Dedicatória
Salvé minha sandra querida
Que o meu amor acalenta
Um amor que não tem medida
E não te importe entrar nos «enta»
Prometeste-me tu um dia
E é sagrado o que dizes
Prometeste-me um relógio
Para marcar só horas felizes
Devolvo-te a promessa
A de quem sente o que diz
Tenha eu nas minhas mãos
Poder fazer-te feliz
Alegre anseio ver-te
Sorrir para todo o mundo
Ver teus olhos brilhar
Com olhar vero, profundo
Acredito que vem aí
Esse dia de encantamento
O teu anjo protector
Não te esquece um só momento
ALVORADA
ALVORADA
O dia esvai-se no poente
A solidão de mim se abeira
Sede de vida em mim latente
Mas outra é a vertente
Que ao sol estende a esteira
Mas o tempo é de bonança
E da noite não tenho medo
Os ventos são de mudança
As constelações são faiança
A alvorada bem cedo
A solidão assim afronto
Expurgando o meu receio
Comigo feito o confronto
Um dia novo apronto
E nele sinto novo esteio
Da noite despi os segredos
Retomada a confiança
O luar extinguiu meus medos
E da frescura dos vinhedos
Chegam até mim enredos
Murmúrios de esperança
Olema
UM ANO DE PRESENÇA
Há mais de setenta anos que um caderninho de poemas da autoria de meu pai corria risco de extravio, viajando de gaveta para gaveta, de casa para casa, até que foi recuperado em pleno lixo. Era só mais um dia e nunca mais dele ninguém teria conhecimento.
Constituindo hoje uma preciosidade para mim, o seu extravio ou destruição seriam uma perda irreparável. Devo a este encontro com o espírito poético (que nunca sonhara) de meu pai a minha entrada, justamente há um ano, neste site, o que considero ter acontecido em boa hora, por me proporcionar momentos e leituras gratificantes.
É com este espírito que hoje torno público mais um desses poemas, homenageando o seu autor (aliás poema de «mal de amor»)
- PARTIR-
-1933 – 1934 –
Vais partir, vais me deixar,
Cansado já de esperar,
O amor que nunca veio.
Vais me deixar n’agonia,
Meu coração que um dia,
Amou o teu com receio…
…De que tu inconsciente,
Depois quando ausente,
Jamais m’evoques a mim.
Vás, talvez, evocar outro,
Que como eu não foi louco,
Em te amar tanto, assim…
…A modos de loucura,
Mas eu sinto a amargura,
Por tanto amor te ter.
Porque o teu amor cruel,
Por um desejo fiel,
Deixar-me-ia morrer…
Verissimo Salvador Correia
O Poder da Palavra
O PODER DA PALAVRA
Quem me dera a mim ter
Dentro das mãos o poder
De do mundo ser senhora
Faria justiça a preceito
Ganharia sempre o pleito
Do leão a domadora
Enterrava o ódio bem fundo
Eliminava o corrupto do mundo
Que do poder não dava mão
Pugnava pela sobriedade
Fomentava a solidariedade
Para todos haveria pão
Mas dentro das mãos eu não tenho
Esse poder que detenho
No esconso da minha mente
Mas o facto de assim pensar
Essa verdade de sonhar
Faz-me caminhar em frente
A palavra é poderosa
Tem força viril e a cor da rosa
É de um mundo novo a semente.
Olema
AQUELA QUE EU SOU
AQUELA QUE EU SOU
Serei filha do gene
De algo que a olho desarmado
Simplesmente não vê
Serei filha de um átomo
Microscópica porção
Da térrea matéria
Serei filha do acaso
Da não vontade
Do simples aconteceu
Serei filha de Marte
Se de Marte algum dia
Partícula à terra desceu
Serei filha da lua
Dessa nívea esfera
Que desde sempre me atrai
Desse hino à noite escura
Que nos fala e murmura
Romântico pedaço de céu
Porventura filha da vontade
Do querer determinado
De alguém que deveras amou
Sim eu sou filha de tudo
Do gene, do átomo, da porção
Do acaso, do amor e da lua
Mas muito das circunstâncias
Do acaso e do amor
-Da vontade do Criador.
Olema
HÁ UM SER DENTRO DE MIM
HÁ UM SER DENTRO DE MIM
Às vezes regresso no tempo
Ou é o tempo que regressa em mim
De repente sinto-me criança
Sentimento que
Enternecidamente acarinho
Porventura a criança
Que em mim habita
Que tem morada em todos nós
Valiosa herança de nossos avós
Porque mistério impenetrável
Na sua vida eu vivi
No seu sentir eu senti
Pelo seu ser passei
Num passo adiante que dei no tempo
Emergi das cinzas
Consciente de novo me fiz
Mas esse ente
Que dentro de mim mora
Às vezes sinto-o soltar-se
Mas nunca perder o modelo
Que lúcido em mim vê
Olema
ENCONTRO LUSO-POETAS
ENCONTRO LUSO-POEMAS
Nesta tarde de Outono chuvosa
De frio Inverno prenunciadora
Ufanos entre a poesia e a prosa
Vivemo-la na amizade acolhedora
Do virtual ao concreto foi dado o passo
Estranhos não o seremos nós mais
A amizade gera sadio laço
Que se não extinga jamais
Que Luso-Poemas seja um marco
Nascido para frutificar
Não será nunca lodoso charco
Mas águia que nasceu para voar
Quando do meu sonho o labor
Acolhe do outro puro apreço
Fica-me na alma o doce sabor
De gratidão que não sei se mereço
Olema
P.S. Com a ultima quadra pretendo expressar a minha gratidão
pelo carinho que me foi dispensado.
QUANDO A PALAVRA ENOBRECE
Ser poeta é querer ver mais além
Porventura ir mais longe
Em passo firme determinado
Mas envolto em calorosa aura
Transpor a mediania
Dizendo não á mediocridade
E abominando a inverdade.
E porque ser poeta
É buscar o rigor á palavra
E se tanto for capaz a melodia
Acaba de acontecer
Na bela Nitéroi
A busca empenhada
De acrisolada poesia.
Nesse Brasil distante
Mas de Portugal eterno amante
Poetas se encontraram
E sobre o nosso idioma derramaram
Pétalas de rútilas palavras
Convertidas em delirante sinfonia.
(Particularmente dedicado ao promotor do evento
José Silveira)
MEMÓRIA
Lá longe muito longe
No cinza da penumbra
Adivinho a tua silhueta
De traços que me não são estranhos
Que neles vejo a minha marca
Lá longe no inicio da estrada
Que haveria de ser a minha
Por detrás de cúmulos alterosos
Que enchem os caminhos do tempo
Enxergo o teu perfil
Como me é grato ver-te assim
Num instante que se esvai
Sinto-te viveres em mim
Saudade que não tem fim
Eterna memória de meu pai
(19/03/2011)
RESSONÂNCIAS
RESSONÂNCIAS
Na madrugada
Sonhei a manhã
Que o sol traria
O fresco da erva
Encheu-me as narinas
Do cheiro da terra
Em avalanche
Se fez o mosto
da velha videira
Ao meu pensamento
vieram desejos
Do sol que se pôe
No meu despertar
Há saudades da origem
No rouxinol a cantar
Quando o dia anoitece
A minha alma padece
saudades do dia
No meu caminhar
Sede de chegar
ao termo,ao fim.
olema