Caixa Pandora
Diz-me, porque é que horizonte está tão longe?
Diz-me, porque é que o sol aquece as cores frias?
Espreito um infinito incerto,
Apelo à resposta por magia,
Na companhia das forças da poesia…
Posso ser o vento num dia quente,
Ou uma nuvem escura num dia de sol,
Fui outrora verde rebento,
E agora escuto o sábio cântico do rouxinol,
Oh Voz! Sigo-te como um girassol!
Bebo da nascente do conhecimento,
Retiro dela versos de solidão e companhia,
Não abras a minha caixa te peço,
Podes libertar a agonia.
Furacão dos meus tempos,
Flor rainha do grande Jardim,
Resguarda-te da entrada,
Não deixes que me vejam assim…
Caixa Pandora que vive em mim!
Prende-me Liberdade!
Prende-me liberdade!
Nas asas da Fénix perdida,
Nos encantos dos florais,
No Amor, na Força da vida!
Prende-me Liberdade!
Eleva-me ao mais alto dos céus,
Coloca-me no extremo de um arco-celeste,
Despe-te dos teus véus.
Prende-me liberdade!
Solta-me na tua magnitude,
Deixa-me mergulhar nas tuas águas,
Afundar na tua Juventude,
E morrer na tua, com a minha virtude!
Momentos
Na turbulência das tuas águas me perdi,
Na sua calmaria me achei,
Oh Espírito da imensidão que medi!
Da clareza que vi quando os meus olhos fechei.
Ouço o embate nas rochas,
Caminho descalça pelos teus trilhos,
Quando queres dás de beber a quem tem sede,
Outrora tiras o chão aos teus filhos.
Sou amadora na tua sabedoria,
Canto aos ventos o pouco que sei,
Partilho contigo todas as fragrâncias,
Os odores maus que cheirei.
Na tua bola mágica prevejo o meu futuro,
Baço e inquebrável como um rochedo,
Tento contornar essa quimera,
Sigo pelo desconhecido sem medo,
Guardo em mim todos os teus Segredos!
O Poeta
Palavras mudas saem dos seus espíritos,
Inspiradas num portal de sensações,
Com mansidão e turbulência,
É um mar de emoções...
Violentamente arrebatado,
Tenta reproduzir o sentimento,
Desenha as palavras num papel,
Para que quem leia, tenha o mesmo pensamento.
Poeta, lírico ou cantor...
Crê no que diz,
Crê no que sente,
Mas quando escreve, mente!
Paralísia do Espírito
Não quero saber o que vejo,
Não quero saber o que quero,
Simplesmente sinto e vivo,
A maresia do um céu sincero
Hoje estou mesmo assim,
Numa carência de ti,
Acuso sem estar em mim,
Oh Espírito que eu deflecti.
Agora sou como o mar sem areia para banhar,
Sou como uma águia sem poder voar,
Enraizada na terra,
Que não me deixa avançar.
Mas sei o que sinto,
Sem esse Espírito perdido,
Que não quero, nem vejo,
O que antes era garantido,
Alma penada sem o meu corpo devido…
Amor fogoso
Não posso…
Ser escrava desse sentimento,
Que se diz dono da vida,
Que se diz alegre em quase todo o momento,
Apodera-se de mim,
Invasor do meu coração sem consentimento.
Contenho o meu desejo de te revelar,
Tenho receio, não quero ser percebida,
Escondo-me na minha concha oca,
Espero que passe esta tempestade nociva,
Sou fraca quando por ti sentida.
Repugno-te,
Quando te pretendo.
Nesta loucura do querer e não poder,
Mas vivo-te, acendo-te,
Só para sentir o gosto de perceber,
Do que estou a perder.
Solto as asas da minha fantasia,
Comando-te sentimento,
Que condeno pela minha mágoa e alegria,
Visto a pele do lobo,
Sacio a fome que há muito tempo tinha.
Resguardo-me da tristeza por ti gerada,
Vivendo escondida toda a tua emoção,
Pois desejo-te na vontade de não querer,
Não te anseio apenas por paixão,
Amor fogoso que vivo na minha escuridão.
Presunção soberba
O orgulho e a vaidade, tornam-nos grandes,
Iludem-nos o espaço e o tempo,
Constroem palácios e templos,
Para os que se acham reis e donos da perfeição!
Mas baixemo-nos só um pouco,
Para perceber que neste campo em que vivemos,
Encolhemos nessa situação.
Morro e nada sinto
Com a alma escurecida,
Caminho entre as sombras,
Espero não ser vista,
Escondo-me das pessoas.
Não é dor o que sinto,
Pesam as correntes que puxam,
O que antes era uma planície, tornou-se um abismo,
As flores vivas agora murcham.
Escorre vivo pela fenda,
Aberta que tentei tapar,
Disfarço enquanto segue,
Por um rumo que não tem volta a dar.
Sinto e não sinto,
O gelo que arde, na fortaleza afogada,
As lágrimas escorrem…
A alma está presa, amarrada.
Larguei-me na sarjeta,
Sem amor-próprio, nem piedade,
Agora afundo como uma rocha,
Num mar de liberdade.
Agridoce
Ah! Os Perfumes que giram no opaco,
Que colorem toda a imensidão infernal,
Que radiam o vazio, o espaço,
Que trazem os odores do ancestral,
Saboreio-os de forma igual…
O gosto do mel verde,
Do limão açucarado,
Flui pela ribanceira do meu corpo,
Com o seu sabor de amargo agrado.
A alma azeda docemente,
Com os sabores e dissabores da vida,
Bebo rápido o seu elixir,
Para reflorescer a margarida,
Rebelde em mim, vencida!
Como te venero mistério!
Dos espíritos e da vida…
Pois não és agre, nem meloso,
És a medida bastante merecida,
Agridoce da minha certeza movida.
Mutações
Posso não saber bem o que quero,
Nem que rumo hei-de tomar,
Mas uma coisa tomo como certa,
È de um tempo que estou a precisar,
De ordenar os meus pensamentos, sem neles estares.
Pergunto a todo o momento,
Do que é feito daquele tempo,
Em que abraçava cada segundo como se fosse o último,
Em que havia alegria em toda a brincadeira,
Já não sei viver daquela maneira…
Será que o mundo acinzentou só para mim,
Ou dantes eu o via demasiado colorido?
Serão coisas de mim,
Ou da vida que tenho vivido?
Questiono todo o miserável perdido.
Posso até estar a ser egoísta,
Por não me importar com a energia que de mim deixo trespassar,
Mas quero que se dane,
O que os outros, o mundo esteja a pensar,
Pois não é por eles que estou a mudar.
Há uma vaga de calor humedecido,
Em torno de mim, da alma que me planeia,
Mas como nos climas tropicais,
Vem uma vez uma tempestade
E noutra um clarão que se entremeia.