Poemas, frases e mensagens de AntonioRoqueRocha

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de AntonioRoqueRocha

PROCURA

 
PROCURA

Cheguei de mansinho te catando
Nos oito cantos da casa.
Na cozinha, no banheiro,
procurei o teu cheiro de mulher.
Um aroma adormecido de muitos anos
Na pela morna e desamada de macho.

Acho que morri por não encontrar
O teu rastro humano, materno.
Foi uma eternidade de busca
perdida no desespero do desejo.

No consigo romantizá-la,
pois os versos piegas
jamais seguiriam ao teu lado.

Subi as escadas vermelhas e duras
na esperança de encontrá-la no quarto
ainda molhada do banho, os seios fartos,
o cheiro de alfazema inundando tudo,
os cabelos da antiga amazona embranquecendo.

O quarto vazio. O sol entrando tão forte
que parecia tê-la roubado naquele instante.
Uma claridade celestial sobre a cama.
O teu rosto me vem à memória,
gordo e sorridente, forte e aceso.
Como antes da tempestade.

Corro para o céu da casa.
Estás a estender roupa, é claro!
Com o suor a pingar-lhe o colo,
cantando uma canção antiga
de um carnaval mais antigo ainda.

E um vento forte me recebe, as cordas vazias.
Um cheiro forte de talco Palmolive me diz
que alguém esteve ali, me esperando, me querendo;
mas que não pôde ficar. E foi-se para sempre.

FELIZ DIA DAS MÃES PARA TODOS NÓS
 
PROCURA

ACUSO O RECEBIMENTO

 
ACUSO O RECEBIMENTO

O QUE QUERO DE UMA MULHER
E DO UNIVERSO VIVO
EU JÁ TENHO:

UM AMOR
MAIOR DO QUE O MUNDO
MAIOR DO QUE ELA
MAIOR DO QUE EU
E DO QUE EU POSSA PENSAR

UM OLHAR
MAIS PROFUNDO E CERTEIRO
QUE A FACA DE JACK, O ESTRIPADOR
MAIS AMOROSO E CUIDADOSO
QUE O DE MARIA NA DOR.

PALAVRAS
QUE SAEM DE MANSINHO E CUIDADOS
MAIS ESCOLHIDAS QUE UVAS DE VINHO
NUNCA JULGANDO, NUNCA TOLHENDO
BRINDANDO O AMOR COM CARINHO

UM TOQUE
SEM PRESSA NA PELE DE PALMOLIVE
QUE PERCORRE TUDO E SORRI
PERGUNTANDO E SENTINDO TUDO:
COMO ESTA MACIEZ CHEGOU AQUI?

UM BEIJO
NA “BOCA GRANDE DE NIETA,” A MINHA
COMO QUEM PROCURA O SABOR DO MUNDO
E O AR DIVINO DO UNIVERSO
EM MUITOS BEIJOS E SEGUNDOS

UM PRAZER
QUE PARTE DELA PARA SER DO ABSOLUTO
E ME ALCANÇA E ME PERTURBA NO VÔO
QUE EU DEVOLVO EM DOBRO E EM DOBRO
E A DEIXO DE LUTO A CADA TREMOR.
 
ACUSO O RECEBIMENTO

QUERIDO

 
QUERIDO

Assim chamava o avô
Que um dia o chamou de querido
Retribuiu e gostou. Continuou.
Pois mais do que um avô era um amigo.

Aracaju não sabia se chovia na primavera
Quando “Toro Loco” chegou da Espanha
Enfeitando a mesa de sopa e café
Uma garrafa de vinho unindo pessoas.

O inhame macio pediu o carneiro ensopado
Quando o menino pediu farofa e repetiu
Chamando Querido para brincar
Chamando Querido que olhou e sorriu.

Ainda se respirava eleição na vitória de João
E o menino (l)indo para a mesa brincar
Querido pacientemente brincava e sorria
Como um menino agradando o outro.

As professoras curtiam e comentavam
Como num Facebook ao vivo, comiam,
postavam olhares e manteiga no pão
A noite já dormia, mas o menino não.

Querido brincava e sorria e brincava
Com o menino incansável a brincar e chamar
Um menino que não tinha sono e jogava
Era Querido pra lá e Querido pra cá.

E a avó professora
Aprendendo com os dois.
Não a brincar
Mas a amar.

Antônio Roque Rocha
Cond. Vivendas de Aracaju
13/10/12 - Aracaju-SE

Foi um jantar na linda casa da Professora Eliani e do Empresário Carlos e levei uma garrafa de Toro Loco, medalha de prata na Europa em 2011. Mas lá estava seu neto e eu não resisti em tentar poetizar aquele momento de profunda aprendizagem. Eu e a Profa. Denise Carvalho.
 
