Poemas, frases e mensagens de BrunoPrata

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de BrunoPrata

Prazer

 
Você está apenas sendo um rio
navegando de vagar sem prestar atenção
um rio de si mesmo sem direção sem eira nem beira
um tudo sobre si sob um tanto de coisas
relevante irrelevante
você é um rio
suas lágrimas podem ser transformadas em sangue
ou em suspiros repletos de satisfação

Glória! Que glória...
bem de baixo do meu nariz
na manga que cai do pé
no canto do sabiá
no pouso da borboleta
nas ondas além do mar
nos pólens da violeta

Jaz aqui um sonho manso
ou um belo de um ponta pé?
Bem na bola cheia de sonhos
nos pés de vento
nos cabelos longos
nas peles mansas
no cheiro macio
o canto da sereia
o bico do beija flor
o suor da tarde inteira

Escorregador de umbigo
berço de fazer carinho
travesseiro de rostinho
Deus do céu que fez esta Terra
que beleza! que maravilha!

Olha quanto dia lindo tem meu povo!
Que alegria!

Otimista até no azedo do seu poço abarrotado de dados pessoais
no reinado amargo da sua ingratidão obsoleta...
choro com a mãe Terra mas balanço-te no colo como ela

e levo no sorriso o cheiro da sua flor
a cor da sua terra
molhadinha igual meu amor
quando tremo toda a perna e estalo o dedo de paixão!
Meu dengo rio a rio das águas salgadas ao sertão.
O verde lhe salta a vista da eterna gratidão

e nada mais além de um rio.
No seu eterno fluir ao seu belíssimo evaporar
como luz rodar no céu

misturar na cor do ar
se transformar na imensidão...

Eu gosto é da vida
e do infinito das coisas além de um lugar.

Gosto do infinito que tira o fôlego que dá até medo de pensar.
Daqueles que desmancha meu teto, que consome meu ar...
gosto do infinito que me tira o chão
que não tem pai nem mãe
irmã nem irmão
gosto do infinito que me mostra a aventurança do viver
o prazer de esquecer o que se passou a minutos atrás
como uma página nova a cada segundo
um novo renascimento a cada suspiro
que de infinito em infinito modela suas mudanças
em seus tropeços por suas andanças
seus beijos no chão
seus gritos ao léu
seu medo do não
a aventura do sim
os dias por vir
num livro sem fim...

E agora?
passamos como vivos?
Passamos como loucos?
Eu vocês e nós?
Num derrame de desilusão a fora?
Na busca da felicidade plena?
Ou na exausta ilusão amarga?

Seremos o que agora?
Farinha do mesmo saco?
Ou milhares de sacos cheios da mesma farinha daquelas das melhores?
Nossa alegria pelo prazer do bem absoluto?
Divindades perfeitas e ocultas de nós mesmos explodindo pelos nossos ouvidos e narinas serenando até cantos de buzina?

Estou pedindo demais implorando alegria geral...
mas quero acreditar estar sendo demais crendo da paz
e implorando para que você creia comigo
e juntos podemos ser felizes para sempre
com direito a todos os sorrisos e suspiros de alegria pela satisfação de estar vivo

Prazer...
Sou Bruno Prata
Eternamente feliz por estar somando com voces aqui no site Luso Poemas!

Gratidao pelo espaço
por mais este veiculo!
Esta ferramenta de informaçao!
 
Prazer

Contradizendo-se-se

 
Ai saco!

Esqueci o que pensei ser crucial...
esqueci exatamente o que me motivou a sentar nesta cadeira e escrever!

Lembrei de um ditado que escrevi uma vez na carteira da escola quando estava no segundo colegial:

quem não descansa não pensa o tanto que poderia pensar

pois é...

é isto mesmo que parece...

era um pedido de socorro!

Eu chego a parar para pensar se já previ o futuro algumas vezes inconscientemente na minha vida.
Algo realmente visionário, ou praticamente plasmado como os sonhos de uma criança tomando forma no mundo real!

O milagre da borboleta, dos golfinhos, das árvores, das flores, do Sol, do Mar, da Terra de toda natureza por completo é indiscutível, exemplar em todos os aspectos em todos os níveis de todas as formas...

mas falo aqui com o SER que tudo isso habita
o SER que tem o privilégio de contemplar isto TUDO e poder refletir sobre isto, presenciar tudo...

POXA VIDA!!!!
Olha que milagroso que é este SER!
Como ele não é mais como todos os outros que idolatra????
Ele pode analisar todos!
Usufruir de todos!
Compartilhar de todos os mestres, astros, milagres que pisam, bebem, respiram, sentem, comem...

Nossa...

Então foi tendo noção disto que este SER pirou e viu que ao invés de usufruir ele podia fazer mais do que isto...

é óbvio...
ele tem cé-re-bro...

ele pode usufruir e DOMINAR!

Ei...

Não esqueça do SER que está se curvando diante do SOL
Pois sem Ele o SOL não faz sentido...
o mesmo para todos os milagres para o qual nos curvamos com respeito e gratidão merecida.

Não sou Buda nem Gautama
Nem Osama nem Obama
Nem nasci com o pé na lama...
não sou do mangue
não sou roots...
não sou messias...
nem yogue...
não sou médium...
não sou escritor...
não sou poeta...
não sou psicólogo...
não tenho religião...
quero dissolver as próprias opiniões
as próprias razões
as próprias fugas
as soluções!
não sei dirigir
não tenho emprego
não assisto televisão
não justifico nada
não pertenço a nenhuma tribo
não tenho diploma
não tenho experiência “suficiente” para nada
este é meu jardim dos nãos que é tão gigante que resolvi parar por aqui!!!

É a mesma coisa que falar tudo que sou não é mesmo?

HAHHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHHA

Que engraçado!!!

Dá na mesma que afirmar tudo que sou por viver com isto tudo a minha volta...
Estamos na mesma Terra
Não tem aonde se “esconder”

“uhuuuuuuuuuuuuuuuuu É ISSO AEEEE!!!!
A alegria é COLETIVA!!!!”

SIM....
Melhor pensar no objetivo....
Alegria.

Que o carma é coletivo já deu no saco de saber!

Partir para o novo é como levantar as cortinas
Crer no brilho do olhar
Na distância infinita dos desejos realizados

Haaaa sim...

Todas as flores que pode plantar...

Os jardins do sol do novo amanhã.

É um desabafo coletivo minha gente!
É um desabafo coletivo...

Notem seu rosto pálido...
é um típico desabafo.

Mas é coletivo! Eu juro!!!

Jura?
Justificar a si mesmo como um maluco quer dizer algo?
Contradiz seus “blá blá blás” sobre o medo? Por causa do seu medo de escrever as coisas sem retrucar suas frases com opiniões balanceadas repletas de justificações querendo ainda passar que não justifica nada a ninguém?

É medo de ser criticado?
Ridicularizado?
Desprezado?

Apelativo emocional
Teoricamente manjado e trucidado por “cults” e geniozinhos a parte...

Que cagada é esta?
A tentativa frustrada de em algumas folhas tentar ser um livro aberto?

Melhor deixar pra lá.
Virou uma mistureba de rótulos
De brigas sutis que já não sei como expressar

Por isso caio no bla bla bla!!!!
Pois falar sobre mim só me leva ao infinito do pensar
 
Contradizendo-se-se

Otimismo meu Pacifista Ultravioleta

 
QUEM DE NÓS OUVIRÁ?

Ecos do passado
Luzes do pensar
QUEM DE NÓS MAIS OUVIRÁ?
cheiro de canção?
Versos ao luar?

Num calabouço cheio de cabeças rolando
dou meu salto triplo
meu mortal rumo ao Universo
no espiralar de todos os túneis

É lá que eu vou
mergulhar na lava do centro da terra
quebrar as rochas com a cabeça
eletrificar minha testa e rachar meu peito ao meio explodindo meus miolos, dissolvendo minha carne!

Azul que tanto vejo, me acalma e revela que não há mais bela que esta beleza que Deus deu;
e como há de sua imensidão...
mundo a fora mundo a dentro
mesmo o verde sendo a cor que eu mais gosto...
quanto alívio este azul me trás após a tempestade de mim mesmo.

Como um navio sereno mar a dentro de minha imensidão
como um sozinho repleto de pura gratidão...
a alma realizada da felicidade absoluta...
nada mais se torna luta quando a paz e o amor é a vontade única
a única coisa que se deseja quando se para pra desejar
pois nesta ocasião só se para pra agradecer.

Quem mais de nós ouvirá as bençãos de seus milagres?
A poesia de seus olhares?

O quanto é viável questionar cada pensamento?
Analisar cada atitude, cada vontade, tornar-se expectador da própria evolução e criticar-se como faz com um ator num filme.
Rigídez plausível...
Ego traumático e/ou trauma de Ego
preconceito com a palavra
preconceito com o preconceito
Auto-análise
Percepção
Julgamento
Teoria
Imaginação
Resposta
Questão

Tiro absoluto

O projétil voou para longe e se perdeu na imensidão do mar...
todo o resto mergulhou nas cores do Universo.

E não há mais tempo...
não há mais lugar

é tudo uma coisa só
derreteu no meu sangue...
e se espalhou no ar

enfim tudo nosso!

Tudo lindo tudo puro...
que beleza!

E demos no princípio...
no meio de nossa clareza
no tudo que somos no agora absoluto!

EU agora VOCÊ

e nada mais a saber, nada mais a pensar, nada mais a questionar, nada mais a analisar, nada mais a querer ser, nada mais a pensar saber, nada mais a achar pensar, nada mais a pensar mudar, o que ser e o que não ser eis o que não eis se há que eis do que lhe-eis!

Seja lá aonde estiver todo este sentido se é que deve haver algum...
marco com este sorriso infinito toda minha satisfação

deixo escorrer pelo canto da boca esta saliva de desejo...
e me jogo

e vou

e canto sem fim canto sem canto

lá vai

me encanto e deixo que o encanto me encante

deixo levando

levo cantando

sem medo sem pranto

deixo escorrer pelo canto dos olhos estas lágrimas de alegria...

Se quiseres que a magia aconteça é só crer na magia...

teu mundo é teu querer

se amares irás viver e morrer de amor.
Assim É.
Enquanto quisermos que seja.
 
Otimismo meu Pacifista Ultravioleta

A Escadaria dos desgarrados

 
Desta porta saíam faíscas, eram multicoloridas e trançavam aspirais no ar.

Porta torta...
fundo escuro...
tudo tão sozinho e tão completo...
que vazio louco me consumia!
Que desejo louco me impulsionava a entrar por esta porta sem pensar.

Desisti dos pensamentos em questão de um segundo e logo rodei a mão na maçaneta.

...

...

...

Era um salão colorido, com sacadas nas janelas grandes que davam vista a um imenso mar brilhante que saltava cores como holofotes vindos de suas profundidades, um cheiro fortíssimo de rosas puras e úmidas circulava constantemente pelo ar;
móveis coloniais dourados e piso impecavelmente brilhante com um pentagrama de pontas coloridas feito de mármore no meio do salão;
de uma grande escadaria torta que não se podia ver o fim de seus degraus por passarem por um buraco no teto e perderem-se de vista entre as nuvens no céu;
desceu um homenzinho engraçado de aparentemente uns 45 anos com bigodinhos fininhos e enroladinhos, todo vestido de branco com as mãos no bolso do macacão, deu uma engasgadinha e me disse sorridente com o olhar brilhante no fundo dos meus olhos:

- Esta...

é mais uma conquista!

Isto é somente a recepção,
do que pode fazer por si mesmo.

Oooolha só!
Quanta coisa linda andou fazendo por aqui!

Então ele começou a girar de braços abertos sorridente respirando feliz a glória de toda aquela beleza.

Eu saltei os olhos ao meu redor maravilhado...
e perguntei emocionado;

- E – eu fiz isso?

Tudo isso?

Então o homenzinho respondeu saltitante com uma pergunta empolgante

- Queres subir esta escadaria comigo direção aquele céu?

É claro que respondi tão empolgado quanto ele me perguntara

- Sim! Lógico que quero! Faria qualquer coisa para subir estas escadas!

Neste instante passaram voando sobre minha cabeça várias janelas batendo “asas” com suas persianas, cada janela continha uma paisagem diferente, algumas maravilhosas, outras terríveis mesmo! De virar a cara!

Então elas aproximavam-se de meu rosto e falavam com vozes fortes que me dominavam o pensamento e toda a alma!

Eu realmente não estava ouvindo com meus ouvidos! Eram frases aleatórias completamente jogadas e embaralhadas em seus sentidos e fatos ocorridos diretamente ligados a minhas lembranças e sentimentos!
Passando-me uma descrição de fatos da minha vida até então num resumo maluco

- Consuma meu peito looooogo!
Entrego-me todo pra você!
Entrego minha vida!

ESSA PORRA DE HUMANIDADE NÃO VALE O QUE COME! NÃO VALE NADA!

Alcama o coração filho... olha quanta beleza!

você pode!
você é um gênio!

Você não pode controlar as coisas deste jeito! Não pode ser tudo do jeito que você quer!

Infelizmente o mundo é assim meu filho....ele é cruel, seu chefe nunca irá lhe perdoar.

Ou você entra no jogo, ou fica pra trás....
A POLUIÇÃO ESTÁ MATANDO AS PESSOAS! AS PESSOAS ESTÃO MORRENDO! ESTÁ

MA TAN DO

AS PESSOAS! PORRA! MATANDO!
O que você quer?

PARA DE SONHAR!

Cuidado cuidado cuidado eles estão espancando na rua quem passa por aquela e aquela esquina no centro! Eles estão espancando...
Eles estão espancando
Eles estão ESPANCANDO quem passa por aquela e aquela esquina no centro!

CUIDADO!
Eles estão ESPANCANDO!

VOCÊ NÃO É DE DEUS!
Não é digno!
Não trabalha não constituí família não planta o sonho da sua casa própria! Sua carteira de motorista! Seu carro seu tão sonhado carro!
Leva uma vida de merda!
Está jogado! Não sabe pra onde vai! Não sabe o que faz!
Iludido! Você está iludido! Jovens cults neo hippies cagados iludidos! VOCÊS ESTÃO TODOS FUDIDOS!
ESTÃO TODOS FUDIDOS!!!!!!!!!!

Como podia haver tanto Amor...de baixo das raízes.... o tempo todo
Abaixo dos meus pés...
Isto realmente significa debaixo do meu nariz....

ERGA SUAS MANGAS!

Eu escolho é o Amor....
escolho o que for bom pra mim e para todos.

Alma antiga

Da onde você é?

De onde você veio de verdade?

Eu sei...

Você sabe o que fazer...
eles também...

