Por amor …destranca a porta do coração …existe sol também no Inverno
os vazios multiplicam os silêncios
há que fazer frente à monotonia
dos gestos
erguer o mais íntimo dos afetos
e partilhar com quem nos ama
sei que é difícil doarmo-nos
de coração
fendilhado de mágoa
mas a sabedoria antiga
nos ensina
que a ferida escondida
cicatriza mais tarde
muito depois da saudade
não tenhas receio ...
o sentimento preso
no torso
arde como o magnésio
no azul molhado do ártico
também
irá foguear
a vontade de amar
nos nossos braços
entrelaçados
vamos juntar nossos medos
e derruba-los
deste peito
agora novo
num abraço
As voltas dos ponteiros não transformam sentimentos
a memória encrustada à saudade
mostra-me vezes sem conta
a beleza dos teus olhos
[carnudos]
dos teus lábios
[brilhantes]
no dia em que me disseste "até logo"
um “ até logo”
tão demorado
que os outonos
já casaram com as primaveras
e já tiveram um verãozinho
que já anda de triciclo
mudando de assunto
nunca afogueei-te as asas
elas renascerão
quando enfrentamos os azuis em queda
quando sairmos da carapaça
e deixarmos a emoção
pintar a cara
por amor …
não fujas de um sonho
que adormece embernando o desejo
não faças da mágoa a areia do deserto
com um mar tão perto
um espinho no chão
não te pode impedir de caminhar
nesse trilho de pétalas de rosas
que te leva ao nosso coração
Descompassar os passos…
na bainha das palavras
escodemos
cristais
dos sonhos
das lágrimas
e ver o brilho
espreitando na esquina
desse olhar menino
e não do teu
solarengo coração ...
entristece o silêncio
mais bonito
As cicatrizes tornam-se rios
depois…
do dilúvio
dos pedaços
dos apertos
as lágrimas
secaram no rosto
mas não
no coração…
Raízes enraizadas
os amores de ontem
ficam na outra margem
impossíveis de lá chegar
mesmo a construção
de uma ponte
nunca mudarias
de lugar
olhamos as flores nas tuas folhas
pareces tão livre
mas estás presa ao chão
com raízes
gigantes
ancoradas
na dura terra
fertilizada
por um mar
despido de sal
um dia
pediste ao vento
[á boleia de um sopro]
para me chegares
uma folha
dos teus ombros
prometendo-me um abraço
até hoje
guardo essa folha
dos teus ramos
que nunca usaste
para abraçar
Apegamentos
o estágio mais alto e delicado
da comoção
é quando somos contagiados
pela emoção exposta
do outro
perante os nossos sentidos
principalmente
quando o outro
está mais próximo
vemos essa emoção
largada
nos olhos escorridos
na voz embargada
no rosto franzido
contendo as lágrimas
até mesmo aqui
a onde as palavras
adestram as folhas
sentimos o fervilhar
da emoção
de quem escreve
transbordando
pedaços de si
nas forjadas linhas
enjaulando nos vocábulos
o que restas das feridas
dos amores em dívida
até aqui
os gritos vivem
aflitos
erguendo
os silêncios
virgens
nos poemas
até aqui
somos
pureza
na mudez de
uma lágrima
provocada
até aqui
sentimos
a molhada
face
do mar
na haste
da prosa
tua
Anda…antes que a noite perca as estrelas!
não podemos esperar mais
deste tempo
surdo e mudo
que envelhece a esperança
e emperra os abraços
vem
vem fortalecer os olhos
com os azuis [enxutos]
do mar e do céu
de mãos apertadas
em cordão
vamos
colher os horizontes
com o coração
lotado
de pasmos
vamos
acelerar
a passada
da nossa alma
encurtando as distâncias
dos braços
... fazer do tempo que resta
uma homenagem à felicidade
e à ternura dos poros
pois …
o amanhã será tarde
para o presente
sabendo antemão
que que a nossa existência
contraria o amor nosso
que dura para sempre
Juntos… seriamos um rio ... maior que qualquer oceano
com os anos…
as horas amargas
vão esfalfando os dias
e o que fica …
é uma página vazia
em cada jornada
virada
meu Deus
se tivesse vontades carpinteiras
fazia destas árvores murchadas
uma nova arca
e embarcava contra as ondas canalhas
que derrancam as águas da tua Ria ...
...a tua Ria
teu braço
doce
a ser molhado
pela mesma tristeza do rosto
tua boca
engolindo
o gosto
que açoda a sede
nesse contacto salgado
do mar-posto
Dedos de prosa
os dedos em âncora
desatacam as teclas
tentando coreografar
o olhar
com vocábulos
em contrapé
antes da maré
molhar os lábios
estes dedos
guiados pela agitação
sincera
de um coração
sem grelas
fora do peito
querem muito
despertar um sentimento
profundo
sobre o nosso futuro
para lá dos teus seios
os dedos
forjados na paixão
ainda queimam os lençóis
e sucumbem á ilusão
bradando o sonho
num jejum de Deuses
Aceno do vento migratório
sei
que todas as alturas
são erradas
para ir embora
e não te levar