EU GOSTO DE CABRITAS
Eu gosto de cabritas
Mas tambem gosto de ovelhas
Agradam-me as mais novitas
Gosto tambem das mais velhas.
Das tetinhas lhes tiro o lête
Pra Dona Tina fazer o quejo
Pois se um home as tem, que aprovête
Quando lhe chegar o desejo.
Mas quando o bode está á cóca
Tenho de ter munto cuidado
Senã o bicho desaustinado
Parte-me os dentes da boca.
Tenho 5 na fotografia
Ficaram bonitas as diabas!
Mas vou arranjar mais um dia
Co que á mais por aí é cabras!
EU SINTO-ME SÓZINHO
Estou-me sentindo sózinho
Com o coração desfeito
Ela com seu feitio mesquinho
Deixou-me práqui sem jeito
Eu nã devia querer que ela volte
Porque ela nã me mereçe mais
Quiz ir viver á grande na cidade
E deixou-me aqui com os pardais.
Eu havêra de encontrar outro amor
Pra me fazer companhia
Mas eu só vivo com a dor
De acordar sozinho todo o dia.
É que as mulheres que vejo agora
Só querem passear e vida de luxo
Mas o meu carro velho que está lá fora
Só anda até ao largo do repuxo.
Ao menos vocês amigos do luso
Estão com este lobo a cada dia
Os compadres, a tasca e as cabritas
Vão sendo a minha companhia.
Esta fotografia que encontrei tem muita sabedoria, era o que eu devia fazer á magana da minha pastora, mandá-la abalar de vez.
Sempre contigo
De amores me perdi
e sonhei intensamente
Imaginando-te a ti
comigo no serro poente
os anos já passaram
lembra-me assim essa noite
e as febres que me deram
por essa visão tão forte
Vivo aqui na Funcheira
velha aldeia perdida,
mas vou correr a terra inteira
por ti amor da minha vida.
AOS MESTRES. AS PALAVRAS QUE APRENDI NO LUSO
Compadres estou muito contente
Por andar a escrever aqui
Porque com gente tão inteligente
Palavras novas aprendi.
Aos mestres agradeço
Por partilharem sabedoria
Eu a eles com humildade pesso
Que me ensinem a cada dia.
Com o Mestre Domingos da Mota
Aprendi a palavra CAGARRA
Aqui diz-se caganeira mas nã importa
Desde que aja quem varra.
Com o Mestre Fotograma
Aprendi logo a DEFECAR
Que é o que na Funcheira se chama
Ao nosso gesto de cagar
Com o Mestre Migueljaco
Aprendi a dizer CONTUNDENTE
O meu Português é fraco
Mas ele sabe ensinar a gente
Com o Mestre Zesilveira
Aprendi que FAKE é fajuto
Não sei linguagem estranjeira
Mas disse-me o Xico que é culto
Com o Mestre Deus AMANDU aprendi
Que amando afinal tem U no fim
Com ele muito aprendi aqui
Coisas tão boas para mim
Agora sei mais portugês
E nem precisei de professores
Porque vos tenho a vocês
Amigos e Mestres como Doutores
Obrigado a todos digo
E perdoeme por favor
Se me esqueci de algum amigo
Mestre Poeta Escritor
Á MINHA MELHOR AMIGA MARIA JOSÉ E AOS COMPADRES SILVEIRA, ESCORPIO E MARTINS
Minha amiga pianista
Não precisa vir á Funcheira
No Luso a menina é artista
E é a melhor companheira.
Eu sei que é verdade
Que me quer como irmão
E que esta bela amizade
Já nã tem separação
Nunca fui bom nas escritas
Reconheço, nã minto não
Mas escrevo as palavras ditas
Pelo meu pobre coração.
Nã gosto de confusão
Isso nã é pra mim
Tenho a menina no coração
Como uma flor do jardim.
A saúde é valiosa
Pode contar comigo
Voce é pedra preciosa
Para este seu amigo.
Compadres deste assunto
Martins, Escorpio e Silveira
Venham comer um presunto
Na adega da Funcheira.
Podemos escrever em conjunto
E beber um copo de Vidigueira
E no meu Fiat Punto
Passamos pela Zambujeira.
Amor, será que ezistes?
Pensei que te tinha encontrado
Mas foi tudo uma ilusão
Porque no fim o resultado
Foi ferir meu coração.