O Sonho existe...
estamos vivos meus amor....estamos vivos!

TE AMO!

O homem mais feliz do mundo!
Completo
Realizado!

Os lugares todos lhe revelaram o que nunca pensou antes ter existido dentro de si, no que você é para estar aqui agora....

e então?

Como faremos?

Corrigir e justificar atos e fatos do passado é mais do que perca de tempo...
AGORA?
Aonde estás agora?

Queres subir a escada?
Tens mesmo moral para subir esta escada?
FAÇA O QUE TU QUERES! POIS HÁ DE SER TUDO DA LEI!

A GRANDE LEI que será feita vinda dos celestiais infinitos raios de LUZ da imensidão do TODO

VAAAAIII RASSSSGAR SEUS OLHOS
RAIOS RAIOS RAIOS DE TODOS OS LADOS! VÃO ATRAVESSAR SEUS OLHOS!
Vai furar sua nuca!
RRRRRRRASGAR SEUS OLHOS!

Eu disse a você!
EU DISSE A VOCÊ!
É UM ILUDIDO!
UM MERDA!

MORALISTA!
EGOCÊNTRICO!
BABACA!

Vai jorrar da sua boca o líquido seboso da verdade e da mentira...
TERÁS QUE RASGAR SEU PEITO E MISTURAR COM O DEDO!
Lá verás o espelho de tua liberdade

Sabe o que digo?

Tem escadas dentro de si...
sim...

hahaha ...

Sim!!!! SIM!!!

Hahaha
Escadas dentro do peito da sua alma!

O som de louças quebrando no chão tomavam-me a Consciência fazendo-me agachar em posição fetal protegendo os ouvidos de olhos fechados e apertados, então gritei num impulso desesperado

- Entrego minhas sementes!
ENTREGO TODAS AO DESTINO ILUMINADO!
CREIO APENAS CREIO!
Escolho a PAZ!

Então o senhorzinho reapareceu só que desta vez numa cadeira de rodas, com um cabelo bem cheio e arrepiado para o alto, com o bigode ondulado ainda maior e agora da cor vermelha, completamente nu com diversos nomes tatuados pelo corpo todo, disse-me em voz forte e grave expelindo luz azul clara e branca pelos poros do corpo todo.

- Dê o devido valor e gratidão a cada degrau alcançado

MORALISTA!

mais uma vez!

MORALISTA!

RRRRRRASGA LOGO ESTE CÉREBRO VAI!

- Acredite na Vida...

Só ela é viva em toda a vida

Pela primeira vez
Acredite na vida!

Boiei num lago

Fiquei boiando num lago durante horas

Corri até o morro e lá de cima eu vi...
eu vi que tudo dará certo...
vi que tudo continuará maravilhoso!

ACABEM COM ISSO!
ACABEM COM ISSO!
CHEGA!
CHEGA! CHEGA! CHEGA!
NÃO DÁ MAIS PRA SER!

PRRRRRRRRRRRRRENDAM ESTES MORALISTAS!
PRRRRRRRRRRRENDAM JÁ ESTES MORALISTAAAAAASSSS!

ACABEM AGORA COM ESTA MERDA TODA!
 
A Escadaria dos desgarrados

A Ascensão dos desprezados

 
Jesúina filha de Salvador e Mirinéia, nascida no sertão criada a arroz, feijão, mandioca, pão, água e jiló, forte de trabalhar na roça e triste por não ter dinheiro para realizar seus sonhos.

Com 19 anos Jesúina sai do interior para trabalhar na área doméstica na grande cidade de São Paulo, a capital das oportunidades o escritório da malandragem a engrenagem do tráfico e do controle bancário o grande bum da urbanização tão sonhada e almejada por aqueles que desejam ter um "algo" qualquer na vida;

Como Jesúina que enfiou as caras no ramo doméstico tão desprezado e disputado neste tecnológico e brilhante circo de horrores.

Em menos de um mês Jesúina arrumou emprego na casa de um homem de 49 anos solteiro e trabalhador chamado Euzíbio, como todo ser humano, tem suas manias diárias de chegar do trabalho, acender um cigarro, assistir programas infames, resmungar do trânsito, das contas, da poluição, da chuva, do calor, da crise, da guerra, da gasolina, da seleção Brasileira de futebol, do ônibus, das calçadas, o preço das coisas, a inflação, os juros, o Brasil a vida Ó MEU DEUS!

Em pouco tempo Jesúina estava massageando o corpo de Euzíbio e marcando o casamento na igreja Universal que tem na rua de trás próximo ao mercadão.

Esta naturalmente é uma história que se repete a cada dia, se não fosse por uma situação interceptada por um despertar extremo que causou um impacto inesperado no casamento e no destino de Jesúina levando a mesma a cometer atos completamente insanos e atordoantes.

O FATO:

Em 8 de Março de 2005 Jesúina caminha por sua casa guiada por um gemido interminável que percorria por todos os cantos, quando chega no fim do corredor, observa no ultimo quarto, que seu marido Euzíbio vagarosamente introduz em sua própria pele diversos clips fincando também canetas e grampeando diversas partes do corpo, encolhido no canto de uma sala vazia encharcado de suor mordendo sua pasta de trabalho com seu paletó rasgado dentes lavados de sangue olhos esbugalhados e com a boca espumando, rapidamente ele levanta a cabeça e olhando no fundo dos olhos assustados de Jesúina ele diz:

- Deixe que te vendam, e tu pagarás a vista!!! Ó mulher que a mim juraste amor e fidelidade, liberte sua carne e destrua seus valores!!! Vá além de seus desejos mórbidos de ser alguém,VAMOS VOAR LIVRES! VAMOS RE-CONHECER NOSSAS VIDAS!!!

Retorcendo-se lentamente inclinando sua cabeça direção ao canto da parede Euzíbio tosse sangue e morre ensangüentado numa cena profundamente bizarra e deprimente;
Jesúina não agüentando a dor da perda e seguindo seus instintos em certos pontos cármicos e dignos de sua fraqueza humanóide, finca sem pensar duas canetas em seu próprio pescoço e grampeia sua boca e suas narinas caindo lentamente após duas horas e meia de pura agonia e apego deplorável a matéria ao lado do corpo de seu marido que fedia cada vez mais intensamente a cada três minutos de putrefação acelerada, chamando assim a atenção de Cleisson;

Vizinho do casal, 29 anos, estudante de educação física, bissexual, viciado em jogos de corrida de todos os gêneros, colecionador de cartões telefônicos, freqüentador assíduo de bares, botecos e postos de gasolina, crê em Deus, Jesus Cristo e Iemanjá, manda cartas para a mãe que mora em Fortaleza periodicamente e faz uma farofa segredo de família que deixa qualquer um de queixo caído.

Uma carta acabara de ser lida por ele dizendo:

"Prezado senhor Cleisson, o troco de todos os seus investimentos anuais contando seus estudos e suas economias para seu conforto serão dados em forma de ingratidão e descaso do governo, o senhor estará sujeito ao pagamento de taxas e impostos girando em torno de nosso sistema involuntáriamente endividando-se até o fim de sua aposentável vida.

Para que o senhor não se sinta desamparado no decorrer de sua sistemática estadia no Planeta Terra temos o imenso prazer de apresentar a vossa senhoria o Seguro Total Good Life, permitindo que o senhor tenha a certeza de que receberá cartas e avisos de diversas pessoas e importâncias tratando ou não sobre assuntos relacionados a cobranças e reajustes inesperados nas parcelas do seguro.

Fique tranqüilo pois conosco terá ocupação pelo resto de sua vida, nunca estará sozinho, nós nos colocamos a disposição para ocupar seu tempo e atrasar sua evolução natural e espontânea.
Para maiores informações acesse nosso site: http://www.perfectsystem.bra.sil

obs: Esta carta se auto-destruirá em 128 minutos podendo deixar mortos e feridos no local da explosão e seus arredores."

Após ler a carta Cleisson resolve fumar um cigarrinho na varanda ancioso pela hora da corrida;
Neste momento nota o cheiro forte de podridão que vem da casa do casal suicida, a curiosidade leva Cleisson a procurar uma escada para subir no muro e gritar o nome do casal por algumas inúteis 35 vezes.

Após 48 minutos Cleisson nota um movimento no quintal, um movimento lento que seguia de um baixo e leve gemido, era o corpo rastejante e sobrevivente da pobre Jesuína, filha de Marinéia e Salvador; nascida no Sertão e atual viúva do finado Euzíbio.

- Jesúina!

Grita Cleisson

- Que isso Jesuína? Tá toda ensangüentada minha nossa senhora, seu pescoço todo esse sangue meu Deus do céu, o Jesuína que isso minha nêga? Tá tudo legal ai?

Pergunta naturalmente Cleisson

- Nossa era que nem luz, tinha a forma de um pato mas era uma coisa luminosa sem fim, um lago indefinido em águas cristalinas, uma bandeja de quilômetros de distância toda rodeada por povos indefinidos numa carcaça de ouro brilhante, mas algo me dizia dentro dos ouvido e pela minha nuca também que aquilo não era ouro, era natural dos pés daquela beleza infinita com cheiro de terra molhada e portadora de uma tranqüilidade sem fim!

Disse Jesúina com a boca e as narinas grampeadas, o que tornou sua declaração totalmente inútil, seguida da esperada resposta de Cleisson.

- Tudo bem nêguinha vô busca um pano molhado e a caixa de primeiros socorros pra dá um trato nessa carinha! Vo dizê que tu num tá flô que se olhe viu.

Ao entrar na cozinha para buscar o pano molhado Cleisson escorrega numa mariposa enorme que estava morta próximo ao pé da pia, fazendo com que seu corpo gire bruscamente contra o armário de vidro que se desmancha sobre seu corpo perfurando certos pontos cruciais de seu cérebro fazendo com que o mesmo liberasse a substância do produtor de DMT (N,N-dimetiltriptamina-> N,N-dimetil-1H-indolo-3-etanamina) natural de seu corpo.

Esta reação fez com que Cleisson deitasse lentamente em posição fetal, gritando nomes totalmente estranhos nunca ouvidos por ninguém no planeta Terra fazendo com que o mesmo desaparecesse por 15 segundos, quando de uma incrível e absolutamente Celestial explosão violeta surge coberto por serpentes, borboletas, pássaros, minhocas, lesmas, aranhas e rodeado de pandas e lontras graciosas a imagem despida de Cleisson com seu olhar inexplicavelmente profundo, dono de um amor captado a distância por seu movimento e sua graça ao respirar, movendo sua mão direita em direção ao próprio nariz diz mirando-se no espelho sem expressar muita emoção, mas com a postura de um sábio yogue das atmosferas do além:

- Desisti da competência, vou abandonar toda essa história de burro e retomar o meu papel no infinito!
Vou entrar naquele corredor, e naquele, naquele, naquele outro também e naquele do outro lado! Vou virar em todos e passar por aqueles vãos imensos em corredores que parecem não ter fim correr por entre seus pequenos apartamentos de iluminação baixa, porém lá fora sempre estável, e eu corro, e o tempo passa, eu vejo que eu corro mais, não tem tempo me deparo com a parede esqueço que tem escada vou que vou, o tempo continua assim estranho mas estável, digno de um atrapalhado como eu, o subconsciente totalmente perdido, correndo entre corredores e captando sensações, fuçando nos apartamentos e acessando momentos, correndo sem saber para onde sem rumo num prédio que nunca acaba.

Ouça a voz do coração, deixe que eu pego sua mão a levo aonde os frutos dão suas polpas perfeitas para o suco perfeito nas melhores condições da existência do milagre puro e absoluto da vida.

Eu tenho a fórmula que o cientista não reproduz no laboratório e sei aonde esconderam os milagres mais completos e adaptáveis da existência; no esôfago torácico, bem atrás de nossos corações, dá para alcançar com o dedo mas é muito mais fácil com a mente e o próprio coração.

Então, como se fosse um tiro na sala vazia tudo, se desprende do seu umbigo e entra por sua garganta comprimindo seu peito em sete centímetros esbugalhando seus olhos e estufando sua garganta;
sua alma sem ter para aonde correr salta as narinas e diz:

- Ó Judas! Traíste-me com estes apegos e vícios infames? Desperdício é o que não falta no roteiro dos humanos! LAVE SUA CARA! TENHA BOA VONTADE HOMEM!

Deite-se de barriga para cima agora, ouça a voz do coração.
Tudo volta ao normal e seus dedos estão no lugar, é hora de recomeçar sem repetir, chega de apunhalar-se entre vícios e boa-vontade.

Sinta, onde está o filho e o espírito-santo.

O nó e a liberdade.

OUVISTE TU TAMBÉM JESÚINAAAAAA??!!!

Neste momento a carta-bomba enviada do governo recebida por Cleisson explode causando uma grande tragédia no quarteirão de seu bairro deixando 18 mortos e 9 feridos.

A polícia encontrou apenas corpos carbonizados e danos materiais irreparáveis.

Os testes de DNA e carga dentária não encontraram nenhum vestígio de Cleisson no local da explosão ou pelas redondezas, o mesmo continua sendo procurado pela justiça e seu nome foi um dos mais caçados no Google este mês.

A feliz gozada no anonimato.
O nascimento e a libertação dos filhos de Deus.

A reciclagem dos novos tempos…
A ascensão dos desprezados.
 
A  Ascensão  dos desprezados

Ezekiel e a Tenda de Estrelas - PARTE 1

 
A Cronicália
Apresenta:

Ezekiel e a Tenda de Estrelas

Por
Bruno Prata Stano

Parte Um

“Papo de irmã, duas pizzas, bruxaria, desencontros, uma pedra, um feiticeiro, um gigante e uma gata do tamanho de meia caixinha de fósforo.”

A nossa estória começa outro dia na casa da minha irmã do meio

-Ana!
Ana Lúcia atende a porta! Sou eu mana!

Gritei batendo na porta

Ana atende de cabelos emaranhados, olhos inchados, braços vermelhos de sei lá o que, lábios mordidos, toda molhada de suor num pijama rosa desbotado cheirando a mofo e veneno contra traça.

Jogada em meus braços ela chora

- Ele era diferente Silas! Eu e Ezekiel nunca brigamos neste um ano de namoro, ele sempre foi compreensível, resolvemos tudo na conversa, e então ele sumiu! Simplesmente sumiu! Desapareceu do nada! Ou sequestraram ou mataram ele! Só pode!

- Calma, deixa eu chegar direito

Sentei no sofá enquanto ela fechava a porta tremendo da cabeça aos pés;
Então perguntei

-Se você está tão certa de que o cara não deu no pé e de que realmente sumiu assim de repente, então certamente você já avisou a polícia a uma altura dessas não?

