Poemas, frases e mensagens de EdmilsonOliveira

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de EdmilsonOliveira

"O melhor retrato de cada um é aquilo que escreve". Respeito qualquer forma de escrita que reflita a alegria, a tristeza e o amor, podemos chamar de poeta quem coloca no papel alguns dos sentimentos.

Um sonho de morte

 
A imagem com que me deparei ao abrir a porta da casa que ia dar na edícula nos fundos do quintal foi arrepiante, um corpo boiando sobre as águas da pequena piscina. Ao me deparar com a cena meu corpo quis voltar, mas a curiosidade foi mais forte, eu tinha que ver o rosto do homem que boiava. Não havia sangue misturado com a água nem pelo chão ao redor da piscina, o corpo estava encostado na borda da piscina entre a parede e a escada que brilhava exibindo seu inox cor de prata, peguei uma vassoura que estava perto da porta e por nojo ou medo não coloquei a mão no corpo e utilizei a vassoura para virar o corpo. Levei um grande susto, pois o rosto era o meu e então me lembrei de que eu morri de frio ao nadar numa piscina cheia de cubos de gelo.
Dei as costas e saí correndo, fechei a porta da casa, meu filho de cinco anos me apontava o teto onde meu corpo estava pendurado, um alarme dispara na minha garagem pego uma arma sobre a estante e saio na varanda de arma em punho, minha mulher implorando para eu voltar, no escuro vejo dois homens encapuzados, ladrões certamente caminho rápido e quando chego perto do carro grito de arma apontada e já não são mais bandidos e sim dois policiais e rindo de mim dizem para que eu atire neles, apontei a arma e puxei o gatilho algumas vezes, mas todos os disparos falharam. Os policiais ainda rindo me deram ordem de prisão e passei de vítima a bandido, corri pela rua e por muito tempo, cheguei numa ponte que dividia a cidade ao meio e vendo os veículos em minha direção tomei uma decisão e pulei no rio mesmo sem saber nadar.
E no fundo do rio na tentativa de voltar a superfície vi um corpo que passava por mim, o turvo da água não me deixava ver a fisionomia do corpo, então nadei um pouco para mais perto e novamente era meu corpo, mas desta vez o corpo era o meu e eu não estava nele. Senti um terror enorme e comei a gritar de medo, de repente uma luz forte e clara entrou na minha retina me deixando cego e uma voz ao fundo que pedia calma e quando meus olhos se acostumaram com a luminosidade vejo minha mulher ao meu lado assustada, entendi que era mais um pesadelo.
 
Um sonho de morte

Tornar

 
Intenso
É o momento
Que se faz presente
O que passou
Está alí, está aqui
Está na retina
Na palma da mão
No degrau da escada
Intenso
É refazer o caminho
Tornar
Do olhar trocado
Mais que voar
Voar pra lá, voar pra cá
Voar de mãos entrelaçadas
Voar no sorriso da foto
 
Tornar

seu lugar

 
A cidade está lá fora
O vento sopra forte
Na janela do quarto
Pode vir chuva
Luz forte do sol
Eu só admiro
Seu relaxar
Não tem ruído
Só de o seu suspirar
Ofegante, febril
Dedos entrelaçados
ela jura, é não se vá
Já é noite, voou o tempo
 
seu lugar

Inspiração

 
Tão escura a névoa
Da manhã que se prenuncia
Aos olhos da noite
Minhas mãos passaram
Em branco sobre folhas
Amnésia de verbos futuros
Onde o pensamento desenha traços
Que mostra o passado em nível
Cenas e flashes dão cores à mente
Que na falta do pincel utilizo a caneta
Pois ela trás a rapidez das horas
Que mata o meu tempo demasiado
Em cartas escritas ao léu
Que pesa sobre os ombros
De um coração cansado de recordação
 
Inspiração

Jeito de amar

 
Jeito de amar

Aqui num flat
Jogado ao léu
Cama espaçosa
E o tempo que logo muda
Vem chuva, granizo.
Esse calor que abrasa
Faz-nos transpirar
Fruto da paixão
Nosso jeito de amar
Quantas luas
Teus lábios me inspirarão
Hoje tudo amanhã lembrança
Desejo um regalo de palavras
Meu caminho está cheio
De curvas escuras e este poema
Certo que foi composto
No breu de um quarto na solidão
E a mão que guiou a caneta
Foi levada pelo olhar
De uma mulher distante
 
Jeito de amar

Monarquia

 
Sobre as muralhas

...do castelo.

