Mãe
És o meu anjo da guarda
Quem me orienta o caminho
Quem está sempre na retaguarda
Acolhendo-me no ninho
És mais do que amiga
És amor
Um que de tão grande não cabe
Num poema seja de quem for
Por isso o papel é curto
E a inspiração escassa
Para te escrever o que sinto
Quando a tua ausência por mim passa
Não deixes nunca de estar
Por muito que te desiluda
Tenta sempre perdoar
E nunca te quedes muda
Tuas sábias palavras
São sempre meu melhor alento
Evitam as minhas lágrimas
E servem-me como unguento
Ser Poeta
Quantos Amores pode um coração abarcar
Quantas Mulheres pode um poeta amar
Quão Omnipresente pode um amante parecer
Quantas Raízes pode um Homem estender
Que Ilusão pode o escritor provocar
Qual Manto branco cobrindo a carência alheia
Quanto Encantamento na alma feminina semeia
Enquanto Narra com sapiência o verbo amar
Esse Sentimento verdadeiro que qualquer uma anseia
Esse Ondular inquieto que as desnorteia
Como Água solta escorrendo por si adentro
Um Paraíso desenhado letra por letra
Uma Aguarela pintada em cada texto
Um Lampejar de alma em cada verso
Uma Aurora boreal manuscrita a pena
O Verbo ser conjugado antes do poeta
A Realidade mesmo que dura tornada amena
O Acordar para escrever que não se condena
Noites de pluma
Dias de bruma
Noites de pluma
Dias com sol encolhido
Noites de leve odor
Saudade do amor vivido
A falta que instala a dor
Guardei teu cheiro num frasco
À noite exercito o olfacto
Impregno-me de ti até ao casco
E estabeleço com o escuro um pacto
Os homens espertos temem as mulheres inteligentes
Os Homens espertos temem as mulheres inteligentes.
Mais que mulheres modelos ou modelos de mulher eles temem verdadeiramente as mulheres inteligentes.
As mulheres modelos em corpo e cara, capazes de fazer parar o trânsito e crescer em transe, não os assustam, antes incitam. Qualquer homem minimamente esperto sabe que uma embalagem atrativa que nos faz saltar os olhos de órbita e correr a retirá-la da prateleira para o carrinho, acompanha por norma um produto de menor qualidade. Tem a ver com as regras de marketing, tem a ver com a norma da compensação, tem a ver com a lei das probabilidades. Se um produto tem concorrentes nos mesmos mercados (prateleira ao lado no supermercado) de melhor qualidade, só tem uma alternativa, associar ao seu produto algum fator diferenciador, que pode até ser o aroma, mas o mais fácil é apelar à visão do consumidor, ou seja ao pacote que o chama. Assim todo homem esperto sabe que a embalagem atrativa é capaz de fazer crescer volumes de negócio, incitar consumos impulsivos, e abrir mentes de consumidores vorazes apelando a todos os sentidos por sugestão. Um sumo que até pode saber a xarope para a tosse ou a óleo de fígado de bacalhau, se for acompanhado de uma imagem marcante em beleza, em sensualidade, em cor e forma que incita e atrai, até se bebe com prazer verdadeiro pelo poder da sugestão.
Por outro lado, qualquer homem esperto, principalmente se estiver habituado a negociar, conhece a norma da compensação, sabe que nos negócios como na vida uma mão lava a outra e não há bela sem senão ou não se dá ponto sem nó. Ou seja a criação, por norma e provavelmente, associa novamente uma bonita embalagem a um conteúdo de menor valor, compensando um pelo outro e vice-versa. Se pensar nas mulheres completas que conhece em beleza interior ou em capacidades intelectuais, essas provavelmente não devem muito a beleza.
Assim o homem esperto sabe que, por norma (falo de regras que têm exceções, como é obvio) a divida das bonitas à inteligência é igualmente residual e por isso são mulheres maleáveis e manipuláveis com alguma esperteza e saber.
As mães devotas, as donas de casa completas, igualmente não os assustam. Consideram-nas objetivos a alcançar para acompanhar uma vida, pelo menos enquanto donas da sua casa - para alguns nunca chegarão a ser donas do seu coração – mas para donas da sua casa todos as querem.
