Poemas, frases e mensagens de Ilia Mar

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de Ilia Mar

Amor sem tempo e sem espaço

 
Mesmo que o amanhã nasça nublado será primavera em meu peito.
Doce primavera em que acordo depois de te sonhar a meu lado velando meu sono discreto.
Assim, soltarei sorrisos e cantorias no banho, enquanto te penso cálido lavando meu corpo quente.
Depois secarás com carinho minha pele, e cuidarás de a hidratar com cheiros de ilha deserta, onde o sol nasce posto, odorando tudo em que toca.
Sairei ainda contigo em meu pensamento até ao beijo longo com que me desejarás bom dia de trabalho, antes de entrar no carro de folhas ocre coberto.
À noitinha quando de novo regressar a teus braços, te agradecerei por teres realizado o meu começo de dia a preceito e adormecerei desgastada mas não cansada, em teu ombro bem feito.
E sonharei novamente que ali te mantens até o despontar dos primeiros raios de sol que em nós entrem queimando em desejos de mais, de muito mais do que o passar das estações nos pode oferecer, porque temos algo sem tempo e sem espaço que é só nosso e que só a nós nos cabe entender e dizer. E em ato de egoísmo das palavras amor e carinho tomo posse, brindando com licor de mel a cada nova manhã de inverno tépido e terno que contigo passe.
Ilia Mar
 
Amor sem tempo e sem espaço

Nós e Afetos

 
Hoje faria amor contigo. Calaria o preconceito. Despiria os medos e afagar-te-ia a alma noite adentro. Nadaríamos em lagoas azuis, saltitaríamos por vales de densa vegetação extasiante, e cairíamos extenuados sobre nuvens de algodão, que salpicariam com gotas de orvalho cristalino a areia branca... adormecendo embalados pelas palavras bonitas, que a espuma, do mar calmo em que ficamos; desenha no nosso coração preenchido. Estou certa amanheceríamos outros.
E o quanto me faz falta esse despertar para o Mundo com vontade de abraçá-lo.
Assim… sem hesitar, qual conquistador de naus de outros tempos, muno-me de transporte dos atuais, e percorro paisagens bonitas deste Portugal que amo para mais logo, quando o sol se apagar de cansaço, brindar à vida contigo junto ao mar!... E AMAR… Até que nasça novamente, novo dia com novo encanto porque brilhará de dentro.
Enquanto a tua presença no meu dia se mantiver oportuna, sábia e carinhosa, sempre encontrarei o caminho até ti amor. Por muitos que percorra sem ti, nunca me perco, porque sei que me esperarás no fim do nosso. Que até se pode fazer entre vales e montanhas verdejantes; em cenário de Tejo que desagua num imenso Atlântico azul; ou em aldeias solarengas construídas com Amor juntando casinhas nomeadas por Homens do Mar. Enquanto queiras, lá estarei para te amar. E para ver nascer o sol no Este de nós, de marinheiros audazes que conduzem naus ou canoas a portos mais seguros de afetos.
Mais logo, no fim da tua jornada, te darei conta de como fazê-los e desfazê-los - nós e afetos...
 
Nós e Afetos

Dói-me

 
Esta manhã acordei dorida. Dói-me o frio cortante que atravessa a pele dos sem abrigo pelas cidades deste país indiferente. Doem-me os hematomas das vítimas de agressões, subjugadas pelo temor e sentimento de culpa. Dói-me o tratamento a crianças vítimas de doenças graves para as quais ainda não se encontrou cura. Dói-me a pobreza extrema de famílias inteiras caídas no desemprego sem alternativas de rendimento. Dói-me a barriga da fome que passam.
Como me doem hoje as dores do mundo que ultrapassam a dor que sinto!
 