QUERIDO

Entrada Doce

 
ENTRADA DOCE

Olhei com emoção estética
a forma, curvas e redondeza.
Assim encantado,
senti o aroma, os aromas,
a cor de romã.

Toquei-lhe a superfície úmida
e de olhos fechados
vi a calda escorrer nos meus dedos.

Não havia mais segredo.

Quando tremeu cedendo,
a ameixa se abriu
na língua ávida e macia.

Comi devagar.
Degustando cada centímetro.
Cheirando o leite transformado
e bebendo a calda.

E quando ia lamber o prato,
com os olhos intumescidos de desejo,
Maria entrou na copa:
- E aí, querido, que tal o pudim? Agora sou eu.

Uma surpresa!
 
Entrada Doce

NA PISCINA DA VIDA

 
NA PISCINA DA VIDA
(Para Therezinha Maria Linhares Jansen e Rose Marie Louzada Freitas)


Nesta noite homenageamos
Duas mestras da Natação
Do esporte, da gentileza
Duas mestras do coração.

Mais gentis, impossível
Generosas por demais
Sabem escutar e ouvir
Transmitindo amor e paz.

Uma é a Therezinha
Sempre pronta a animar
A outra se chama Rose
E faz a gente respirar.

“Da água nasci
Na água me criei
Se me puserem na água
Na água morrerei.”

Assim diz velho ditado
Uma adivinhação
Mas com essas duas morremos
De cansaço e emoção.

Ginásio de Esportes do Salette/Barris
Quem souber a resposta
Desta adivinhação
Ganha um beijo da Therezinha
E da Rose um abração.

Pois na água azul da piscina
Nos encontramos com Deus
Voltamos a ser menino e menina
O que a maioria esqueceu.

Mas a noite é de festa
De um duplo aniversário
Rose e Therezinha, não parece,
Chegam no cinquentenário.

Recebemos tantos mimos
Em meses de hidromassagem
Como podemos agradecer
Tanto amor e aprendizagem?

Vamos cantar parabéns
Olhando nos olhos das duas
Oh! Queridas mestras
Esta festa é toda sua.

Salvador, 8 e 12 de junho de 2014
 
NA PISCINA DA VIDA

PASSARELA

 
PASSARELA
Salvador, 10/08/2012

Vinha a mulher gorda na avenida
com o andar de Gisele
e os olhos docemente firmes
que a fazia dona de si
e atraente como o mar.

A respiração controlada
realçava os seios fartos
e o ventre convidava
a entrar pelos lábios
uma gravidez desejada
desejada pelos grandes lábios.

A minha boca grande, de Nieta
comia com os olhos
o corpo leve no andar
e intransponível no olhar
denunciando carência na cútis.

Olhava sem rumo
mas via tudo ao redor
possuindo os homens
com pés de pelúcia
e apesar da astúcia
precisava amar.

Assim como veio
passou por mim
como um tanque de guerra ou alma penada.
Deixando nos rostos
alegria sem fim.
Quisera eu segui-la.
Quisera!
 
PASSARELA

ACCESTO AMOROSO

 
ACCESTO AMOROSO

Parei
Quando ela passou
Fiz Tabela com o reflexo da vitrine
E Consultei no seu modo Design
Para ser visto como Assistente
Do seu andar de passarela.

Nem vi o Plano de Fundo amarelo
De fim de tarde, tabulando preguiça
Como um Formulário baiano ao ocaso.

Nem vi os campos de sua verticalidade
Mas reparei nos horizontais seguindo salientes.
Visíveis Relatórios das ladeiras e becos
Que ultrapassam nossas coisas e gentes

Com esses objetos em mira
Salvei-a antes de entrar
E enchi-a de dados, dedos e mãos
Como um sub-formulário, dominado
E encantado por ela, a principal.

Chamei-a de Formulário e a abri
No modo Design
Pra não ficar só de Assistente
Do seu carnaval
E caí no preenchimento cor de rosa
De corpo e alma e mouse
Clicando com o botão do meio
Antes de sair.
Fui!
 
