Poemas, frases e mensagens de gabriela r martins

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de gabriela r martins

..............................nonsense II

 
as palavras e as máscaras
são
solidões remissíveis
não
actos e ambivalências
são
silêncios subservientes
não
verdades omitidas
são
doutas cátedras
não
permanentes desertos
são
inteligentes anversos
não
secretos anátemas
são
dejectos

não
Eurydice
 
..............................nonsense II

....................poema bailarino

 
dói.me o parto
da palavra composta
entre mim e ti
e nos ramos das árvores
abertas
o poema escorrega
pelo sol
e deixa.se ficar leve
muito leve

no recanto da folha
flor
desce
para de imediato
se elevar

e a dança do parto
reinicia.se

além de mim
aquém de ti

no poema bailarino
 
....................poema bailarino

.........................................rugas

 
há braços no lodo silêncio no cais

.as gaivotas rasam os barcos
e estes trazem rostos sulcados
.abraços
.
.
.
rugas

são estradas
percorridas pelos ventos

.o sul é agreste

.os meninos calçados
de alpergatas
usam rugas nos pés

.nas mãos a geada
greta Na faina
sagram
as tardes azuis amargadas pelo
frio
dos humanos

pais
 
.........................................rugas

................................renascimento

 
gerada na lágrima da flor
virginal

em aparente jardim ou
universo

eis o princípio do poema
que em mim renasce

amor

finito
 
................................renascimento

..................................rendição

 
recostei.me no meio do teu sorriso
e deixei.me ficar sem ousar o tempo
ou o espaço finito do sim e do não

adormeci no cansaço

quieto
sensorial

qual adolescente que se perde
no primeiro beijo



amante

rendo.me

à evidência

de um acorde
 
..................................rendição

..........................a flor

 
imaginei.te
primeiro a sépia depois
a preto e branco
verifiquei que ficavas não igual
a ti

usei o pincel e
não gostei

derramei vermelho no teu cabelo e
misturei o branco nas madeixas
do teu corpo verde esguio

fotografei.te
e
revi o mistério da
metamorfose
em computador

I print you

em flor
 
..........................a flor

.............................ainda abril ( 25 de abril de 2006 )

 
O rasto
da palavra perdeu-se muito
além

Aquém
ficou a cantiga e
o refrão
por florir

ontem
trazias preso ao bordel
de peregrino
a flor e
o canto
chão porque

além Tejo
amou

hoje
resta o grito
o sonho
a rosa

por cumprir
 
.............................ainda abril ( 25 de abril de 2006 )

rosa iniciática - 17 de março de 2006

 
o verso agita-se

na
mão direita
afinam-se os instrumentos

os poetas
contemplam a noite

dos amantes
restam voos

sentados
os corpos esperam
a orquestra vestida a rigor

o glamour
das damas pavoneia as asas do pavão
ferido de morte

silencia-se
a contemplação da faces
percorridas por libidinosos desejos

os dedos nas cordas dos instrumentos náuticos
tocam o sopro do vento

pianíssimo

nas veias abertas
das gitanas estrofes

tambores rufam
no conforto das emboscadas africanas


Moda
São Carlos Paris Scalla Nova Iorque

o coito da mulher

(burka ou o casto
amor )

abafado no desassossego das coifas
púbicas
de velhas ninfas sonhadoras

Fashion

o poema do solista
solto na partitura anorética

O POETA

louco
 
rosa iniciática - 17 de março de 2006

......................................é poeta

 
tem rugas
na face / ‘nha mãe Rita
calos nas mãos
gretadas

da fome

seus olhos
não olham
vêem / Clara
a noite
vestida
de leões
amarelos

as estrelas
vestem
a madrugada
a duas mãos

sós

quem ensina
o caminho
de regresso
ao nada
?