Dói-me

Não te quero

 
Não te quero

Não te preciso

Faz-me falta um amor comprometido

Que lado a lado a vida leve comigo

Não te quero

Não te preciso

Faz-me falta um companheiro compreensivo

Um parceiro que no pior seja assertivo

Não te quero

Não te preciso

Faz-me falta um timoneiro experiente

Que segure o leme sempre consciente

Não te quero

Não te preciso

Faz-me falta um brilhante poeta

Que no sentimento seja até pateta

Não te quero

Não te preciso

Faz-me falta a serenidade dos velhos tempos

Na certa eu mereço melhores momentos
 
Não te quero

O timoneiro perdido

 
Era uma vez uma mulher que tinha dentro dela uma menina.
A menina queria ser mãe e esposa, respeitada e viver feliz na sua casa de sonhos rodeada de filhos e amor.
A mulher era viciada em CSI e ansiava afecto, compreensão, partilha. Tinha o grito calado na garganta dos segredos que não revelava, das revoltas que em silêncio acumulava.
Vivia ainda de outros vícios como o do jogo das soluções. Jogava tão constantemente que desenvolveu reflexo condicionado procurando respostas antes das questões serem colocadas. Analisava toda a informação que lhe caía do tecto e unia peças de puzzles que saltavam dos armários abertos à sua frente.
A menina vivia angustiada pela culpa que sentia pelos pais discutirem incessantemente, “será que o pai berrou com a mãe porque eu não comi o arroz?…”
A mulher procurava sem encontrar, o seu cavaleiro alado capaz de a fazer sentir amada, desejada, admirada, confiante e única musa. Precisava de se sentir em segurança de afectos para soltar os seus mais íntimos desejos e partilhá-los a convite por inteiro. Procurava um amor maior que tudo, que pudesse viver livre de preconceitos, de segredos ocultos, preso pela partilha de fetiches ao desejo.
Nessa procura ofereceu-se pelo Natal coberta de ouro, incenso e mirra a um timoneiro que não foi capaz de segurar o leme firme, nem de a navegar intuitivamente. Enquanto as reservas não se esgotaram viveu na ilusão do sonho realizado. Mas a rota que desenhou no seu mapa de soluções, entrou mar revolto adentro virando o barco que quebrado se enterrou no lodo, após largar timoneiro numa onda.
A menina também procurava…Procurava peças de legos que se encaixassem perfeitamente formando uma peça única, coesa e inquebrável perante a miséria do mundo.

Nem menina nem mulher conseguiram atingir objectivos… Por enquanto!...
Partiram vestidas de verde rumo a outros mares mais calmos a bordo de uma canoa.

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O timoneiro perdido

Sem poema que o valha

 
Por te amar fiz do coração tripas
Comi urtigas
Vomitei serpentes
Envenenei-me de poemas
E caí demente

Por te amar esventrei textos
Bebi vinagre
Engoli sapos
Chorei lágrimas de preta
Fiz-me amante de um Capeta

Por te amar rasguei-me em trapos
Afoguei os peixes
Enrolei-me num búzio
Fiz amor com a solidão
Lambendo feridas na escuridão

Por te amar cortei os pulsos
Matei o tempo
Fumei ausências
Escrevi rascunhos
Revi testemunhos

Por me amar colo pedaços
Ergo a espada
Regresso do nada
E vou-me sem coisa nenhuma
Nem poema que o valha
 
Sem poema que o valha

Don´t you even think about loving me

 
Não ouses apaixonar-te por mim.
Livra-te de me amares todos os dias.
Eu sou um animal de maus hábitos,
sou capaz de fazer amor de raiva,
de odiar o amor que sinto.
Sou capaz de gritar golo quando marcam os da equipa contrária a tua,
de proferir palavrões quando te magoas,
de entregar cheques em branco ao teu melhor inimigo.
Sou capaz de divergir da opinião da maioria,
de contrariar as leis da física,
de por em causa teorias comprovadas.
Sou gaja para pegar touros pelos cornos
e subir a mesas para fugir de baratas.
Sou mulher para não ferver em pouca água
e explodir em candentes desejos de momentos.
Sou extremamente sensível
e estupendamente desapegada.
Sou loucamente apaixonada
e tremendamente fugidia.
Sou um eu que não sou,
um pedaço de quase nada,
uma enormidade de virtudes,
um poço de defeitos.
Por isso don’t you even think about loving me.
 
Don´t you even think about loving me

Amo-te

 
Amo-te

Disse-me eu um dia

Na hora H

No fim da linha

No dia D

Para lá do T

Sinto-te

Sussurrei-me quente

E foi bem dentro

Que encontrei desfecho

Para o desalento

E seguir em frente

Quero-te

Murmurei-me lânguida

Conforto de abraço

Amparando o corpo

E o coração desfeito

No meu próprio peito
 
Amo-te

Amor imenso à palavra

 
Quantos Amores pode um coração abarcar
Quantas Mulheres pode um poeta amar
Quão Omnipresente pode um amante parecer
Quantas Raízes pode um Homem estender

Que Ilusão pode o escritor provocar
Qual Manto branco cobrindo a carência alheia
Quanto Encantamento na alma feminina semeia
Enquanto Narra com sapiência o verbo amar
Esse Sentimento verdadeiro que qualquer uma anseia
Esse Ondular inquieto que as desnorteia

