Que sentido
Tomara fosses refúgio,
O meu porto seguro
E eu o teu abrigo..
Tomara fosse ventura
A nossa alma segura
E tu o meu sentido..
Tomara dessemos mãos
E olhassemos o azul..
Saltaria p'ra te apanhar.
Cairias p'ra me segurar..
Mas o vento sopra assim
E só me resta dizer não..
Como Rosa dos ventos
Divido Norte e Sul
Parada na multidão..
Viverás enquanto sentes
E sentirás o quanto mentes..
Ganhas no viver
A verdade de mim contente.
Porque no centro estarei
Mais do que toda a gente!
O possível engano
Mais não será que desatino.
Apenas um degrau
Que nos cumpre o destino..
era uma vez duas gotas
Duas gotas de água
saltam de uma nuvem
numa queda mágica
reflectindo o sol
como dois cristais.
Olham-se num azul envolvente
esperando que o destino as cruze
na água corrente...
Enquanto isso,
entre o salto e a chegada
(ou partida),
sentem aquilo tudo
que de bom se pode sentir:
O desejar
Alter
- Descobri como funciona o mundo!
- O mundo não funciona.
- Mas resulta.
- Ai é?
- E resulta em quê?
- No que quiseres.
Aquele louco já me tinha avisado
...e eu via as coisas de cima,
...e achava-me um deus...
Bem o louco dizia:
- Abarcas tal compreensão!
Mal eu pensava que não existem dois lados,
Mas só um.
(Será que funciona assim?)
marasmo
esta dor de envelhecer que me consome
o espelho e que me diz o que não sou
no espírito do tempo a sede e a fome
da magia que sem querer se evaporou
na catástrofe lenta dos dias pasmos
toda a força fraqueja em frívola fé
quando a vida teia de marasmos
santifica o ócio que se tem em pé
Partida
o tempo custa
a esperança perde-se
o luar é o mesmo
e as estrelas
essas
vigiam-me
desde que delas me lembro
mas há aquelas
que deixam um rasto
desaparecendo
repentinamente
assim
espero por outra
aparição imprevisivel
duma estrela cadente
que passando
pare no tempo
me leve com o vento
sem hora de regresso
achado com uma década
10/02/2003
Porto, 10/02/2003
Nesta manhã cinzenta com cheiro a café e carros a passar para lá deste vidro comercial, um puto apontando para o leite achocolatado da montra e eu aqui sentada acompanhada por meio copo de água.
Amanhã tenho um exame, um curso que me tem acrescentado um pouco ao pouco que conheço.
Uma prateleira que verga com várias garrafas de litro e meio e um Santo António olhando por elas e aqueles Tic-Tac que me seduzem a imaginação do paladar.
Alguma vez chegarei a escrever o que sinto? Como os famosos poetas e escritores de romances? Será que o faziam assim, ou apenas sentiam o que escreviam?
Talvez numa vida mais além, aquela que esta contém, mas ainda não é contida, darei mais valor ao menor tempo que me resta? Os dias a sonhar a tristeza e, no entanto, conseguir olhar os dias que passam com paixão e fervor, sendo esses preenchendo a minha alma, a minha vida, o meu amor?
Felizmente insconciente numa triste consciência olhando um futuro que olha para trás contente... Como será possível?
Melancolia que se extravasa alegremente num olhar de sonho e magia... E porque choro perante a beleza das coisas? E porque rio quando alguém tropeça da rua? E porque suspiro quando alguém deixa este mundo e tento decorar a imagem do horizonte nesse dia? E porque me ponho a escrever quando o tempo urge para o exame? E porque teimo em andar mais à frente do que o que faço? Urgência no sentimento, no pensamento? Mas o corpo não responde e a alma deixa-se a andar devagar relaxada...
Nunca chegarei ao amanhã...
Sal
as rugas da fome,
o tempo que resta...
a idade sem história,
sem sonho, sem nada...
a morte certeira
sem nome velada
p'la mãe descalça
escoriada de areia...
com olhos de fado...
o vento salgado
gretou a boca
do menino cansado
.1
se eu escrevesse sem parar palavras desconexas, tu irias ler do caos, desconstruir o meu caos!
Assim
Vives em mim
Sinto-te aqui
Vejo o teu rosto
Intrigo-te assim
Intrigada por ti.
E tenho no gosto
O brilho sem fim
Do olhar que senti.
Chamas-me assim
Mostrando-te a ti
Sorris para ali
Acertas em mim!
vai...
Deixo-me ir na leveza
Dos dias tamanhos de beleza.
No embalar da calmaria,
Tão fraterno a cada dia,
Vinda de rios de tristeza..
Deixa-me elevar-te daqui
Empurrar-te só a ti.
Eu fico por aqui..
Terás nos olhos luz presente,
No coração de quem sente.
Serás de orgulho um filho
Que brilha entre a gente..
Uma estrela, uma presença,
Um guia, uma pertença..
Recordação alegre
Respirando leve..
No viver de cada dia
Empurro-te só a ti
E fico por aqui..