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Daqui, da proa do meu barco

 
Acolho-me da noite ressaibada
onde dormi nua, casta, virgem e basta,
em bonomia, sobre as tuas asas amplas de morcego.

Na madrugada do desassossego
abrigo-me hoje de um tempo
em que as escamas se elevavam perfiladas
de um mar arrepiado
em que, de um lado a vaga,
do outro o vento,

E esta dor
e o desalento

E as lágrimas, perdidas,
roliças, gordas, profundas,
iguais ao mar, iguais a si… escorridas
nos olhos invisíveis dos meus dedos plácidos ...

Deste tempo em que o verde bolinado dos meus olhos
fulgurou feérico na noite dos teus olhos,
que logo assustados partiram, dúbios mareantes,
na incerteza e na vontade de ficar,
na tristeza dissimulada de zarpar.

Acolho-me da noite
no ressaibo de um balanço de berço,
numa rola de barco,
das tuas asas de morcego em pranto.

(E do meu pranto,
de te saber mar-chão, em sofrimento...)

De um tempo em que foste mar de calma
e as gaivotas se explodiram coralinas no remanso
das branquelas das água

E tudo era sonho,
e tudo não mais que utopia e ilusão.

Daqui, da proa do meu barco,
eras o tempo de um tempo que se navegava
aproado, ao meu tempo colado.



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Autor
Mel de Carvalho
 
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Enviado por Tópico
Vera Sousa Silva
Publicado: 26/06/2007 10:09  Atualizado: 26/06/2007 10:09
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Usuário desde: 04/10/2006
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Mensagens: 4098
 Re: Daqui, da proa do meu barco
Daía, da proa do teu barco, ou da proa da tua vida...
Gostei muito!

Beijinhos