada novo ouvir
Da campainha a tocar.

César Ferreira.
 
Vicios

Silhueta

 
O teu olhar que ainda me ilumina
O teu sorriso que ainda me hipnotiza...
Parto para cada novo amanhecer
A pedir muito para te conseguir esquecer...

Mas a carne,
A carne é fraca
O amor é imenso...
A paixão é ardente
E tudo o resto é simplesmente...
Nada.

Tu...
Sim tu...
Ainda que sem saberes,
Tens o poder de mudar história..
Podes fazer-me ser feliz
Basta gostares de mim...
Como eu desejo...
Não gostar de ti.

César Ferreira.
 
Silhueta

O Sonhador

 
Tudo o que preciso para ser feliz
É de uma cabana em nenhures
Uma vela em cima de uma mesa
Muito papel e uma caneta...

Nas folhas vou perder-me
Sentado e sem me mover
Viajar ao ritmo dos dedos
Através dos pensamentos

Lá poderei finalmente ser feliz
Porque me poderei sentir completo
Nas linhas que escrevo
Sou feliz porque posso amar-te...

E quando a noite cair
Nada me vai pesar
Adormeço com a cabeça na mesa
Sinto a lua a observar...

As estrelas guiam-me
Para um mundo que nunca visitei
Levam-me para lá da dor
Apresentam-me à felicidade...

E entre linhas
versos e prosas
o papel voa
A caneta rola...
O vento sopra
A luz se apaga...

Os sonhos esfumam-se
Os aromas do ar
Perdem-se...
Rumam ao caminho sem retorno,
Alcançam as estrelas
Hipnotizam a lua...

Acabam-se os sorrisos
Apagam-se os pontos de luz
Estou de novo às escuras
Sem fósforos para acender.

A situação parece descontrolar-se
Mas nada há para temer
Um raio veio para ficar...
Eu é que fui para não voltar.

César Ferreira.
 
O Sonhador

Sonhar Acordado

 
Fica comigo
Juntos guardaremos a eternidade...
Algemaremos os pesadelos à porta
Imaginaremos... perder-nos entre lençóis.

Corpo a corpo
Os meus lábios tocam os teus...
A minha mão percorre o teu cabelo
E perco-me no castanho dos teus olhos.

À noite...
Mesmo com a luz apagada,
Encontro-te entre respirações
Abraço-te....
Madrugada dentro...

Sonho com o vazio,
A escuridão...
A tua ausência,
O adeus do teu coração..

Acordo a cada manhã
De mãos geladas
E braços vazios
A tua marca na cama já não está lá
Tu já não és parte de mim.

Queria recuperar a epifania,
E voltar a sonhar contigo a meu lado
Porque se para dormir tenho de estar sozinho
Então prefiro continuar para sempre acordado..

César Ferreira.
 
Sonhar Acordado

Entre as Nuvens

 
Caminho sobre as águas
Neste mar de cinzentos
Coberto de nuvens
Prestes a descarregar

Salto por entre elas
Apenas com um pé a lhes tocar
Numa espécie de provocação
Esperando que elas me sintam
Para que saibam o que é chorar
Mesmo sem saber
O que é amar alguém
Porque guardar toda esta dor
Está a fazer-me implodir

E não....
Não a quero partilhar com ninguém,
Só quero que saibam como é
Para quando me virem chorar
Não fazerem mais,
Pouco de mim...

Porque... Sobretudo cansa sentir assim
Sem que existam palavras para descrever
Porque o amor, não tem de ser só dor
Pode ser também sangrar

Abrem-se as nuvens
Não tenho mais onde aterrar
Acabou-se o chão
Já não preciso de mais de me auto-flagelar

O fim é sempre um novo começo...
Mesmo que tudo o que queiras seja apenas terminar

César Ferreira.
 
Entre as Nuvens

Tu

 
Entranhaste na minha pele
Misturaste com o meu suor
Corres-me nas veias
Vives a cada novo palpitar

És a parte de mim
Que não quero ter de expirar
Renasces a cada novo suspirar.

Paro no silêncio
E olho-me no escuro

És a minha imagem no espelho.

César Ferreira.
 
Tu

Ode à Loucura

 
Gritas por amor
Clamas a paixão
Observas o mundo
E não vês nada a mexer...

A ausência mata-te
Um bocadinho de cada vez...
A cada novo amanhecer

Desesperas sem nada poder fazer
Sentes o coração a querer saltar.
Respiras fundo,
Mas nada neste mundo te pode acalmar.

Precisas dela...
Do seu cabelo a tocar em ti
com todo o seu cheiro frutado...

