Poemas, frases e mensagens de Freya

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de Freya

*

 
Sou o 8 e o 80.
A alegria e a depressão.
Sou um vulcão adormecido.
Granada cozinhada.
Rosa-dos-ventos sem sentido.
Sou uma contradição.
Sou a doçura e a frieza.
Humildade e a arrogância.
Mão de ferro sem firmeza.
A paixão e temperança.
Nem bela nem senão.
 
*

embrulhei as palavras num abraço

 
são coisas
contidas
coisas que
querem cair
da minha boca
e eu trinco

são coisas
não ouvidas
coisas que
eu penduro
no teu brinco

é um tudo
com vontade
que me toca

é a verdade
que confusa
me sorri

é o sonho
que seguro
faço em ti

é a mágoa
que se trama
na cidade
que nos chama

e a chama
que engana

a chuva passa

pingas tiras
do cabelo
que me descem
à pontinha
do nariz
e se escondem
no teu beijo
ao recebê-lo

pronto

embrulhei todas as palavras num abraço
mas viajei de montanha russa no Espaço
 
embrulhei as palavras num abraço

Alter

 
Alter
 
- Descobri como funciona o mundo!
- O mundo não funciona.
- Mas resulta.
- Ai é?
- E resulta em quê?
- No que quiseres.
Aquele louco já me tinha avisado
...e eu via as coisas de cima,
...e achava-me um deus...
Bem o louco dizia:
- Abarcas tal compreensão!

Mal eu pensava que não existem dois lados,
Mas só um.
(Será que funciona assim?)
 
Alter

marasmo

 
esta dor de envelhecer que me consome
o espelho e que me diz o que não sou
no espírito do tempo a sede e a fome
da magia que sem querer se evaporou

na catástrofe lenta dos dias pasmos
toda a força fraqueja em frívola fé
quando a vida teia de marasmos
santifica o ócio que se tem em pé
 
marasmo

senhores do mármore

 
nesta tarde incompleta
os senhores do mármore
me calaram já

quanto mais fecho a boca
mais me engulo das sementes
nos ouvidos

nascem-me deles trepadeiras
a tapar a cara e penetram dela
qualquer orifício

senhores do mármore!
está frio!!
permitam-me que parta

parta em cacos
rumo ao deslugar
das grutas do mau feitio

aqui dentro está mais quente
mais silêncio, mais terra
mais musgo, mais verde.

a trepadeira longe de vós
ja não aperta tanto
deixa-se fluir e brota

algo que a vossa
pedra dura disfarçada de rosa
não há-de prever

senhores do mármore
o meu templo é vida
apenas...
 
senhores do mármore

10/02/2003

 
Porto, 10/02/2003
Nesta manhã cinzenta com cheiro a café e carros a passar para lá deste vidro comercial, um puto apontando para o leite achocolatado da montra e eu aqui sentada acompanhada por meio copo de água.
Amanhã tenho um exame, um curso que me tem acrescentado um pouco ao pouco que conheço.
Uma prateleira que verga com várias garrafas de litro e meio e um Santo António olhando por elas e aqueles Tic-Tac que me seduzem a imaginação do paladar.
Alguma vez chegarei a escrever o que sinto? Como os famosos poetas e escritores de romances? Será que o faziam assim, ou apenas sentiam o que escreviam?
Talvez numa vida mais além, aquela que esta contém, mas ainda não é contida, darei mais valor ao menor tempo que me resta? Os dias a sonhar a tristeza e, no entanto, conseguir olhar os dias que passam com paixão e fervor, sendo esses preenchendo a minha alma, a minha vida, o meu amor?
Felizmente insconciente numa triste consciência olhando um futuro que olha para trás contente... Como será possível?
Melancolia que se extravasa alegremente num olhar de sonho e magia... E porque choro perante a beleza das coisas? E porque rio quando alguém tropeça da rua? E porque suspiro quando alguém deixa este mundo e tento decorar a imagem do horizonte nesse dia? E porque me ponho a escrever quando o tempo urge para o exame? E porque teimo em andar mais à frente do que o que faço? Urgência no sentimento, no pensamento? Mas o corpo não responde e a alma deixa-se a andar devagar relaxada...
Nunca chegarei ao amanhã...
 
10/02/2003

Sal

 
as rugas da fome,

o tempo que resta...

a idade sem história,

sem sonho, sem nada...

a morte certeira

sem nome velada

p'la mãe descalça

escoriada de areia...

com olhos de fado...

o vento salgado

gretou a boca

do menino cansado
 
Sal

Casulo

 
Casulo
 
está colado
cravado, entranhado
vou pegar em mim
vou-me destilar!

porque sou tão cega, cega
não tenho onde me agarrar

nada me diz seja o que for
nem nada do que me possam dizer

fecho-me aqui no mundo sem nome
onde alguém que desconheço
se afigura real num manto de amor

o som das águas lava-me os pensamentos
do enjoo que é a mentira
de viver no mundo lua de alguém
que consciente me quer agarrar
na eternidade de um único beijo
autêntico e sentido

o que restou
foram todos os beijos ausentes
e o frio de uma tempestade doentia

de todas as palavras que ousei ouvir
de tantos silêncios ensurdecedores
nenhum eu pedi

se pudesse rasgar-me
evaporar-me no ar
e deixa-lo apodrecer junto com o meu corpo...
 
