Ausência
Na manhã que te levou
Na tarde que não se cala
No beijo que não te esquece
No abraço que ainda aquece
Na noite que te esperou
Na cama onde agora dorme o frio
Na tua ausência doída
Num quarto vago e vazio
Minha saudade deita seu corpo
Junto ao teu corpo macio
es(a)quecido
acende a penumbra
que encobre
o ponto que me acende
surpreende a
busca
na intenção de me
alumbrar
aperta os botões
exercitando
os gestos atrofiados
pelo tempo
que serei archote ardente
crepitando ao teu olhar
Dia tenebroso
Dia tenebroso
A manhã surgiu fria e tão nebulosa
Praticamente não houve alvorecer
A tarde também continuará chuvosa
E quase nada será possível se fazer
Não se verá abrir um botão de rosa
A natureza com frio vai se recolher
Melhor ler livro em verso ou prosa
Ou então sob os cobertores, aquecer
Dormir por certo nos fará muito bem
Já que sair de casa, não nos convém
Mas muitos aproveitam para beber
Talvez o domingo seja tão ensolarado
E a claridade seja do modo esperado
Para que alegres possamos esparecer
Maringá, 04.06.16
Meninos de Rua
Por uma estrada do destino,
Conhecei um menino, magro, alto lindo.
Sem ele perceber me aproximei
Aquele menino ali, sentado na sarjeta
De cabeça baixa, todo franzinho.
Falei Oi ele ergueu a cabeça, seu olhar era triste,
E vi uma lágrima escorrer pelo seu rosto.
Perguntei, Porque está sozinho aqui, no frio, sem agasalhos de pés no chão?
Estou com fome e frio
Então peguei na sua mão e levei esse pequeno menino,
Para tomar banho quente e comer algo.
Depois de limpo e alimentado, Ele olhou para mim sorriu e disse:
Que Deus a abençoe, que você tenha tudo que quiser seja feliz,
Pois pessoas iguais a você são raras hoje.
Senti que aquele dia eu tinha feito alguma coisa,
De bom para com meus irmãos.
[/b]
QUIS BEIJAR O TEU CORPO
Agora sei quem sou. Sei quem sou eu!
Virei as costas a tudo o que era ilusão.
O nosso amor morreu, não disse adeus.
E ficou feliz e alegre o meu coração.
Em mim, como um fantasma de desejos,
Tu moraste sem conheceres a morada.
Tu eras fria como eram os teus beijos
Não tinham sabor a mel, não tinham nada.
Eu era um mal amado, homem de outras eras
Que vivia ainda sem o fogo de um pecador,
Aquele fogo que aquece os desejos, o amor.
Agora sei quem sou, só vivi de quimeras.
Quis beijar o teu corpo sem o conseguir,
Mas hoje é o meu corpo que começa a rir.
A. da fonseca
afago
Percorro o frio das ruas
desertificadas,
ao persistente fustigar da chuva,
sobre a pedra gasta da calçada.
Há um olhar profundo
que se queda,
à gloriosa varanda
onde mora o esperado afago,
sob a bruma que lambe
o peitoril da janela.
Gaiolas das Borboletas
Gaiolas das Borboletas
by Betha Mendonça
Ulisses, desta faca que te corta atinge-me também o fio,
E escorre-me dentro um fel ardido que me divide em muitas,
Tantas e sem vestes nem sossego, que aqui no exílio é-me frio.
Por que não me deixas e silencia-te e olhas ao teu lado?
Vai para quem contigo possa caminhar junto e aliciar-te,
E faça-te tudo àquilo que te encanta e é do teu agrado!
Não te aprisiones nessa gaiola cinza como as borboletas!
Elas vivem e morrem de beber de mares palavras salgadas,
Como se fossem a parte mais doce das Escrituras Sagradas.
*Imagem Google
O Eclipse Não é o Bastante
O Sol diz:
Olá, belíssima Lua. Estou muito feliz em vê-la.
A Lua responde:
Olá, radiante Sol. Hoje está frio, preciso me aquecer.
O Sol diz:
Oh! Belíssima Lua, o eclipse não será o bastante. Sabias que um abraço aquece?
Visão... ficção?
Subo rapidamente as escadas
Em fuga do pesadelo da perseguição
Que nunca mais acaba,
E sempre que acaba
Termina na sala fechada.
A porta é de metal e é verde,
E fecha-se em pânico.
O desfecho é sempre o mesmo.
No entanto, anos e anos passam
E os pesadelos se ultrapassam
Com um novo caminho.
Desta vez encontrei saída.
Subi em direcção à luz.