Eras pra mim uma princesa
Adorava beijar teus bêços
Mas o que pareçia uma certeza
Bem ficou pelos começos.
Trocastes-me por outra vida
Talvez inté por outro amigo
E deixastes-me com a tua partida
Sózinho e mais mole cum figo.
Foram muitos anos, nã te quero mais
Já muito disse e prantei aqui
Quero uma mulher que acabe com meus ais
E me fassa de vez esquecer de ti.
Mas a magana da desesperança
Já não me deixa acreditar nos amores
Só me apoquenta a lembrança
Das tuas porradas e dores.
Amor, nã sei se ezistes
Ou se estás só nas poesias
E se este lobo vai ter olhos tristes
Até ao resto dos dias.
PARA VOCE, MARIA JOSE AQUI DESTE LUSO
Amiga nã se va embora
É o meu sentimento de verdade
Estava sozinho e agora
Conto com a sua amizade.
Voce chama-me lobinho
E diz que dança comigo
Agora já nã estou sozinho
Tambem quero ser seu amigo.
Diz que gosta de mim
Mas do cangarejo não
Sou lobinho sim
E falo-lhe do coração.
A menina escreve bem
E de forma especial
Os outros poetas também,
Nã me levem a mal.
Gosto das suas fotografias
Saõ todas muito jeitosas
Alegram-me os dias
Porque teem rosas
A menina está longe, é brasileira
A minha sorte é mesmo torta
Se você viesse á Funcheira
Amostrava-lhe a minha horta.
Nã se va embora Maria Jose,
Nã se va embora, está bem?
Nã tenha duvida que é
O melhor que o Luso tem.
TENHO DE CONFESSAR
Amigos tenho de confessar
Que inté estou apoquentado
Avondo de disfarçar
Quisso nã me leva a nenhum lado.
Eu nã sou de muitos estudos
E na escola fui sempre azelha
Nunca quiz cá canudos
A minha vida é as ovelhas.
Por isso nã escrevo bem
Nã explico bem meus sentires
E pareço esparverado
E dou muitos erros também.
Só cande o amigo Xico Barata
Lê os meus textes comigo
Como a cultura dele é farta
Atão assim eu já consigo
Sempre gostei muito de ler
Um poeta analfabeto
Que morava qui perto
O António Aleixo a saber
Na sabia escrever
Mas sabia pensar
Tiha um amigo que escrevia
E ele só tinha que ditar
Por isso compadres
Nã me levem a mal
Que eu sou só mais um moce simples
Deste nosso Portugal
Abraço
A Bela pastora
Peço desculpa poetas
Pelo meu atrevimento
Juntando todas as letras
É mesmo um descaramento
Escrevi quadras brejeiras
Daquelas de fazer corar
Tanto a senhoras e ceifeiras
A todas as vai apimentar
A bela pastora
Aquela bela pastora
Tem generosas titis
Toda a gente adora
É o povo que o dis
Quem já viu descobertas
Sabe e conhece bem
As gémeas secretas
Que essa pastora tem
Pegado ao sobreiro
Na curva da ribeirinha
Lá anda o cordeiro
Atrás da ovelhinha
Tão amigos que já são
O cordeiro e a ovelhinha
Quando ele lhe dá a mão
Ela oferece a florzinha
Preferem o cantinho
Na margem da ribeira
Para tomarem banho
Depois da brincadeira
Só que assim molhadinhos
Tal como Deus os fez
Acabam de novo juntinhos
E toca a andar outra vez.
Aquela bela pastora
E suas belas titis
Brinca alegre a toda a hora
Só para o fazer feliz.
Lobo solitario
No monte de Nossa Senhora
Á uma velha oliveira
Onde so e triste chora
Este lobo da Funcheira
Por entre nuvens sem luar
Vem a solidão escura
E se então quero uivar
É porque a dor não tem cura
Lá no cimo desse monte
A oliveira já antiga
Sempre foi uma boa amiga
Ouve tude o que eu lhe conte
Ando todo acabrunhado
Com o aperto da tristesa
E no mundo nã á riqueza
Que ponha o lobo animado
Quando subo o caminho estreito
Penso que vou pro calvario
E o vazio me enxe o peito
Faz-me sentir mais solitário
No monte de nossa Senhora
Á uma velha oliveira
E quem vem do lado de fora
Nã vê a minha desgraceira.