O roçar dos lábios enquanto os tentas trincar...
O toque entre línguas,
Que desperta todo um novo salivar...

O calor do corpo dela no teu
Em cada novo anoitecer
A cabeça sobre o teu peito
Enquanto as tuas mãos gentilmente
Se perdem por entre os seus cabelos...

Como tu,
Te perdeste desde o primeiro dia...
No seu olhar...

É doloroso...
Desejar isso com todas as forças que tens
E saberes que isso não volta a acontecer...

Mas seja como for
É simplesmente mais forte que tu...

Estás num estado em que já não te controlas...
És movido pela paixão
Alimentado pelo desejo
E tomado de assalto pelo lado sombrio...

Não sabes como parar...
Mas o facto é que,
Tudo para.

A vida que querias tanto
Pôs-te por um fio...
Estás agora aí deitado
Rodeado por todos menos,
A pessoa que querias encontrar...
Preferes então fechar os olhos
E voltar a delirar...

Entregas-te por fim à loucura
E desistes da realidade
Vives o para sempre dentro daquele sonho
E sem quereres saber...
Desafias a gravidade
E decides de uma ponte saltar.

Cais no mar.
Fica a tua alma a boiar...

Tu e o teu amor
Que um dia te levaram à loucura
Afogam-se
Puxados pela mão
Por aquilo que ultrapassou faz tempo,
A real dimensão...

Morres a sonhar
E acordas morto
Porque quando os olhos se abrem
Ela está finalmente lá...
E a tua máquina simplesmente
Parece não aguentar.

O coração dispara
O ar escasseia...
O beijo quente reanima-te,
Quando no fim percebes que estavas
Uma vez mais a delirar...

O cheiro liberta-te
Do sorriso que te prende
E de mãos para sempre coladas
Deixamos este mundo de gente louca
Que um dia me disse que era impossível amar assim.

César Ferreira
 
Ode à Loucura

Aquela velha melodia

 
Ouvir todos os dias
A mesma triste melodia
Chorando as lágrimas de ontem
Sofrendo com pensamentos de sempre
Sustendo a dor de à muito tempo....
É duro e não me devia queixar
Ninguém me obriga
Mas é que ao ouvir
Cada palavra, cada acorde
Me lembro de cada traço teu
Que desenho de olhos fechados
Numa folha de papel que insisto em guardar.
Relíquias que ninguém entende
Sofrimento que não desejo ao meu pior inimigo
Quanto mais ao meu próprio coração.

A cama fria a cada noite
O espelho vazio
A guerra para ver quem é o primeiro a ceder
O simples bom dia
O beijo ao acordar...
Nada é o que tenho agora
E é a ele que me tenho de habituar
Porque por mais que te queira aqui comigo
Há um muro enorme para nos separar
Paredes sólidas para nos repelir
Que me dizem que somos só amigos
Quando o que mais quero neste oceano
É ser a tua boiá de salvamento.

Ser mais que o rochedo que consegues evitar
A onda de que corres sem hesitar.
A areia que sacodes cada dia ao teu mundo regressar...
Entende que só quero ser a discórdia
Daquilo que dizes pensar.

Desacordar-te deste mundo
E levar-te para sei lá onde
Porque quando penso em ti
Não importa onde quero estar.
Sejamos nós e a madrugada
Em corrida a fugir da alvorada.
Evitar a prisão que me possa perpetuar
Porque mais que uma pena não posso suportar.

Nada faz sentido
Nem mesmo estes versos que acabo de recitar.
São pensamentos dispersos
Espinhos do coração arrancados
Pedaços de mim que liberto
De alguém que não quero soltar.

Louco
Desvairado
Chama-me aquilo que à boca te vier
Lá bem no fundo sabes
Que não sou mais
Que o teu eterno apaixonado.

César Ferreira.
 
Aquela velha melodia

Sou Filho da Droga.

 
Sou filho da Droga.

Sei que é uma afirmação forte. Determinada quiçá...
Definitiva e sem muito mais para dizer, mas há uma história por detrás.

Nasci numa casa humilde, mas lá dento viviam dois hipócritas.
Trouxeram-me a este mundo, mas logo me trataram de vender...
Se não houvesse quem me comprasse... Talvez tivesse acabado num qualquer caixote do lixo, numa qualquer morgue enlatado.
A minha nova família, não me tratou muito melhor.
Com catorze anos já metia mais dinheiro em casa que o meu chamado "pai".
Traficava no infantário, vendia às educadoras.
Vendi também ao director e nesse dia senti a dor.
O cabrão deu-me trocado,
E eu cansado...
De uma noite a empacotar.
Não tive paciência para contar...
O meu pai desocupado,
Quando lho dei,
reparou que algo estava errado,
E por um cinto fui surrado.

