Nunca te vás embora
Adoro os teus dedos, o movimento suave e macio que eles deixam cair no ar, como se atravessassem uma janela pintada de gotas de chuva. Lembras-te? O teu reflexo a cair de gota em gota, como se te entregasses pouco a pouco às minhas mãos. Como se eu sentisse, pouco a pouco, o calor do teu corpo em mim, as tuas palavras como se fossem um rio a cair em cada centímetro do que eu sou, os teus cabelos a sufocarem-me e eu sem te afastar. Quero-te, aqui e agora, ao meu lado, para poder dizer-te tudo o que te tenho a dizer, sem medos, sem rodeios, sem dedos a fecharem os lábios como fechaduras. Amo-te e quero estar contigo para além do tempo. Sim, é isso mesmo: quero que desenhemos o nosso próprio tempo e que pintemos o Sol com as nossas palavras, que o mundo seja nosso quando agarrares a minha mão e quando eu a apertar, dizendo-te o que tenho a dizer: " nunca vás".
As pedras não choram
Estou sentado em frente ao computador. Ouço a música e a mão escreve, sozinha, sem pensar, apenas cheia de alma. De uma alma que não conheço e que não se reflecte atrás das lentes claras dos meus óculos sem molduras. Não preciso de abrir a porta, penso. Não preciso de abrir a porta para ver o mundo. Trago-o já comigo: vozes, luzes, mãos claras e macias, mão escondidas por dentro de mangas, o Sol quando se levanta de manhã e me faz sorrir quando se reflecte nas últimas gotas de chuva e se atira contra o meu rosto. E no intervalo do trabalho saio para agarrar o vento com as duas mãos, com os olhos, com a alma (a mesma que escreve) e os meus olhos depressa se tornam vidro de uma janela. Por dentro estou eu, a olhar para o espaço, para o passeio em frente, onde as pessoas escorregam (às vezes pensam que andam), a tentar agarrar outra vez as coisas belas que todos os dias passam por mim. Apago o cigarro e o vento engana-me: agarra-me nos cabelos, leva-os a passear pelo ar. Faz-me ver que, afinal, quem me agarrou foi ele. Os meus caracóis voam...
Raio de luar pela porta, enquanto o frio espreita
Saio pela porta com o cigarro na ponta dos lábios. Enfrento a montanha, ainda a respirar, depois de se afogar neste dilúvio que parou agora. Há um foco quente que corta a cor da noite e isso faz-me sorrir. Estendo a mão para sentir o vento frio. Sinto-me calmo e sorrio um pouco mais.
Penso em ligar o telemóvel (sempre o telemóvel). Não. É melhor escrever o que me sobrevem à mente. São tantos nomes os que moram em mim: é altura de parar com esta sucessão de nomes que acorrem a esta sucessão alucinada de dias, de pessoas e de luzes a que chamo vida. É altura de parar.
Dois Segundos
No momento em que estou a escrever estas palavras,
acabámos de desligar o telemóvel.
Ficaste chateada comigo, eu sei.
E também sei que não foi a primeira nem será a última vez.
Quero também que saibas que escolhi este momento só para te mostrar o quanto te amo.
Queres que te explique?
De cada vez que te vejo, todos os dias, páro durante segundos.
Porque queria parar o tempo apenas para ficar a olhar para ti,
porque és bela, porque és linda,
porque quando passas o vento passa por mim a dizer-me que estou vivo,
a chuva cai em mim a dizer-me ao ouvido que sou feliz.
Porque quando passas,as palavras dos outros apagam-se e o tempo pára.
Podia usar mil palavras para te dizer o que sinto.
Prefiro imagens como o teu cabelo solto a balançar no ar,
os teus lábios apertados um contra o outro ao mesmo tempo que sorris com os olhos
e desenhas umas covinhas tão mágicas nas tuas maçãs do rosto.
Os teus passos,um atrás do outro, sempre mais próxima de onde estou.
Tu tens esse efeito em mim.
Acho que a esses segundos em que os meus olhos param em ti se chama amor.
Por isso posso dizer-te com toda a certeza: vou amar-te sempre!
I'll find my way back to Heaven
Quero amparar o Sol nas minhas maos e poder dizer-te as palavras que nunca te disse, porque os sentimentos sempre sairam mudos dos meus dedos e dos meus labios... e fingir que esta tudo bem, que te respondia sempre que me perguntavas "onde vais" e eu sem saber se voltava. Enquanto isso, havera estrelas, flores, bocadinhos de suspiros colados na janela alta. Agora, e a cor secreta dos teus olhos a deixar-me acordado a noite como uma onda de tempestade a acordar o mundo!
Copo vazio sobre a mesa, mas cheio em mim
Olá! Estou outra vez sentado! Não, não passo a vida sentado... estou apenas a olhar para cima... não, para o tecto não... apenas para as palavras que pairam sobre a minha cabeça e que desenham sombras coloridas no chão. Por isso, divido o meu olhar enre o chão e o tecto, entre as palavras transparentes sobre mim, sobre os meus olhos, no meio das minhas mãos cheias de fome de agarrá-las e sacudi-las e as cores que caem suavemente no chão, como se fossem flores a nascer ao contrário. Penso que se estivesse lá fora talvez as nuvens fossem feitas de palavras e no chão, a abrir a terra, as flores, as árvores, cada erva verde fossem feitas de sons caídos das nuvens. E seu eu olhasse para cima e lesse A-M-O-R? A minha voz nasceria da terra, a palavra nasceria soletrada, letra-a-letra, em cada pétala? E o eco, ah o eco... partia-se no ar e corria com(o) o vento?
Sem nada
Nada me dói mais do que as tuas palavras a dizerem-me adeus,
a agarrar-me na alma, deixando-a sem vida, sem vento, sem Sol, sem calor.
Todo eu me torno num deserto, ressequido de sonhos, bússola sem orientação.
Nada me está a doer, neste momento, que o arco-íris a esvair-se, pouco a pouco,
por entre as minhas mãos. Todo eu empalideço... sinto-me uma sombra...
Escondo-me num umbral, algures, à espera que alguém passe. Sim, surge um estranho
à minha frente... descubro-lhe o rosto... igual ao meu, um outro com alma, um outro
com vento dentro de si, com Sol, com água a reflectir outras águas e outros raios. Dos seus lábios, apenas uma palavra: passado.... passado...
Tenho medo, sabes, muito medo de te perder... porque sei que sem ti este serei eu,
sentado num degrau de uma escada esquecida, sem saber onde é o Norte nem o Sul, nem o Este.
Por isso estou aqui, a escrever, porque é a única coisa que consigo fazer agora.
Não sinto as mãos a percorrerem o teclado, soltando palavras de cores, de magia, de vida.
Os dedos estão soltos, sim, mas não os sinto. Não são os meus dedos, não sou eu, não sei,
não sei, não sei. Estou tão triste.