Conflito arenoso de uma ampulheta
Sempre a desacertar o relógio da areia, nesse peito-mar!
Incrível como nunca deixaste cair os últimos grãos!
Tiveste medo, que os ponteiros invisíveis da memória chegassem à meia-noite da tristeza?
Meu amigo, o sábio tempo, lucra com o desgosto e distancia o realismo dos sonhos.
É demasiado arriscado trazer o passado ás costas do peito e enfrentar o exército de silêncios.
Será uma guerra perdida num tempo não vivido...
Porém ,ainda vais a tempo de seres feliz, não apagando o que foste mas melhorando o que és .
O escuro estanca quando chegas
Tudo foge...
Até cor cobre das mãos
Por entre os pingos de amor
Chorados pelo clarão do velho céu
Tudo corre
Até o sentimento
Preso nos olhos meus
Mas tudo muda
Quando chegas
E dás volta à solidão
O bip polar do teu coração chega ao antártico do meu
essa bomba engolindo o vermelho da chama
afunila vontades em cacho
sonhos em parra
nesse tinto sangue
protegido por uma realidade in vitro
incapaz de embriagar a boca dos olhos
de quem te acena
com um sorriso
nos poros da face
nos lismos da carne
no outono dos lábios
caídos
dos braços despidos
gelados
pelos beijos das lágrimas
ai, esse teu amor! ….pode fazer o caminho inverso das larvas
de borboleta a um casulo de mágoa
mas sempre voa mais alto que qualquer ave …
um amor hibernando no verão mais quente e chegando como vulcão à casta invernal da solidão
um amor que amo
o grande amor
que fica tocando com a sonoridade mais alta
na arramada desta minha alma
presa no tempo
amarrada pelo silêncio
sofrendo com as bofetadas da lampa saudade
que serve de chão
às mãos no ar
esperando pelo atear de uma paixão
num abraço em fosforo
querendo ruir com a ilusão
oxidada
nas dobradiças da sorte …
O amor fala mais alto que qualquer nuvem carregada
nunca despirei os montes do peito
queimando os teus pulmões …
nunca abandonarei o tejo dos teus olhos
sem embarcar neles …
estarei sempre contigo
estarás sempre comigo
independente de qualquer situação
de qualquer estação ditatorial
que impeça a chegada de outras
aos nossos corações,
repetindo
vezes sem conta
um natal sem canções
Inseparável vontade de te amar amando-te
Uma vontade
ensinava os braços a dar nós de marinheiro
e levava-te a salvo num abraço
até à ilha dos nossos lábios
sem receio de nos magoarmos
Uma certeza
o amor não morre
fica preso como as notas de uma melodia
debaixo das teclas de um piano
esperando os teus dedos
Uma realidade
todos os rios sem água são feridas
todos olhos com lágrimas
são sequestros de mar
esperando o regaste do céu
teu
todas as asas sem vento
são intrusas
nos azuis do teu olhar
todos os anoiteceres são traições
sem os corações acesos
num beijo de peito
todos os sonhos desfeitos
são refeitos na saudade
dos nossos braços
todos os regressos sem alma
são compassos.
falsos passos
coordenadas erradas de um mapa
ou apenas
a escura ilusão
falseando
a vinda das tuas cores
Sempre que te vejo caio
abrasiva
a tua distância acotoveladora
até que:
tropeço no teu rosto
num deslize composto de agouro
um sonho de tombo
desfibrilhando um sorriso morto
ressoando
vontades
nas lajes dos lábios
alojando o mar que chega
ao enrugado chão
dos dois lagos
que sempre regaram a solidão
com o sonso
sal
estragado
A primavera também chega ao mar
se a brisa é de toda as estações
como saberei
que és tu que chegas
mudando os olhos das cores
polindo o arco-íris nas flores
lavando a tristeza dos corações
talvez saiba que és ...
pelo perfume
dos teus cabelos
pela marulhada da tua fala
pelo calor salgado
da tua pele
pela gaivota que te traz
pelo vento que te esconde
pelo beijo de ontem
aguardando
O “ amo-te ”
no ancorar
de um abraço
na foz dos braços
braços
até agora embalsamados
pela promessa dos teus
Depois do amor …a mansão do teu coração ficou melhor que o meu T0
Saber que o meu amor já não faz parte do teu peito,
Não torna o coração teu
Numa mansão sem mobília
Vazia
De espaços cheios de ar
De certeza o torna mais belo e equilibrado
Com um espaço especial para amar
Com janelas limpas com vista mar
Já o meu ,
É um T0 repleto
De saudades tuas
Com retratos teus
De um sonho
Já muito longe da via-láctea
Tão vivo debaixo
Das pálpebras
Tão essencial
Para respirar