- Claro que avisei, mas sem novidades, contratei até o Haroldo amigo do papai de muito anos que é detetive lembra dele?

Logo pensei comigo que eu nunca esqueceria daquele mentiroso pois por algum motivo ele deixava meu pai chateado muitas vezes.

- Claro que lembro, ele vivia nos contando casos e a mamãe sempre fazia careta atrás dele.

- Pois é, lembrei dele e ele está me ajudando bastante, me liga todos os dias durante a tarde e de noite, mas ainda nenhum sinal concreto do Ezekiel.

- Então não é sequestro né, já que ainda não ligaram para pedir resgate.

- Não sei Silas, nunca se sabe!

- Com o que ele trabalhava?

- Ele é astrônomo! Poxa já tinha te contado isso seu lesado! Faz um ano que estou com o cara!

As pessoas falam isso como se realmente vivessem trezentos e sessenta e cinco dias de suas vidas, mas claro que não falei uma bobagem dessas;

- Foram tantos namorados mana! Esqueci o que este fazia! Fazia uns cinco meses que não nos falávamos! E por que você acha que sequestrariam ele?

- Não sei, mas um amigo dele havia sido sequestrado meses antes! Sei lá, agente acaba querendo pensar em tudo.

- E a família do rapaz?

- Tá apavorada né! Lógico! Ninguém desistiu estamos todos na busca!

Daí eu senti o drama

-Caramba, foi mal mana eu não sabia que era tão sério.

- Pois é, claro que é sério, estava tudo certo entre nós a única coisa diferente que ele andava fazendo ultimamente e que também não tem nada demais, era escrevendo todos os dias deitado na cama antes de dormir, mas o que realmente me chamou atenção mesmo é que não eram coisas sobre astronomia, quer ler a ultima coisa que ele escreveu?

Imagine só se eu não queria?

- Lógico que quero! Se quiser mesmo me mostrar...

- Quero mostrar sim, é bom que outras pessoas leiam para que eu ouça outros tipos de interpretações, alguém com certeza compreende coisas aqui que não consegui decifrar, talvez seja fantasia da cabeça dele, estivesse apenas escrevendo poemas.

E minha irmã me trouxe um caderno de brochura amassado com garranchos borrados, aberto na ultima página onde estava escrito:

“Conheci um povo que mora em tendas feitas do céu estrelado, só é possível encontra-los quando uma lamparina se acende de dentro de alguma das tendas ou quando algum gato ou coruja nos mostra o caminho.
Apenas é convidado a entrar na tenda aquele que nunca acreditou numa estória, e eu já fui uma destas pessoas.

Mas não vou contar minha estória
Prefiro contar o que se sente dentro e fora da tenda
Tão pouco importa a estória daquele que não acredita em estórias
Não começa nem termina
Só nasce pra morrer sem graça alguma da vida
Só serve para explorar jardins sem conhecer florestas

E eu sem morder nem cheirar
Passava a vida dormindo acordado
Sonhando com promessas e chaves para a liberdade
Quebrando janelas de escritório
Enquanto via o mundo pagando por ruínas

Pagando por promessas

Atestados solitários de desculpas esfarrapadas
Pássaros enjaulados cantarolando liberdade
Lutando junto ao vício do preconceito
Custando-lhes a busca da liberdade;
E o sonho de ser feliz
A conquista de esforços rastejantes
Que por mero acaso de algo lhes nomeia perito
Hasteando a bandeira da responsabilidade bem vestida
Em nome de um progresso morto e vingativo
Seco dentre os livros
Queimado com florestas
Torrado como as cobras e os ratos

Jaz na velha candeia da gratidão e do Amor ao próximo;
Toda felicidade prometida de alguma época;
Toda a superstição perpétua
Os enigmas da morte
As respostas sobre a vida
Respostas que vendem perguntas
Perguntas que pedem socorro aos que vendem respostas
A compostagem da convivência
Aonde por fim tudo se extingue;
Aonde por fim Tudo renasce.

Os ensinamentos transmitidos nas tendas estreladas são honestos como o vento
E nos damos conta de sua consequência depois que ele passou;

As tendas cheiram a frutas estragadas, sândalo e graveto decomposto na terra molhada.
A iluminação é alaranjada como que de uma lamparina de moranga
E sombras dançam como se surgissem da luz de relâmpagos de tempestade alguma.

Quando entro na tenda ouço o som do deserto
Sinto o cansaço de uma longa caminhada
A sede da boca cheia de areia;
Trazendo de longe um leve salgado dos grãos que um dia habitaram o mar.
“Até o deserto convive com lembranças”
Camelos sonolentos...
...passos esperançosos das caravanas.

O Sol testa meus valores cozinhando minha pele e meus órgãos
A Lua enobrece minha alma, deixando-me pequeno como um rato
Silencioso como a coruja
Desperto como o dia

E como se não bastasse o meu cansaço
Dentro da tenda por detrás de uma canga pendurada como cortina encontro uma ladeira que me sorri descarada, e diz chamar-se Morro do Inhame.

Sentado numa pedra está um homem com chapéu de três pontas que esconde seu rosto, segurando uma placa onde está escrito:
“Devemos subir morros antes de contornar destinos”

Senti que fiquei com cara de inhame
E fitei o morro;
Apontando para o céu
Aonde o topo não se vê.

Quase parece que não existe um aonde
Mas o “aonde” está lá

E depois do aonde tem uma ladeira que desce
Como as costas de uma sereia
Como uma gota de suor...
...No oceano de um morro pelado;
Que abriga um céu cheio de estrelas;
Um sol sem sede e sem dó;
E nuvens amigas de um descanso ligeiro,
Sob a modesta sombra da goiabeira.

E ao sentir o gosto do suor, lembrei sem saber e sem lembrar que somos feito da mesma matéria que o mar.

Levado pelo vento
Chego ao Aonde
E o Aonde mostra o dorso da sereia
Aliviando meus tormentos
O Aonde é o topo da bela vista
Que me liberta do suor
Que garante a minha paz
Que afasta os solitários do medo e da solidão
Traz esperança aos sonhadores
Mostra os valores e os coloca em jogo aos pecadores de si mesmos;
Dando assim aos desperdiçadores da vida a chance de não se perder mais.”

Putz, o cara é poeta, mas terminei de ler com algumas opiniões e perguntas óbvias;

- Gosto sobre o que ele fala, a busca dos sonhos, pessoas pagando por promessas, progresso vingativo, respostas vendendo perguntas, subir morro antes de contornar destino, só não saquei bem a coisa toda da tenda e esse tal de morro com clima desértico. Por onde ele andou viajando ultimamente?

E minha irmã responde de forma decorada

- Ele vai daqui pro trabalho ,do trabalho pra banca, da banca para locadora da locadora pra casa. A ultima vez que ele viajou foi comigo para a casa da mamãe em Andradas.

O cara é paradão, é claro, poeta, astrônomo e paradão, não é de se admirar que alguém que tanto olha para as estrelas seja um poeta e um paradão que fantasia mundos além do dele, mas daí minhas opiniões sobre o paradeiro dele diminuíram, e perguntei francamente

- Bom, daí complicou, ele andava tomando algum remédio, usando qualquer porcaria que ferrasse a cabeça dele?

- Nada! O Ezequiel abomina remédios e nunca teve problemas de saúde.

- Você já foi até o trabalho dele é claro né? Entrou no escritório e tal?

- Claro que não! Quem fez isso foi o Humberto e alguns policiais, me mandaram depois algumas caixas com tudo que tinha no escritório dele, Humberto me garantiu que viu o escritório vazio.

A minha irmã confia até numa televisão, quem dirá no tal do Humberto; Então respondi indignado

- Você ainda não foi até lá falar com nenhum amigo dele? Confiou tudo no Humberto e na polícia?

Ela é claro que já se armou com cara e tom de indignação;

- Silas! Mas é claro que eu confiei em profissionais! Não sou detetive! Nem você é! Não somos a lei para ficar interrogando as pessoas!

- Há é? E quem disse que não estou te interrogando agora?

- Haaa mas é diferente! Somos irmãos estamos conversando!

- O Aninha, sério, podemos ir lá no trabalho dele rapidinho? Falar com algum amigo dele, ver o escritório dele.

- Escritório? Depois de quarenta e dois dias?! Óbvio que já tem outra pessoa ocupando o lugar dele!

- Talvez seja esta pessoa mesmo que devemos conhecer.

- Irmãozinho, sem dúvidas o Humberto já falou com esta pessoa e todos os amigos possíveis do Ezekiel e não conseguiu nada. O trabalho dele foi um dos primeiros lugares que a polícia investigou.

- Pouco me importa a lei e o Humberto, eles tem a desvantagem de estar trabalhando e nós não, nós temos a vantagem de não estar fazendo isso por serviço.

- Qual a vantagem nisso?

- Faremos com mais vontade e perseverança é lógico, não temos horário pra cumprir e nem família pra alimentar com um salário pequeno num emprego que se coloca em risco a própria vida. Somos mais pacientes que a lei e podemos raciocinar muito mais juntos do que qualquer Humberto ou qualquer investigadorzinho de merda.

- Isso! Perfeito Silas!
Você realmente conseguiu provar que é uma criançona que acredita em toda besteira que seu amigo imaginário fala, dá um tempo irmãozinho a polícia e o Humberto estão fazendo o trabalho deles muito bem, cabe a nós rezar e ficar atentos a novidades, ando distribuindo cartazes e fazendo camisas com a foto dele para dar aos parentes e amigos, você deveria me ajudar nisso ao invés de brincar de detetive.
Como você pôde envelhecer de idade e continuar tão tonto como a criança avoada que sempre foi?

- Eu o tonto né, então tá, vou lá usar a camisa do seu namorado então junto com seus amigos, agora dá licença que eu vou pedir uma pizza.

Mal sabíamos naqueles dias que nós é que estávamos perdidos num mundo de fantasias, cegos como toupeiras que assistem mentiras e comem como urubus.

Enquanto isso na Tenda de Estrelas...

Um feiticeiro junta ingredientes com a ajuda de seu servo de cinco olhos, para criar uma caixa mágica que gera uma porta que dá em outra porta que por fim dá em duas portas que terminam nas mesmas duas portas anteriores gerando assim um corredor de repetição do passado e do futuro

- Dois dedos de Homem Planta, dois Macacosapiens secos, dois morangos cantores e meio, três Girafáceas sem pescoço pra dar equilíbrio, uma Zebrálea preta para ficar correndo em volta do caldeirão, sete olhos vivos de aranha laranja da floresta suco, um tornozelo fujão, duas portas de repetição do espaço tempo, uma poltrona saltitante, Pimposo tu tá anotando tudo?

- To sim chefinho

- Vamos precisar disso completo até o horário estar naquele tempo aonde se diz para estar pronto e os ponteiros estiverem naquela posição e os sóis atrás daquele morro em formato de joelho de moça gordinha!

- To sabendo chefinho

- Eu gosto muito que esteja sabendo Pimposo! Aliás! Temo que devemos nos preocupar com estes novos argumentos contemporâneos que carregam muitos “já seis” e que atrapalham meu pensamento e os momentos em que eu deveria estar sabendo de algo ou pensando em algo que deveria estar pensando quando soubesse de algo! Acaba que não começa então nem tem por onde acabar viro uma baratácea tonta! É nessas horas que eu digo Pimposo, que isto tudo vale a pena e que somos o tesouro desta preciosa terra! Você não concorda minha amável estupidez?

- Certamente chefinho! Concordo pra valer.

- Você colocaria algo em prova por minha pessoa Pimposo? Confia mesmo em mim? Sacrificaria um de seus cinco olhos por mim?

- Sem dúvidas chefinho, isso assim Pimposo faz!

- Você não deve fazer isso Pimposo! Deve ser amigável com nossos visitantes! Eles gostam de comprar lembranças e de dormir quentinho! Você precisa de todos os seus olhos no devido lugar!

- Com certeza chefinho! Pimposo cuida!

- Assim que eu gosto meu companheiro, confiança, confiança e equilíbrio que é algo importante mas que ainda não me lembro muito bem aonde deixava isso agora! Gosto disso!
Ah, o ar puro das Tendas! O desequilíbrio de meus tornozelos, as poeiras de estrelas varridas espalhadas pela imensidão da paisagem, noite e dia. Tudo isso me traz o cheiro da casa amanhecendo, e do orvalho nascendo numa curva inesperada aonde o acaso fez sua trilha entre as flores do campo Real da Beleza Infindável.

Eis que então uma pedra grandalhona se acende como se fosse iluminada por de dentro com uma cor alaranjada, soltando um alarme tão escandaloso que quase fez parar os dois corações de Pimposo e o incansável e milenar coração de Theadoro o Senhor dos Desmemoriados, que num salto triplo exclama;

- Mas que coisa é essa??? Isso sempre esteve aí Pimposo? Sempre fez este barulho e estas luzes horríveis? Que diabos acontece com esta pobre pedra Pimposo? Quem soltou isto aqui?

- Pimposo tem certeza de que esta é a campainha chefinho, avisa quando chega alguém.

- E isto já havia acontecido antes? Estes alguéns já haviam me assustado assim no passado?

- Já sim chefinho, nós dois igualzinho, parece até o desenho do peixinho que eu já vi um monte de vezes e é tudo igualzinho toda vez! Até as falas!

- E o que aconteceu depois? Deixei a pessoa entrar?

- Deixou sim chefinho, quando a Zara ou a Tarot traz alguém, você sempre pode deixar entrar.

- Como você pode saber dessa coisas Pimposo?

- Pimposo já falou que viu um montão de vezes essa historinha chefinho.

- Pois bem, aonde é a entrada Pimposo?

- No céu chefinho, o senhor olha pra pedra e faz uma rima como costuma fazer perguntando quem traz quem, e daí o senhor permite e a pessoa entra ali pelo céu.

- Tá, tá certo;

Theadoro então dá uma leve e delicada pigarreada ajeitando seu longo chapéu pontudo e sua exagerada gola de seu longo casaco diz;

- Pois então dona pedra, tu que de tão dura jamais saiu do lugar, por favor me diga quem agora está a se aproximar?

Então a pedra num tremor de dentes de pedra resmunga como um sapo com a boca costurada;

- A felina Zara traz um humano autorizado chamado Otávio, ó senhor dos desmemoriados Theadoro o Velho.

E Theadoro responde;

- Pois bem dura e disforme companheira, diga a eles que se aproximem, pois agora achei uma pedra bem quentinha para sentar e daqui não saio tão cedo. Espero não estar ofendendo nenhum amigo ou parente seu sentando sobre ele dona pedra.

E a dona pedra responde paciente e educada

- De forma alguma milorde, fomos feitas para isto também.