Como Água solta escorrendo por si adentro

Um Paraíso desenhado letra por letra
Uma Aguarela pintada em cada texto
Um Lampejar de alma em cada verso
Uma Aurora boreal manuscrita a pena
O Verbo ser conjugado antes do poeta
A Realidade mesmo que dura tornada amena
O Acordar para escrever que não se condena
 
Amor imenso à palavra

Beatriz

 
Bombom doce e suculento

Encanto de menina precoce

Alma grande meu alento

Tão inquieta quanto doce

Riso espontâneo e franco

Inteligente e perspicaz

Zircão luminoso que me orgulha tanto
 
Beatriz

Mãe

 
És o meu anjo da guarda
Quem me orienta o caminho
Quem está sempre na retaguarda
Acolhendo-me no ninho

És mais do que amiga
És amor
Um que de tão grande não cabe
Num poema seja de quem for

Por isso o papel é curto
E a inspiração escassa
Para te escrever o que sinto
Quando a tua ausência por mim passa

Não deixes nunca de estar
Por muito que te desiluda
Tenta sempre perdoar
E nunca te quedes muda

Tuas sábias palavras
São sempre meu melhor alento
Evitam as minhas lágrimas
E servem-me como unguento
 
Mãe

Ser Poeta

 
Quantos Amores pode um coração abarcar
Quantas Mulheres pode um poeta amar
Quão Omnipresente pode um amante parecer
Quantas Raízes pode um Homem estender

Que Ilusão pode o escritor provocar
Qual Manto branco cobrindo a carência alheia
Quanto Encantamento na alma feminina semeia
Enquanto Narra com sapiência o verbo amar
Esse Sentimento verdadeiro que qualquer uma anseia
Esse Ondular inquieto que as desnorteia

Como Água solta escorrendo por si adentro

Um Paraíso desenhado letra por letra
Uma Aguarela pintada em cada texto
Um Lampejar de alma em cada verso
Uma Aurora boreal manuscrita a pena
O Verbo ser conjugado antes do poeta
A Realidade mesmo que dura tornada amena
O Acordar para escrever que não se condena
 
Ser Poeta

Noites de pluma

 
Dias de bruma

Noites de pluma

Dias com sol encolhido

Noites de leve odor

Saudade do amor vivido

A falta que instala a dor

Guardei teu cheiro num frasco

À noite exercito o olfacto

Impregno-me de ti até ao casco

E estabeleço com o escuro um pacto
 
Noites de pluma

Os homens espertos temem as mulheres inteligentes

 
Os Homens espertos temem as mulheres inteligentes.
Mais que mulheres modelos ou modelos de mulher eles temem verdadeiramente as mulheres inteligentes.
As mulheres modelos em corpo e cara, capazes de fazer parar o trânsito e crescer em transe, não os assustam, antes incitam. Qualquer homem minimamente esperto sabe que uma embalagem atrativa que nos faz saltar os olhos de órbita e correr a retirá-la da prateleira para o carrinho, acompanha por norma um produto de menor qualidade. Tem a ver com as regras de marketing, tem a ver com a norma da compensação, tem a ver com a lei das probabilidades. Se um produto tem concorrentes nos mesmos mercados (prateleira ao lado no supermercado) de melhor qualidade, só tem uma alternativa, associar ao seu produto algum fator diferenciador, que pode até ser o aroma, mas o mais fácil é apelar à visão do consumidor, ou seja ao pacote que o chama. Assim todo homem esperto sabe que a embalagem atrativa é capaz de fazer crescer volumes de negócio, incitar consumos impulsivos, e abrir mentes de consumidores vorazes apelando a todos os sentidos por sugestão. Um sumo que até pode saber a xarope para a tosse ou a óleo de fígado de bacalhau, se for acompanhado de uma imagem marcante em beleza, em sensualidade, em cor e forma que incita e atrai, até se bebe com prazer verdadeiro pelo poder da sugestão.
Por outro lado, qualquer homem esperto, principalmente se estiver habituado a negociar, conhece a norma da compensação, sabe que nos negócios como na vida uma mão lava a outra e não há bela sem senão ou não se dá ponto sem nó. Ou seja a criação, por norma e provavelmente, associa novamente uma bonita embalagem a um conteúdo de menor valor, compensando um pelo outro e vice-versa. Se pensar nas mulheres completas que conhece em beleza interior ou em capacidades intelectuais, essas provavelmente não devem muito a beleza.
Assim o homem esperto sabe que, por norma (falo de regras que têm exceções, como é obvio) a divida das bonitas à inteligência é igualmente residual e por isso são mulheres maleáveis e manipuláveis com alguma esperteza e saber.
As mães devotas, as donas de casa completas, igualmente não os assustam. Consideram-nas objetivos a alcançar para acompanhar uma vida, pelo menos enquanto donas da sua casa - para alguns nunca chegarão a ser donas do seu coração – mas para donas da sua casa todos as querem.
Agora, meus amigos que gostam de me ler e o fazem para lá da trigésima segunda linha de texto, eu vos digo que o que assusta um homem esperto é mesmo uma mulher inteligente. Coloquem uma mulher inteligente a ser mais perspicaz que eles em algumas situações concretas e é vê-los fugir a sete pés e a colocarem-se a milhas aéreas num instantinho. Chegam a temer pela sua saúde mental, acham perigosíssimo associarem a sua vida a uma mulher inteligente. Bloqueiam qualquer evolução de sentimento que possa trair a sua racionalidade. E afastam-se discreta e pausadamente como fariam perto de uma serpente. Porque todo o homem esperto como António Lobo Antunes, sabe que são precisas muitas mulheres (bonitas) para esquecer uma mulher inteligente.
 