Ainda hoje guardo a marca eterna no ombro esquerdo.
A fivela acertou-me em cheio,
Desloquei mais que a omoplata nesse dia.
A minha cabeça ganhou vida nesse momento,
E para lá de agonia
A vida passou-me à frente...
Os meus olhos pensaram mais que eu e fugi...
Não me lembro para onde
Mas foi para lá da fronteira.
Sem eira nem beira,
Sem nada no estômago.
Só com a roupa do corpo
E as cicatrizes da vida...

Vivi, ou algo parecido,
Durante 6 meses debaixo de um viaduto.
Um dia apaixonei-me por uma mulher.
Estava caída à beira-rio.
Completamente domada pela coca.
Estava em overdose, e não fosse eu,
E ela já não estava mais cá...
Antes não tivesse sido eu,
Desejo-o neste momento.

Mas retomando...
De olhos cinzentos, fiquei vidrado...
Tez pálida, cabelo loiro...
Magra como eu,
Claramente com uma história por contar.
Salvei-a e de olhos arregalados
Agradeceu-me com um beijo.

Tocou-me nos lábios,
Com os dela...
Deu-me de novo sensações
Devolveu-me alguma cor...
Mais do que fome..
Tinha era falta de amor.
Juramos o mundo e o outro
Sangue, saliva e suor.
Escárnio e mal dizer.
Sexo, sémen e a Sida...
Que ela tinha e não me contou,
Com medo de me perder...
De me espantar...
Se ainda aqui estou,
Porque havia de nisso pensar...

Os primeiros tempos não foram fáceis,
Mas foram felizes.
Um quarto de pensão que alugámos
E dois trabalhos que nos ofereceram.
Falsas intenções as deles, que fomos explorados.
Ela recomeçou a consumir,
E eu a repassar...
Ao vê-la naquele estado a se degradar.
Não a quis deixar ir sozinha...
Tentei puxá-la,
A qualquer coisa nos agarrar...
A força da coca foi mais forte
E levou-nos aos dois.
Hoje estou aqui
Sem saber bem onde estou...
Falo para uma plateia de miúdos
Que pelos corredores segredam
"Quero ser como ele"

Penso para comigo,
Soubesses tu como tudo começou...
Estou numa poltrona encostado
A cinco minutos de entrar em cena
Sou actor desta vida putrefacta,
A que chamam ser doutor.

Corrigiste-te a tempo,
Disse quem me conhece a dor...
Desconhecem eles que isto é só por fora.
Em casa quando entro...
Corro para o quarto,
Desesperado pela minha dose...
Em seguida deito-me na cama
E gozo do meu êxtase total.

Até ao sol raiar não me mexo
Nem que o mundo esteja a desabar
E depois disso como um alarve,
Esquecendo-me de que acabo a vomitar.

Visto mais um dia
Este meu belo fato.
Um nó de gravata preta bem enlaçado.
Preparo-me para a viagem,
Dizem que a última...
Serei cremado e debaixo do viaduto lançado
O verdadeiro lar
Que para sempre me vai acolher.
Uma vez ao outro lado chegado,
Do inferno fui relegado...
O céu era o limite,
E eu morri de novo antes de lá chegar...
Perdi-me naquilo a que chamam de limbo
E desde então por cá tenho estado...

Amanhã aguarda-me uma entrevista...
Uma segunda oportunidade de viver,
Acordo então sobressaltado...
A meio da noite por uma senhora de branco abraçado...
Tenho de novo catorze anos
E no hospital estou internado.

Uma velha simpática,
à porta te deixou,
disse a enfermeira de caneta na mão,
Como te chamas, perguntou
Não me lembro de quem sou....
Sabes de quem és filho continuou
Parei por dez segundos e tudo me acertou...

Sou filho da droga...
É isso que sou.

......

César Ferreira.
 
Sou Filho da Droga.

Um desabafo só...