Grandes portais

...se abrem.

É noite de festa

A monarquia impera

Entre taças de vinhos

E javalis assados
 
Monarquia

Fogo

 
Eu ando cego
Cego estou
Se sinto febre
Febre de amor
Passa o tempo
Não muda a face
Face ao meu sonho
Não durmo, penso
Logo acordo, presente
É dia, é noite
Medos do universo
Nada me conduz
Meu ser é delírio
Seu segredo,
minha energia.
Vivo na claridade
do meu futuro em fogo.
 
Fogo

Delineada

 
Delineada

Você é curva de beleza
Como um braço de rio
De águas claras correntes
De falas rápidas e voz sublime
Que adentra como um sorriso
Você é linha reta que explode surpresa
Sorri em volume alto
Brinca com a verdade
Ofende com um sorriso
Desmancha o que está feito
Retorna calma como a lua
Nem os cabelos se despenteiam
Seja aconchego seu abraço
Sua língua pode girar
No céu da minha boca
Seus olhos são aguçados
Na foto que trago de ti
Que expande a minha retina
Ouço-te na batida
Do meu circular coração
Só queria pegar na sua mão
Entrelaçar nossos dedos
E sair por aí
 
Delineada

Brotos chineses

 
Da noite para o dia resolvi ingerir saladas tipo: alface, tomate, nabo, cenoura e brotos de tudo. Eu havia conhecido um chinês bem diferente dos chineses que a gente vê por aí, que são feirantes, donos de lavanderias ou pastelarias. Ele é doutor em química e viera para Portugal para ser professor na Universidade de Coimbra, mas não houve acerto com os portugueses e um amigo o apresentou na Universidade de Santiago na Espanha. Começou a dar aulas, mas com menos de um ano o curso foi minguando por falta de alunos e por fim, dos treze alunos sete reprovaram, aí foi o fim. Então, Wing ficou desempregado e como gostava de cozinhar, sua mulher uma chinesa baixinha de rosto em forma de lua, um corpo quase ocidental uma verdadeira gueixa de tão educada, propôs a ele abrir um restaurante, visto que, ele gostava de inventar molhos com sabores doces e diferentes, coisas de químico. E assim fez, abriu seu próprio restaurante, ela muito atenciosa se preocupava em guardar o nome de todos os frequentadores e a comida que cada um gostava inclusive o licor. Em alguns pratos sempre havia brotos que mediam dez centímetros em média com as raízes brancas expostas e geralmente com quatro ou cinco folhas verdinhas na ponta. E eu muito curioso, perguntei um dia enquanto comia o arroz de tudo, de que eram os brotos e então me contou que aprendeu com seu avô a plantar as sementes de tudo, inclusive, as que estavam no meu prato eram de soja e feijão do Brasil. Então da noite para o dia passei a cultivar sementes e fazer canteiros de brotos em caixa de isopores, latas e potes de sorvetes.
Os brotos ali verdinhos, eram tudo que eu havia plantado durante toda a minha vida, não esqueço as lições que aprendi com aquela família chinesa, que tinham bom gosto para os sabores e também para decoração, pois o restaurante deles era um fino só.
 