Os homens espertos temem as mulheres inteligentes

ADOPÇÃO DE ANJOS SEM SEXO POR CASAIS DO MESMO CORAÇÃO

 
Como alguém pode considerar indigno, uma criança ser criada fora da família tradicional – que sabemos algumas integram as tradições que a seguir vos conto e que uns quantos de vós imaginam - ou que pais e mães que amam o seu mais próximo, profunda e calmamente, de tal forma que enfrentam em nome desse amor, sociedades estigmatizantes e cruéis, como nenhum heterossexual seria capaz de enfrentar mesmo sendo igualmente Homem ou Mulher com letra maiúscula. Porque são esses os generosos e abnegados que chegue para amar e acolher como seu, um menino de Deus, abandonado à sua sorte. E que esses humanos que nada têm de diferente além de trocarem afetos de forma pouco tradicional na sua intimidade, sejam piores exemplos de valores de família, que as tradicionais famílias, que à bom Português discutem à mesa e espalham desamor baseado no baton da lapela do smoking, ou nas excessivas entradas no cartão de crédito, porque é nesses cenários que alguns destes ofendidos com as propostas e que votaram contra, cresceram e se fizeram homens e mulheres tristes, que só conhecem o cinzento ou o azul-marinho. Mas se Deus nos deu capacidade de amar ou odiar, de olhar, de sentir, de cheirar, de gostar ou de detestar, e criou um mundo com tantas disparidades, icons e avatares, porque não havemos de ser tolerantes com os que com essa capacidade de gostar, amam o seu igual, e com a capacidade de detestar sintam coisas menos boas pelo seu oposto. Pois se esses são igualmente capazes de fazer coisas grandes e recheadas de grandes coisas, e colorir o mundo com uma diversidade de pantones que sirvará de inspiração a criativos e artistas a pintá-lo mais tolerante e não opressor. E por outro lado, respondam-me a isto é menos repugnante ou capaz de enquadrar uma familia mais tradicional o estrupador que só viola meninas ou a pedófila que só abusa de meninos, e não os outros? Não é a orientação sexual que faz das pessoas montros assustadores sem valores que saem para ai a viver a sua intimidade à frente das crianças, mas o seu mau interior e os maus valores e comportamentos desviantes criados, alguns deles nas ditas familias tradicionais. Não confundam ou leiam enviesado porque comportamentos desviantes não são orientações sexuais, nem são as orientações que promovem comportamentos desviantes. Sandra Correia PS - Para que se saiba sou heterosexual assumida, mas porque sou Mulher Mãe (com duas maiusculas) não sou capaz de passar indiferente à intolerância e estupidez humana...

