Poemas : 

deixo a morte pensar que morri

 


não tirem o vento às gaivotas - sampaio rego sou eu


escrevo com um punhal ao lado. sinto que a noite está a ameaçar com um turbilhão de cometas – logo hoje que queria ver o céu. há dias que reconheço no meio da minha galáxia uma estrela que um dia me abraçou com saber – logo hoje que queria ficar cego com a escuridão que impera ao lado da minha estrela. dei-lhe um nome. PAI – é uma estrela enorme. tão grande que não cabe dentro dos meus olhos – logo hoje que queria ver o céu. logo hoje que as gaivotas estão recolhidas a amar nos seus ninhos. logo hoje que uma onda me molhou os pés com água que ainda não tinha sido nuvem – chegou a hora de ver a foto a cores. a sorrir. a tocar. cravo o punhal nas memórias e solto as primeira dores de alegria – ainda viajo em primeira classe. cambaleio. atiro-me para dentro de um passepartout que guardo num canto das minhas mãos – incham. crescem. as unhas rasgam a pele. os olhos caem. rolam pelas sedas que cobrem o desejo. os cabelos perdem força e fazem uma trança de esperança que nunca foi penteada – a carne despede-se dos ossos e as formas deixam de ser forma. finalmente a libertação – aparecem os necrófagos. gostam de levar o resto do meu mundo – hoje. até os sonhos estão em risco. fica o cinto de pele com a fivela a ouro martelado. e os sapatos de couro que um dia comprei para ir a um funeral que nunca acaba – hoje. vou-me sentar na minha cadeira de baloiço. deixo a morte pensar que morri.
 
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sampaiorego
 
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Enviado por Tópico
Alexis
Publicado: 08/06/2010 23:27  Atualizado: 08/06/2010 23:27
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 Re: deixo a morte pensar que morri para sampaiorego
essa palavra PAI,não a digo com facilidade.ler-te hoje foi como ter esse punhal ao meu lado também.
escrever...um dia conseguirei.mesmo que menos bem.

um beijo
alex


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 09/06/2010 09:11  Atualizado: 09/06/2010 09:11
 Re: deixo a morte pensar que morri
Caro sampaio, foda-se! foda-se, foda-se! até me apeteceu roubar-te o punhal e crava-lo no monitor e cortar todas essas palavras que me dilaceraram...
foda-se!

Grande abraço, do tamanho do texto


Enviado por Tópico
Margarete
Publicado: 09/06/2010 17:01  Atualizado: 09/06/2010 17:01
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Localidade: braga.
Mensagens: 1199
 deixo a morte pensar que morri ao sampaio
pai hoje mataram-me. atiraram o meu corpo à noite, fui engolido por milhares de estrelas famintas, pai. hoje morri. perdoa-me o que não te disse. hei-de ensinar-te a fazer camarões fritos. prometo vir aqui às vezes, mostrar-te a luz das estrelas que trago nos bolsos. tudo o que te disserem de mim será mentira apartir de agora, tudo. nunca, depois deste momento, poderão afirmar que me viram. todos esses que dizem que me conhecem são uma mentira. deixo-te a minha cana de pesca e uma fisga que usava na cidade para espantar as pombas, espero que com ambas espantes a solidão. só somos de nós. ouviste? só somos nós. se te disserem que fui mais alguma coisa tira-lhes a língua.


um beijo,
mar.