 
"Logo que nasci a vida mostrou-me o significado do que é ser negado.
Negou-me a capacidade de sorrir com a boca e tive de aprender a sorrir com os olhos, com as palavras e sobretudo com os gestos.
Passaram vinte e três anos e acho que já tive tempo mais que suficiente para me habituar a isso. Mas o facto é que está no nosso subconsciente aquela capacidade extremamente irritante de duvidar de tudo o que fazemos e de como as coisas são, o facto é que às vezes ao cair na cama demoro mais tempo a adormecer que os restantes. Não por insónias, não por qualquer tipo de dor, mas simplesmente porque não consigo desvendar o porquê de assim ser.
Quero, puder sorrir com os lábios, e chorar com os mesmos, ter a capacidade de mostrar ao mundo que se calhar posso ser como eles…
Mas a maior dúvida que guardo apenas para os meus dias mais sombrios é:
- Será que quero realmente ser como eles?
Será que preciso realmente disso para me sentir melhor comigo mesmo?
“Oh and twisted thoughts that spin ‘round my head”
Se há dias em que a minha mente e a minha alma estão de acordo, não se manifestam.
E cá dentro, onde mais ninguém consegue penetrar, às vezes nem mesmo eu, tudo continua sombrio, frio, quiçá gelado e não há calor que o derreta.
Não sei o que lhe fazer, nem se há algo que se possa fazer de facto.
É frustrante chegar a certos pontos e achares que descobriste a resposta a uma das perguntas, e de súbito, tu, subconscientemente, sem que nada o faça prever, a mudes.
De forma ainda subtil, mas que faz com que a resposta que pensaste ter, passe a ser apenas, nada. Palavras soltas, frases escritas. Pensamentos sem nexo.
Mas ainda assim, ainda cá estou e se isso acontece, por alguma razão é.

O sol continua a nascer,
A lua a crescer.
Mesmo sem as entender,
Há coisas que às quais temos de ceder.
Quanto mais não seja,
Para não darmos em loucos."

Dito isto, saiu porta fora. E aquele velho consultório nunca mais teve notícias dele, ou de qualquer parte de si. Embora me confesse que às vezes sente falta daquela escuridão tão confortável.

César Ferreira.
 
Um desabafo só...

Cartas em tempo de Guerra

 
Capítulo I

10 De Janeiro de 2013

São neste momento onze e meia da noite.
A minha vida anda virada do avesso e não sei bem se sei o que quero fazer dela.
Sinto que o mundo me quer abandonar e eu estou a deixar.
A cada novo dia, concentro-me mais e mais no meu mundo, havendo até dias em que me esqueço que, há mais gente ao meu redor.
Contínuo em casa a braços com o desemprego, e com a fraca figura que sou.
A minha débil vaidade, insiste em mostrar que cada vez mais, o mundo em que me sinto bem é em casa.
De vez em quando lá saio, mas mesmo quando tenho convites para permanecer mais tempo na rua, muitas das vezes recuso-os por pura insegurança. Medo de descobrir o animal que existe em mim.
Já inventaram o correio electrónico e os telemóveis mas nada dessas novas tecnologias transparece tanto os sentimentos como a boa velha carta.
Onde a letra pode ser mais direita, ou mais torta, dependendo do que nos vai na alma. Onde podem ainda haver réstias de lágrimas, e onde principalmente os sentimentos são o que nos une.
O facto de te estar a escrever não só pretende demonstrar que me preocupo contigo e que me lembro, mas principalmente funciona como se as minhas palavras, neste pedaço de papel maldito, fossem a cozinhar e a apurar, até chegarem a ti, no estado mais esplendoroso possível.
Adoraria do fundo do coração poder dizer-te que a minha vida é um jardim, mas falta-me a coragem para te mentir de forma tão descarada.
O vazio que me preenche a cada novo dia, apenas o torna cada vez mais parecido com um qualquer deserto. Mas como em cada túnel, há uma luz ao fundo.
E essa luz é representada pelas tuas palavras, pelo amor, carinho, dedicação e tempo que dedicas a responder a cada uma destas minhas cartas.
Pela liberdade que me dás, no máximo que posso ter.
Faz hoje três dias da ultima vez que me iluminaste, e só agora consegui arranjar calma em mim suficiente, para te escrever esta carta sem que o papel se desfizesse por completo.
Consegui de certo modo fechar as torneiras, mas não sei por quanto tempo as vou aguentar.
A verdade é que a verdade não se alterou uma vírgula.
Sinto muitas saudades tuas, e sei que nunca mais te irei ver… E a cada noite que me sento a tentar escrever, tento a mim próprio convencer de que não mais haverá jardim.
A única flor que queria puder cuidar nesta vida, foi levada pelos ventos de um furacão chamado justiça.

Amo-te como no dia em que me declarei a ti pela primeira vez.

Para sempre teu…
….

