A esperança despida
a esperança
adiou
os adeuses
acreditou
no alvor
de um amor [desusado]
a nossa
esperança
viu os dias
a serem
atropelados
pelas noites
sentiu os outonos
a madrugar
mais cedo que os verões
até que um dia…
seu coração
observando a nua solidão [a esperança despida]
transbordou um mar
no meio
dos seus
arenosos
olhos
meu Deus...!
um coração assim ...
só feito de saudade
morre tão devagar
sempre foi amor …para lá do bailado das palavras
contrariar as correntes de amar
é ir em contramão
na direção contrária do coração
mas o que poderíamos ter feito ?
diante de uma cordilheira gigante
depois
de uma pequena montanha
transposta...
onde podíamos ter ido?
se tínhamos o atlântico tão longe do Índico…
e um cosmos às nossas costas …
O que podíamos ter sido?
após os olhos quebrarem a alma
num meio abraço sem resposta
[ o último adeus de Cristo vivo de carne ]
Como é fácil … escreveres “ adeus” numa nuvem … sem a salgar…
menina ave
que não chora com lágrimas
dança num azul por cair
e regressa a casa
com asas
encharcadas de nada
numa despedida
tão invulgar
Quantas flores desabrocharam da mesma raiz ?
…serei
a flor espelho
dos teus dedos
… aquela tatuagem
no forro da pele
que os olhos do mundo
não espreitam
e por mais que o tempo desarmonize a esperança da alma ...
haverá uma orquestra com o teu nome
nos altivos silêncios
um dia ...
deixaremos o mundo vazio
[quando colarmos o nosso peito]
De âncora em terra… com o mar carregado nos olhos …com a vontade de atracar nos teus braços
a vida é mesmo assim ...
de laços atados
aos passos
com um itinerário
cheio de curvas e atalhos
e tu como estás?
espero que o teu mundo esteja seguro
e o belo dos teus olhos
planei o revérbero do caminho
sem distúrbios
PS
antes de voltares a colocares as penas nos braços … sangra-as nos vocábulos
[só como tu sabes … instruindo o nosso âmago com pedaços do teu íntimo]
... e é tão bom escutar-te …
O desencontro no ponto …mesmo no final… antes do início…
o coração recorda
a batida da porta
o silêncio dos olhos
a prosa dos dedos
no cimo das costas
no desejo das horas
a saudade ainda revive
os lábios pequenos
diante da boca
e a vontade de minar
o rosto de mimos
num terno gesto
Meu deus!
o rastilho do lume
estava lá….
vivo
enriquecido de fósforos
faltando
menos de um pingo de chuva
para iniciar o incêndio
dos corpos
o que aconteceu?
o que falhou?
faltava apenas um baguinho argiloso
naquele ninho para ser poiso definitivo ...
o suficiente para afastar a andorinha
do seu lar
A ventania de uma vida… lufa árvores com nomes de pessoas e de lugares …
embora a saudade pernei cá dentro
nunca perdeu a ternura de te saber
a frescura de te ter
independente das curvas
das rugas
dos contraventos do envelhecer
apesar de todos os erros
um dia percebi
que a serena estabilidade
seria mais importante para ti
do que a felicidade instantânea
tantas vezes indisciplinada
pondo a prova
os nossos pilares
e as travessias
que nos ligam à família
passadas 77206 horas
existe a certeza
que este amor
não vai embora
deste teu coração
por mais pobre
que seja
é assim a vida
das aves de água salgada
que vivem longe do mar
começaram por cair
de asas verdes
em ramos secos
desfolharam as penas
em folhas presas
poisaram em oliveiras,
laranjeiras e em outros
corpos de madeira
até chegaram a uma altura
que se aperceberam
dos ninhos que tiveram
afinal
não nasceram das árvores
que mais adejaram
mas sim
daquelas
que menos ventaneavam
A solidão rompendo os olhos
vista
embrulhada
querendo
lacrimar
um
céu
nos
traços
de
um
mar
teu
céu do mundo
antes dos teus olhos
o mundo escurecia o arco da iris
havia aquela espera esperançada no rosto
e uma certeza de amar
a metade que nos faltava …
...um dia surgiste entornada de alma
brilhando no escuro
farolando o peito sem rumo …
tentei resgatar o melhor de mim para te completar
esquecendo que eras o ser mais completo do espectro estelar …
[o horizonte mais bonito que serve de berço no céu quando a luz adormece antes do olhar]
como estás?