Brotos chineses

Esquinas do mundo

 
Não importa o clima
O dia, a noite
Haverá sempre uma saudade
Em alguma esquina do mundo
Como Madri, Bogotá, Roma
Cai sempre uma lembrança
Uma procura que trás a saudade
Uma mão que vai com a outra
Que corre na chuva
Ao atravessar depressa uma rua
Em alguma esquina do mundo
Como Paris, São Paulo, Buenos Aires
Vem à saudade
De olhos, de olhares
Do acenar de mãos
Saudades de esquinas
- Que saudades as minhas
 
Esquinas do mundo

Varanda

 
Viver é ter cadeira
Na varanda
Um jarro de flor
Uma grama verde
Pra pisar
Uma janela aberta
Na direção do sol
...nascente
E uma mão para segurar
 
Varanda

Rosa

 
A natureza opera milagres

Corta-se uma roseira

Passa dias, meses e anos

O caule seco enfeita a terra

E numa tarde chuvosa

De uma primavera

Surgi um broto miúdo

E com o passar dos dias

Cresce e desponta um botão

Que se faz pétala e rosa

E a vida voltou no meu rosal
 
Rosa

Imprevisto

 
Aconteceu o imprevisto
E dele foi criado à surpresa
E nasceu a ansiedade
...do conhecer
E no encantamento
Deu-se a insônia
E na madrugada fria
Houve a reciprocidade
...da coincidência
...do pensar
...do imaginar
Faltou o sono
Encampando a fadiga
E na iminência de amar
Veio à esperança,
...de um curto encontrar.
 
Imprevisto

Amor suburbano – Primeira parte

 
A festa foi perfeita, um casamento preparado com muito carinho e meses de espera. Artur acompanhara o namoro da prima Mara desde a faculdade, Lucas era um bom rapaz e a amava mais que tudo e já estavam juntos há cinco anos, me lembro de algumas brigas entre eles, naqueles dias Lucas não dormia e nem comia até ela voltar o namoro, parecia coisa de adolescente. Enfim, o casamento aconteceu e toda a família compareceu marcando a melhor festa dos últimos anos de Petrópolis, eu estava feliz por eles e ali na serra com toda a família reunida era muito bom. Só sentia a falta de meu pai que sempre foi à alegria em pessoa, brincando, caçoando e contando piadas na hora do almoço. Passei minha infância e adolescência alternando da escola para a loja e no fim da tarde para casa. Ainda me lembro de que meu avô me dando dinheiro e me mandando lanchar na pastelaria ao lado. Muitos dos clientes ou pessoas que entram na loja hoje foram amigos do meu avô, o qual faleceu um ano depois da morte do meu pai e o tempo parece que voou, pois já se passaram dez anos. Desde então assumi os negócios, eu filho único, foi assim meio no tranco, recém-saído da faculdade de engenharia de Arquitetura de Petrópolis, iniciei minha caminhada no comércio e por vários momentos tive dúvidas se era aquilo mesmo que eu queria ou um escritório de arquitetura na zona sul. Minha mãe foi morar na serra com minha tia Lara parte dos meus primos vivem e trabalha na serra, minha mãe diz que a qualidade de vida é melhor, o ar é mais puro e a tranquilidade dá inveja ao baixo Rio e me ligam pelo menos uma vez ao dia. Já tive várias namoradas, mas nenhuma delas me empolgou o bastante para pensar em casamento e o pior sou muito crítico por algumas vezes desisti de uma relação mesmo antes dela começar. No geral conheço bem as mulheres, tem minhas tias, primas e na loja são duas que já trabalham comigo à quase sete anos. Nunca me apaixonei perdidamente por alguém, mas acredito que nós temos uma alma gêmea escondida por aí a descobrir.
Esta semana como de costume fui almoçar no restaurante que frequento sempre, fica as uns quinze minutos da loja, uma comida boa e frequentado por pessoas que trabalham nos escritórios e clínicas da região de Botafogo. Eu estava no fim da refeição, quando surgiram no hall três pessoas, um rapaz aparentando trinta anos e duas moças, uma morena de cabelos encaracolados de estatura pequena e a outra uma loira de pele branca vestia um jeans apertado e uma blusa branca de mangas compridas, trazia uma bolsa pequena de couro e sandálias, combinando num marrom claro. Sentaram do lado oposto a minha mesa que estava perto das janelas, onde eu poderia observar todo o movimento do estacionamento e o hall de entrada do restaurante. Havia uma distância entre nossas mesas, o rapaz ficou lado a lado com a morena de pequena estatura que ficou frente para a loira. Escolheram os pratos e sucos, conversavam alegremente, a morena era todo sorriso ao lado do rapaz e a loira falava pouco. Sem perceber, já estava naquela mesa quase uma hora, por dez minutos fiquei a observar, parecia que eu estava sozinho dentro do salão, por momentos não ouvi vozes, nem tilintar dos pratos e talheres. Eu poderia ler seus lábios e fixar nos seus olhos que olhava ao redor sem fitar num ponto fixo, ela passava os olhos por mim sem me ver e eu a deleitar dos seus olhares roubados. Decidi ir embora, pedi a conta ao Zacarias o garçom que sempre me servia, já estava passando da hora do meu almoço. Levantei e fui em direção à mesa dos três, passei olhando disfarçadamente, ela me olhou discretamente, fui demoradamente para o carro e parecia que meu corpo não queria sair daquele lugar. Entrei no carro e saí em direção à loja, o trânsito estava pesado e pela primeira vez não tive pressa de retornar ao trabalho.
 