ACCESTO AMOROSO

PÉTALAS

 
PÉTALAS
O seu amor reluz que nem riqueza, asa do meu destino, clareza do tino, pétala caindo bem devagar(D). Como disse o cantor e compositor sobre um amor, digo eu sobre o seu por mim. Este seu amor que me chega reluzente, mas tão reluzente que se eu tivesse riquezas, perguntaria "o que esta mulher quer de mim!?" Sem ver muito ainda o que conquistar nem ter onde ir, seu amor chegou cheio de imagens, de paisagens, de passagens compradas, estadias e cruzeiros e até de trem eu desejo agora seguir, voando dentro de mim... Destino. Só um amor pode fazer viver o que já está vivo, mas é preciso ser um amor clariante, clarificante e libertador do tino do outro e o homem necessita disso como a mulher necessita da flor: naturezas díspares, androceu e gineceu. Oh! Meu amor, viver é todo sacrifício feito em seu nome, quanto mais desejo um beijo, um beijo seu, muito mais eu vejo gosto me viver, viver!(D). E falando em flor, nada como a visão de um amor representado por uma pétala caindo bem, bem devagar. Nem pensar em vento, gravidade, velocidade, massa, forma côncava nem em lei de vôo ou envolvendo corpos em movimento. Apenas ver a pétala caindo, como se só ela existisse e caísse mansamente, como as mãos de Mozart, para nos levantar; indo pra lá e prá cá, sem pressa, sem pensar nem sonhar, um amor que existe por si só e pelo outro, que cai na terra como uma semente e germinando, abre-se, permitindo que uma nova planta brote de suas entranhas e saia da terra em tronco e galhos e broto e fruto e semente de novo. O seu amor reluz porque não impede, não dirige e não diminui a luz do outro. Por ser exato, o amor não cabe em si, por ser encantado o amor revela-se, por ser amor, invade e fim!!... (Djavan)

PÉTALAS APROVEITA PÉTALA PARA FALAR TAMBÉM DE AMOR
 
PÉTALAS

NA LADEIRA DO TEMPO

 
NA LADEIRA DO TEMPO

Ah! Bom tempo aquele!
De sonhos bem acordados,
com uma coragem ousada,
descendo a Ladeira da Montanha
para encontrar uma amada.

E uma jovem prostituta
vinda do Interior,
receberia o menino
na sua cama vermelha
para uma noite de amor.

Quase da mesma idade,
deitariam sem pudor,
ainda de roupa e vergonha,
trocariam confidências
e esqueceriam da dor.

Olho no olho,
lábios nos lábios,
achariam espaço no Mundo,
tirariam a roupa e o medo
sumiria em muitos segundos.

E assim na penumbra do quarto
de um prostíbulo qualquer,
aconteceria um milagre:
o menino viraria homem
e a menina, mulher.
 
NA LADEIRA DO TEMPO

A QUINTA

 
A QUINTA
(Nos idos de 1994)

Quando estiveres na Quinta
Da Beneficência Portuguesa.
Quando tiveres essa honra e prazer,
não esqueça de levar os sonhos,
segredos e coração aberto.

Quando estiveres chegando,
sentirás a imponência do átrio,
e o olhar soberbo de Apollo,
não esqueças que o homem
herdou a imponência do tigre.

Quando estiveres com o Pedro,
das chaves, do bigode e da simpatia,
quando estiveres com D. Ana,
saberás que existem maravilhosos escoteiros
sem uniforme.

Quando estiveres nos aposentos,
desarrume o corpo e a alma
juntos com a mala e a bolsa,
"Desarrume os sapatos, a gravata, os nós
se quiser falar com Deus".

Quando estiveres em cada ambiente
acolhedor, confortável, convidativo, sereno,
sentir-se-á só, mas de encontro a si mesmo:
só assim entenderás a amizade, o amor
e o mundo ao seu redor te esperando;

Quando estiveres passo a passo,
correndo cada quadro, cada prato, planta,
poltrona, tapete, livro, folheto,
não esqueças de saborear lentamente
estas iguarias portuguesas.

Quando estiveres nos jardins, nos salões,
mira vem o horizonte, os montes,
as vilas e as estrelas.
porque as flores te levarão
ao infinito.

Porque estás em casa.
Numa casa portuguesa,
com certeza.

A Quinta da Beneficência Portuguesa fica no bairro de Itinga, cidade de Lauro de Freitas, próximo do aeroporto de Salvador-Bahia-Brasil.
 
A QUINTA

DESPEDIDA DE E-MAIL

 
DESPEDIDA DE E-MAIL PARA DENISE CARVALHO

Beijos de saudade de seu corpo de verdade sem alarde pois o que eu sei o mundo não sabe.
 
DESPEDIDA DE E-MAIL

DE LONGE

 
DE LONGE

Apesar das incertezas que se infiltram e ficam
Insisto no meu cantar de amor
Nem que seja nos fundos musicais
Dos meus olhos fechados ao mundo
E assim vou te amando perdidamente
Sonhos e sonhos povoam meu dia-a-dia.

