Poemas -> Sombrios : 

Sou eu, apenas não o posso provar

 
Alvorada azeda
Vómito gástrico enegrecido
Declina pudor
Além pejo, avistado vindo
Na rua cão derrubado
O passeio, a almofada, o encosto
Cheiro fétido
Couro de suor encardido
Mirar ferraduras e éguas
Uma pauta em trote lento
Apontam-me…

«Quem és tu?»

Voz familiar, desassossegada

«Sou eu, apenas não o posso provar»

«Não és não, não és quem dizes»

«Sou eu, apenas não o posso provar»

Arqueiro da calçada
Repousa o dia em serviço
Horários findos
Acorda e trabalha
Proteje a rua
Adorna o caixote e o lar
Carruagens insistem, também tu tal
Dilata ao sol da manhã
Corpo que alonga e fim cede
Sucumbe ao desenho geométrico

Já não estás quando olho…

Guardaste a pergunta
O sonho e a razão
Vendados sem fôlego
Derrotado, coço as crostas no tempo
O perdido
As lágrimas pelo soalho empedrado
Pétalas são coroando o rei defunto

«Sou eu, apenas não o posso provar»


«Antes teor que teorema, vê lá se além de poeta és tu poema»

Agostinho da Silva

 
Autor
bruno.filipe
 
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