Poemas, frases e mensagens de Ruinav

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de Ruinav

Dificuldade (I)

 
Tenho hoje dificuldade, em escrever coisas bonitas
Como fazia inebriado pelas paixões juvenis
Fica a sensação de escrever coisas já escritas
Pelos poetas do amor, dos quais sou aprendiz

Ruinav
 
Dificuldade (I)

Pregos Alcobia (Parte II)

 
Trinta anos passaram desde que te conheci, Vera
Éramos gente jovem e gente mais feliz não havia
Qual tépida manhã na mais soalheira primavera
Que do Sado absorve a mais fresca maresia

Passámos muitos bons momentos, Vera
Éramos gente jovem e gente mais feliz não havia
No teu corpo encontrava minha alma sincera
Nos teus lábios o por do sol quando ainda era dia

Anos passaram e vieram os frutos do sangue, Vera
Éramos menos jovens mas felicidade ainda reluzia
Dois lindos e fantasticos seres são a nossa quimera
Obrigado pela paternidade que vivo com alegria

Mais anos passaram e agora tudo acabou, Vera
Mesmo sabendo que este caminho eu não queria
O outono a terminar, há muito se foi a feliz primavera
Mantermo-nos unidos, talvez só com pregos Alcobia...

Ruinav
 
Pregos Alcobia (Parte II)

Poetas Roubados

 
Poetas Roubados

Olho à minha volta, puxo pela imaginação
Que vem aos poucos, em gomos repartida
Aos poetas roubava, se pudesse, inspiração
Com que colava rudemente cacos de vida

Se desta forma vou conseguir tristeza evitar
Ainda não sei, tenho que acreditar na mudança
Esforço hercúleo vou fazer para voltar a amar
Formato meu coração, que volta a ser criança

Se aos poetas roubados, fico nova vida a dever
Acendo velinhas de agradecimento aparente
E num ato indigno, puro egoísmo do meu ser
Volto a lê-los e relê-los e roubá-los novamente

Depois, conhecedor e inspirado, eu prometo
Da próxima vez vou escrever um soneto.

Ruinav
 
Poetas Roubados

Aproximação

 
Aproximação

Aos poucos vou-me chegando a ti,
faço-o devagar, de forma quase impercetível,
espreitando no entanto pelo canto do olho,
para ter certeza de que te apercebes do meu movimento
e analiso freneticamente a tua reação.
Meu coração bate acelerado, ritmo inconstante,
que me provoca até alguma dificuldade
em fazer chegar aos pulmões arfantes,
o ar bendito que inspiro,
perfumado por uma fragrância leve e fresca
que se solta dos teus cabelos
e que controla, comanda, bloqueia
todos os meus sentidos e me deixa num estado
hipnótico, deslumbrado, de puro transe.
Volto a espreitar pelo canto do olho e sinto-me invadido
por uma angústia pesada e compacta,
continuamos à mesma distância,
cada um na sua ponta do banco,
embora se mantenha a falsa sensação
de que me vou chegando a ti aos poucos,
de forma insinuosa e marota.
Mas não, continuamos afastados, todos os meus músculos
se queixam já do tremendo esforço
mas o olhar confirma.
Estou exausto, sinto que não vou chegar a ti
e é num ato impregnado de desespero que te proponho:
Vá lá meu bem, vamos encontrar-nos a meio caminho...

Ruinav
 
Aproximação

Dificuldade (II)

 
Estatísticas de 2015 dizem que morrem no mundo
8.500 crianças por dia, por dia, leram bem,
de fome ou malnutrição.
Difícil é ver estas notícias e seguir em frente
No ritmo da nossa vidinha, depressa arrumamos
na gaveta das memórias indesejáveis.
Quando nisto meditamos, quase vergonha sentimos
De à raça humana pertencer
De tais atrocidades permitir
Mais ainda, quando no chamado mundo ocidental,
Evoluído, desenvolvido, civilizado, moderno,
Permitimos criação diária de fraudes, aproveitamentos,
"buracos" de não sei quantos mil milhões,
(não temos vergonha em acrescentar zeros)
Sem culpados e sem conseguirmos perceber afinal
Onde vai parar todo esse dinheiro.
Mas, pensando bem, uma certeza obtemos
Na reflexão deste texto,
Uma certeza absoluta,
Às crianças com fome não é, inquestionavelmente.