Então o céu se abre entre poeiras de estrelas que girando velozmente formam uma conexão com o chão, trazendo com a forte luz uma gata anciã confiada pelos Deuses chamada Zara e um homem assustado chamado Otávio, que de olhos arregalados corre desesperado em direção a Theadoro pedindo por socorro;

- Finalmente uma pessoa normal! Pelo amor de Deus me diga aonde estou! Aonde tem uma delegacia? Um telefone?

Então Theadoro também pede socorro e dá um salto para trás antes que Otávio agarre-o pelo avantajado e bem passado colarinho, gritando enlouquecido;

- Socorro! Alguém coma este terráqueo eu não sei do que ele está falando! Pimposo corte a língua dele! Fure os tímpanos dele com o laser tetragonal!

Então de uma porta na grande pedra sai Apopeu, o feiticeiro da mão descontrolada que dando um salto assustador diz para Otávio;

- Rápido pegue na minha mão!

Zara, a sábia gata anciã que até então não havia se manifestado, alerta Otávio;

- Eu não faria isso se fosse você, esta mão não sabe o que faz.

Otávio apavorado olha para Theadoro novamente e ouve Pimposo dizendo;

- Eu não quero cortar a língua dele chefinho, ele não fez nada de errado e tem cara de doente. Parece leite de Mormacratua azedo!

Otávio olha para a mão ainda estendida e para os olhos do feiticeiro Apopeu que diz;

- Não perda tempo! A pedra vai se fechar!

Então os olhos de Zara brilham um amarelo intenso e suas orelhas deitam para trás, arrepiada e rodeada de uma névoa que surgiu para lhe proteger, ela então começa a recitar um feitiço contra Apopeu;

- “Apopeus adaminatecu´s intransversam aderiognum atia malsavada tutti que me parla, queirimarus tu i carquero sangre in carkeva esqueletum”!

Apopeu então roda sua longa capa verde formando um escudo que protege ele e o pobre do Otávio que a esta altura já estava prestes a desmaiar;

- O que? Um escudo? Você defendeu meu feitiço com um escudo de capa?
Exclama inconformada a gata Zara que está acostumada a ver feitiços verbais serem defendidos ou curados com outros feitiços verbais.

Então Apopeu sereno e confiante como sempre diz a ela;

- Eu preciso leva-lo minha velha amiga! Me perdoe faze-lo desta forma, ele não quis me dar a mão então terei que leva-lo a força.

E uma fumaça verde envolve Apopeu e Otávio, arrastando os dois para dentro da porta na pedra que já estava se fechando.

Zara pula mas não consegue encostar na pedra a tempo, brava ela reclama com o velho Theadoro;

- Maldito Apopeu! Sempre surpreendendo daquele jeito tão educado dele. E você velho Theadoro! Pra que você serve? Nem pra me ajudar a segurar o rapaz aqui! Você e este seu grandalhão com tantos olhos e dentes! Vocês não são guardiões da entrada dos bosques? Não é para isso que deveriam estar aqui?!

Theadoro olha para Pimposo e reclama;

- Pimposo! Dê um jeito neste felino! Não entendo um só miado do que ele diz e estou completamente confuso com a presença dele! Sinto também fome e vontade de cavar buracos no chão com as unhas, nada muito fundo nem nada muito raso!

Pimposo como de costume dá uma desculpa para não precisar machucar alguém ou se ferir

- Pimposo não pode dar jeito na gata Zara senão gata Zara dá jeito em pimposo!

E Theadoro que obviamente já havia esquecido quem era a gata Zara, diz irritado;

- Então deixa que eu mesmo dou um jeito!

E lança um feitiço de encolher em Zara

- “Minimallus encantarílhos de tu mamita yator Adoren Azamedeu”!

Então, Zara pega de surpresa devido a inesperada atitude, dá um salto arrepiado de gato assustado sem tempo de defender-se tornando-se um gatinho do tamanho de meia caixinha de fósforo.

- Chefinho! O senhor deixou a Gata Zara titica! Tá tão niquininha que não dá nem pra dar carinho!
Disse abismado Pimposo que se esforçava para enxergar um gatinho tão minúsculo

Então o supremo e respeitável insano Theadoro Lorde dos esquecidos, diz confiante como de costume;

- Não se preocupe com isso Pimposo! Temos muito o que fazer hoje e nos outros dias também! Temos roupa e temos comida lavada! Dormimos em camas e lavamos a louça antes de come-las! Não precisamos dar carinho em bichinhos que não preenchem nossa mão e também não precisamos pagar contas ou procurar por bandidos ou objetos perdidos! Estamos muito bem em comparação aos outros! Podemos ir embora agora!

- O senhor quem manda chefinho
Diz obediente Pimposo

E os dois partem sumindo em segundos junto com todos os objetos e animais que os acompanhavam, exceto por Zara que do tamanho de meia caixinha de fósforo estava desesperada gritando para que Theadoro parasse com aquela brincadeira e a devolvesse ao tamanho original.

Porém eles realmente se foram, e Zara desconsolada caminha em direção a pedra aonde Apopeu sumiu com Otávio, apenas em busca de abrigo para pensar e consultar algo que desfaça o feitiço de Theadoro no único livrinho de feitiços que ela carrega em seu compartimento mágico invisível. Ela precisa agir rápido, antes que algum inseto apareça para devora-la , qualquer aranha poderia alimentar-se dela agora.

Rapidamente Zara encontra alguns feitiços, mas nenhum deles compatível com a força do feitiço de Theadoro , o único que poderia reverter a situação é um feitiço não verbal, ou seja, uma poção com uma vaga e estranha receita. Zara odeia estes feitiços, nunca gostou de fazer poções, muito menos procurar por seus ingredientes, mas ela não tem escolha, até mesmo por que está numa missão importante!

Na receita diz:

“ Receita para poção de reversão de encolhimento:
Por Astholfo Nanicolinu´s
(Filho do nomeado inventor da poção de encolhimento, Mestre Azamedeu Nanicolárdios)

Siga as instruções sem alterações de curso ou substituições de itens;

* Dê doze passos inesperados frente ao Lago frio dos Poetas
* Colher e comer um botão de flor cantora que irá se abrir ao seu lado (retire com delicadeza e peça licença).
* Colher treze gramas de pólen de flor cantora e inalar imediatamente
* Fechar os olhos e recitar o poema que a lua vai cantar
* Durma profundamente na margem do lago e continue viajem para o deserto no dia seguinte
* Procure uma Itanacã nativa dos rochedos árduos
* Esmague com o cotovelo até soltar o líquido laranja
* Engula tudo e aguarde pelos efeitos, em até quinze horas ao máximo você estará em seu tamanho normal”

Ok, isto é mais que uma receita, é uma missão longa e cansativa, ainda mais para alguém tão pequenininho, e Zara também parou para pensar se o que ela tinha podia ser chamado de cotovelo. Mas decidiu partir na busca assim mesmo;

- Eu preciso de um transporte para acelerar ao menos o comecinho dessa jornada
Pensou Zara olhando ao redor em busca de algo que pudesse lhe transportar

Então, por detrás dela, passa por cima da pedra um pé de alguém enorme que caminhava assoviando, Zara então agarra suas unhas num tecido pendurado amarrado na cintura do gigante e procura uma dobra aonde possa se esconder.

Ele apenas assobiava e de onde Zara estava apenas se enxergava um volume e tanto dos pelos de sua barba negra.

Na verdade a viajem estava tão interessante e agradável, e aquele gigante também assobiava músicas tão delicadas, que sem se dar conta Zara dormiu fazendo “rom rom” e tudo, como se estivesse em seu campo preferido de ervas de gato.

Equanto isso, numa cidade redonda e pontuda habitada por conquistadores do deserto entre os jardins de "aqui" e "lá", um empregado alarmava a seus empregados que deveriam alarmar ao grande empregador de todos;

- Os humanoides estão entrando aos montes através dos portais enfeitiçados das tendas, tanto nas florestas quanto nos desertos, e a culpa não é nossa! Devemos ao menos reforçar nossa postura perante a isto enviando um relatório sobre o que acompanhamos até agora ao “Senhor de Toda Política e Raciocínio", para que ele ao menos saiba que em seu reino não existe somente ratos empoeirados do deserto, velhos enrugados e mofados que dormem entre as árvores e bestas sem descrição que rastejam como lama escorrendo morro abaixo;

Ele dá uma pigarreada e grita ao seu fiel secretário

- Senhor Ananias!

- Sim Sr.Prefimperadoreito Ó Popillineu o Justo?

- Convoque Abetrânio para datilografar o relatório que irei ditar dentro de dois minutos e vinte e sete segundos!

- Agora mesmo Vossa Sabedoria.

Enquanto Ananias se ajeitava para busca-lo, Abetrânio já se aproximava com sua máquina de escrever de uma só tecla

-Pronto como um ponto Vossa Imensidão!
Exclamou orgulhoso com a própria prontidão o habilidoso Abetrânio

- Pois bem caro datilógrafo, prepare sua testa para este documento oficial

E Abetrânio encosta a testa na única tecla da máquina de escrever, enquanto Popillineu dita;

- Vossa Excelência Perpétua Pai e mãe de nossos direitos e esquerdos, exponho aqui conhecimentos que já acredito fazer parte de vossa imperdoável e perfeita percepção, porém destaco o direito de defender-me dos atos rastejantes destes vermes empoeirados e destes velhos bruxos texturizados com musgos e rugas, herdeiros das velhas maldições.

Como vossa grandeza já está habituado a ouvir a tantos Momentempos, enfrentamos a invasão de humanoides feiticeiros e bruxos alcoólatras por meio dos portais disponíveis nos bosques e nos desertos, nossa tolerância perante os furtos e barbaridades causadas por estes ratos da magia aparenta ter chegado ao fim, a partir do dia de hoje aonde acompanhamos um ataque de bruxos vagabundos saqueando artefatos e elmos que nos são de valiosíssima importância, mesmo que carregados da mais apelativa proteção e enfeitiçada por um de nossos melhores AquieLáianos, nossas barreiras e cofres foram derretidos por estes marginais sem discernimento, perdoe-nos vossa Imensidão mas por não termos nada a ver com estes portais e por estarmos sendo lesados constantemente devido a seus atos repugnantes, peço ao senhor fervorosamente que nos autorize a contra-atacar estes infelizes antes que eles acabem com todas as nossas preciosidades, nossos artefatos mágicos caíram de seiscentos e noventa e oito ieqtialhões visíveis e duzentos e quarenta e cinco pereoktalhões invisíveis para quarenta e dois ieqtialhões visíveis e apenas noventa e oito milionerítimos invisíveis.

Ou atacamos e mantemos nossa tradição e preciosidade intacta ou entregamos tudo aos macacos e nos damos por um reino vencido pela podridão. Não espero de forma alguma que isto soe como um fio de ameaça a vossa perfeição que de tão perfeito torna-se impossível de se ameaçar, mas temo que nossos habitantes principalmente nossos encantadores de artefatos venham a se rebelar por um breve momento, o que pode resultar num alto índice de desencarne humanoide fora do controle de nossas autoridades locais.

Anseio por sua resposta e já lhe adianto meus pedidos de perdão em nome de qualquer falha por parte de minha humilde e fraca existência errônea.

Tudo é tão pequeno em comparação a seu poder e liderança ó fabulosa Excelência Perpétua.

Com toda devoção e respeito que me são concebidos nesta vida

Popillineu o Justo
Prefimperadoreito da Cidade Redonda e Pontuda dos Conquistadores do Deserto

E Popilineu ordena a seu fiel ajudante e escudeiro ao terminar de ditar:

- Sr Ananias, leve imediatamente este comunicado aos assessores de nosso Senhor e se possível aguarde por sua resposta nas proximidades de seus gloriosos domínios.

- Agora mesmo Vossa Grandeza!

Ananias responde enérgico com sua clássica prontidão e segue em sua missão de quarenta e cinco dias de deserto até chegar aos domínios de seu senhor, isto não é nada para um conquistador do deserto e Ananias já fez isto incontáveis vezes, mas mesmo assim ele sente um leve frio na barriga ao imaginar que algum bruxo mundano poderia descobrir sobre este comunicado no meio do caminho e tirar sua vida por isso, mas para um escudeiro fiel como Ananias sua única opção é seguir em frente.

FIM DA PARTE 1

Bruno Prata Stano
brunostano@gmail.com acronicalia.blogspot.com

A Cronicália
Licença Creative Commons
Este obra foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-Uso Não-Comercial-Proibição de realização de Obras Derivadas 2.5 Portugal.
 
Ezekiel e a Tenda de Estrelas - PARTE 1

A CRONICÁLIA APRESENTA: O CONTO PROIBIDO

 
PARTE DO CONTO PROIBIDO (ainda incompleto)

Capítulo 01
Assaltos e transes entre as transas do destino

Tudo começa
Na festa a fantasia
Na casa do Diabo
Dançando vozes
Ao ritmo familiar, repicado;
Desencontrado, mastigado, de fumaça
Risada...
Paz
Ao mesmo tempo
Noutras terras
A mãe do Diabo morria, no lago...
E a serpente a avisara uma ultima vez.

Mas na festa todos sorriam
Longe da serpente
Longe da morte
Todos riam da fantasia da morte
Mas ninguém jamais ousara rir da serpente

Do outro lado da cidade, Daniel pegava a lotação.
A mesma, todos os dias, o mesmo cobrador, as mesmas senhoras;
Inclusive a senhora que Daniel assaltou...
Enquanto revirava seus olhos num de seus “transes fora de hora” até então inexplicáveis
Revirava também a bolsa da senhora que ao deparar-se com a face assustadora do rapaz, desceu correndo da lotação sem notar que havia sido roubada.

Ele...
Daniel...