Rita
‘nha mãe / crioula
?

sinhá
 
......................................é poeta

um jardim à beira mar ... ( a sophia de mello breyner andresen )

 
regressa a poesia
à casa mãe

ao mar?

se
hydra cala
o significado frio
das ondas rasas


alguém chora o canto
duma poeta maior

onde se guardam
os sonhos dos deuses?

na tarde

há sopros de vento frio
e
o silêncio amora a maresia

é tarde

demasiado tarde

meu amor
quando a noite

abraça e mergulha

o luar
 
um jardim à beira mar ... ( a sophia de mello breyner andresen )

.................................o espírito do lugar

 
há espíritos
chegados à memória
dos lugares

concentrados em volta das caravanas de turistas ingleses
surpreendidas no espanto do deserto
iluminado pelo fogo da sábia palavra

no ocaso
as estações soltam-se ao ritmo
da água que verte da mão direita do escriba
cosido
na última
prega da túnica de
Néféret

Sono
saqueado da pirâmide
assassinada

Barco/túmulo
da mulher cónica

que Mênfis transporta e
deifica no remo/ramo
da acácia

vida
 
.................................o espírito do lugar

telas e o silêncio dos amantes

 
…………………………………………tela I

sei que já não és o branco
da ave que havia na minha tela

perdeu o jardim o verde e
rasgou o castanho a terra

há um secreto silêncio feito para ti
pássaro azul

.
.
.

escusa

o poeta pintor
sou eu

………………………………………………………tela II

sento.me em frente da tela
vazia
e olho.a ao longo do pincel
absorto em azul

espalho.o em pensamentos cruzados
e rebato.o

imperturbável
senhora da cor e do movimento

quente
sensual

um rosto de menina percorre o espaço
fechado do não querer

.
uma mão

……………………………………………………tela III

rasgo a palavra e verto.a na cor que trazes
inserta na tela dos sentimentos oblíquos
tortuosos

largo o pincel

deixo.o pendurado no silêncio
do impossível retorno

nada é exacto
nada
o igual nunca existiu
em si

nada

além duma tela em branco
como premonição de

Thanatos

…………………………………o silêncio dos amantes

falam de amantes
como se amantes fossem
as marés de fogo

ardem

em sol
ou em canto de mês de Julho

há frutos presos aos ramos das árvores e
os trilhos das cidades deixam.nos
muito mais ausentes e
sós

trovadores são de sonhos soltos
em plena nidificação

os amantes

não ousam perturbar
o silêncio

.
.

há margaridas pintadas nos umbrais das portas
 
telas e o silêncio dos amantes

...............................três variações para o mesmo tema .primavera

 
I
adormeço no sussurro do vento
e a vida
confessa.se em mês de Março
no sentido primeiro
da folha

.ao renascer.

II
na sagração
da vida
as árvores revestem
o verde
e a folha recomeça
a dança

do ventre
em grito prematuro

III
convencionou.se o ritual
das estações
e o renascimento
selou

o princípio de uma nova
velha era

anulou.se o feitiço

.prima Vera.
 
...............................três variações para o mesmo tema .primavera

................................regresso

 
como a ave que adormece
entre as mãos ausentes do poeta

retorno ao húmus da terra

exangue

para continuar
humana
entre as pedras e as árvores

densas

da barbárie
 
................................regresso

....................nonsense 8

 
o silêncio
desce

aspiro
a essência

e

visto
as palavras

sem ser
alguma
 
....................nonsense 8

.............................o mar

 
o mar devolve a tua imagem
em vento e

eu procuro num grão de areia
o beijo
com que o luar cativou

a bruma
 
.............................o mar

....................e?

 
não rimo nem remo nem rumo
ao encontro de alguém
sou um vagabundo

solitário

e

suspenso na rima do verso
guardo.me no silêncio

de um barco sem remos

de uma solidão

sem rumo
 
....................e?

.....................................mãe.mar

 
o húmus
mulher
gera
a palavra

SER

é princípio
carnação
vida / água
sangue / lágrima
selada
na mão
que
trabalha

além

embala
o dia
e
sopra
o medo
fácil

aquém

é seiva / carne
é huri / mãe
é huria / mulher

mar
 
.....................................mãe.mar

...............................áfrica

 
pendão rubro
desfralda
a face negra da estrela
fogo

o canto
da noite cálida
é sussurro / mágoa
de além mar
sinhá

Flô/Rosa

botou
lírio ciciado novo
na agreste
leste
sanzala

África

continente

mãe
 
...............................áfrica

........................um outro 25 de abril

 
descrevo o voo da ave
na palavra que se quer una

meu amor

no corpo do melro
negro de bico laranja
há solfejos do nosso luto
e
nas notas soltas
do meu sorriso/farpa
move.se
o espanto do animal
ferido de morte

[o canto maior
do sonho
sabe a nós]

meu amor

tudo o mais
é o gesto inacabado
dum a deus
às madrugadas
confiantes de um outro abril.
 
........................um outro 25 de abril