Usa as nuvens como travesseiro… no fim das tardes
asas cortadas
não servem
para chegar a ti
somente
para cobrir
os rostos
das lágrimas
asas
que herdei
por arrasto
no dia em que perdeste o equilíbrio
na colisão dos braços... no embarque da alma
… no dia em que o céu ficou ofuscado de luz
por renasceres como estrela
…no dia em que levaste
a leveza deste teu coração
e deixaste
a densa saudade
no seu lugar
Suave abismo
aprendi contigo
a encontrar a raridade e o conforto
atrás das palavras
[até as mais escondidas]
observei -te a alcançar os corações com uma sensibilidade fora do vulgar …
um dia
tropecei numa palavra gigante
das muitas
que polvilhas
foi fácil atracar o olhar nas tuas rimas
encurtando a distância entre os lábios e a tua escrita
que quis desvendar
essa alma tão grande [tão menina]
a partir dai
enraizei
a tua poesia
alindando os dias
depois …
depois
o sentimento
nunca teve o presente da cura
nem a presença da tua doçura
nessa platónica desventura
de agradar uma deusa
presa
com correntes de diamantes
Lágrima em flor …no começo antigo… deste nosso amor …
num peito vulcânico …
o afeto pelo teu ser
não desvive
acorda assim que recorda
a tua alma
tão deleitável
feita de vagas
[in]mareáveis
nos vales destas feridas
[invisíveis aos olhares]
corre a saudade
doce e salgada
de te amar
longe da pele
tão intima
nas palavras
cegas
no outro lado do silêncio
o íntimo não se cala
por seres promessa registada
nas raízes desta alma
A linha está pronta…para bordares as palavras ou suturares a alma
o que mudou
no teu mundo
para que os silêncios
sejam muralhas
fortificadas
da alma
essa
moradia de carne
golpeada…
magoada
pelos desacertos
incertos
de um
mudo
tempo
essa alma
que baixa
a voz
na lonjura
da razão
no contrabando
de um sonho
retorna por favor
regressa por amor
ainda continuo…
aqui
esperando-te
já com a esperança
escorrendo o verde seco
do sangue
mas sigo…
aqui
com aquele sentimento
que um dia
borbulhou
no peito teu
como meninos
pulando
no recreio
aparece …
não precisas de bater
o coração conhece os teus passos
e o perfume do teu amor
literário
O que diria Eurídice de Orfeu ?
não só
o sol
avermelha
o rosto
também
a caricia
a desmaiar
na pele
te faz corar
a face
como aguarela
a gotejar
na tela
no início
de uma obra
onde a arte
tem como margens
a alma e a carne
recordo
aquele dia
que os livros
testemunharam
o tocar
das nossas linhas
viram o perfume
arrepiado da nuca
a violência doce
de um sopro
onde o ouvido
sentia os lábios
sem os vocábulos
timbrados
Terra a passo a cada passo na terra
antes de ser tronco foi raiz
antes de ser feliz foi tristeza
assim foi um amor
que deu frutos
apesar do outono
longo
que nunca chegou a passar
apesar dos apesares
nunca foi ao ar
A nuca sentiu falta do vento… como sempre
Ser paisagem
É levarmo-nos
Sem olhares
Pequenos
Nesta viagem
Senti-me
Um risco
Fino findo
Que me esqueci
De recordar
Vazios
Soberanos
Vi de perto
O filho da lua
Espumando
Nas rochas
O sódio
Dos seus punhos
Achei a paz
Baloiçando
A praia
Das gaivotas
Militares
Vi o céu
Beijando
O mar
De língua
À frente dos anjos
Acabei
Chorando
O horizonte
Com soluços
De espanto
No final
Sobraram
Poucos olhares
Por inaugurar
Muitos
Suspiros
Esvoaçando
Na haste dos dedos
Espigar os sentimentos mais nobres de amar
a sementeira do tempo
tem de ser colhida
com afetos
não há outra forma
de envelhecemos
de coração cheio
e de partilharmos
aquilo que realmente importa
perante os nossos olhos
verso…
do amor pelo próximo
da pressa da bondade
correndo devagar
Invisivelmente inaudível… o leal silêncio
apavorada
com este silêncio,
cada vez mais estranho
e tirano.
ele
atira
o sono
aos olhos.
tira
as estrelas
ao olhar.
ira a retina
com a mesma
reprodução.
ainda há quem o peça
com a pressa da aflição.
se eu pudesse,
afastava-o.
atirava-lhe
música metálica
bem alta.
tirava-lhe a sua integridade
e descosia-lhe a boca
com as cordas de uma harpa.
irava-o com a flauta dos amola-tesouras
em sucessivas repetições.
já não há pachorra.
não sei como é que a solidão
pode casar com este silêncio.
ainda bem que nunca tiveram filhos;
seria um erro gritante.
Uma foto do casal e como sempre, só aparece a solidão…
Dedos de prosa
os dedos em âncora
desatacam as teclas
tentando coreografar
o olhar
com vocábulos
em contrapé
antes da maré
molhar os lábios
estes dedos
guiados pela agitação
sincera
de um coração
sem grelas
fora do peito
querem muito
despertar um sentimento
profundo
sobre o nosso futuro
para lá dos teus seios
os dedos
forjados na paixão
ainda queimam os lençóis
e sucumbem á ilusão
bradando o sonho
num jejum de Deuses