Ao voltar do transe viu a carteira da senhora em sua mochila, muito dinheiro, cheque, uma carta com o endereço da senhora e um remetente do Ceará.
Daniel então usou parte do dinheiro da senhora para comprar um buquê de rosas devolvendo banhado da Benção e do Olhar Divino da Misericórdia dos Céus;
Na situação em que se encontrava sua humilde alma
Como a de um réptil fardada a contorcer-se em transe
Sem nada ver ao redor
Vez ou outra sombras, vultos;
E as vozes
Entregue a seus demônios que nesta luta como tantas outras foram derrotados
E Daniel devolveu com a gentileza de um lorde fracassado
A carteira e um buquê de rosas vermelhas de vergonha
Com cheiro de perdão e carinho

Daniel passou vergonha ao carregar o buquê pelas ruas
Pela portaria do prédio da senhora
Vestia seu coturno preto, sua jaqueta de couro, camisa de banda, naquele calor.
Mas o buquê coloria seu coração
E corava suas bochechas
Sua alma que sentia-se amaldiçoada
Estava na verdade repleta do Amor que lhe consolava
Redimia-se ali
Perante o Amor inevitável
Do perdão
Do caráter
Do medo das dúvidas
Das sombras que são seus atos

E na festa
Todos sorriam
Da fantasia do Diabo
Das prostitutas
Dos ladrões
Lá fora todos morriam
Menos as prostitutas e os ladrões
Menos o Diabo
E seus amigos fantasiados

LÁ FORA
Os homens eram sentenciados a todos os tipos de vida
A Fé que mata
Que cura
Remédios para morte
Para fama
As promessas de segurança
O futuro garantido
Os mais perfeitos inventores, filósofos, lideres
Penteando seus cabelos
Perfumando seus sovacos
Escovando seu cérebro
Drenando suas fezes
Castigando o milho
O santo milho
Que em seu funeral enterra consigo a tradição a renda do povo sábio que abandona o simples para morrer de luxo e de lixo
Sem pão
Sem milho
Sem raízes
Sem nada
Já as prostitutas
Os ladrões
O Diabo
Os piratas
A corte real
Estavam em festa, fumando maconha
Aonde ninguém morria ouvindo Jimi Hendrix, aonde ninguém tinha medo.

Riam fartos de pão e vinho da fantasia da morte
Que mais parecia um segurança de shopping.

Parte 01
Capítulo 02
Fábulas metropolitanas
E Profecias

Todos os jovens são imortais
E morrem todas as manhãs
Banhados de liberdade
Cheios do sexo
Cheios de estrelas
Que quando espatifadas revelam-se meros centavos descontados de seu esforço saudável

SEU

Dever cumprido

SEU

Corpo malhado

SEU

Plano infalível

Sua vitória esfomeada
Coxas lisas e macias
Toda sua escória
Escorrida...
Lisa...
Como cabelos que entopem ralos
Apenas mentiras escorridas
Choronas

Os jovens estudam
Usam seu sexo
E matam coisas invisíveis sem querer

Quem é Daniel no meio de tanta mentira? Tantos gemidos? Tanta força? Tanta fé? Quem é?
O milho?
O Zé?
Da Fé?
De quem é o café?
A cidade?
As prostitutas?
O Diabo?
Quem escolhe o preço dos mortos?
Os homens que enxergam através dos livros
Ou os que defecaram sua juventude?

Rosas que renascem a todo momento não pensam nisso.
Não existe estas dúvidas
Elas não tem medo de NADA
Mas mesmo assim quando estão em retiro
Pedem perdão
Soluçam arrependimentos
Por atos que não cometeram;
Apenas pensaram;
Pois querem a pureza, perfume, grandeza
Querem justificar sua beleza
Sua nobreza
São rosas livres!!!
Caminham soltas no Reino dos Céus!!!
Não são serpentes como Daniel...

NO LESTE
Wellingtom
6hs AM
caFÉ e metrô
frio e aperto
fumaça
buzina
neblina, pão na chapa, cheiros, angústia, sono
Ele vende o que pode geralmente mas agora arrumou um emprego de verdade com cartão de visitas e tudo.
Agora ele vende carros novos, usados imóveis e créditos
É um vendedor de sonhos
Consórcio de sonhos!
Ele é Wellingtom
Assim como uma bomba é uma bomba
Aquele é Wellingtom
Tem que comprar remédios
Sua esposa e seus filhos estão sob controle
Estão comendo e vendo TV
os remédios estão lá e todos estão bem.

Wellingtom tem que vender
Acordar
Comer
Vender
Desde que entrou no emprego Wellingtom vendeu ao primo e ao cunhado
É muito pouco...
Precisa então de um troco extra para o pão

Então começou a vender além de seus créditos de sonhos que nunca saiam do papel, miniaturas da bíblia feitas de plástico abertas em salmos específicos
R$1,00 cada
Acordar, comer, vender
Comer estava prestes a sair da rotina
Wellingtom vende a alma para a empresa que come crianças, pobres e idosos
A empresa que cria créditos para sonhos e fabrica morte de luxo com cheirinho de novo.

Wellingtom sente-se o conto de fadas mais medíocre da história
Realizador de sonhos de merda!
Quem é ele?
No meio de tanto petróleo e grito?
No meio de tanta dor e mito?
Sem ver como os que vêem além das estrelas
Como os que tem os olhares dos céus

Ele estará fardado a escravidão!
Pois vendeu sua alma para a idéia dos outros
Ao invés de vender seus olhos para o céu
Sem precisar de dinheiro
Sem precisar vender seus salmos e créditos redundantes
A U T O D E S T R U T Í VEIS
A U T O C O N S U M Í V E I S

Vendedores de palavras
Mal caráter é aquele que vende palavras e cobra conhecimento de suas mentiras
Suas auto afirmações infinitas
Assim como foi Wellingtom
Vendendo seus sonhos de mentira com parcelas a perder de vista
Gerando endividados orgulhosos e preocupados

Uma fábula morta da rotina inevitável daquele que não vendeu seus olhos para os céus.
Daniel achava que sabia do que isso se tratava
E tinha um preconceito juvenil bem grande sobre o assunto
Sua alma sabia da diferença entre a fome da falta de comida
E a fome do jejum forçado
Algo que fortaleceu sua alma em vidas passadas
Quando mais humanos dançavam com o fogo
Mas agora os tempos são outros
Daniel não sabe de mais nada disso
Os Bruxos morreram
Pelo menos os grandes mestres
E as fadas também
Pelo menos as que falavam coisas diferentes.

O medo cresceu com o prazer
Com o luxo
Com o aprisionamento da fome e a cultivação da vingança rendendo seus trocos e a construir impérios
A enfeitar princesas
Saboreando reis safados e seus carrascos fiéis
Dourando-lhes até os ossos!

AQUELES
Que passaram tanto tempo rastejando
Pedindo perdão por seus luxos mau direcionados

Continuarão a procurar estrelas no chão
Como ondas infinitas dos próprios tempos
Dando continuidade a si mesmo num ciclo vicioso da própria ganância inútil de ser mais de si mesmo esquecendo-se do simples, sendo a repetição de um erro sem nunca sair do lugar.

Parte 01
Capítulo 3
Mas o Belo é sempre simples
(coisas da cabeça, do coração das mães e dos personagens mortos das fábulas metropolitanas)

O GALO
Canta muitas vezes antes de o Sol nascer
Ele torce para que as pessoas se enganem
E todos se enganam o tempo todo
E isto faz parte da vitória diária da Natureza
Ao menos isto
Faz parte do sacrifício
Faz parte da doação
Seu corpo é pouco
A carne nem nossa é, é muito pouco

Os ventos sempre mudam
Toda criação
Até os sons
Mudam

TODOS
Ficam
Todos morrem
Todos nascem
Renascem
De tudo
Todos sabem
Não aprendem
Mas sabem
Sem saber, sem visão
O milagre vira palavra
E passa sem consolo
Todo passado
Todo conforto
Toda segurança
Vira palavra, e passa...

A coragem infantil de levantar a mão com a certeza da resposta certa
A coragem da retração
A levantada envergonhada para pedir para ir ao banheiro
A fuga das resposta
Dos livros
A admiração
Os ídolos
As roupas novas
As figurinhas, os bonecos, os gibis

Assim a toa
Corriam na garoa
Livres
Meninos e meninas
Agasalhados
Daniel riscava seu nome no chão com um pedaço de telha quebrada
Risca o nome
Uma careta torta e mal feita
Daniel risca e os muros caem
Os chatos falam
Decoram interiores
Apresentam programas
Cabeças
Desculpas
Compram bilhetes
Talões
Carnês
Jogam sozinhos
Assistem sozinhos
Os próprios jogos
Dormem em filas
Morrem no banheiro
Todos os dias
Numa devastação louca em nome de suas conclusões

E Daniel dá um passo na escada rolante
Com olhar triunfante ao sujeito que retrocede os passos sem saber como pisar na escada, envergonhado, sujo, cabisbaixo
Sem jeito perante aquela coisa que rola
Comendo todos os pés que deixarem de pular na hora certa de descer dela
Escada maldita
Daniel maldito
Almas malditas
Aquele homem
Coitado. A cidade comia seus olhos
Queimava seu rosto
Expunha seu sexo
Ele só estava de passagem
Enterro de parente
Mais um dos que não deu certo
Cruza o Daniel na escada maldita
Naquela situação fora do que é natural de se fazer diariamente, como um pé após o outro por exemplo.
Quando ele está na roça
Toca gado
Faz queijo
Doce de leite
Pão
Abre trilhas
Plantações enormes
Cuida
Conhece
Sabe
Só não sabe andar na escada maldita da cidade; Dos malditos triunfantes que andam em suas escadas sem mexer as pernas, sem tocar o chão
Naquela merda
Daniel não sabe nada
Não é o mesmo Daniel que em outra vida conheceu bruxos e fadas
Jejum e montanhas
É outro Daniel
Que também não sabe nada
Mas que um dia encarando a parede por acaso num susto tremendo ouviu uma voz interior revelando-lhe seu nome em outra vida

E na beirada da banheira assim disse ao seu reflexo:
- Daniel filho dos fortes, deves vender seus olhos para os céus, este corpo e o Império do Caos não é sua verdadeira morada.

Estava “fora de si”, pelo menos assim pensava
Aquele foi seu primeiro transe
O primeiro de muitos
E seu nome na vida passada
Também era Daniel

E o senhor
Da escada rolante
Ali, com medo
Vergonha
Fez com que Daniel lembrasse de seus transes
Do medo envergonhado que expunha seu constrangimento ao mundo
Culpou-se
Voltou
E ajudou o senhor a subir as escadas sem morrer fisicamente
Pois cada centímetro de sua decência, sabedoria, vergonha e experiência
A maldita da escada já havia matado

DANIEL CALADO
Que muito imagina
Daniel
E as escadas rolantes
As mulheres
Nos corredores de ônibus
Nas janelas
Seus atos aflitos em busca de olhares
Ele não sabe com que postura parar
Aonde colocar a mão quando se encosta em algo
Como cruzar as pernas quando se senta
Se realmente anda e para como um homem
Os filmes sempre lhe vem a cabeça
Os amores de suas vidas
Nos assentos de ônibus
Lhe penetrando olhares flamejantes
Engolindo sua língua
Salivando todo seu amor
Em seu pescoço
Daniel pensava e se excitava
A moça ao lado é estudante
Não trabalha
Não paga nada
Não sente verdades
Só faz de conta
Só faz de compra
Com o dinheiro dos outros
Menina de muitos amigos
Fotos
Revistas coloridas
Lábios brilhantes e com cheiro forte artificial
Calças apertadas
Famílias tristes
Amigos ingratos
Com doença de luxo
Que levanta do assento
Daniel segue seu quadril
Sente seu cheiro
Imagina...

Ela desce na porta da faculdade
Não ama mais Daniel
Então ele escolhe outro assento
A todos ele pode amar
Dos ricos aos pobres
Sem direcionar bem seu amor
Mas isso não importava
Daniel tinha filhos com todos
Chegara a matar e morrer por muitos certas vezes
Até descer no ponto de casa e tomar seu capuccino no bar, bem doce
Lá ele logo voltava a realidade
Pois a TV ficava bem alta
O bar salgado
Cheiro de pinga, carne, café, cigarro, urina;
e Daniel, pessoas como ele
pessoas longe de ser como ele
pessoas piores que ele
pessoas melhores que ele, vendo replay de gol da seleção
Acompanhado de vozes roucas
Cheiro de queijo queimado
Cinzas molhadas
Mofo
Ele buscava amar o inferno ao seu redor
Para ter mais histórias para viver calado
Não amava a seleção
Nem os bêbados
Talvez a moça do caixa se não fosse tão velha e feia
Voltava então pra casa mal humorado com frio, decepcionado, fumava um baseado antes de entrar e tocava numa banda de Rock ´n´ Roll imaginária
Quebrava espelhos
Ficava gigante e comia prédios
Esmagava carros e cabeças
Paralisava o tempo e assaltava lojas
Estuprava mulheres e matava políticos
Assaltava bancos e comprava o mundo
Entrava em casa e tomava bronca de sua mãe
Pela hora
Pelo cheiro de maconha
Pelas notas da escola
Pelo barulho
Pela ingratidão
Desinteresse
Desafeto
pela dor sem nome que somente mães sabem sentir
pelas dores que vendem as mães e elas compram sem perceber
por pura bondade
pois assim como elas, seus filhos podem ficar loucos e morrer
É cruel o que se faz ao Amor de uma mãe.

Então todos falam sobre opções
Alternativas, discussões, simpatias
Verdades varridas
Da própria língua
Vícios de vidas passadas
Mastigados em suas almas
Falam de seus defeitos e medos
Como receitas para bolo
Vender Amor, ódio, tristeza, medo
Para que as pessoas tenham motivos para trabalhar e morrer
Assim matam o instinto de uma mãe
Que ao invés de visões fabulosas apenas se preocupam com o pior assim como todos os outros que apenas se preocupam com o que é ruim.

http://www.acronicalia.blogspot.com

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Para ver mais um pouco sobre o conto acesse:
http://www.ocontoproibido.blogspot.com
 
A CRONICÁLIA APRESENTA: O CONTO PROIBIDO

Sem mais; Atenciosamente

 
Adeus adeus...

Deixarei que respire todo o ar que puder sem pressa
E que veja-se livre da aflição da minha boca
Deixo seus abraços soltos e sua pele macia entregue
Largo na porta dos fundos uma caixa cheia de olhares meus
Uma jarra cheia da minha saliva misturada com meu suor, para que se banhe de minha ausência e de meus desejos

Transbordando dos olhos o medo da confiança
O retropasso do abismo de perdições apaixonantes
O silêncio barulhento de minhas mãos em seu corpo nu e parado
Seus lábios estáticos e seu abraço dormente pedindo por socorro em meus ombros

Deixo a ti todas as cartas que nunca escrevi e minhas declarações espontâneas
Meus suspiros e meus gemidos ofegantes estão debaixo do tapete da sala dentro de um envelope velho
Queimei meus documentos e enterrei as cinzas no quintal
Troquei todas as janelas por papel celofane e lhe deixei um tanto de esperanças mal compartilhadas
Um punhado de vontades frustradas penduradas no varal
Entupi a privada de sonhos e promessas
Desmontei todos os móveis e eletrodomésticos que tinham na casa e montei uma escultura interessante para você lá na garagem

Quando você ler esta carta talvez eu já esteja bem longe;
mas quero que saiba que estou bem...