Amor suburbano – Primeira parte

Eu, você e o mar

 
Eu, você e o mar

O mar
Sempre vai estar
Como um pano de fundo
Na foto exposta
Que eu e você estaremos
De mãos dadas
E você com a cabeça
Debruçada sobre meu ombro
Sorri discretamente
Sabe que no meu peito
Meu coração bate por você
 
Eu, você e o mar

O furto

 
A pequena cidade conhecia a alegria
De Maria Isabel menina prendada
Filha única do farmacêutico Jonas
Passou toda a adolescência esperando
Um amor, puro, verdadeiro e duradouro.
Uma grande festa para a sociedade local
Foi dada para comemorar seus dezoito anos
E nesta festa compareceram
Vários rapazes amigos de infância
E que sempre cortejaram a menina
Um dos amigos trouxe um primo o Aldo
Vindo da capital estudante de medicina
Chegou à cidade um dia antes da festa
Passaria três semanas de férias
Maria Isabel dançou com todos os amigos
E por último o novo amigo visitante
Em três minutos de dança conversaram
E um encontro na sorveteria da praça
Foi marcado para domingo à tarde
A espera foi longa por toda a manhã
O encontro tímido num sorriso
A conversa girou na curiosidade dos dois
Sobre a vida e os gostos de cada um
Ele falou um pouco mais que ela
Viver numa pequena cidade como aquela
Onde poucas coisas se passam despercebidas
A novidade agora era a filha do farmacêutico
Que estava de namoro com o rapaz da cidade
Com um futuro promissor de médico
Então veio o segundo dia e mais conversas
Por longas tardes na sorveteria ou no portão
E passeios de bicicletas e por fim o beijo
Que selou o namoro e aprovação da família
Com um jantar na casa da namorada
Onde questionaram a vida do estudante
Durante três semanas correu a maravilhas
E a saudade começou antecipadamente
A bater no coração de Maria Isabel
E assim Aldo partiu, acabaram as férias.
E trocas de cartas e telefonemas semanais
Promessa de visita no próximo feriado
O que não aconteceu e cessaram as cartas
E os telefonemas foram diminuindo
E Maria Isabel triste pelos cantos
Nas noites de insônias passava chorando
Preocupava a família pelos acontecimentos
Os dias passavam e a tristeza a abatia
Os amigos vinham na tentativa de animar
Mas nada afastava a depressão da menina
E numa manhã Maria Isabel chamou o pai
E pediu para que a acompanhasse à delegacia
Onde o delegado Matias amigo de seu pai
Passava o dia, semanas e meses a ler jornal.
O pai não entendeu nada sobre o pedido
Mas acompanhando a filha a passos largos
Entrando no escritório foram atendidos
Pelo delegado quando Maria Isabel anunciou
Que queria fazer uma denúncia
O policial mandou chamar o escrivão
E perguntada qual seria a denúncia
“Que roubaram o meu coração”.
E ela conhecia o culpado pelo furto
O pai e o amigo delegado assustado
Por segundos não sabiam que ação tomar
Trazidos a realidade pela voz da menina
Que insistia em fazer a denúncia
Foram minutos de debates sobre o tema
Para o delegado era uma denúncia descabida
Era melhor que esquecesse o rapaz de vez
Mas Maria Isabel insistia em registrar
“O roubo do seu coração”.
Assim foi feito e levado o caso ao juiz
Da cidade vizinha que marcou a audiência
No dia e hora lá estava Maria Isabel
O juiz após ler a denúncia, perguntou.
O que a menina esperava com aquilo
Ela disse que queria que ele viesse depor
Que passasse vergonha perante os todos
E que pedisse desculpa em público a ela
Que isto lhe servisse de lição por enganar
Uma pessoa de coração puro e sincero
O rapaz foi chamado para depoimento
Com ele veio os pais e um advogado
O caso se arrastou por quase seis meses
Tomou proporções extras municipais
Apareceram alguns jornalistas na cidade
Maria Isabel deu algumas entrevistas
E então foi marcado o julgamento
E depois de duas horas de debate
O resultado foi lido pelo juiz da cidade
Aldo foi condenado a fazer uma nota
Onde pedia desculpas em público
E publicada em todos os jornais da região
E pessoalmente teria que ir casa da família
E pediria desculpas a toda a família
O caso ficou conhecido como: O furto do coração.
 