Casulo

Disfarçado

 
Um portão fechado
dos medos que o trancam
as frases que escapam
são a frincha dos sonhos...
Tal como a alma nos olhos
angustiada, trancada
atenta à protecção
atenta ao chão.

Só quero bem
mas mal posso ser
ao subir a escada
à frincha que me faz ver
tudo o que há além
desse gozão disfarçado
que protege sem perceber
que mantê-lo porém
é o seu maior pecado.
 
Disfarçado

Mafarrico

 
Mafarrico
 
O OLHAR FRIO
O RISO TORTO
A ALMA TRÔPEGA
UM PEITO MORTO
E CIO NO CORPO.

REPRESENTA,
GOZA,
FERVE,
CONSEGUE.

E VAI VITORIOSO
DA FRUSTRAÇÃO
A DE TER VIDA DE CÃO
E CÉREBRO RÉPTIL.
 
Mafarrico

Que sentido

 
Que sentido
 
Tomara fosses refúgio,
O meu porto seguro
E eu o teu abrigo..

Tomara fosse ventura
A nossa alma segura
E tu o meu sentido..

Tomara dessemos mãos
E olhassemos o azul..
Saltaria p'ra te apanhar.

Cairias p'ra me segurar..
Mas o vento sopra assim
E só me resta dizer não..

Como Rosa dos ventos
Divido Norte e Sul
Parada na multidão..

Viverás enquanto sentes
E sentirás o quanto mentes..

Ganhas no viver
A verdade de mim contente.
Porque no centro estarei
Mais do que toda a gente!

O possível engano
Mais não será que desatino.
Apenas um degrau
Que nos cumpre o destino..
 
Que sentido

era uma vez duas gotas

 
Duas gotas de água
saltam de uma nuvem
numa queda mágica
reflectindo o sol
como dois cristais.

Olham-se num azul envolvente
esperando que o destino as cruze
na água corrente...

Enquanto isso,
entre o salto e a chegada
(ou partida),
sentem aquilo tudo
que de bom se pode sentir:

O desejar
 
era uma vez duas gotas

saudade

 
adoro a aldeia.
o frio, as lareiras.
o cheiro a pão e a fumo.
gosto do cheiro
da chuva na terra.
e do teu perfume...
gosto da casinha de pedra,
das socas com lama,
do cão a ladrar.
gosto do que se derrama
com tanta saudade
do teu olhar...
 
saudade

notas zangadas

 
dá-me de si
o som que mastiga
e lento me fustiga.

dá-me de dó
do que me castiga
asco na barriga

vai-se de ré
explode-lhe a espiga
nasce-lhe a lombriga

dei-lhe com o mi
bateu numa ortiga
pauta duma figa!

leva com o fá
cai como viga
duma casa antiga

e acorda ao sol
com um si bemol
sem que alguém lhe diga

que se passou lá
diga p'ra que eu siga
diga minha amiga!

o que foi de si
que a levou sem dó
a fazer cantiga?
 
notas zangadas

Sopro...

 
Não tenhas medo...
É apenas o momento,
que chega...
E que vai...
Tal como tudo na vida,
esta é a constância,
onde tudo é chegada...
Onde tudo é partida...
 
Sopro...

Um adeus que me beijou a face

 
O silêncio surgiu esperado e coerente
A procura não foi mais do que a semente
Dizes não vás e eu vou porque não estás
Vou sem sentido do que fica para trás

É noite e vejo que enternecia ausente
O alimento do que falta ao que se sente
Foi um olá que me bateu na face
Me entalou eternamente no disfarce

Dia seria quando não via e enternecia
A lágrima solta caída em teus dedos macia
Foi um adeus que me beijou a face
Me envolveu por momentos no desenlace

É noite e vejo que engrandecia somente
Dia seria quando não via e enternecia
 
Um adeus que me beijou a face

Partida

 
o tempo custa
a esperança perde-se
o luar é o mesmo
e as estrelas
essas
vigiam-me
desde que delas me lembro
mas há aquelas
que deixam um rasto
desaparecendo
repentinamente
assim
espero por outra
aparição imprevisivel
duma estrela cadente
que passando
pare no tempo
me leve com o vento
sem hora de regresso

achado com uma década
 
Partida

.1

 
se eu escrevesse sem parar palavras desconexas, tu irias ler do caos, desconstruir o meu caos!
 
.1

Assim

 
Assim
 
Vives em mim
Sinto-te aqui
Vejo o teu rosto
Intrigo-te assim
Intrigada por ti.
E tenho no gosto
O brilho sem fim
Do olhar que senti.

Chamas-me assim
Mostrando-te a ti
Sorris para ali
Acertas em mim!
 
Assim

vai...

 
Deixo-me ir na leveza
Dos dias tamanhos de beleza.
No embalar da calmaria,
Tão fraterno a cada dia,
Vinda de rios de tristeza..

Deixa-me elevar-te daqui
Empurrar-te só a ti.
Eu fico por aqui..

Terás nos olhos luz presente,
No coração de quem sente.
Serás de orgulho um filho
Que brilha entre a gente..

Uma estrela, uma presença,
Um guia, uma pertença..
Recordação alegre
Respirando leve..

No viver de cada dia
Empurro-te só a ti
E fico por aqui..
 
vai...