Havia luz, muita luz, muita gente.
A chuva caía, muita coisa se via,
Muita gente sorria.
Vejo um sorriso para mim,
Sorriso banal,
Tensão sexual,
Tentação carnal
Que vira meus olhos
Para o horizonte.
Não é para isso que aqui estou.
Sei de onde vim e para onde vou,
Vou até onde a rua me levar,
Sei onde a rua vai acabar.
Passei pela igreja e pela rua da renovação,
Ignorei a mensagem que não passa de má intenção,
Segui porque sabia onde queria ir.
Cheguei ao largo que era a meta,
Cheguei ao sítio da magia
Que me leva no braço
E nem sabia o que eu sentia
Nem o que aqui faço.
A mente tratou de tudo mudar.
Na casa da frescura residia agora
A história de uma vida de penar,
As figuras que odiei e aprendi a amar,
Tudo o que alguma vez vi ou deixei de ver.
Convite não havia mas a porta estava aberta.
Entrei na casa em que havia tudo,
Vasculhei com sorriso mudo
O que não encontrei antes de aqui chegar.
Vi no entanto a pessoa feliz
Em prados de amor e felicidade
E falei com ela sem lhe dizer
Que nunca a quis perder.
Mas algo estava errado.
Estava frente a frente com o fado
Que nunca tive mas desejei,
E só queria olhar para a esquerda.
Esquerda onde estava a porta
Que não tinha porta
Mas espaço aberto e luz
Para quem quer entrar.
Eu só queria sair.
Não queria partir
Sem antes dizer adeus,
Mas chovia tanto
E deixei de rezar a Deus
Para viver naquele canto.
Lá fora chovia e chovia mais.
A água corria pela rua,
Era água minha e tua
E estavas lá longe.
Estavas muito longe,
A correr em direcção a mim,
Nunca te vi assim,
Nunca me senti assim,
Tirei o casaco em urgência
De te ajudar.
A casa estava linda antes de eu sair.
Soava a música, cheirava a perfume,
Não havia lareira mas havia lume
De dias que passaram,
Vidas que se interceptaram.
Mas não quis ficar.
Eu só queria ajudar.
Corri e corri com o casaco na mão,
Só queria oferecer protecção,
Não sei bem a quem,
Pois ao correr não parava de sentir
A minha vida a fugir
Para outro lugar e outro alguém.
E chovia mais e mais,
E o vulto que eu ia proteger
Desapareceu na porta distante.
Subitamente, parou de chover.
Lentamente deixei de ver
Tudo o que antes lá estava.
Procurei proteger
E acabei por me perder.
Voltei para trás à procura de abrigo.
Tudo estava mais pequeno.
A casa acolhedora era agora
Um labirinto que outrora
Me abrigou folgadamente.
De certeza que me perdia se lá entrasse.
Era um sítio com menos brilho,
Menos classe e num impasse
Entre um beco sem saída
E uma hipótese de uma nova vida.
A nova vida ficou-se na chuva.
Eu via mais na chuva que ao sol.
Eu era mais feliz a correr de casaco na mão
Que naquela casa a ver passar o serão.
Eu era mais feliz a ver-te correr
Mesmo se o teu futuro for desaparecer.
A casa ainda tinha lá gente,
E não fiquei feliz com o que vi.
Pouco ou nada senti
Na casa que deixou de fazer sentido.
A pessoa feliz ainda lá estava,
Com prazer se entregava nos meus braços
Mas entregar-me a ela não fazia sentido.
Quero chuva. Quero frio.
Quero correr à chuva naquela rua.
Viver naquela casa deixou de fazer sentido.
E dias e dias passaram,
E agora desço escadas
Em perseguição que nunca mais acaba,
À procura de portas e janelas para sair.
Só quero voltar a ver aquela rua…
É mais real do que podia imaginar,
Só é preciso esperar
Por melhores dias…
Só é preciso ficar a ver
E encontrar alguém para proteger…
Sei quem é o vulto que à chuva corria.
Sei onde estava.
Agora visto o casaco numa correria
Pois sei onde estou.
Calada Madrugada
Calada madrugada
Ventos Frios
Enriquece e acalma
Ao barulho dos rios
Que entrelaçam a alma
A lua esta cheia
Estrelas estão brilhando
E a noite assim clareia
E eu sigo caminhando
Respiração tranqüila
Felicidade estampada
Não me sinto perdida
Estou bem centrada
Na calada madrugada
Entende-se o silencio
Da felicidade entre os lares
Com amigos a relento
Bom estar a viver
Bom estar a sonhar
Bom estar a sorrir
Bom estar sempre a acordar.