PENSAMENTOS...
Usei a noite
para sonhar com o arco – íris...
Usei o mar
para reflectir o azul...
Usei o sonho
e o olhar de Osíris...
Usei o dia
para cansar o Sol...
Usei a religião
para solicitar clemência...
Usei a mentira
para ocultar a razão...
Usei a subjectividade
para desmoronar a verdade...
Usei as palavras
para engrandecer uma tela...
Usei o sarcasmo
para justificar a existência...
Usei a escultura
para moldar minha cela...
Usei o Tempo
para construir minha idade...
Usei o Fado
para ilustrar a saudade...
Mostrei o Desejo
e defini a lascívia...
Usei eloquência
e saldei minha dívida...
Usei a Mulher
e fui usado até à Eternidade...
JC PATRÃO
SOZINHO...
Suspeito que me invado constantemente com sonhos de outrora...
Suspeito que sonho, ausentemente, onde me encontro agora...
Estarei ainda contigo...???
Estarei além...???
Estarei sozinho... mas ausente de quem...???
Ardilosamente, rastejam até mim...
Inconscientemente, permito a aproximação, ilícita...
Insistentemente, afasto quem sinto, de relance...
Enfim...
Mantemos a distância segura, em que insisto...
Nunca sentimos que esta esteja explícita...
Sendo assim... Estou sozinho...
Mas sozinho e ausente de mim...???
Será este pensar em que não existo...???
Suplico-me para voltar...
Sem mim... O nosso plural se voltará a ocultar...
Apenas tu existes...
Mas onde...??? Ausente de quem para estares aqui...???
Não sabes onde navegas...
Não sabes quando sossegas...
Não sabes... Mas eu sei...
Quando ausente de mim te encontrei...
Este será meu julgamento...
Serei o arguido...
Sem defesa possível, vocifero, escrevo, grito...
E serei ouvido...
Mas nunca serei escutado...
No peito... Um orgão sem música, lancetado...
Defendo-me de mim...
A qualquer hora...
Por um momento...
Defendo-me de ti... Quem sabe, de forma sucinta...
Mergulho no mar, no rio, na chuva...
Mas minha alma nunca será limpa...
Molhado, húmido até à raiz da desorientação...
Vejo uma infindável, eterna, uma nómada multidão...
Será que ali passaste...
E em momento de cansaço inevitável, meu olhar com o teu não cruzei...
Meu olhar baixei e minha turva visão quebrei...
E não o cinzento, nem o vento de tua sombra...
Apenas vislumbro a usual penumbra...
Não presenciei tua real cor...
Mas existe... Eu sei...
Do alto do teu canto vês um abandonado monte...
Naufragado na rocha, ali jaz um encarnado ponto...
Num mar escuro de proíbido azevinho...
Local ideal para um rasgado e visual encontro...
Minha água ali corrente, onde será sua fonte...???
Quem me vê és apenas tu...
Aquele singelo ponto... Apenas eu...
Sozinho...
Só a paixão existe...
Só eu estou triste...
Nada, nem ninguém neste local àrido subsiste...
Apenas um desalinhado caminho...
Onde me procuro, e encontro...
Sozinho...
DARKRAINBOW
Vítima Quotidiana
Já fui íntimo da floresta...
Criei-lhe expectativas
para lá duma segunda oportunidade...
Criei mitos...
Desmistifiquei vibrações...
Desenhei sonhos de infância...
Brinquei comigo...
Era a ti que tocava...
Com um coração feito de água...
Atravessado pela chuva
num mundo desprotegido...
Transformei o Tempo
em artefactos
criados por mim....
Cheguei à conclusão
que fui apenas
mais uma vítima quotidiana
deste mundo apático…
JC Patrão
Lição de tolerância...
Asfixio-me
na minha própria galáxia
numa hiperactividade
de estrelas mortas...
Em que comparo as crónicas
do desejo em voar de Ícaro...
às minhas próprias histórias
fáceis de narrar…
Mesmo que escreva sem coração
em meus manuscritos
sou imortal!...
Sinto tudo
como se já tivesse nascido...
Sinto-me nada...
Como se parasse
e me esbarrasse na eloquência
perversa de quaisquer actos…
Talvez apenas eu veja
a sombra de um lobo alado…
E toque um instrumento
para o guiar no voo
do seu destino…
Talvez algo em ti
me faça partir em retirada
após conquistar fogos dispersos
do meu mundo de sonhos...
Sem pesos… nem tempestades…
Após o violento
renascimento da Lua
talvez...
Apenas me baste um lição
de tolerância…
JC Patrão
SEI MUITO BEM...
Eu sei muito bem, o que fazes aqui..
Só não sei quem sou ou o porquê do que senti...
Eu sei muito bem o que fazes aí...
Fazes o que aqui não faço, porque é impossível sem ti...
Eu sei muito bem...
Quando voas acima do meu céu...
Mesmo vivendo a hibernar no fundo deste oceano...
Mesmo sabendo que nada do que sentes é meu...
Eu sei muito bem..
Deste nobre sentimento já sou ilustre decano...
Que sabes tu acerca da desilusão...???
Que sabes tu o que trago agora na mão...???
Que sei eu acerca do segredo que te esmaga o coração...???
Que sei eu acerca de teu cheiro...???
Que sei eu.. onde te refugias e ausentas num simples passeio...???
que sabes tu acerca do meu olhar...???
É sisudo ou inocente, ou prende qualquer transeunte que pára ao passar...???
Esbarro na pedra, ou fito horizontes...???
Tranco o olhar, onde te vejo alegre... Corres em verdejantes montes...