Já providenciei outro coração para caber um pouco mais de todo este amor despedaçado
Costurei meu nome e o seu dentro da barriga de um homem-bomba e joguei ele do terraço do prédio que sua mãe mora, saí de lá nu para que não desconfiassem do meu caráter e colei a foto mais bonita do nosso casamento em minhas nádegas transpirantes

Vomitei nossas juras de amor num copo de requeijão e deixei na caixinha de cartas
Escrevi um poeminha legal pra você e compus uma bossa das mais chatas e manjadas
Vendi nosso carro por dez mil reais e amarrei cada realzinho em portões e postes por aí

Quanto as marcas de sangue no chão, não se preocupe, furei meus olhos com a caneta para poder aprender mais sobre a vida e agora posso nos ver muito melhor

Já sinto saudades, por tanto estarei lhe enviando toda esta saudade por sedex dentro de pouco tempo e irei te ligar para ouvir sua voz séria e sexy cospir meu nome no chão

Espero que não esqueça que te amo como água

Adeus adeus
desate o nó do seu umbigo
 
Sem mais; Atenciosamente

Falar é Bom

 
As pessoas falam tanto sobre errar que esquecem de acertar ou acabam com medo de "arriscar" o que é certo pois o certo fica difícil de se entender e contraditório demais para se discutir, meu avô dizia que esta é uma das manifestações da fúria dos tempos, muitos caem antes mesmo de tropeçar, enchem a vida de tropeços para não cair no tédio.

O tédio pode virar criação, religião, destruição
O tédio pode ser um amigo e tanto, pode ser tempo desocupado, pode ser a oficina do diabo
Apesar de o "diabo" não precisar de oficina e sim seus amigos carentes em busca de diversão
O tédio pode ser o orgasmo

O orgasmo pode ser a rebelião da sua juventude
o orgulho da sua carência
a vergonha das suas atitudes
o prazer da sua demência
a alegria no fim do túnel
a menstruação do seu ego
o gemido da glória engasgada
o suspiro de todas as vontades
a impotência da sua solidão
o vício da sua liberdade
o brilho na sua escuridão
a tristeza da sua realização
a semente da sua concepção
a alegria do seu viver
o medo dos celibatários
o transcender da espiritualidade
o cuspe da vida
o milagre da natureza
a diversão dos pequenos demônios
um presente maravilhoso de Deus

Eu acredito em todos estes "podes"
Tudo pode ser tanta coisa que acertar ou errar torna-se um mero detalhe
Vira lição de professora chata babando besteira na sala de aula
distração infeliz da moda de alguma época
chatice de artista que quer ser artista
contradições de mestres que não querem ser discípulos
uma leitura sonolenta num dia sem fim.

http://www.acronicalia.blogspot.com
 
Falar é Bom

Passo a ...

 
Ferros desdobrados!
Máquinas desdobradas!
Virou-se tudo do avesso!

Saiu tudo voando...

cadeiras aos montes em formatos perfeitos
aguardando bundas perfeitas
com espinhos pontiagudos
gritos a parte o mínimo a se fazer é fechar os olhos.

Ufa!
Graças a Deus!
Veio uma senhora com linha e agulha para costurar-lhe os olhos e tapar sua amargura!

Chega dessas coisas...
olha-te por dentro agora!

- Quanta beleza existe neste jardim

quantas cores
tudo voando!

- ESTAS ÁRVORES RETORCIDAS NÃO ME ENGANAM!!!! O CÉU IRÁ MUDAR DE COR AGORA!!!!

fez-se ouvir das mais altas montanhas, macacos corriam até o topo das árvores para assistir ao espetáculo!

- OBRIGADO MEU DEEEEEEEEEEEEEEEEUUUUUUSSSSSSSSSSS!!!!!!!!!!!!!!

e não é que mudou de cor mesmo?

Quantas cores ao mesmo tempo
nossa...

de colocar a espinha reta mesmo!
calar a mente e mergulhar o olhar...

ir tão longe com o tudo que se vê que nada no mundo pode enxergar tanto quanto neste mergulho dado, silencioso de boca aberta, sem mover pernas e braços...
fincados nos espinhos doces e amargos.

Pronto...
viu nas cores tudo que podia fazer
agora vai-te embora!

CORTE A LINHA DOS OLHOS DELE!

cortaram-lhe a linha...
e voltou a ver o mundo real.

sair da cadeira é que é difícil...
dói
tanto quanto foi para sentar
não...
dói mais!

opa!

peraí!

Os espinhos viraram espumas...

jogue seu corpo pela janela e voe!
O mais longe que puder!

SAIA DAQUI!

Voe sem medo!
feche os olhos e pule com as pernas retas e os braços esticados!

Agora sabes!

voe sem medo de fios elétricos e galhos de árvore...
apenas feche os olhos e voe
evite pensar nisto ou em qualquer outra coisa

apenas voe
é fácil...

sentir o leve toque do vento que passa pelos ombros e de olhos fechados guiar sutilmente a direção que sentir que deve ir com o coração brilhante que tem no meio da testa!

Pronto!

Olha só agora:

- Todo gosto que sinto agora...
é de vida
ufa! Até que me lembra goiaba...
que vida boa!

construa um casulo nas matas virgens e seja um dos sóis que brilham para o agora, para os novos tempos de sempre!

NASCEEEEEEEEEUUUUUU!!!!!!!

- EBAAAAAAA!!!!

VIVAAAA!!!
uhuuuu...
aeeeee!!!!

vivaaaaaaaa!!!

NASCEU FELIZ E PERFEITO!

adulto e preparado...
um tanto de vida ainda pra viver!

Aproveita que vai longe!

- OLHA SÓ! ELE SE TORNOU O HOMEM MAIS FELIZ DO MUNDO!!!!

ele olhou para o lado e viu um de seus sóis dormindo como um anjo...
que benção!

puxa vida!
o ser mais feliz do mundo!

- Sim, todos podem pensar assim!
Não lhe disse que não era mentira?

- OH!
é de arrepiar.

a mulher curva-se e volta para seus aposentos de cabeça baixa segurando sua bengala e seu guarda-chuva...
olhando para o chão ela diz baixinho:

- já é tarde demais!
eu estou morrendo
sou uma velha.

seus olhos eram apagados e só o que podia libertar-los era o desencarne daquela matéria triste e maltratada...
ter noção do que se deve aproveitar na vida é justificar o ato de observar o pior em todo lugar?
atos, fatos, momentos, acasos...

vai caminha...

- AGORA PODE ABRIR OS OLHOS MAIS UMA VEZ!

é naquela porta!
vai!
saia!

- Mas não tem caminho algum para eu seguir, é tudo escuro.

- NÃO PODES VER A PORTA?

- sim!

- PRECISAS DE MAIS O QUE?

vá até a porta senhor.

tenha um bom dia!

- Bom dia pra senhora também!

Acena um novo dia
no sorriso a alegria
no peito a companhia
na vida a maravilha
no canto a harmonia

nada mais maravilhoso que continuar um novo dia!
 
Passo a ...

Conto Vivo

 
E as jóias da eternidade eram apenas símbolos sem muita importância
descobrimos que era tão simples
tão pequeno
"cabe na palma da mão"
como costuma dizer Maria

Mas fomos atrás das Jóias da Eternidade que revelavam todo o segredo da vida.
Disseram que haveria guardiões, bolas de fogo, chuvas de ácido, disseram que logo na chegada seríamos recebidos com óleo quente e flechadas, lâminas cortariam nossas cabeças antes mesmo de piscarmos nossos olhos...
estaríamos mortos
e seríamos comidos por Orcs e lobos.

Mas eu e Maria achamos um espelho de cristal no meio da nossa busca, ele tinha moldura feita de raízes entrelaçadas

uma cena paralisante...
ficamos lá...
eu e Maria...
encantados
admirando o espelho.

Quando pelo reflexo avistamos uma chuva de fadas...
voando cantando...
bailando pairando....
jorrando estrelas douradas de seus cabelos e prateadas de suas asas.

Olhamos simultaneamente para trás e não vimos as fadas...
Olhamos novamente para o espelho na mesma rapidez e lá estavam elas descendo dos céus encantadas e felizes
então olhamos um para o outro...
balançamos a cabeça confirmando a decisão transmitida por nossos olhares
e pulamos dentro do espelho.

UM



SALTO

aspirais coloridos e cipós lilázes envolviam nossos corpos agarrando-nos pelas auras...
desdobrando-nos pelo peito
libertando-nos pela alma
as lágrimas de Maria molhavam meus cabelos
minha respiração fazia cor no ar
nossos dedos dos pés e mãos ficaram transparentes e esticados misturados com todo o espiral

os cabelos de Maria eram como nuvens
seu sorriso como o nascer do Sol
sua pele como neve cristalina

...seus olhos
um espetáculo de libertação a parte em todo o Universo.

Brilhante como ouro
profundo como a vida

eu senti as células do meu corpo borbulhar e minha garganta ser preenchida por um tipo de líquido...
a simetria dos meus olhos...

...perfeita

horizontes
desfragmentados
v o z l e e e n t a . . .
estalos
por
todas
as
partes

beliscavam minha cabeça

minha

ca be ça

que girava como louca
me deixava confuso
palvaras ao conrtráio caíam diante de meus olhos...
e eu gozava com cor néon!!!

LARANJA! VERDE!
ROSA! AMARELO!
LILÁS! VIOLETA!
AZUL! DOURADO!
PRATEADO!

Ao invés de gemidos da minha boca, saíam beija - flores coloridos que quando voavam encontravam-se no ar peito com peito e tornavam-se lindas coroas de flores que caíam sobre eu e Maria, fantasiando-nos de forma divertida e um tanto quanto cheirosa!

Então paramos de ter a sensação de estar caindo por um espiral lentamente
e sentimos
nossos PÉS...

no chão.

TERRA

GRAMA

o mesmo lugar em que estávamos antes...

porém com o corpo coberto de flores prestes a ser encantados por um bando magnífico de fadas que voavam em nossa direção
igualzinho o que vimos no espelho
estávamos lá!

sorridentes esperançosos relaxados realizados

cheios de Amor no coração.

Elas chegaram voando todas de uma só vez...
incontáveis
mais de mil com certeza

de u m a só v e z

nos abraçaram
nos acariciaram
nos beijaram
nos lamberam da cabeça aos pés e tiraram nossas coroas de flores uma a uma

acariciando cada centímetro de nossos corpos nus
cheirando cada pedaçinho de pele
com um carinho e um Amor que nunca havia sentido em toda minha vida
fui carregado com Maria tirado do chão pelas fadas direção a um rio cristalino de cores alucinantes que surgira por de trás de um pequeno morro que sobrevoamos lentamente, como se estivéssemos sendo abraçados por nuvens cheirosas.

Quando sentimos que íamos ser arremessados no rio
um rosto meio humano meio pedra surgiu por debaixo d´água misturando-se a sua transparência.

E começou a falar:

- Dentro de vocês tem um rio!
Este rio pode tornar-se pedras cristalinas!
Elas podem espalhar-se em milhares de pequenos fragmentos tornando-se pequenas jóias perfeitas!

Todos os seus sonhos colocados em um caldeirão e misturados pelas mãos de Deus!

Então ele continua seguido de um estrondo vindo dos céus:

- TU ÉS A JÓIA DA ETERNIDADE!
TU JÁ TENS AS FERRAMENTAS NAS MÃOS PARA CONSTRUIR OS SEUS MILAGRES,
COLORIR SUA VIDA E ESCULPIR SUAS JÓIAS E SEUS CRISTAIS MONTANHAS CELESTIAIS ACIMA!
ACREDITE!
E ASSIM SERÁS!
TU ÉS UM SER DIVINO!
ASSIM É CRIANÇAS DESBRAVADORAS!

ASSIM ÉÉÉÉÉ!!!!!!!

então...

nosso cérebro . . .

liquidificou-se...

e derreteu como cera pelo nariz e pelas orelhas
nossa visão era quadriculada
enxergávamos ondas trançadas pairando no ar contornadas com cores que não paravam de mudar
causando uma leve tontura agradável
e o som ao nosso redor

c omeçou a f f falh rr ar e trrrepidarrr

até causar um grave que nos estremeceu por dentro
seguido de um leve ruído parecido com ondas do mar
sentíamos como se estivéssemos dormindo.

E quando tivemos a sensação de realmente possuir nossos olhos e que podíamos abri-los normalmente...
...contemplamos o mesmo lugar que começamos esta experiência;

Só que sem as fadas
o mesmo espelho
no mesmo canto
as mesmas árvores
o mesmo tempo
tudo igual...

o milagre todo

dentro de nós...

que nos abraçáva-mos
e sorríamos perfeitamente felizes
por termos a certeza plena de que somos imortais!

somos Luz e imensidão
somos nossos milagres
a libertação de todas as correntes
as asas de toda a perfeição
o grito da liberdade plena.

Somos nós
todo o milagre
da Eternidade...

brincando com os sonhos e toda providência amável da vida!

Fazendo acontecer com a magia da nossa força de vontade e alegria de viver!

Abençoados por sermos assim tão felizes!

Nossa...

que imensidão
quantos horizontes
quanta maravilha

Como é bom

SER...
 
Conto Vivo

Suco de Miolos

 
Ai que milagre...
encontrei um cérebro no chão.

Até que enfim poderei bater livros e miolos no liquidificador e beber!
Esmiriliar-me por dentro
Balbuciar mentiras
Saciar delírios
Fabricar doenças
Abandonar promessas
Alimentar os vícios
Esgotar-me no meu gozo
Borbulhar minhas tripas
Mergulhar na verdadesapiens
Questionar todo além
Todo de mim
Todo de todo
E buscar tudo e todos
Aonde há tudo?
Está tudo aqui acolá?
Dentro e fora
Universo a mil
Tudo a zero
Tudo a todos
Um só ser
Infinito
Viajante
Suadouro no lençol
Pulmão lascado...
pigarro dolorido.
Estrada a dentro de um desaperto
Besteira minha pensar ter ganho tudo na vida a todo momento?
Tal qual uma rima babaquinha nestas entrelinhas?
Acho que não...
“O que ganhas além de pão...
mendigão?”
Talvez seja esta bendita punhetísse mental parapsicoproposiespiritual
Igual a sermão de político no natal
Em festa babaca fedorenta promocional
Entrelinhas e negritos a parte joguem as rimas aos leões!
Eu quis dizer sobre aqueles senhores enrrugadinhos com cheiro de cigarro
Prostituindo sua cara de pau neste leilão terreno em busca da felicidade

Faço a mesma coisa...
sou o mesmo
em outras proporções para aqueles que podem me entender e ter a oportunidade de ler este cuspe ao vento...
que de cara lavada chega a escorrer pelas páginas.