Ruinav
 
Dificuldade (II)

O Sonho e os Choupos

 
O Sonho e os Choupos

Ao nosso lado direito o ribeiro corre livremente, devagar,
num ritmo compassado, indiferente à nossa presença.
Estamos deitados à sombra dos choupos, na erva verde e viçosa,
que permanentemente parece agradecer às águas que passam,
a vida exuberante, extrema, saudável, que ostenta vaidosamente,
e que provoca em nós uma inveja imensa, tranquila, redentora,
quase não nos parece inveja...
Está-se bem aqui, a sombra profunda e a erva fresca protegem-nos
dos raios abrasadores e deixam-nos suavemente atordoados,
dormitantes, como quem sonha acordado.
Passo pelas brasas, num meio sono leve, ligeiro,
e deixo-me levar num sonho bonito, que por parecer tão perfeito,
me parece desde logo que é um sonho...
Dançamos por entre a floresta de choupos esguios e pouco vestidos,
que projetam uma sombra compacta apenas pela densidade da sua população,
parecendo todos eles de mãos dadas, comprometidos, entrelaçados
e debruçados sobre as margens do riacho, num autêntico ritual
de veneração, de agradecimento e de cumplicidade tão natural.
Danço contigo rodopiando, apenas para relembrar como era dançar,
prazer que usei em tempos e do qual me esqueci.
E continuo a sonhar, devagarinho...
Aah!!, tão bem que se está no campo!

Ruinav
 
O Sonho e os Choupos

O Choro

 
Choro compulsiva e perturbadamente
Das razões não me chega quase nada
Osculto devagar meu coração insolvente
Que combina com a tez esbranquiçada

Se aos poucos, deste choro deprimente
Não obtenho a melhoria desejada
Passo aos prantos, perturbadamente
Mero alivio da mente perturbada

Ruinav
 
O Choro

Ode aos que amam

 
O amor implica connosco, provoca, complica
O amor não é feliz, não nos ri nem nos faz rir
E abre feridas no peito sofrido, é de admitir
Se as mantém abertas, seus poderes fortifica

Mesmo quando o amor é apenas e só paixão
Ele anda sempre de namoricos com a dor
Se amou, sem no coração sentir aquele ardor
Penas tenho em lhe dizer, esse amor foi vão

Contudo, na vida deve ser nosso perfume
Qual néctar viciante que os deuses clamam
Combustível vivo que alimenta o meu lume

Ah! amor, por ti todos meus poros chamam
Estranha seja até minha saudade do ciúme
Um bem haja, a todos aqueles que amam

Ruinav
 
Ode aos que amam

O Vento Leva

 
Ao longe levanta-se o vento
Para nós vem vindo, apressado
Fita-nos só por um momento
Passa por nós, desenfreado

Passa por nós, desenfreado
Conhece bem seu aposento
Volta atrás, sopra inacabado
Faces acaricia muito atento

Faces acaricia muito atento
E estranhamente delicado
Muda depois de argumento
Tudo leva de mim desordenado

Tudo leva de mim desordenado
Num turbilhão triste, cinzento
Ò Vento, te peço, tem cuidado
Não leves assim meu casamento

Ruinav
 
O Vento Leva

Imperfeito Resort

 
Imperfeito Resort

Voltamos da praia, mais de quarenta graus,
leve brisa muito quente,
como é dificil respirar!
Caminhamos um atrás do outro,
por forma a não sairmos da curta sombra
colada ao muro do resort.
Nosso bungalow está situado ao fundo da rua principal
que se estende em linha reta e atravessa toda a estância,
debroada a moringas, gardénias e buganvílias, cujo aroma
e composição colorida nos trazem à lembrança
os portais do paraiso, pelo menos como nos foi apresentado.
Entramos no bungalow, ar condicionado no máximo,
trabalhando em esforço e dizendo-nos pelos
estalidos metálicos algo incomodativos das ventoinhas,
que já teve melhores dias.
A janela grande, em vidro de cor azulada que ainda
não percebi se é a sua própria cor ou o reflexo do céu,
assemelha-se a um quadro de natureza viva,
pontuado pelo verde das pupunhas e mungubas
e onde sobressai, como uma pincelada de Van Gogh,
a cor clara e brilhante de um grande ipê-amarelo
que pelo seu porte majestoso, se anuncia quase centenário.
Do campo de palmeiras que se estende até à praia
chega-nos o chilreado estridente dos tangarás, sabiás
e pintassilgos da Venezuela que,
a julgar pelo agrado colocado no canto,
não lamentam a considerável canícula
e celebram-na até de forma entusiasta.
Agarro-te pela cintura, meus lábios procuram os teus,
beijo-te as faces salgadas que imagino da salmoura
mas apercebo-me depois que é das lágrimas grossas
que te rolam pela cara, que eu vejo mas, estranhamente,
não me preocupam, nem sequer te questiono!
Beijamo-nos excitados, o fresco contraste com
a temperatura exterior deixa-nos em pele de galinha,
todos os pelos eriçados, hipersensíveis.
Estamos enamorados, nada mais pensamos
do que no entrelaçar dos nossos corpos cansados.
Ao longe começo a ouvir um som que me é familiar,
um som digital,
parece o meu despertador!
Quem me dera ter adormecido mais cedo,
talvez conseguisse terminar o sonho,
talvez nos amássemos no chão, na banheira, na cama...

Ruinav
 
Imperfeito Resort