Sem ti
Tantos sonhos escapar deixava
Enquanto por ti de amores me perdia!
Distante permanecias e te via tão fria,
Que por dentro de mim apenas chorava.
Só tu não vias que tanto te amava,
Em ilusão pensava em ti todo dia!
Te ofertei com coração minha poesia
Palavras que do peito por ti arrancava...
Teci em plena ilusão o duro engano!
Errei em não seguir sem ti adiante,
Consenti a dor que mais ninguém consente.
É apenas meu o pressentido dano
De te amar mais que um mero amante,
E de me ver sem ti assim descontente!
Não a posso ter
Sinto a alma de enganos corrompida,
Ilusão que nos olhos bate e adormece!
Por entre quimeras o amor desaparece
Me desgovernando o coração e a vida.
Alma dolente sobre mim estendida
Aos poucos pela saudade desfalece!
Oh! Meu Deus! Enquanto a dor cresce,
Mais a vida sinto em mim perdida.
Saudades que destroçam o peito!
Choro por ela sem qualquer pejo,
Sem ela não sei quem deva ser.
Saudades dela com que me desajeito!
Caio em silêncios quando ao longe a vejo
Mas sei que nem por engano a posso ter.
Heterónimo Meu
Lembro-me de textos que escrevi no passado!
Ou talvez não... Heterónimo de uma outra era,
Que se ergue sobre mim e rabisca uma quimera
Entre um poema seu e um meu nunca acabado.
Sua escrita queda sobre minha alma impressa
Como manto negro que me tolhe a inspiração!
Cegueira onde descrevo mal as dores do coração,
E ele que se exprime tão claramente e depressa.
Ele que ocupa a maior parte de mim e me esquece...
Me sinto tão perdido numa longa estrada
De poesia! Encalhei fora da razão e nada acontece.
Sinto que escrevo menos a cada instante,
Heterónimo que me deixa num constante
Abandono poético onde vejo que sou menos que nada!
Devolver a um poeta a poesia
A tristeza que me encobre
Destruiu a perfeição do desejo !
Tudo o que quero não vejo
Tudo o que não quero se descobre.
Por mais que a dor me dobre
E por modéstia cair sem pejo,
Pela triste memória de um beijo,
Por um coração em mim pobre.
Mesmo que o destino me negue,
A paz na escrita íntima e porfia,
que à tristeza deixou entregue .
Não verei a desinspiração como tirania!
Existirá sempre algo que consegue,
Devolver a um poeta a poesia ?
Única mulher
Quero-te para amar, não apenas para amiga!
Vejo que em meu peito a alma conspira
Em me dar sonhos! Mas logo os tira,
Para que acordado na inquietude te persiga.
Levo no peito a alma que se abriga,
Tua ausência me causa tanta ira!
Cada memória por ti saudade suspira,
E a ver-te a única mulher me obriga.
No amor o querer alimenta pouco,
Quando incessantemente o corpo sente fome
De amar! Gritando em veracidade te digo
Em antes que a voz quebre e fique rouco!
Meu coração não conhece outro nome,
Quero ser teu amor, não apenas teu amigo.
Noites solitárias
Guardo a memória da tua alegria,
Em noites solitárias o teu nome chamo!
Por entre algo parecido a poesia
Todo o amor em versos proclamo.
Desculpa por nao escrever de forma galante,
Nem criar obras de pura excelência
A inspiração é algo estranho e inconstante
Quando a distância marca sua diferença.
É verdade o que tão mal exprimo
Por entre o sentir e o não saber viver isento,
Mas pesa-me na alma o que tanto oprimo!
É verdade o que escrevo neste momento
Em que revelo mentiras de um outrora,
Onde a saudade pesava menos que agora...
Prender-te na minha liberdade
Será meu coração que tanto adoras,
Ou apenas a ideia de mais uma aventura ?
Se te adoro por tão frágil e pura,
Adoro mais quando por meus desejos coras...
Vejo os dias passar, mas mais as horas,
Sem ti não vislumbro alguma ternura !
A paixão que por ti se me figura,
É tão real enquanto deitada me devoras !
Não me digas que caí em engano,
Que tudo não passa de uma colorida amizade!
A genialidade do que sinto é algo tirano
Se retirar do sentimento a tua divindade!
Saberei amar-te sendo apenas um ser humano?
Saberei eu prender-te em minha liberdade ?
Destino em contra-mão
Sigo por mim mesmo esquecido!
Nem sombra de mim no pensamento!
Lembranças as levaram o vento
Pelas janelas da alma têm saído.
Sigo em mim mesmo perdido,
No peito nem restos de sentimento!
Ao vento falo de todo o tormento,
Mas não acho que seja sequer ouvido.
Segue assim o peito sem coração!
A mente sem véus de juízo
Por entre sentidos onde me desajuízo...
Quanto mais me vejo, mais sei do prejuízo
De me ver encalhado fora dos tons da razão,
Seguindo um destino mas em contra-mão...
Entre a falta de amor e a falta de siso
Cansei de mil e um pensamentos
Todos sem luz, com ideais pavorosos!
Mesmo os sonhos chegam penosos
A preto e branco a todos os momentos .
Cansei de buscar quieto os movimentos,
Das ideias genialmente loucas dos teimosos,
Que ainda sucumbem a amores custosos!
Condenados os loucos em geniais sentimentos.
Esqueço o passado no futuro diviso,
Apenas danos entre poesia e tristes Fados,
Entre a falta de amor e a falta de siso.
Há muito perdi a luz de sonhos consagrados,
O olhar brilhante, ou apenas um sorriso,
Cansei até de dar à fantasia mil e um cuidados.
Ideias de papel
Aspiro ainda ao amor derradeiro,
Ao qual esperei por toda a vida!
Se o tive foi numa quimera querida,
Mas apenas sonhava à minha maneira.
Tudo o que sinto é mais que verdadeiro,
Mas em nenhuma poesia minha lida!
Não encontro a rima plena apetecida,
Ou a consciência no poema inteiro.
Tantos deles da alma arrancados,
Por entre outros por mim erigidos
Vi em mim mais ainda apagados.
Desejos subconscientes unidos!
Ideias de papel em ideais separados,
Pensamentos lidos mas nunca vívidos.