Minha barriga queima de desejo do novo!
Contraio meus joelhos de desejo do novo
Novo não só na minha vida!
ESTOU FALANDO DO NOVO!

Como um pulo no rio depois de tanto tempo
Como dois corações na mesma freqüência divina unidos pelo infinito
Como o planeta todo de mãos dadas
Tão lânguido e milagroso quanto uma cena cristalina e emocionante num filme quase tedioso

Jogue fora este suco de miolos e vai pensar!

E que toda suposta perca de tempo seja produção benéfica para o futuro do próximo
Amém!
 
Suco de Miolos

Ezekiel e a Tenda de Estrelas

 
Passagem do conto da Cronicália: "Ezekiel e a Tenda de Estrelas"

Conheci um povo que mora em tendas feitas do céu estrelado, só é possível encontra-los quando uma lamparina se acende de dentro de alguma das tendas ou quando algum gato ou coruja nos mostra o caminho.
Apenas é convidado a entrar na tenda aquele que nunca acreditou numa estória, e eu já fui uma destas pessoas.

Mas não vou contar minha estória
Prefiro contar o que se sente dentro e fora da tenda
Tão pouco importa a estória daquele que não acredita em estórias
Não começa nem termina
Só nasce pra morrer sem graça alguma da vida
Só serve para explorar jardins sem conhecer florestas

E eu sem morder nem cheirar
Passava a vida dormindo acordado
Sonhando com promessas e chaves para a liberdade
Quebrando janelas de escritório
Enquanto via o mundo pagando por ruínas

Pagando por promessas

Atestados solitários de desculpas esfarrapadas
Pássaros enjaulados cantarolando liberdade
Lutando junto ao vício do preconceito
Custando-lhes a busca da liberdade;
E o sonho de ser feliz
A conquista de esforços rastejantes
Que por mero acaso de algo lhe nomeia perito
Hasteando a bandeira da responsabilidade bem vestida
Em nome de um progresso morto e vingativo
Seco dentre os livros
Queimado com florestas
Torrado como as cobras e os ratos

Jaz na velha candeia da gratidão e do Amor ao próximo;
Toda felicidade prometida de alguma época;
Toda a superstição perpétua
Os enigmas da morte
As respostas sobre a vida
Respostas que vendem perguntas
Perguntas que pedem socorro aos que vendem respostas
A compostagem da convivência
Aonde por fim tudo se extingue;
Aonde por fim Tudo renasce.

Mas estes pensamentos me surgiram fora da tenda
Pois os ensinamentos transmitidos nas tendas estreladas são honestos como o vento
E nos damos conta de sua consequência depois que ele passou;

As tendas cheiram a frutas estragadas, sândalo e graveto decomposto na terra molhada.
A iluminação é alaranjada como que de uma lamparina de moranga
E sombras dançam como se surgissem da luz de relâmpagos de tempestade alguma.

Quando entro na tenda ouço o som do deserto
Sinto o cansaço de uma longa caminhada
A sede da boca cheia de areia;
Trazendo de longe um leve salgado dos grãos que um dia habitaram o mar.
“Até o deserto convive com lembranças”
Camelos sonolentos...
...passos esperançosos das caravanas.
O Sol testa meus valores cozinhando minha pele e meus órgãos
A Lua enobrece minha alma, deixando-me pequeno como um rato
Silencioso como a coruja
Desperto como o dia

E como se não bastasse o meu cansaço já vindo de lugar algum
Dentro da tenda por detrás de uma canga pendurada como cortina encontro uma ladeira que me sorri descarada, e diz chamar-se Morro do Inhame.

Sentado numa pedra está um homem com chapéu de três pontas que esconde seu rosto, segurando uma placa onde está escrito:
“Devemos subir morros antes de contornar destinos”

Senti que fiquei com cara de inhame
E fitei o morro;
Apontando para o céu
Aonde o topo não se vê.

Quase parece que não existe um aonde
Mas o “aonde” está lá

E depois do aonde tem uma ladeira que desce
Como as costas de uma sereia
Como uma gota de suor...
...No oceano de um morro pelado;
Que abriga um céu cheio de estrelas;
Um sol sem sede e sem dó;
E nuvens amigas de um descanso ligeiro,
Sob a modesta sombra da goiabeira.

E ao sentir o gosto do suor, lembrei sem saber e sem lembrar que somos feito da mesma matéria que o mar.

Levado pelo vento
Chego ao Aonde
E o Aonde mostra o dorso da sereia
Aliviando meus tormentos
O Aonde é o topo da bela vista
Que me liberta da cidade
Que garante a minha paz
Que afasta os solitários do medo e da solidão
Traz esperança aos sonhadores
Mostra os valores e os coloca em jogo aos pecadores de si mesmos;
Dando assim aos desperdiçadores da vida a chance de não se perder mais.

Bruno Prata
 
Ezekiel e a Tenda de Estrelas

A minha Lenda é sua Mentira, a sua Mentira é nossa Verdade, a nossa Verdade é a Loucura e a Loucura é um ponto de vista

 
- Akiba?
- Que?
- E se você foi Adão mesmo?
- Aí vai ser a meleca total que vai evitar coisa bem pior cara! A natureza domina o planeta novamente e a humanidade já era, coisa de filme! E eu não estarei aqui pra ver! nem você! Então vamos pular logo Adonai!
- Mas que merda cara! Porque justo eu fui cair na conversa daquele padre ou sei lá o que era aquilo junto com você? Eu juro que esqueço essa porcaria toda Akiba!
- Ha é? Esquece? Daí a história é verdade e tudo que o velhote lá disse acontece? Todo mundo ardendo e se arrebentando na eternidade esquecida do inferno na terra? É melhor que eu vá e a natureza volte a dar um jeito nessa zona, o velhote tem razão Donaizinho, eu te amo irmão, vem comigo, não quero que sofra nem um minuto do dia da destruição aqui na Terra.

- Vamos, no três Adonai, no três...

Um
Dois

Então um homem de barbas longas e olhar estranho aparece e grita

- Akiba!NÃO!
- Hã? Quem é você?
Pergunta Adonai
- Vem Adonai, não dê atenção a ele meu irmão! Vamos pular!
E o homem dirige-se a Adonai
- Adonai, eu te conheço, conheço seu irmão, conheço sua família, confie em mim, venham os dois, não pulem!
- Não iremos a lugar algum! Eu e meu irmão já sabemos o que fazer! Não posso fazer com que as pessoas que amamos sofram tanto!
- Akiba, não carregue seu irmão nesta loucura, por misericórdia, me deem suas mãos rapazes vamos sair daqui!
Então Akiba se impõe fortemente
- Quem você pensa que é estranho?
- E você Akiba? Quem você pensa que é?
E ele retruca com ódio nos olhos
- EU SOU A SUA DESTRUIÇÃO SEU DESGRAÇADO!
O homem responde calmamente
- Mas eu não lhe desejo mal algum, não sei porque tanta alteração! Controle-se Akiba, me dê seu irmão.
- Me solta Akiba!
E Adonai se solta dos braços de Akiba correndo em direção ao estranho
- Que assim seja então, por tanto amar a você e nossa família parto para que sofram menos em apenas um dia de destruição e dor.
- AKIBAAAAA”!

Trezentos e trinta e três anos depois:

- E "PLOFT" se espatifou lá embaixo no chão, igual papel molhado no teto do banheiro.
- Só isso? Ele pula e só? Morreu?
- É claro que ele morreu, pulou do penhasco! E como pode ver ele estava errado, mais de trezentos anos se passaram e cá estamos nós, por tanto é uma lenda!
- Eu acho uma lenda muito idiota, aliás acho que nem uma lenda isso é! A professora não vai aceitar, foi só um infeliz que se matou por burrice, e apesar de você narrar com ”emoção” ainda acho que você conta estórias muito mal, pois duvido que a mais de trezentos anos atrás as pessoas falavam tanta gíria e palavrão.
- Bom, foi como me contaram, e você acha que mesmo com toda esta “emoção” e essa coisa toda de Adão a professora não vai aceitar a estória como lenda? Muitos sabem disso aqui no bairro!
-Falou bem Felipe, aqui no bairro, e olhe lá porque moro aqui a oito anos e não sabia desta história.
- É que geralmente os adultos apenas comentam entre si.
- Ha é, e como te contaram?
- O tio Joca, como sempre mamado, me contou e minha mãe jogou um pacote de café em pó na cara dele, mandou ele calar a boca, disse que aquilo era história de adulto, daí perguntei para meu avô e ele disse que era uma história antiga que muitos no bairro acreditavam e por superstição procuravam não lembrar mais, pois tinham medo de sustentar algo que poderia se realizar.
- Felipe, sua mãe sempre joga algo diferente na cara do seu tio, seu tio bêbado sempre conta uma mentira, seu avô é tão bêbado e mentiroso quanto seu tio, se quer passar vergonha na frente da sala de aula toda vai passar sozinho, vou pedir pra professora me dar trabalho individual.
- Tá bom cara, vamo lá falar do saci então.
- Também não é assim cara, a sala toda vai falar do saci agente pode pesquisar um pouco mais, temos cinco dias pela frente.
- Tá , mas eu chego com algo diferente e você fala que é conversa de bêbado! Assim fica difícil!
- Relaxa, meu pai tem um amigo que eu tenho certeza que vai dar uma força, se demorarmos muito pra resolver isso prometo que volto a pensar nas histórias do seu tio ok?
-Hum, e o que este amigo do seu pai faz?
- Minha mãe fala que ele é vagabundo e drogado, meu pai diz que ele é artista e escritor, um grande pintor e contador de estórias.
- Há tá, a minha estória não foi estranha o suficiente, saquei.
- Nem um pouco meu caro Felipe, nem um pouco.
- Ei! Para de falar como um velho chato que sabe tudo! Me irrita!
- Há! Você usa uma porção de termos ‘de velho’ e eu nunca me irrito com você!
- Eu o que? Mas você acabou de falar que eu conto estórias cheias de gírias e...

E eles partem atrás de lenda, como quem sai pra arrecadar prenda.

A Cronicália
apresenta:

A minha Lenda é sua Mentira, a sua Mentira é nossa Verdade, a nossa Verdade é a Loucura e a Loucura é um ponto de vista

Por
Bruno Prata Stano

Dois pés pequenos caminham como gigantes saltitantes desastrados procurando por flor para cheirar ou um coelho para abraçar
Todos tem uma lenda
Coelhos, gigantes, borboletas...
Todos contam lendas quando solicitados

Aqueles que não contam estão contando de outro jeito
Aqueles que não sabem não percebem
Aqueles que não querem sentem medo

Ou vergonha do medo
Muito medo da vergonha

Lendas são como dedos apontados para o espaço
Cada um terá seu próprio e único ponto de vista
Cada um tem sua forma de louvar, crer ou odiar uma lenda
Alguns sabem "adaptar" lendas ou torna-las suas
Sabem enfia-las em seus bolsos e cobrar por elas
Outros sabem fazer com que outros sonhem com elas
Salvem-se com elas ou matem-se por elas
Que as torne um objetivo de vida
Um manual para a salvação
Um decreto da verdade
A prova da mentira

As lendas escorrem pelos lábios dos dois meninos que saem atrás de lendas
Queimam seus pés com o fogo invisível da juventude que a tudo engrandece Justifica e esquece;
Sacrifica e abandona sem saber por que
Numa luta sem fim contra coleiras invisíveis que caçam seus pescoços sedentos

Eles deixam lendas passar diante do nariz a cada passo
O pai, o amigo do pai, a escola a professora
Todos escorregam em lendas a vida toda
Praticando o ritual de suas existências cada um a sua maneira
Mesmo que alguns insistam em dizer praticar o mesmo ritual
Ainda o fazem cada um a sua maneira

Cada tal qual sua lenda
Assim como todos ao redor de todos

Os meninos cospem papéis invisíveis ao vento
Enquanto escrevem lendas com risadas
Com olhos brilhantes cheirando a estradas que um dia irão ver ou sonhar
Tudo escrito e muito bem registrado
Esquecido por suas cabeças de papel

Existem lendas que dizem que Deus está muito mais presente enquanto as cabeças são de papel
Quando as cabeças são de pedra Deus deixa pra depois e espera elas virarem areia pra transforma-las em madeira e então em papel novamente

Mas não se preocupe se achar que sua cabeça é de pedra ou de madeira
Esta é só mais uma lenda e nós e Deus estamos em todas elas
De todas as formas e nomes
Ecoamos em todas elas
Como aves do paraíso acasalando

Ecoamos de forma engraçada como em espelhos mágicos
Retorcemos satisfações para realizar desejos
Imaginamos reações que satisfazem nossas necessidades

Enquanto alguns dizem que se deve viver como um relógio sempre desesperado para trocar as pilhas
Existem lendas que dizem que estes são urubus ingratos mutiladores de sonho e outras dizem que são santos ou inventores importantes
Não importa o que sejam
São lendas do próprio sucesso ou do próprio fracasso
Cheios de coisas chatas e repetitivas pra contar

Os meninos querem algo diferente
Querem falar de pipa sem falar na rabiola
Falar do saci sem falar da perna

Querem tirar um sorriso de satisfação da professora
Como quem tira leite de vaca
Ao invés de sentar e observar com calma todas as lendas do Universo e assim poder satisfazer a eles mesmos e a professora como quem prepara uma limonada ligeira

A praticidade nem sempre é tudo aquilo que queremos ouvir
O abstrato e o complicado nos motiva a continuar aprendendo, desistindo, ensinando, esquecendo, deixando pra depois
Além de gerar muitos e muitos empregos
Para que a praticidade possa ser prometida ou vendida
Para que os caminhos mais curtos tornem-se os mais longos e distantes
Cheios da lama escorregadia do pessimismo e do Currículo Vitae
Do Homo Vitae
E sua força Vitae
Para que você desista da praticidade natural e compre a praticidade da prateleira
Para que você compre lendas ao invés de inventa-las
Ao invés de aceitar a lenda que lhe liberta e acalma
Que narra sua estória sem usar palavras
Que lhe permite ver ao mesmo tempo todas as lendas do Universo

Então;
Os dois meninos encontraram a casa do amigo do pai
Bateram palma, assoviaram, bateram na porta
Nada
Então um deles viu que uma das janelas na lateral da casa estava aberta e daria para pular e entrar na casa sem esforço
Talvez apenas para deixar um recadinho
Mordiscar alguma coisinha
Só uma olhadinha

Daí um falou
- Não não, não faz isso não cara! Isso eu não faço! É muito errado! Podemos deixar um recado dizendo que voltamos depois bem aqui na porta da frente oras! É só passar o papelzinho por debaixo assim e pronto! Que pular janela o que ô!