Agora, meus amigos que gostam de me ler e o fazem para lá da trigésima segunda linha de texto, eu vos digo que o que assusta um homem esperto é mesmo uma mulher inteligente. Coloquem uma mulher inteligente a ser mais perspicaz que eles em algumas situações concretas e é vê-los fugir a sete pés e a colocarem-se a milhas aéreas num instantinho. Chegam a temer pela sua saúde mental, acham perigosíssimo associarem a sua vida a uma mulher inteligente. Bloqueiam qualquer evolução de sentimento que possa trair a sua racionalidade. E afastam-se discreta e pausadamente como fariam perto de uma serpente. Porque todo o homem esperto como António Lobo Antunes, sabe que são precisas muitas mulheres (bonitas) para esquecer uma mulher inteligente.
ADOPÇÃO DE ANJOS SEM SEXO POR CASAIS DO MESMO CORAÇÃO
Como alguém pode considerar indigno, uma criança ser criada fora da família tradicional – que sabemos algumas integram as tradições que a seguir vos conto e que uns quantos de vós imaginam - ou que pais e mães que amam o seu mais próximo, profunda e calmamente, de tal forma que enfrentam em nome desse amor, sociedades estigmatizantes e cruéis, como nenhum heterossexual seria capaz de enfrentar mesmo sendo igualmente Homem ou Mulher com letra maiúscula. Porque são esses os generosos e abnegados que chegue para amar e acolher como seu, um menino de Deus, abandonado à sua sorte. E que esses humanos que nada têm de diferente além de trocarem afetos de forma pouco tradicional na sua intimidade, sejam piores exemplos de valores de família, que as tradicionais famílias, que à bom Português discutem à mesa e espalham desamor baseado no baton da lapela do smoking, ou nas excessivas entradas no cartão de crédito, porque é nesses cenários que alguns destes ofendidos com as propostas e que votaram contra, cresceram e se fizeram homens e mulheres tristes, que só conhecem o cinzento ou o azul-marinho. Mas se Deus nos deu capacidade de amar ou odiar, de olhar, de sentir, de cheirar, de gostar ou de detestar, e criou um mundo com tantas disparidades, icons e avatares, porque não havemos de ser tolerantes com os que com essa capacidade de gostar, amam o seu igual, e com a capacidade de detestar sintam coisas menos boas pelo seu oposto. Pois se esses são igualmente capazes de fazer coisas grandes e recheadas de grandes coisas, e colorir o mundo com uma diversidade de pantones que sirvará de inspiração a criativos e artistas a pintá-lo mais tolerante e não opressor. E por outro lado, respondam-me a isto é menos repugnante ou capaz de enquadrar uma familia mais tradicional o estrupador que só viola meninas ou a pedófila que só abusa de meninos, e não os outros? Não é a orientação sexual que faz das pessoas montros assustadores sem valores que saem para ai a viver a sua intimidade à frente das crianças, mas o seu mau interior e os maus valores e comportamentos desviantes criados, alguns deles nas ditas familias tradicionais. Não confundam ou leiam enviesado porque comportamentos desviantes não são orientações sexuais, nem são as orientações que promovem comportamentos desviantes. Sandra Correia PS - Para que se saiba sou heterosexual assumida, mas porque sou Mulher Mãe (com duas maiusculas) não sou capaz de passar indiferente à intolerância e estupidez humana...
Dois dedos de Prosas Socialmente Responsáveis e Politicamente Incorrectas
Dois dedos de Prosas Socialmente Responsáveis e Politicamente Incorrectas
Noite sem Lua
Mais uma noite sem lua cheia. Uma noite mais, nublada e fria. A lua teima em não vir. Emigrarei para o lado de lá do planeta, se preciso for, em busca da lua perdida. Que dia me pode esperar amanhã, depois de noite sem lua? Nublado e frio outonal, com certeza. O que vale é que é sábado e posso dormir até mais tarde. Não verei certamente o nascer do dia nublado. Também que beleza pode ter o nascer de um dia mais, nublado? A beleza de um dia nublado e de frio outonal é ficar na cama enrolado no meio de cobertores e com a companhia certa. Mas quem será a companhia certa para um dia nublado debaixo dos cobertores? Alguém solarengo, seguramente o mais indicado. Também poderei partir em busca de novos mercados de pessoas solarengas. Os países ricos da Europa não têm muitos dias solarengos mas acredito que as pessoas mais solarengas residem aí? O sol quando nasce de facto não é para todos, como alguém já disse um dia. E os que nos governam estão fartos de colocar nuvens nos nossos dias. E ainda atiram “Vão procurem países mais solarengos, enquanto nós cá ficamos a roubar à descarada os pacóvios e velhos que cá ficam, tornando os seus dias cada vez mais nublados”. Revolta-me e indigna-me a influência dos governos que se sucedem no estado do tempo, são piores que qualquer superfície frontal.