12 De Janeiro De 2013

Passaram desde a primeira vez 10 longos anos.
E hoje é a primeira vez que te escrevo fora daquele quarto embarrado, onde era difícil não me sentir consternada.
Jurei a pés juntos a minha inocência, mas a justiça ainda assim condenou-me.
Não adianta mais clamar por justiça porque ela já foi servida.
Aguardo com extrema ansiedade o dia em que nos voltaremos a ver ser ter um vidro entre nós.
Anseio sentir o calor do teu abraço a afagar-me.
Dá-me apenas mais uns meses para que possa começar a refazer a minha vida.
Através de uma das guardas prisionais, com quem me relacionei melhor, consegui arranjar um trabalho.
Em seis meses livro-me da condicional e voltarei a poder estar contigo.
Espero que não te vás a baixo por completo.
Conheço-te melhor que ninguém e sei que és muito mais forte do que aquilo que pensas que és.
Um dia o mundo vai ver aquilo que eu já vi, é apenas uma questão de teres um pouco mais de paciência.

Para Sempre Tua.
….

14 De Janeiro de 2013

Sinto muito a tua falta amor.
Honestamente gostava de te puder dizer algo muito mais profundo, mas só o meu coração sabe o quanto me sinto feliz por finalmente te ver livre daquela prisão monstruosa.
Faz amanhã um mês a última vez que te vi. Apesar de todo o desânimo que a minha vida tem provado ser, a verdade é que anseio mensalmente por este dia do mês. Sexta-feira o meu irmão vai à cidade em negócios como habitualmente, e já me disse para ir com ele.
Por favor na próxima carta que me mandares envia-me o sítio onde queres que nos encontremos.
Estou cansado de sentir o teu perfume apenas em sonhos, quero finalmente puder voltar a senti-lo bem perto de mim.
Mas mais do que do teu perfume, sinto falta do teu sorriso.
O sorriso que foi a luz do meu viver nos últimos dez anos da minha vida.
E muito embora tenhas tido sempre muito menos motivos para sorrir que eu, o facto é que sempre que precisava do teu sorriso, tu e ele estavam lá. Mesmo quando era só na minha mente.
Este mês consegui uns biscates e levo uma pequena surpresa para ti meu amor.
Mal posso esperar por Sexta-feira.

Para sempre teu.

16 De Janeiro de 2013

Eu compreendo o que tu sentes amor, o meu peito também arde de saudade.
Anseia por sexta-feira como um drogado, a sua droga.
Fico feliz por saber que apareceram alguns extras para te ocupar a cabeça.
Sabes que não quero que me dês nada. A tua presença para mim já é mais do que suficiente.
E só de pensar que desta vez nos vamos puder tocar…

“O meu corpo já chama por ti.
Os meus seios pedem o teu toque
A minha boca já grita o teu nome.
O mundo será pequeno para nós nesse dia.
Porque nada é mais forte que o nosso amor”

Encontremos-nos então junto à padaria onde esperava pelo teu irmão para voltares.
As visitas, sei que eram sempre curtas para aquilo que nós sentíamos, mas a espera que enfrentavas para voltar era longa por demais.
Aquelas duas horas voavam como dois minutos e meio. E tudo o que fazíamos nos últimos trinta segundos era chorar… Chorar por a próxima visita só poder ser daí a um mês.
Não me respondas a esta carta, responde-me antes com versos cantados…
No dia em que me vieres ver, para que por todos possam ser escutados.

Para sempre tua


Capítulo II

19 De Janeiro de 2013.

A tarde de ontem foi fantástica.
Confesso que foi tudo com o que tinha sonhado. És tudo aquilo que sempre sonhei.
Queria que tivesse chegado um ramo enorme de rosas vermelhas para ti, mas só consegui comprar uma.
Foi dada de coração, acredita em mim.

“Pela primeira vez, pude olhar para ti, olhos nos olhos
Sem nenhum vidro, a nos separar
Pude finalmente sentir o teu respirar.
Beijei finalmente os lábios com que sempre em sonhos sonhei
E pude ir um pouco mais além.”

Gostei muito do teu cantinho que para sempre guardará imagens de nós dois…
Foi ali que nos amamos a primeira vez, é ali que morreremos quando chegar a nossa vez.

Sonhei contigo nos meus braços toda a noite
E acordei com dores nas costas,
Quando vi os olhos tudo ficou mais escuro
Por me lembrar que era apenas eu a me recordar.
Nessa tarde
Devoramo-nos quais animais esfomeados
Só não rasgamos as roupas,
Porque não somos afortunados.
Foram horas de prazer
De uma cavalgada que vou fazer por merecer.

Sinto-me hoje um novo homem
Capaz de o mundo, do avesso virar
Vou à guerra, por ti amor,
Porque por ti minha dor, não há medicamento que me vença.

Acabou-se-me o papel alisado e nestas linhas vou-me apenas repetir
Amo-te a cada novo amanhecer.

Para Sempre Teu
 
Cartas em tempo de Guerra