F ugi de mim
F ugi de mim um dia
A ssim sem mais nem menos
Z arpei da minha memória
E rrei pelo pensamento
R ecuei para a frente
A marrei o meu lado mau
M atei o desconsolado
O uvi a minha voz
R umei a ti sem destino
É s um ser delirante
B uscas o que te apetece
O cupas os meus sentidos
M oras em mim quando fujo para ti.
(acróstico de Bruno Cunha)
eu desço
eu
desço
seguro
o degrau
passo a passo
caminho descendente
talvez a caminho de nada
com os olhos postos no seguinte
degrau, passo a passo, passo a passo
não corro, para não me estatelar e magoar
para não soltar ais e uis e rebolar até ao fim
eu
desço
de novo
o degrau
passo a passo
caminho descendente
talvez a caminho de nada
com os olhos postos no seguinte
degrau, passo a passo, passo a passo
não corro, para não me estatelar e magoar
para não soltar ais e uis e rebolar até ao fim
eu
desço
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(poema de bruno cunha, in http://1-por-dia.blogspot.com)
Santinho
Santinho,
o espirro
do diabo,
o cerco
do malfadado,
o estrondo
do coroado.
Santinho,
estás
perdoado.
(de bruno cunha, in http://1-por-dia.blogspot.com)
Outros tempos
Fugiu o arranhão para a cara dele. Não foi de propósito mas dois fios de sangue engrossaram e os pingos cairam na t-shirt azul clara. Era velha, mal passada, puída de alguns verões.
"Gosto tanto de ti."
Seguiu-se uma chapada, uma resposta firme, culatra puxada atrás. Na cara dela uma mão ficou marcada e as lágrimas cuspiram-se dos olhos.
"Obrigado, fica-me tão bem esta cor."
O corpo maciço do homem projectou-se para a frente, encurralando-a no canto da divisão vazia. E de novo a sua mão silvou no ar, atingindo a mesma face, agora ainda com mais violência. A cabeça dela bateu com estrondo na parede mas não disse ai nem ui.
"Tu fazes-me tão feliz, sabias?"
O medo e a humilhação puseram força e toneladas de ódio no seu joelho. Atingiu-o com toda a força, ali, onde a sua virilidade se concentra mas pateticamente, quando atingida, se dobra num urro e num tombo no chão.
"Amor, ficaremos juntos para sempre."
Um momento em suspensão, um silêncio a prenunciar tragédia? Quem sabe...
Ele, no chão, impotente para se erguer. Ela, pregada à parede, a cara num inchaço escarlate.
No ar as memórias esvoaçam, escapulindo-se por todos os buracos e frinchas. Aquele Verão de promessas já ia bem longe, escamando-se da pele em alegrias que agora não eram mais do que uma caspa a sacudir.
"Até que a morte nos separe?"
Só a morte os poderá separar.
(de bruno cunha, in http://1-por-dia.blogspot.com)
Entre
.Entre pontos.
,ou entre vírgulas,
– Entalo-me entre travessões –
Abro um parentêses ( mas não o fecho
e a caixa baixa dá lugar à CAIXA ALTA
Aborreço-me e suspendo este exercício.
Ele tem algumas reticências...
(de Bruno Cunha, in http://1-por-dia.blogspot.com)
ardem-me os olhos
:´(
ardem-me os olhos,
sobem por eles os vapores
da lixívia.
e a esfregona desliza
para depois provar
que o algodão não engana
e tu foste-te embora
como a poeira que deixa
a água do balde
barrenta
e que depois se despeja
sem remorsos.
mais choram os meus olhos
:´( :´(
na descasca da cebola.
e pela minha face
desliza uma bola
salgada,
transparente,
tempero de refogados,
no corte do dedo,
coração com medo
que também chora
a tua partida
e o sangue vertido,
cabidela ou sarrabulho
do nosso separar,
descascar
na cozinha vazia
e sentir o teu antigo
espaço
também vazio.
:´(
e eu cozinho só para mim
e não me resta nada mais
do que salgar ainda mais
o repasto que depois
será demais
pois irá sobrar
com a tua ausência
que eu mastigo sozinho
:´(
(de bruno cunha, in http://1-por-dia.blogspot.com)
Distância
Custa-me esta
distância.
Preferia estar muitojuntoati,tãojunto,semnosdescolar-mos1dooutro.
Mas o medo FALA MAIS ALTO.
E assim a nossa distância
aumenta.
Até ao infinito.
Ou lá perto disso.
(de Bruno Cunha, in http://1-por-dia.blogspot.com)
Fugaz
Fizeste aquele teu olhar, o que me tramou
Eu falei e falei e fingi não reparar
Irritação fugaz, reparei sem que reparasses
Trazias pedaços de fruta madura no corpo
"Isso será bom de provar?", matutei...
Coube a mim decifrar essa tua magia
E eu fui um joguete para a tua pele tostada
Incorporar-te em mim seria o tal delírio
Razão que me foge da alma e corpo feito sensível
Afinal, amanhã, já me esqueci de ti e de mim.
(poema de Bruno Cunha, dedicado à Elsa)
Perfilados em formatura
o o o o
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Perfilados em formatura
Soldados aguardam ordens
Não perdem a compostura
Vão batalhar desordens.
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Todos hirtos, em sentido
Calam o medo na expressão
Sabem todos o perigo
Mas gritam "Sim, meu capitão!"
(de bruno cunha, in http://1-por-dia.blogspot.com/)