In-temporal
O tempo do poeta não é o mesmo dos comuns mortais
O poeta conduz emoções à boca e ponta dos dedos
Em menos tempo do que esfrega o olho satanás
Vive cada segundo mergulhando num mar de letras
Não como se fossem as ultimas mas a introdução
Para um resto de vida que pode até acabar amanhã
Mas que vive sempre procurando um final feliz
E uma história por pequena que seja
Pouco importa
Desde que seja bem preenchida
Anseia até nunca começar se for para mal acabar
Ou nunca ansiar se for para não começar
Mas o maior problema do tempo do poeta
É a ausência das letras, das silabas, das palavras, do texto
Aí o poeta ressaca feio e pode até desfalecer sem freio
Colocando emoção onde não era suposto
E retirando encanto ao que lhe daria gosto
O poeta não tem relógio, não mede o tempo,
Conduz-se ao sabor do vento
Ao odor do pressentimento
Tateando cores rosa purpura
Que lhe cantem ao ouvido melodias sentidas
[Daquelas que apenas para o poeta fazem sentido]
Porque este é capaz de alcançar ver para lá do escrito
E não suporta que lhe troquem o não dito pelo dito
Ilia Mar
Morrer e matar
Morreu o branco, estava demasiado debilitado e doente e as gotas de leite não foram suficientes para o fazer ultrapassar os maus tratos da sua curta vida.
Como custa pôr fim ao que quer que seja… Não um fim de até já, não um fim de logo ligo, mas o fim definitivo da alma a esvair-se para o céu.
Se deste fui curandeira de outros já fui carrasco. Custa-me sempre da mesma maneira…Apague eu a luz ou lute tentando mantê-la acesa, a angústia de me sentir falhar dói mais do que a perda. Neste falhei porque não fui capaz de o fazer vencer a doença, em outras ocasiões outras enfermidades também me venceram e noutras ainda eu própria os matei. Esvaí-lhes a alma juntamente com as cicatrizes para que não me marcassem a pele.
Mas isso foi noutras ocasiões e outras conjunturas, aqui, apesar das feridas, reflecti; Afinal para quê matar se ele próprio já se enforcou duas vezes? E como esvair-lhe a alma se parte da minha iria agarrada?
Estou com saudades
Estou com saudades tuas
Do teu cheiro doce e quente
Das nossas peles nuas
Enroladas qual serpente
Estou com saudades nossas
Dos momentos de carinho
De namorar feito corsas
De nos ter sozinhos no ninho
Estou com saudades de ti
Do teu suor morno em mim
Viver o romance que li
Num devaneio sem fim
Estou com saudades de nós
Do sussurrar leve e cálido
Do arrepiar à tua voz
Em noites de cenário plácido
Entre o sol brilhante e a lua errante
Entre o sol brilhante e a lua errante prolongo esta paixão que me traz em pulgas, e me expõe a cada instante. Entre o nascer e o apagar da luz, arrasto este sentimento que cresce exponencialmente embora em silêncio, abrindo-me um sorriso que ilumina a noite incandescendo. Quando se fará isto que sinto audível em ti, sem sombra de duvida que assuste crianças no escuro, conduzindo teus dedos a meus cabelos rubros, teus lábios a minha pele pintalgada, teu ombro a minha cabeça deitada. Te espero ao amanhecer como quem aguarda o “trem das onze” que o há-de levar a casa. Te aguardo ao anoitecer com a vontade de desarrumar camas e salas, cobrindo-as de peças de roupa soltas, pipocas douradas, e caixas de chocolates recheados acabados. Podes chegar de manhã com um beijo apenas, mas prolonga-o, prolonga-o, prolonga-o. Apenas um, mas que seja longo e goooood.
Ilia Mar