Eu sei muito bem...
As saudades de ti...
Sem nunca te alcançar...
Seguro nos pulsos os ponteiros do tempo...
Mesmo sem mar revolto... Enjoo em lamento...
Tu sabes tão bem o que sentes por mim...
Me inventas em sombras que vislumbras em horas tardias...
Me consomes em alimento para tua alma...
Sabes tão bem...
O que sonharias...
se comigo passasses teus dias...
Mas entre nós há um iman convexo e invertido...
Um abraço de distâncias...
Um adeus sonhador, antes de ter existido...
Uma fome de palavras, que liberta tuas ânsias...
Mas... Sabes lá tu...
Se sou mesmo eu que estou aqui...
Sabes lá tu porque solto estas palavras...
Será desde hoje, ontem, ou já narro velhas infâncias...
sabes lá tu, se as sorveste, como mereci...
Sabes lá tu o que confidenciei e já esqueci...
Sabes lá tu se com teu cantar estremeci...
eu sei muito bem...
O que sinto por ti..
Só não sei quem és...
nem porque nunca te vi...
Darkrainbow
A MINHA CERTEZA...
Tu és a única que me poderá abraçar e manter junto a ti…
Só por ti abandonei minha vida e parti…
Só tu me escondes o dia, a noite, o Sol, a Lua…
Só tu me retiras minha alma tão nua…
Caminho entre a multidão e ainda sinto quem sou…
Mas para onde vou não sinto solidão…
A cada passo que dou…
A cada batida do coração…
De ti mais perto estou…
Retiras-me a luz, retiras-me as cores…
Só tu afogas minhas dores…
Me fazes esquecer perdidos amores…
Contigo em repouso descanso em paz…
Contigo até esqueço a cor de flores…
Contigo me esqueço da guerra, como ela se faz…
Contigo me esqueço da minha cidade…
De minha infância…
Me esqueço de minha idade…
Da materialidade, da ganância…
Contigo o limite do sentir mais puro…
Uma farsa augurar o mais triste futuro…
Sublime é o que fazes comigo…
Sublime é o teu feminino sentido…
Nem que eu tente fugir…
Nem que eu tente gritar…
Para mim irás sorrir…
Para mim voarás para me alcançar…
Me afastas no vento…
Me afastas na suave brisa…
Me afastas de qualquer outro intento…
Me fazes ver que razão e alma nunca foi concisa…
Já perdi o tempo de aprender…
Já perdi o tempo de acordar…
A tua delicada e silenciosa escuridão não é preciso temer…
É uma envolvência feroz que perco sem lutar…
Me fitas os olhos com tua candura..
Me esqueço que um dia senti outra ternura…
Sente meu corpo ao teu lado, em teu leito…
Sente como já está gelado este meu peito…
Afaga meu cabelo, como seja a última vez…
És mais forte que eu, e que o Deus que me fez…
Só tu me fazes esquecer a beleza…
Só tu me dás a certeza…
E me esqueço da sorte…
Só tu ficarás comigo para sempre…
Tu és a Morte…!!!!
DARKRAINBOW
EROSÃO DO SER
Erosão desleal
de tua silhueta...
...areias...
Misturam-se
mescladas
com rochas
em profanada ampulheta...
Grão a grão...
Verto cinza
de teu desgaste...
Efémero...
Mão na mão...
Dificuldade minha
em ver que erraste...
Discernir
se o fumo se esvai...
Ou a névoa se adensa...
Vai...
Onde eu fui...
Parte de minha alma...
Pretensa...
Cega-te...
Com minha luz...
Obscura... Intensa...
Fugaz o adorno,
é tudo aquilo que ora vejo...
Mas faz parte do SER
não étereo,
e dum consumido desejo...
JC Patrão
Incenso Proíbido
Escrevo numa das margens
Da lezíria...
palavras mais do que soltas...
“Imunes”...
Gozando em pleno,
A
liberdade de pensamento...
A surdez melancólica,
entre duas montanhas...
Em
vales demasiado profundos
lacrimeja o rio...
onde o espírito se define
Se agita...
no sopé da montanha
Amotinam-se...
...flutuam rios de vida
Ensanguentada
a revolta
de puras lágrimas...
Num motim
derretidas por um sol
Devasso
de um dia como hoje...
Ter o privilégio
A honra,
dizer a palavra...
Chorando,
tocar a guitarra...
mesmo que amanhã chova
Na melodia
acompanho-te... sozinho num sonho
Devaneio...
durante o mistério da noite...
A cópula,
em que escondemos todas as nuvens...
A aliança
que nos une na escrita...
na partitura que
toca meu livro enegrecido...
Um abraço definido...
Um tempo...
Uma voz
que mostra sua próxima página...
Aromático odor...
Libertado no desfolhar
Deste livro...
O...
“INCENSO PROIBIDO”...
JC Patrão/ Ana P.
Refúgio no Deserto...
Como é que seria suposto
Ser o mundo
Para além desta cerca
Um refúgio
Um espelho de mim
Qualquer coisa
Um momento
Que quebre o silêncio
Nem que seja a estupidez…
Estampada no rosto
Duma flor da manhã…
Que contudo me alegra…
Sinto-me vivo…
…casualmente…
Escolho-te para inspiração
Para além daquela pequena gota
Que desgastada me perseguiu
Ainda me lembro
Por vezes
De deixar a janela aberta
Na esperança de a voltar a sentir
Na face caída do Céu…
Rolando calidamente
Nas areias inocentes
Dum deserto só meu…
JC Patrão