.................................o espírito do lugar
há espíritos
chegados à memória
dos lugares
concentrados em volta das caravanas de turistas ingleses
surpreendidas no espanto do deserto
iluminado pelo fogo da sábia palavra
no ocaso
as estações soltam-se ao ritmo
da água que verte da mão direita do escriba
cosido
na última
prega da túnica de
Néféret
Sono
saqueado da pirâmide
assassinada
Barco/túmulo
da mulher cónica
que Mênfis transporta e
deifica no remo/ramo
da acácia
vida
telas e o silêncio dos amantes
…………………………………………tela I
sei que já não és o branco
da ave que havia na minha tela
perdeu o jardim o verde e
rasgou o castanho a terra
há um secreto silêncio feito para ti
pássaro azul
.
.
.
escusa
o poeta pintor
sou eu
………………………………………………………tela II
sento.me em frente da tela
vazia
e olho.a ao longo do pincel
absorto em azul
espalho.o em pensamentos cruzados
e rebato.o
imperturbável
senhora da cor e do movimento
quente
sensual
um rosto de menina percorre o espaço
fechado do não querer
.
uma mão
……………………………………………………tela III
rasgo a palavra e verto.a na cor que trazes
inserta na tela dos sentimentos oblíquos
tortuosos
largo o pincel
deixo.o pendurado no silêncio
do impossível retorno
nada é exacto
nada
o igual nunca existiu
em si
nada
além duma tela em branco
como premonição de
Thanatos
…………………………………o silêncio dos amantes
falam de amantes
como se amantes fossem
as marés de fogo
ardem
em sol
ou em canto de mês de Julho
há frutos presos aos ramos das árvores e
os trilhos das cidades deixam.nos
muito mais ausentes e
sós
trovadores são de sonhos soltos
em plena nidificação
os amantes
não ousam perturbar
o silêncio
.
.
há margaridas pintadas nos umbrais das portas
...............................três variações para o mesmo tema .primavera
I
adormeço no sussurro do vento
e a vida
confessa.se em mês de Março
no sentido primeiro
da folha
.ao renascer.
II
na sagração
da vida
as árvores revestem
o verde
e a folha recomeça
a dança
do ventre
em grito prematuro
III
convencionou.se o ritual
das estações
e o renascimento
selou
o princípio de uma nova
velha era
anulou.se o feitiço
.prima Vera.
................................regresso
como a ave que adormece
entre as mãos ausentes do poeta
retorno ao húmus da terra
exangue
para continuar
humana
entre as pedras e as árvores
densas
da barbárie
....................nonsense 8
o silêncio
desce
aspiro
a essência
e
visto
as palavras
sem ser
alguma
.............................o mar
o mar devolve a tua imagem
em vento e
eu procuro num grão de areia
o beijo
com que o luar cativou
a bruma
....................e?
não rimo nem remo nem rumo
ao encontro de alguém
sou um vagabundo
solitário
e
suspenso na rima do verso
guardo.me no silêncio
de um barco sem remos
de uma solidão
sem rumo
.....................................mãe.mar
o húmus
mulher
gera
a palavra
SER
é princípio
carnação
vida / água
sangue / lágrima
selada
na mão
que
trabalha
além
embala
o dia
e
sopra
o medo
fácil
aquém
é seiva / carne
é huri / mãe
é huria / mulher
mar
...............................áfrica
pendão rubro
desfralda
a face negra da estrela
fogo
o canto
da noite cálida
é sussurro / mágoa
de além mar
sinhá
Flô/Rosa
botou
lírio ciciado novo
na agreste
leste
sanzala
África
continente
mãe
........................um outro 25 de abril
descrevo o voo da ave
na palavra que se quer una
meu amor
no corpo do melro
negro de bico laranja
há solfejos do nosso luto
e
nas notas soltas
do meu sorriso/farpa
move.se
o espanto do animal
ferido de morte
[o canto maior
do sonho
sabe a nós]
meu amor
tudo o mais
é o gesto inacabado
dum a deus
às madrugadas
confiantes de um outro abril.