Ver-te? Não sei. Não sei!
De tanto desejar, desejo o desejo
Sou um voyeur do meu amor
E a vejo linda como capa de revista
E a vejo carinhosa como uma balzaquiana apaixonada
E a vejo terna como uma mãe recém-nascida

E a vejo nua e pura como o um índio (antes da cruz).
E te sinto.
Sua presença é um corpo de mulher.
 
DE LONGE

E-TERNAMENTE ELEITOR

 
E-TERNAMENTE ELEITOR

Ela é minha deputada
Federal, Estadual, Municipal, Internacional, Universal.

Ela é minha deputada
Lula, por favor, meu Presidente, não leve a mal.

Ela é minha deputada
Será que eu podia me filiar ao PT e votar em Alice Portugal?

Ela é minha deputada
Grande líder estudantil, nossa band leader no Congresso Nacional.

Ela é minha deputada
Farmacêutica diplomada nos labores do HUPEStal.

Ela é minha deputada
Pra Educação, pra Saúde, pra Mulher, pro Carnaval.

Ela é minha deputada
Faço campanha de graça, boca de urna e o escambau.

Ela é minha deputada
Desde que a vi pela primeira vez numa Assembleia Geral.

Ela é minha deputada
Por ser prova viva que existe político idealista e legal.

Ela é minha deputada
Por isso não voto nulo nem em branco, meu voto é nominal.

Ela é minha deputada
Porque me ensinou a ser um Servidor Público Federal.
 
E-TERNAMENTE ELEITOR

VIVA A PRIMAVERA!

 
VIVA A PRIMAVERA

Prezada Esther,

Desde a chamada "revolução feminista" que venho observando e refletindo sobre o feminino e o feminismo em contraponto ao masculino e machismo ou apenas com o ser mulher e feminina, para um mundo em mudança. Cabem algumas palavras sobre cavalheirismo do homem e delicadeza da mulher. Ontem no Grupo Escoteiro que faço parte, distribuí rosas para as lobinhas(7 a 10 anos), escoteiras (11 a 14 anos), guias (15 a 18 anos), às escotistas (chefes) e membros da diretoria, depois de falar sobre a chegada da Primavera e da defesa do meio ambiente e das nossas árvores, símbolo da estação das flores. Disse que a mulher é a flor da humanidade, responsável pela criação, beleza, sonhos e pela harmonia; que um homem jamais deveria agredir uma mulher e a mulher não deveria provocar a agressividade do homem, pois ela tem a força que não vem pela força física, mas pela resistência, pelo amor e pelo convencimento e pela argumentação, paciência e perseverança. A história trazia para cada um um papel diferenciado, mas que a modernidade mexeu nesses papéis, criando uma nova mulher e exigindo que um novo homem surgisse, espantado com o seu novo papel, quase sem texto, sem ensaio, sem um diretor e perdendo a função de protagonista deste filme que é a família, o trabalho e a própria vida. Sem preparação, e com a velocidade da internet, a nova mulher e o novo homem não encontram o ponto de apoio para as novas relações e o Estado passa a criar leis que regulem a convivência, e o que era Universal e ontológico passa a ser legal e momentâneo, criado e gerenciado pela Justiça e pela Política e pela Polícia. A Educação perdeu o trem da história. O pecado está no excesso, me disse um compadre mestre de obras e um pastor luterano. Excesso de lá gera excesso de cá. Toda ação gera uma reação igual e contrária, diz a Física. O Prof. Luckesi disse que a família é formada pelo homem, depois a mulher, depois o filho mais velho, depois o segundo e depois o terceiro; que esta ordem não deveria ser quebrada, nem quando o casal brigasse, nem quando o segundo obtivesse uma grande conquista. Considero-me um dos últimos românticos, um dos últimos cavalheiros e um admirador incondicional de todas as meninas, moças e mulheres e acredito que elas estão mais próximas do Universo Divino, do Absoluto, da Energia Universal e da Origem, do Movimento e Respiração do Mundo do que nós. E nos cabe fazê-las chegar em contato, mesmo rápido, com o Divino, através do amor; elevando seu corpo-alma (não existe um sem o outro e cada um tem o seu que é um todo indivisível) ao máximo prazer, que nem sonhamos imaginar como é, e, quase sempre, nem elas mesma sabem contar. Viva a Primavera!

Antônio Roque Rocha

Sobre A MISOGINIA É CONTEMPORÂNEA, de Esther Rogessi (já postado como comentário)
 
VIVA A PRIMAVERA!

EM VERDADE VOS DIGO...

 
EM VERDADE VOS DIGO...

O espelho reflete a alma
Que a pele esconde
Quando o homem procura
O divino em si mesmo.