Dois dedos de Prosas Socialmente Responsáveis e Politicamente Incorrectas

Dois dedos de Prosas Socialmente Responsáveis e Politicamente Incorrectas
 
ADOPÇÃO DE ANJOS SEM SEXO POR CASAIS DO MESMO CORAÇÃO

Noite sem Lua

 
Mais uma noite sem lua cheia. Uma noite mais, nublada e fria. A lua teima em não vir. Emigrarei para o lado de lá do planeta, se preciso for, em busca da lua perdida. Que dia me pode esperar amanhã, depois de noite sem lua? Nublado e frio outonal, com certeza. O que vale é que é sábado e posso dormir até mais tarde. Não verei certamente o nascer do dia nublado. Também que beleza pode ter o nascer de um dia mais, nublado? A beleza de um dia nublado e de frio outonal é ficar na cama enrolado no meio de cobertores e com a companhia certa. Mas quem será a companhia certa para um dia nublado debaixo dos cobertores? Alguém solarengo, seguramente o mais indicado. Também poderei partir em busca de novos mercados de pessoas solarengas. Os países ricos da Europa não têm muitos dias solarengos mas acredito que as pessoas mais solarengas residem aí? O sol quando nasce de facto não é para todos, como alguém já disse um dia. E os que nos governam estão fartos de colocar nuvens nos nossos dias. E ainda atiram “Vão procurem países mais solarengos, enquanto nós cá ficamos a roubar à descarada os pacóvios e velhos que cá ficam, tornando os seus dias cada vez mais nublados”. Revolta-me e indigna-me a influência dos governos que se sucedem no estado do tempo, são piores que qualquer superfície frontal.
 
Noite sem Lua

In-temporal

 
O tempo do poeta não é o mesmo dos comuns mortais
O poeta conduz emoções à boca e ponta dos dedos
Em menos tempo do que esfrega o olho satanás
Vive cada segundo mergulhando num mar de letras
Não como se fossem as ultimas mas a introdução
Para um resto de vida que pode até acabar amanhã
Mas que vive sempre procurando um final feliz
E uma história por pequena que seja
Pouco importa
Desde que seja bem preenchida
Anseia até nunca começar se for para mal acabar
Ou nunca ansiar se for para não começar
Mas o maior problema do tempo do poeta
É a ausência das letras, das silabas, das palavras, do texto
Aí o poeta ressaca feio e pode até desfalecer sem freio
Colocando emoção onde não era suposto
E retirando encanto ao que lhe daria gosto
O poeta não tem relógio, não mede o tempo,
Conduz-se ao sabor do vento
Ao odor do pressentimento
Tateando cores rosa purpura
Que lhe cantem ao ouvido melodias sentidas
[Daquelas que apenas para o poeta fazem sentido]
Porque este é capaz de alcançar ver para lá do escrito
E não suporta que lhe troquem o não dito pelo dito

Ilia Mar
 
In-temporal

Morrer e matar

 
Morreu o branco, estava demasiado debilitado e doente e as gotas de leite não foram suficientes para o fazer ultrapassar os maus tratos da sua curta vida.
Como custa pôr fim ao que quer que seja… Não um fim de até já, não um fim de logo ligo, mas o fim definitivo da alma a esvair-se para o céu.
Se deste fui curandeira de outros já fui carrasco. Custa-me sempre da mesma maneira…Apague eu a luz ou lute tentando mantê-la acesa, a angústia de me sentir falhar dói mais do que a perda. Neste falhei porque não fui capaz de o fazer vencer a doença, em outras ocasiões outras enfermidades também me venceram e noutras ainda eu própria os matei. Esvaí-lhes a alma juntamente com as cicatrizes para que não me marcassem a pele.
Mas isso foi noutras ocasiões e outras conjunturas, aqui, apesar das feridas, reflecti; Afinal para quê matar se ele próprio já se enforcou duas vezes? E como esvair-lhe a alma se parte da minha iria agarrada?
 
Morrer e matar

Estou com saudades

 
Estou com saudades tuas

Do teu cheiro doce e quente

Das nossas peles nuas

Enroladas qual serpente

Estou com saudades nossas

Dos momentos de carinho

De namorar feito corsas

De nos ter sozinhos no ninho

Estou com saudades de ti

Do teu suor morno em mim

Viver o romance que li

Num devaneio sem fim

Estou com saudades de nós

Do sussurrar leve e cálido

Do arrepiar à tua voz

Em noites de cenário plácido
 
Estou com saudades

Entre o sol brilhante e a lua errante

 
Entre o sol brilhante e a lua errante prolongo esta paixão que me traz em pulgas, e me expõe a cada instante. Entre o nascer e o apagar da luz, arrasto este sentimento que cresce exponencialmente embora em silêncio, abrindo-me um sorriso que ilumina a noite incandescendo. Quando se fará isto que sinto audível em ti, sem sombra de duvida que assuste crianças no escuro, conduzindo teus dedos a meus cabelos rubros, teus lábios a minha pele pintalgada, teu ombro a minha cabeça deitada. Te espero ao amanhecer como quem aguarda o “trem das onze” que o há-de levar a casa. Te aguardo ao anoitecer com a vontade de desarrumar camas e salas, cobrindo-as de peças de roupa soltas, pipocas douradas, e caixas de chocolates recheados acabados. Podes chegar de manhã com um beijo apenas, mas prolonga-o, prolonga-o, prolonga-o. Apenas um, mas que seja longo e goooood.
Ilia Mar
 
Entre o sol brilhante e a lua errante