O furto

A pequena Glória

 
Eu acordo sempre cedo perto das seis e quinze da manhã. Eu mesmo arrumo a mesa, coloco a água do café e o leite para esquentar, faca e colher, manteiga e pão. É um ritual antes de sair para o escritório todos os dias. Pego minha pasta abro a porta do apartamento e já dou de cara com a dona Sílvia uma senhora de quase oitenta anos varrendo o corredor ela faz isso desde quando me mudei para cá a mais de quinze anos. Nunca desço ou subo de elevador até o terceiro andar são seis vãos de escada que faz bem a saúde. Chego ao hall que está vazio já não temos porteiro está muito caro, são somente doze apartamentos e todos os moradores são idosos e só temos crianças ou netos nos fins de semana e alguns gostam de receber as cartas e distribuir, se oferecem para pagar as contas é uma total harmonia aqui. Daqui para o meu trabalho são trinta minutos a pé o que faço com prazer e vou descendo já com a chave do portão na mão e ao abrir o portão me deparo com uma cena chocante, mas corriqueira que é gente deitada ao pé do portão. Só que nesta manhã meu coração doeu e até palpitou forte, estava ali deitada sobre um papelão com uma coberta fina e suja uma menina que aparentava uns dez anos no máximo. Olhei ao redor e gente passando pela calçada e o mais triste que na sua pressa as pessoas viram o rosto para o lado oposto, para talvez não sentir a dor que eu senti quando me deparei com a cena. E o que fazer naquela situação passar a chave no portão e sair caminhando na direção oposta. Olhei para os lados buscando a família ou a mãe daquela menina e ninguém por perto. E num ato impensável resolvi acordar a menina, ela despertou assustada eu do lado de dentro do portão e ela do lado de fora, perguntei se ela queria café, ela meio séria e desconfiada balançou a cabeça que sim, pedi para ela esperar, entrei no hall e peguei o elevador eu tinha pressa ela podia pegar suas bugigangas e ir embora sem comer, quando desci com o copo de café com leite e um prato com pão e biscoitos ela estava de pé em frente ao portão. Quando passei a chave no portão e olhei nos olhos dela ela sorriu, entrou sentou na escada, devorou o pão e sem olhar nos meus olhos falou baixinho: - meu nome é Glória!
Eu peguei o prato e disse a ela que iria buscar mais biscoitos e subi de elevador pela segunda vez em vinte minutos, entrei em casa e fui direto ao telefone e liguei para minha filha e pedi a ela que viesse rápido, desci com os biscoitos e em menos de meia hora minha filha chegou, conversamos com a pequena Glória por um bom tempo, de onde vinha se tinha casa, mãe e pai, quanto tempo estava nas ruas e etc.
E hoje depois de quinze anos ao abrir o portão para dar minha caminhada vejo a imagem daquela menina deitada no meu portão. O celular toca e ao atender é Glória me ligando de São Paulo para dar bom dia, ela me liga todos os dias pontualmente às sete horas, pois foi à hora que a encontrei no portão, me deseja um bom dia e envia um beijo. Diz que está saindo para a faculdade e que no fim de semana virá me visitar e diz: - Te amo vovô!
 
