Metade de Mim
Tua voz é inexata...
E parece que as rosas não nascem mais...
Meu cansaço ofusca meu espírito...
E não escrevo mais como antigamente...
Trouxe pão, leite, café e açúcar...
A fruta que tinha estragou...
E o que nos resta é esse olhar
Esse desejo impreciso...
Uma oração
Um pedido de paz
Dessa paz que brota na fazenda
Em meio aos animais que vivem por viver
Quero deitar no teu colo
E me sentir seguro...
Estou com medo...
Muito medo...
Olha pra mim...
Venha me buscar
Acalentar esse narciso beijo
Um silêncio que não almejo
Um ato de desespero
E uma breve jornada
Que acaba aqui...
UMA HISTÓRIA DE AMOR
A INFÂNCIA
Éramos ainda crianças
Quando nos curtos encontros
Vivenciávamos as ternas
Essências do amor
Brotando em nós...
Olhares brilhantes
Azulando o céu,
Pintando as flores
Com cores vivas,
Vivas cores!!!
Coração pulsando
Num compasso sem compasso
Como se nós não estivéssemos ali...
Gélido frio pelo corpo,
Sorriso tímido querendo falar
E um grato esquecimento
Das obrigações de sermos crianças,
Com limites a seguir,
Com desejos reprimidos,
Com mordaças invisíveis,
Enclausurados
Por cometer um único pecado
Ter nascido sem pedir...
A PARTIDA
Numa manhã de sol
A brisa envolvendo
Meu pequeno corpo
Parti...
Acompanhando a sina da esperança,
Da constante mudança,
De dias que não têm fim...
E naquele portão,
Tão grande diante de mim,
Intransponível,
Vi-te pela última vez.
Um adeus contido,
Um soluço preso,
Uma lágrima seca...
E diante do tempo
O voraz aniquilador das lembranças,
Ajoelhou-se ante a grandeza
De uma imagem de um menino gentil...
Recordações que pairavam eternas
Como se reencontrássemos
Todos os dias nos mesmos jardins,
Nos parques,
Nos nossos pequenos
Momentos sem fim...
REENCONTRO
Em meio ao nada,
Na solidão diária dos dias.
Na mesmice entediada
Do pão nosso da vida,
Uma mensagem cognitiva
Deixada à mercê da sorte,
Do imenso desejo de ser lida,
De reencontrar de fato
A infância perdida...
Na nova era
Numa era de conflitos,
Entre a poeira de livros antigos
E mágica tela do mundo,
A surpresa encantadora,
A resposta esperada por anos a fio
O reencontro...
No inicio palavras soltas
Explorando a descoberta,
Numa luta contra a ansiedade avassaladora
De ir de encontro ao amor adormecido...
Por fim um toque de lábios,
Mãos entrelaçadas
E uma vida eterna por viver...
...PERPLEXIDADE...
Confesso perplexo
A metáfora dos meus dias insanos:
O pouco que resta do muito que vivo
É a saliente aventura de uma busca...
Nado em nada,
Naufrago em terras vizinhas
E fujo dos sonhos que teimam em nascer...
Confesso que minha estrela guia
É bastante ultrapassada
E já não me guia mais...
Minha mente
Vaga pela eterna lembrança
Desses olhares distantes
Esperançosos,
Atônitos.
Confesso embriagado
Que a embriaguês
Distancia-me das maledicências
Que tentam ludibriar-me...
Ah se eu pudesse o teu corpo tocar!!!
Na verdade te libertar
Dessa clausura.
Essa decência sem precedente
Incomoda-me,
Enoja-me.
Confesso ainda que perplexo
Que esse amor, que essa felicidade
É o caos da decadência humana.
Morre-se buscando,
Morre-se sem encontrar...
Mais que viver é iludir,
Se iludir...
Ainda confesso
Que não espero teu sorriso,
Não espero teu carinho,
Não espero teu amor,
Não espero só desejo
Simplesmente quero
Viver da vida
A essência bendita
De ser um sonhador.
