Cosmovisão
Um homem sozinho
(guardado em si)
Olha o céu e suas estrelas;
É um abismo
Que olha o outro.
É o presente olhando
O passado.
É a repetição de séculos
Diante do insondável.
São sólidas solidões
Se encarando.
Um homem que olha estrelas
Nunca é o mesmo que as vê depois.
(Danclads Lins de Andrade).
Nômade
Colho aqui
E ali
Costumes
E filosofias.
Vou moldando
Princípios
E me desfazendo
De certezas.
E me basto
(In)concluso.
Signo de mercúrio
Oriundo de forças centrípetas
Vem corrosivo e deletério,
Invadindo poros,
Aniquilando ilusões…
E deságua pesado e intenso,
Á revelia dos desejos,
Explodindo no ar
E deixando para trás
Um rastro de nada…
Vaso
Alvo e imaculado
Ansiava a essência humana
Em sua expectativa ilusória
Mas viu-se logo desenganado,
Pois esta, que a todos engana,
Só lhe retribui com escória...
Gravidade
A cabeça erguida
Pendeu,
Vergada.
A liberdade dos pulmões,
Já não sentia.
Uma corcunda
Em seu dorso
Já pontuava
E o massacre
Persistia.
Sem perceber,
Já rastejava
E aos poucos
Ele sumia...
Notícia
Extra!
Extra!
Cientistas descobrem gelo
No coração do Homem.
- A presença de água
Em estado sólido
Indica que ali
Já houve vida.
(Danclads Lins de Andrade).
Narciso
Há algum tempo
O observo olhando
Para mim.
Habituei-me ao rosto
Visto no reflexo
Da água.
Mas, quem está
Do outro lado do espelho?
Quem é este estranho?
Em que lugar me encontro
Neste reflexo?
E continuamos a nos interrogar
Com os olhos...
Confuso
Declaro estar
No gozo
Das minhas
Dificuldades mentais.
Enigmática
És,
Finge.
Decifro-te.
(Danclads Lins de Andrade).
Antes...
A bala, ainda sem a carne;
A lâmina, ainda sem o pescoço;
A vida, ainda sem a morte;
O instante, ainda sem o flash
A foto, ainda sem o tempo;
O tempo, ainda sem passar;
O verso, ainda sem o papel;
A tecla “salvar”, ainda sem o toque;
O poema, ainda sem leitura.
A solidão, ainda sem amar;
O “Eu te amo”, ainda sem declarar;
O ventre, ainda sem gerar;
Ações, ainda sem ocorrer...
(Danclads Lins de Andrade).