O poeta
Sou parte da natureza morta.
Fruto primogênito do Cosmos.
Escarlate dos céus rubros.
Colosso gélido dos Pólos.
Sou o oceano implacável.
Os vales e as montanhas.
Imperador mundial.
Maior que a estrela Vy Canis Majoris.
Sou a luz e a escuridão,
A alegria e a depressão.
Sou a música e todas as artes.
A ciência e suas vertentes.
Mas acima de tudo...
Sou folha de papel e lápis!
Cada palavra e cada verso!
Pois...
Eu sou poeta!
(Niaxe Augusto)
Rouxinol
Todas as manhãs vejo-te passar, amado pássaro,
De trás de meu muro fico lhe observando,
Às vezes tu passas célere,
Às vezes sereno,
E sempre esbanja tua rutilancia por onde tu passas.
Tu tens a beleza e a pureza incontestáveis,
És único dentre milhares,
Formoso e simples.
Rouxinol.
Tu tens a crista negra, obscura como a noite.
Tens olhos escuros, primogênitos do hirto espaço.
Tens a serenidade na voz, melódica como as notas de tua alma,
Tens plumas brancas em teu corpo, o corpo de uma esplêndida mulher.
Amo-te, mesmo sabendo que tu não sabes quem eu sou,
Amo-te de tal maneira, que se tu soubesses... Casaria-se comigo.
Amo-te e não quero nada em troca!
Amo-te e sempre amarei-te.
Rouxinol.
Vocabulário:
Célere: Ligeiro, veloz.
Rutilancia: Brilho, esplendor.
Hirto: Inflexível.
Flores do jardim de tua alma
Colho flores
No jardim de tua alma.
As sementes tuas...
Semeadas
Pelo vosso coração.
Germinam
Em forma de sentimentos,
E dominam
O teu corpo esculpido.
O perfume delas
É único e sedutor.
A beleza
Que vos foram concebidas
Torna-se indescritível.
As tuas pétalas
São delicadas
E dançam ao ventar sereno.
Um azul
Mais belo que qualquer
Outra aquarela
Banha as bordas
De tua essência.
Cultivo-as com fervor,
Pois sempre saberei,
Que cada uma
Faz parte de ti.
(Niaxe Augusto)
Funeral...
Entre a névoa cinzenta
Fez-se o meu funeral.
O ódio destruiu a minha alma,
Obscurecidos,
Tornaram-se os meus olhos.
Congelado meu sangue permanece.
Fique forte disseram-me,
Não sucumba ao suicídio,
Apenas use as laminas como alivio,
E isto foi o que acabou,
Me matando...
Gritos de dor ecoam
Por entre a terra batida sobre o meu túmulo.
As sombras...
Tendem a corromper os mortos.
E o desespero...
É a única paz que me resta...
Mutilado.
Desolado.
Atormentado...
Eu morro.
Silenciado pelos céus mórbidos,
A chuva mistura-se as minhas lágrimas.
Aprisionado em meio à escuridão inquietante,
De meu doloroso funeral.
Niaxe Augusto - O Absinto e o “Espectro”.
A minha visão permanece turva dentre está floresta enevoada,
O ar se torna opaco em meus pulmões fazendo-me ter tonturas,
Uma voz funesta condiz-me a uma clareira translúcida,
Horrorizados os meus olhos se deparam,
Taciturnos de minha alucinógena consciência,
Apenas alguns goles desta mortífera bebida foram suficientes para arrancar o ser de meu corpo,
Mortuário desejo compulsivo que tenho por mais uma dose de Absinto.
Os meus distúrbios tornam-se a minha sanidade,
Inerme caminho por entre as árvores mortas,
E ao longínquo avisto uma túrbida criatura,
Uma aterradora sensação de medo assola-me neste momento.
Melancólico está o céu acima de minha alucinada cabeça,
E então a funesta voz intensifica-se e mostra-me a sua verdadeira e funérea forma.
Um “espectro” esconde-se em meio à relva morta de uma tábida árvore,
Observa-me com olhos obscurecidos pela dor e pergunta-me sobre a “Fada verde”,
“-Aonde esta a minha “Fada Verde”? , mero humano.”
“ -Onde você a escondeu?”
Eu o respondi atônico: “- Não sei do que tu falas abominação da natureza...Vai-te embora desta fúnebre existência.”
O “espectro” então tentou me levar para o Inferno, Porém ceifei-o antes com a minha faca.
O mesmo sangrava, agonizava e praguejava sobre a minha lamina antes de morrer.
E devido ao excesso de adrenalina que corria sobre meu corpo e os efeitos maléficos da bebida eu desabo ao chão desmaiado.
