Poemas -> Amor : 

Enquanto só...

 
I – Bem longe
II – A caminho
III – De regresso

Bem longe…

Separei as águas dos ventos,
E colhi ressentimentos,
Semeei palavras, cultivei amizades,
Moderei os meus modos e descubro desgostos.

Sinto remorsos, fui parcial,
Joguei em vantagem, pensei ser igual,
Perdi aos pontos, desviei os sentidos ,
Tornei casual um encontro resta-me saber qual.

Limpei as lágrimas por vezes perdidas,
Sabendo o quanto de tempo restava,
Um punhado de sonhos, um dilúvio de melancolia,
Foram tantas as noites, apenas á espera de mais um dia.

Sento-me esperando, olhei o imenso vazio,
Grito baixinho, sinto-me sozinho,
Desesperado ou perdido no tempo,
Percorro quilómetros em fuga do tal vento.

A caminho…

Durante a distância percorrida, com um único sentido,
Apercebi-me de quão diferente e se modifica a relação do tempo,
Tanto na ida como no regresso, naquele horizonte perdido,
Também a curva do tempo se altera, num coração ferido.

Mas não era a distância que magoava,
Mesmo quando minutos pareciam dias,
Tão pouco a chuva ou a ganância do nevoeiro,
As luzes contrárias ou as horas tardias.

Os sons das estações que mudavam a cada bocejo,
O sono, o cansaço que na volta nunca existia,
Restava apenas e era tanto o que restava,
O desejo imenso no sentir um calor profundo, de quem amava.

E aproximava-me rapidamente, corria como um louco,
Esperando que os segundos imensos se mantivessem mais um pouco,
Pois de chegada, depois de tão longo caminho,
O que eu pedia era tão pouco: “não me deixes sozinho”.

De regresso…

Agora de regresso, estou de partida,
Em busca do caminho que me traga de volta,
Sem pressas apenas com um destino,
Um motivo que me prenda, esquecendo a revolta.

E porque voltava sozinho, como num sonho de criança
Trazia comigo uma promessa, transportava uma esperança,
Naquelas horas pensava, estarás junto de mim,
Naquelas horas pensava, mas nunca voltaste por mim.

Tentei alcançar e obtive mudanças,
Não realizei aquele sonho, não me arrependo dos pesadelos
Foi mais uma experiência, foi mais um sacrifício
Tenho pena, tinha pressa, mas eram aquelas as regras do ofício.

Finalmente, não estou longe,
Não percorro qualquer caminho,
Não estou de regresso,
Mas ainda me sinto sozinho.


Manuel Rodrigues

 
Autor
Manuel Rodrigues
 
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