Mas o outro já havia ido, já estava lá dentro e disse de lá mesmo que não acreditava no que via;
Como podia existir um animal tão grande e peludo?
O outro que estava lá fora perguntou apavorado; “Peludo?!”
Então o de lá de dentro disse para o outro entrar porque o bicho peludo e grande era o amigo de seu pai e havia dito que a porta da frente estava aberta e bastava abri-la para entrar.
O outro então entrou mordendo-se de medo e curiosidade

- Aonde vocês estão?

Ele gritou da sala arrependido por gritar;
Pois apenas depois disso ele percebeu que sua voz gerou um notável eco que fez voar os pássaros que se alimentavam pacificamente no aparentemente pequeno e encantador jardim do velho Rudolf que olhara para o visitante com encantadora serenidade impressa nas feições rústicas e grossas de um animal grande e peludo sem definição alguma além da de que era grande, peludo e supostamente fedido

O que entrou primeiro já estava sentado sobre um dos pequenos bancos transparentes feitos de um material entre o vidro o cristal e o sal que quando o sol bate reflete nuvens de diferentes céus que não estão lá e que não pertencem a esta dimensão.

As flores não possuem cor
Pois são plantas que reúnem todas as cores ao seu redor
Inclusive tornando as invisíveis visíveis
Das ultra comuns às ultra violetas
Sendo assim uma explosão intensa de pura luz vibrante
Que na incapacidade de expressar tão magnífica e inimaginável cor
Emite um pequeno ruído grave e agradável como o ronronar de um gato gordo e amável
Exala o odor da pessoa que você mais ama
O cheiro de cabeça mais único do mundo que só você achou que conhecia
Ela faz de tudo para ser o que há de mais agradável e lindo para se ver e sentir.

Esta é a busca incansável de todas as flores, e todas elas e tudo que há de natural doa de sua cor e de seus sentimentos, estórias e desejos às flores encantadoras do jardim do senhor Rudolf que a esta altura já estava chamando a atenção de seus visitantes por estarem perigosamente distraídos, vislumbrados com tanta beleza e mistério, acariciando jabuticabeiras falantes que dividiam seus cachimbos de chama infinita que nem queima nem solta fumaça, apenas encandece uma mistura da clorofila de folhas douradas e frutas vermelhas processadas por pássaros contadores de estórias que vivem a mais de duzentos anos.

-Eles são muito jovens para isso senhoritas Jabuticabeiras!
Diz Sr. Rudolf soltando uma gostosa gargalhada

Tudo tão grandioso num lugar tão pequeno
E o bicho peludo que se tornara senhor Rudolf já não era mais caso de curiosidade ou espanto para os dois meninos, que maravilhados comentavam entre si o quanto gostariam de morar lá e passar o resto da vida explorando aquele suposto pequeno e inofensivo jardim.

Nós abandonamos os jardins no decorrer de nossas vidas
Acabamos por nãos explora-los por inteiro
Com medo do que encontrar por detrás do próximo arbusto
Mas aquele jardim é diferente, revela-se gradualmente conforme seu interesse e vislumbre, qualquer um tem coragem e vontade de explorá-lo.

Alguns grilos cantavam sobre visitas ilustres, reis e rainhas de terras mágicas que passavam pelo jardim de Rudolf e nele ficavam por semanas, grandes poetas e músicos que foram até lá para morrer, deixaram às margens do “riacho salgado” suas últimas lágrimas de alegria.

Então um dos meninos afasta-se do senhor Rudolf e pergunta a uma garça como se falasse com garças todos os dias;

- Senhorita, porque este homem tornou-se assim tão peludo?

E a garça respondeu:
- Não sou senhorita! Meu nome é Axon! Sou macho! E você humano? Por que fala como um velho se está no corpo de uma criança senhor menino curioso? Você é portador de bochechas tão rosadas e uniformes que acho que deveria falar com a voz de um esquilo. Você não deveria usar termos como “tornou-se”!

- Como? Porquê? Tornou-se? Não estou entendendo! Porque não posso falar de forma correta? Tenho que falar errado só porque sou criança?

- Você é chato menino velho, chato e redondo, cheira a supermercado, acho que quero te ajudar! Posso te ajudar em alguma coisa? Responder alguma coisa ou coçar algum lugar pra você com meu bico?

- Eu já lhe perguntei algo senhor

Então Axon fica pensativo e responde com firmeza
- É mesmo? Pois eu acho que não, nunca esqueço uma pergunta quando me fazem uma!

- Pois então acho que esta você esqueceu Sr Garça

Então um Lobo Guará muito bem vestido sai de uma toca dentre as figueiras e faz um convite formal ao menino

- Vossa senhoria gostaria de me acompanhar para um almoço especial? Seu amigo e meu Lorde, senhor deste Jardim, já lhe aguardam desfrutando de nossas iguarias preliminares.

Então o menino diz ao senhor Garça de nome Axon

- Puxa vida senhor garça me distraí tanto com o senhor que nem notei que meus amigos retiraram-se para almoçar!

E Axon responde confiante como sempre

- Eles te chamaram e você não ouviu porque estava falando como um chato redondinho. Você precisa do meu bico para alguma coisa? Acho que eu queria te ajudar em algo! Posso pegar um peixe pra você! Uma moeda que caiu num lugar difícil ou posso te fazer um belo corte de cabelo, coçar suas frieiras?

- Não! Muito obrigado garça, não preciso de nada disso!

-Meu nome é Axon, e todos precisam de ao menos uma dessas coisas.

Então o Lobo interfere novamente

- Perdoe-me a audácia senhor, mas devo alertá-lo a propósito da impaciência e preocupação que podem ser causadas indevidamente por efeitos de minutos perdidos em conversas sem fundamento com uma velha garça esquecida.

- Está bem lobo, não precisa falar assim do senhor garça, vamos ao encontro de seu mestre.

Diz o menino como se conhecesse garças todos os dias e falasse sempre com lobos

Então ele despede-se de Axon

Assim, o menino arranca seus sapatos e segue o lobo para dentro dos arbustos dentre as figueiras

“Como é bom pisar descalço em folhas molhadas”
O menino Pensou

“Como é interessante reconhecer figueiras sem nunca ter visto figueiras”
Isto ele não pensou.

Então finalmente ao ultrapassarem um quase longo túnel de arbustos deram de frente com uma gigantesca árvore que por dentro e ao seu redor piscavam disformes e incontáveis luzes dando ao menino a nítida impressão de uma cidade vista de longe.

De dentro da árvore saia uma gigantesca tábua cristalina repleta de maravilhas culinárias e frutas estranhas e brilhantes, na ponta da tábua sentava-se o peludo Rudolf e mais a direita estava seu amigo esbaldando-se nas frutas brilhantes que soltavam líquidos maravilhosos e barulhos engraçadíssimos ao serem mordidas.

- Sente-se criança, vamos comer e contar estórias, expressar ideias!

Senhor Rudolf sorri como os gatos sorriem nos desenhos

Atrás de sua cadeira de raízes tem uma enorme pedra com um poema sobre a inocência que diz;

“A inocência cheira à saudade
Tem também cheiro de criança suada e de velhice esquecida
Tem cheiro de livro velho em lugar úmido
São lembranças de ações que não aconteceram
Cicatrizes da impaciência dos adultos
Das queimaduras saltadas na pele do gado
È o suco derramado na mesa
Numa tarde de sexta feira
Aguardando a madrugada
Venenosa como um drink
Ou inspiradora como um céu
Cheio de estrelas que lembram quando morrem e esquecem quando nascem.”

O menino perguntou ao senhor Rudolf porque aquele poema estava gravado numa pedra atrás dele, e ele respondeu:

“Todos os poemas que são escritos no mundo ficam gravados nesta pedra, se você olhar agora verá que já tem outro poema”.

O menino impressionado pergunta:

- Mas como é possível Sr. Rudolf? Como tudo isto acontece? Como o senhor tornou-se assim tão peludo?

- Você acredita em lendas menino?
Pergunta calmamente Sr. Rudolf

- Difícil não acreditar em algo depois de tudo que vi hoje.
Diz convencido o menino

- Pois menino, se você e seu amigo não acreditassem teriam visto apenas uma casa velha e abandonada sem ninguém nem nada dentro, porém cá estamos nós, vocês me acharam!
Conte a sua professora, a lenda de um homem que escolheu tornar-se um bicho sem nome ao tornar-se contador de estórias para pessoas que não acreditavam em lendas e fantasias.

Quem crê me vê
Quem busca lendas me encontra
E eu quero ser a lenda agora
Quem não me vê
Perdido em seus próprios pensamentos está
Fugindo do escuro dos impulsos
Controlando o medo
E protegendo-se dele
Desesperadamente
Como cachorros bravos na coleira

Em minhas estórias o medo não existe
Não desejo que o medo cresça em você
Desejo que você encare suas verdades
Dê valor a sua liberdade
Você gosta de sentir medo garotinho?

- Não senhor Rudolf, acho que ninguém gosta!

- Há gosta sim garoto redondinho! As pessoas adoram um medinho, mas isto não vem ao caso;
O que vem ao caso é a morte que você participou esta manhã, quando presenciou o suposto suicídio de um rapaz que pulou do terraço de um prédio afirmando ser seu irmão senhor Adonai, isto consta?

- Hã? Como assim senhor Rudolf! Esta manhã eu estava com Felipe falando sobre uma lenda que falava sobre algo parecido mas não presenciamos nada de estranho não é mesmo Felipe?

E o menino olha ao redor com insegurança como quem procura algo que não está lá

- Que Felipe senhor Adonai?
Por acaso seria a segunda voz que testemunhas afirmam ter ouvido pouco antes do garoto pular?

Então senhor Rudolf torna-se um velho, triste e pálido detetive de polícia, e o jardim torna-se uma sala de interrogatório cercada por espelhos

- Mas, o senhor Rudolf, eu, meu amigo, ele estava...
Lamenta confuso o menino que agora tinha as mãos velhas e o coração pesado e cansado como o de um velho Jabuti.

- Rudolf era o nome do rapaz que morreu senhor Adonai, testemunhas afirmam ter ouvido o senhor ter gritado outro nome, algo como Akita, Akira ou Akiba. Recorda-se de alguma coisa? O senhor está bem? Gostaria de um copo d´agua?

E ele responde pálido e ofegante

- Na verdade eu aceito água sim amigo, mas sinceramente estou muito confuso...

E o investigador retruca
- Percebo, me diga uma coisa, quantos anos o senhor tem Sr. Adonai?

- Fiz quinze anos semana passada!
Responde tremulo Adonai
Então o investigador dá uma pigarreada quase que segurando uma risada e retira de um envelope os documentos de Adonai

- Bem, segundo sua carteira de identidade o senhor tem setenta e dois anos, acredito que deveremos encaminha-lo a uma casa de repouso Sr. Adonai, aonde receberá os tratamentos necessários para pessoas que se encontram em estado de deficiência mental como o senhor.

Adonai desespera-se

- Não! Não por favor! Eu tenho quinze anos! Juro ao senhor! Estava com meu amigo Felipe até agora pouco e ele estava comendo como um louco! Não tenho deficiência mental alguma, pergunte-me alguma coisa da escola, ou qualquer outra coisa que pessoas com deficiência mental não responderiam!

E o investigador calmamente responde

- Olhe-se no espelho senhor Adonai, estamos cercados de espelhos. Olhe bem e veja quem o senhor é.

Então um dos espelhos torna-se uma pintura de um caminho entre figueiras com detalhes dourados igualzinho ao que ficava pendurado acima do sofá na casa de seus avós, ele sempre olhava para aquele caminho e pensava quando andaria por ele um dia, quando pisaria naquelas folhas úmidas pela sombra das virtuosas árvores, e então de súbito lembra-se que já fez isso.

Um forte vento começa a balançar as árvores do quadro e por detrás de uma das figueiras sai Felipe

- Ei seu maluco! Por onde você andou? Eu e o Sr. Rudolf procuramos você por toda parte!

- Felipe?!
Exclama explodindo de alegria o menino, olhando para suas mãos agora novas e pequenas como conchas do mar, e coração jovem e saudável como o de um pássaro que acabara de aprender a arte de voar.

- Claro que sou eu! Vamos pra casa logo antes que escureça! Temos que escrever uma lenda que o Sr. Rudolf me contou enquanto te procurávamos, ele teve que se retirar agora pois está ficando tarde e nós deveríamos fazer o mesmo!

O menino atrapalhado e aliviado ao mesmo tempo gagueja
- Mas, mas, como pode?

- Como pode o quê? Está tarde oras, o homem está velho precisa dormir, fica cansado logo oras!

E o menino faz um olhar mais confuso e estranho ainda
- Homem velho? Mas o Sr. Rudolf não é um bicho peludo?

Então Felipe cai na risada

- Ele é peludo sim mas também não é assim vai coitado, quem sabe uma aparada nos pelos do nariz e das orelhas resolva, mas não é pra tanto!

E o menino diz estarrecido

- Mas eu vi Felipe, juro que eu vi, e também apareceu um detetive falando sobre o suicídio de um menino que eu havia participado ou algo assim, que o senhor Rudolf era esse menino e você talvez um cumplice, não lembro muito bem, quase parece que não aconteceu!

- Quê? Você bateu a cabeça e dormiu foi? Você sumiu pelo bosque da entrada da casa do Sr. Rudolf por um tempão! Chegamos a nos preocupar a ponto de quase chamar a polícia; bom, mas que seja, o que importa é que temos a lenda e ela tem algo sobre assassinato também, um menino que na verdade é um velho que mata seu amigo sem saber que está fazendo isto, achando estar salvando a humanidade, mas adivinha qual a melhor parte disto tudo?

O menino confuso continua sem dizer uma palavra e Felipe conclui;

- É a continuação da lenda que te contei hoje de manhã! Não é o máximo? Acho que este Sr. Rudolf é mágico! Parece até que adivinhou que estávamos falando desta lenda hoje cedo! Viemos até aqui para acabar com a mesma lenda nas mãos! Mas agora com um final diferente, não é demais?!

E o menino concorda em silêncio, maneando a cabeça cuidadosamente com medo de ir parar em outro lugar, pensando que se a sala de interrogatório for a realidade ele pode despertar ao balançar muito forte a cabeça, igual sua mãe diz para ele fazer quando sente medo de um sonho ruim.
E se este momento agora for um sonho, ele prefere ficar dormindo para sempre.

FIM

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A minha Lenda é sua Mentira, a sua Mentira é nossa Verdade, a nossa Verdade é a Loucura e a Loucura é um ponto de vista

Bruno Prata