A pequena Glória

Inverno

 
No cotidiano
De um dia frio
E de inverno chuvoso
Lembranças que solapam
...a mente.
O sol que resiste
Em brilhar atrás
De nuvens cinzentas
O amor é tão amarelo
No dia a dia
Mas é no calor
Dos lençóis
Que o amor é azul
A tua pele clara
E rosado o seu vulcão.
 
Inverno

Quarta-feira de cinzas

 
Quarta-feira de cinzas

É carnaval
Lá fora chove
O céu está cinza
O asfalto é úmido
A água escorre
Em direção aos bueiros
Carregam o brilho
Das serpentinas
O adereço do folião

Já é quarta-feira de cinzas
Lá fora chove
A alegria passou
Os sonhos foram vividos
A que voltar a realidade
Outros ainda viverão em sonho
Por não ter o original
É quarta-feira
Lá fora chove
Cinzas de sonhos.
 
Quarta-feira de cinzas

Primeiro poema (estivais estudantis)

 
Lembrei-me de quando eu escrevi meu primeiro poema ou minha letra de que deveria ter sido musicada pelo meu amigo Sebastiãozinho, que só vista pelo meu outro amigo José Luiz e depois a folha se perdeu no tempo, só me lembro que seu título era (Rapaz) inspirado no movimento musical dos anos setenta, ou seja, a nossa MPB que já esta ficando velha.
Como eu disse nosso amigo Sebastião o escurinho mais branco que já conheci em toda a minha vida, estudava violão, e compunha algumas músicas. Naquela época cada escola da região realizava seu festival de música onde os estudantes se apresentavam, vinha gente de todo lugar e a premiação era bem humilde como um troféu, um violão ou um diploma. Eu que passei algumas férias em Minas propriamente em Formiga na casa da minha tia Ana, lá meus primos Ricardo e Renato tinham começado a estudar violão e eles tocavam algumas músicas como (Rua direita) e outras que utilizavam somente duas ou três notas. Eu no embalo ali juntos por quinze dias comecei aprender a batida e algumas notas, evoluí um pouco durante alguns anos, mas o forte mesmo foi aprender a batida da bossa nova que é o único talento que ficou daquela época que ainda levo timidamente.
Voltando aos festivais o Sebastião precisava de ajuda um segundo violão e uma percussão de levinho, para acompanhá-lo em alguns festivais pela região como Volta Redonda e Barra Mansa.
Então, treinei algumas notas o Zé Luiz também ensaiou a percussão, na época fizemos alguns festivais,cheguei acompanhar uma menina que eu nem conhecia, ficamos sentados do lado de fora da quadra esportiva por mais de quarenta minutos ensaiando uma musiquinha e depois na hora da apresentação foi um fiasco, eu que mal tocava violão levei e ela cheia de coisa nem chegou ao meio da canção amarelando e desistiu, levamos a maior vaia e depois tive que voltar para acompanhar o Sebastião que mais tarde passou ao estudo do piano e abriu uma farmácia se formou e não tenho notícias dele hoje. O Zé a gente se fala de vez em quando é casado com uma amiga de escola da época.
Sei que foi uma experiência e tanto que nunca vamos esquecer com certeza, mas como eu disse no início após aquele primeiro poema e algumas cartas que eu escrevi a pedido do meu amigo Gavião que é outra história que vou narrar em breve, eu só voltei escrever duas décadas depois, anos setenta, quem viveu, viveu.
Março/2010.
 
Primeiro poema (estivais estudantis)

Edmilson Naves