Após alguns dias acordo atordoado e percebo que o tal “espectro” na verdade era outro grotesco homem alucinado,
Ignoto que quem eu era eu o matei,
Corrompido pelo adocicada dose do elixir do Diabo ceifei sua alma,
Agora devo correr célere, pois já posso escutar os passos da justiça ao meu encolho.
Dispus-me ao risco desta malevolente bebida e sofri a consequência do não Ser.
Mas continuo sobre a sua dependência e anseio por mais uma doce e mortuária dose.
(Niaxe Augusto)
“Mater”
Desde o ventre tu cuidaras de mim,
Deu-me o teu amor incondicional,
E não pediu-me nada em troca,
Educou-me, instruiu-me e mostrou-me o caminho certo.
Agradeço pela magnificência de teu Ser minha amada mãe.
Agradeço por ter sido as vertentes da minha maturidade.
Comemoramos hoje o esplendor de teu dia,
Transbordando a euforia de um sentimento puro e translucido,
De meu coração brotam os frutos que a senhora cultivou,
E escrevo este singelo poema para ver-te sorrir.
Tu és o meu anjo protetor,
Tu és meu acalento em noites frias,
Tu és a perfeição da Natureza,
Tu és a minha doce e amada mãe.
“Mater”
(Mãe, do Latim “Mater”, cujo um de seus significados é a Origem)
Desprezível Veraneio.
Acordo desolado em manhãs de veraneio,
O brilhar ovante do sol ofusca minha visão,
O mormaço deixa-me estuante,
E fazes com que minha pele resfrie-se com a sua proteção natural.
Veraneio, odeio-te mais que a minha própria existência,
Maldita seja a radiação cancerígena e pulsante de teus raios solares,
Odeio-te profundamente,
Por que tu existes?
Tu trazes desastres às florestas secas,
Evaporas os poços cristalinos,
Aliena a todos com suas deslumbrantes praias,
E queima-me o tecido da carne.
Desprezo o teu brilho hoje...
E nas próximas manhãs,
Odeio-te...
Veraneio.
(Niaxe Augusto)
Vocabulário:
Estuante: Febril
Vem...
Vem com a chuva
E os orvalhos.
Vem com a noite
E o frio.
Vem com o silêncio
Aquela mulher
Que um dia
Partiu.
Vem com as ondas
E as espumas.
Vem com o vento
E as folhas.
Vem com as rosas
O teu perfume
Que um dia
Eu senti.
Vem com a terra
E as árvores.
Vem com as nuvens
E a neblina.
Vem com o mármore
O teu corpo
Que um dia
Com os olhos esculpi.
Vem com o ouro
E a prata.
Vem com as safiras
E os diamantes.
Vem com as estrelas
O brilho de teu olhar
Que um dia
Foi meu...
Vem com a escuridão
E o delírio.
Vem com o martírio
E a solidão.
Vem com a depressão
Um homem vazio
Que um dia
Foi feliz.
(Niaxe Augusto)
Niaxe Augusto - Dissabores
Mantenha-se imóvel em seu soturno quarto lunar,
Prenda-se ao tempo que lhe resta de vida,
Pois não somos eternos,
Um dia morreremos igual às flores melancólicas do caixão de nossos pais.
À funesta realidade dou os meus braços,
Abraçando os dissabores que a mesma me dispôs,
Esquecendo a essência de um homem e cravando na pele a malevolência da essência de um monstro.
Dores inquietantes que não posso evitar,
Uma angustia mental que distorce as minhas lembranças.
Um ultimo suspiro desesperador que se esvai do meu antigo Eu.
(Niaxe Augusto)
Fim
Entre os trapos e fiapos costuro o meu coração vazio e desbotado,
A depressão vem como consequência do amor,
A dor é cada vez mais forte em meu peito...
Afinal, este é o meu fim ou apenas o seu começo?...
O sangue escorre por entre os rabiscos em minha pele,
O vento gélido corta minha face desfigurada,
A loucura é tida como a sanidade de minha alma,
E os meus gritos já não são escutados por mais ninguém.
O sofrimento ronda-me, e de meus olhos jorram o vazio.
Minha nascente secou há muito tempo atrás,
Busco a ajuda das lágrimas das nuvens... Mas até elas me esqueceram,
Busco a ajuda do tempo... Mas ele pediu-me para esperar.
Sozinho...
Noite obscura consuma-me,
Leve-me desta existência fúnebre,
Pegue todo este meu desespero,
E deixe-me livre...
Silencio-me...
(Niaxe Augusto)