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Esse amor... há quem diga: "Desde sempre!" - XI

 
Esse amor... há quem diga: "Desde sempre!" - XI
 
XI

Já fui Pedro. Fui eu quem correu Lisboa inteira por ela. Para estar perto dela. Fui eu quem chorou por ela sofrer no dia em que nascemos, pelas três da madrugada do frio dia de Agosto. Fui eu quem passou todo o tempo a chorar também, por sangue, por amor… Contaram-me: "Por ela!"
Ela que era Maria, meu amor. Que agora sei. Também eu cheguei a ser. Maria era assim; um dilema. Diferente! Houve quem acrescentasse muito depois disso: "Igual também". Fui também o pai de Maria e de Pedro. O mesmo que esperaria vê-los nascer. Aquele que morreu antes disso. Esse que sonhava em vê-los crescer. Em jogar à bola com Pedro na tarde passada no jardim; Ver ir pela estrada do bairro Maria, que pela primeira vez tirara as rodinhas da bicicleta cor-de-rosa. Esse pai que esperava um dia falar com Pedro sobre a vida; quando ele, já homem, trouxe-se a primeira namorada a casa. E em lágrimas num cenário turvo levar Maria de branco, até ao altar, ao homem que esperava para se casar com ela. E Pedro o padrinho que mais tarde me consolaria…
Também cheguei a ser, quase por coincidência; a mãe. Eu que vi Pedro dizer a primeira palavra ou andar pela primeira vez. A mãe que viu da janela, Maria a chegar com o primeiro namorado. A que lhes trouxe a sopa quando ambos na mesma semana apanharam varicela na escola.
Por conveniência de acreditar numa religião qualquer, fui também o Padre. O que os trouxe do hospital para o orfanato, e que mais tarde na acesa discussão com a Madre Superior (Que também eu fui!), disse: "é obra ou maldição de Deus"…
Fui também, para ajudar Pedro, o estranho que o abordou no dia em que Maria esteve para morrer; e lhe disse: "O amor jovem! O amor! Só uma vez; só aparece uma única vez! Não sejas tolo ao ponto de o ver passar por ti e não gritar por ele… Se um dia jovem, e irá acontecer certamente, vires passar na rua o amor… Grita alto! Grita alto por ele! E Não deixes mais fugir!"
Sem saber fui Lisboa, que viu Pedro correr-me, que viu Pedro beijar Maria e que viu Maria, mais tarde depois; partir de mim para longe, enquanto Pedro sofria só nas minhas ruas…
E fui Deus; esse mesmo que escreveu direita a obra, nas linhas de frases tortas. Fui eu quem os amaldiçoou, a esse amor; que de tão próximo foi tão distante!
 
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Blackbird
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