DORES DA ALMA...
Rasgaram em cruz o meu peito,
Tiraram me a alegria e o sonho,
Reina nesse trono a dor,
A percepção crua
De toda uma vida vã...
Uma coroa?
Um reinado?
O amor se desfez
Na busca pela ilusão...
TEIMOSIA...
A gente vive
É de teimosia.
Com a terna esperança
De que o amanhã nos trará um melhor dia,
Abarrotado de alegria.
A gente vive
É até por não ter escolha.
Lançados ao mundo
Nus, chorando...
Um choro que parece não ter fim!
Não escolhemos a riqueza ou pobreza,
Não escolhemos a inteligência ou ignorância,
Não temos o direito de algo escolher!
A gente vive
É de sonho.
Um sonhar tolo,
Entorpecente
Que prolonga a euforia.
Mas não passa de ilusão...
AMOR MAIOR...
TOLICE ACREDITAR QUE SE NÃO FOSSE ADEUS
TU NÃO TERIAS PARTIDO SEM MIM,
E AS ROSAS QUE A TI ENVIEI
NÃO TERIAM MORRIDO...
AS NOITES SEM TUA PRESENÇA
NÃO SERIAM TÃO LONGAS
SE O AMOR QUE POR TI TENHO
NÃO FOSSE MAIOR
QUE A MINHA EXISTENCIA...
DIANTE DO FATO CONSUMADO
FICO A MERCE DO TEMPO...
UM SOLUÇO
E UM DESTINO SÓ,
QUE DESCONHEÇO...
...INCONSCIENCIA...
Entre os dedos
A chave perdida
De um sonho insano,
De um amor não vivido,
De um olhar invertido,
De uma busca sem sentido...
Aparece e de repente
Esvai-se
Na languidez impura
De dias que se vão
Em vão...
Um querer
E uma incerteza...
Blefes
E no fim
Um jogo fadado à derrota...
Tradução da Dor...
Pago em silêncio a penitência
De viver ao seu lado...
E caem sobre mim torrentes
De tristezas e sangues...
Minha garganta já não mais suporta
Esse fel envenenado de sua língua...
E meus pés vacilam diante
De sua indecisão...
Envolve-me esse torpor
Que me atrela a essa infelicidade,
Essa infrutífera visão de futuro...
Abandone-me nesse albergue esta noite...
Retirem de mim essas algemas...
Essa foice que poda meus sonhos...
Esse machado que decepa minha raiz...
Pago em silêncio toda essa vida
Que não desejo viver...
Essa incoerência sem ventura...
Os meus olhos não brilham...
E estou prestes a sucumbir
Numa loucura sem volta...
Paisagens do que restou....
Entre as nuvens
Que passeiam sob o céu da imaginação
Bailam girassóis coloridos,
Giram sapos e saltam grilos
Num cantarolar incessante...
Meia volta,
Volta e meia
Depois dos cristais de agua
Que banham a terra
O sol vermelho queima seus pensamentos
E seca seus lábios azuis
Do sabor de manga madura...
A flor foi beijada...
A lágrima de boa sorte
Tingiu o lençol
Marca de um amor...
Fotografias que revelam
Paisagens do que restou...
O sopro do amanhã...
Trapaças, vadiagem...
Sons de tambores que invadem o quintal...
E sob o céu de ouro
Os olhos que buscam a paz...
Pegadas na praia...
Ondas molhadas...
Desejos sucumbidos
No medo do amanhã...
Vinhos, caviar...
Um mundo que não é mais seu...
O sopro da vida
Envolvendo o veneno da morte...
Um mundo que era seu...
Trapos, troços...
Trancas, grades...
O mundo que agora é seu...
Páginas em branco
Borradas com o sangue do amor
Um minuto de silêncio
E já não há mais motivo
Para comemorar...
Felicidades...