O sonho de céu e inferno
Perdeu-se nas noites de guerra
E de século em século, o homem escreve
Um novíssimo testamento.

De onde viemos?
Para onde vamos?
Pergunte ao espelho.
Mas não aguarde respostas.
Apenas respirar, perguntar, observar.

Espelho meu, espelho meu!
Existe um Deus mais Deus do que Eu?
 
EM VERDADE VOS DIGO...

CANTO DE UMA PAIXÃO

 
CANTO DE UMA PAIXÃO

Havia um homem que bebia vinho na Paixão
Apenas uma dose, na Sexta, dita Santa.
Um homem que nunca bebia
Um homem que nunca rezava.

Havia um homem que nunca fumou cigarros,
Que nunca comeu pimenta,
Que morreu de cirrose, depois da Páscoa.
Em silêncio, em segredo.

Havia um homem que jogava bola no 2 de Julho
Com cara de meia-esquerda e corpo de médio-volante,
Que jogava dominó e sorria sempre.

Havia um homem que assoviava e chegava
Sorrateiramente à procura dos seis,
Com três sacos de pipoca.
E repartia os sacos, a pipoca e a paixão.

Havia um homem que acreditava na Paz, generoso,
Que dividia o pouco da casa e o muito do coração,
Que gostava de mar e amava Antonieta
E pescava e nadava e vivia.

Havia um homem
Que amava e fazia filhos porque amava.
Havia um homem
Que ensinou a ser feliz, e (se) foi.

In: ESPELHO MOLHADO Poesia, ROCHA, Antônio R de A., Publicado pela Empresa Gráfica da Bahia, Salvador, 2011,
 
CANTO DE UMA PAIXÃO

BEM-TI-VI

 
BEM-TE-VI

A escadaria fria do campus
Pela manhã me recebe.
Entre árvores e químicas
Vou descendo devagar.

Entre os micos e os bem-te-vis

Os bem-te-vis cantam
A alegria da manhã
E o morno sol nascente
Mas não são capazes
De perceber a minha dor
No seu gorjeio matinal.

Os bem-te-vis só sabem cantar.
 
BEM-TI-VI

TAMANHO DO AMOR

 
TAMANHO DO AMOR

AMO O SEU AMOR POR MIM,
AMO UM AMOR QUE PARECE NÃO TER FIM,
POIS VAI ATÉ PRA LÁ DA FAIXA DE GAZA,
MAS VOLTA PARA ME DIZER,
QUE ME AMA PARA ME FAZER FELIZ,
E É FELIZ ME AMANDO ASSIM.
 
TAMANHO DO AMOR

I WANT TO KISS SUSAN BOYLE

 
I WANT TO KISS SUSAN BOYLE

Quero beijar essa mulher
Branca, inglesa, gorda
Quero beijar essa mulher
No palco, no rosto, na boca.

Seu olhar de menina
Afetou-me profundamente
Seu andar de manequim
Me conduziu meio demente.

Quero essa mulher no meu vídeo
Cantando, sorrindo, andando
E não dispenso o beijo jogado
Antes de sumir na cortina

Quero beijar Susan Boyle
Sorver suas cordas vocais
Um beijo demorado e ruidoso
Uma vez só, nada mais.

A beleza da voz
Embelezou a terra
Embelezou ela
Desatou os nossos nós.

In: ESPELHO MOLHADO Poesia, Antônio Roque Rocha, 160 páginas, EGBa, Salvador-Bahia-Brasil, 2011
 
I WANT TO KISS SUSAN BOYLE

A FUGA

 
A FUGA

O menino fechou os olhos
Inspirando o vento que vinha de longe
De onde sua vista não alcançava
Abriu os braços como Ícaro
Sentindo-se mais leve que o ar.

O menino estava triste no olhar
Mas sorriu ao lembrar como escapara.
Que rastejara como soldado na lama
Que saltara como um ginasta pela casa
Esgueirando-se como criança cegando os pais.

Lembrou do corpo nu do papai
Sobre a mulata de boca grande na ilha
E da barriga da mamãe crescendo.
Abriu os olhos e viu o bebê invadindo sua casa.
E fez xixi no berço novo
E fez cocô no chão do quarto.

Queria dormir e não acordar
Mas não conseguia e chorava.

Chegou no alto sem medo
E lembrou do bebê sorrindo, mangando
E lembrou da mamãe com o bebê, dengando.
Balançou os braços como asas
Balançou as pernas como molas
Esqueceu de tudo e de todos.
Tenho cinco anos, pensou, já vivi muito.
Respirou profundamente
Engoliu seco
Deu um impulso
E pulou.
 
A FUGA