Sonetos : 

MEUS SONETOS VOLUME 038

 
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3701



Bem sei que morreremos abraçados
Os fados predestinam tal suplício
De tanto amor que tenho, velho vício,
Os braços estarão por certo atados.

Quem sabe qual Quasímodo, meus fados
Farão dessa Esmeralda precipício,
E tanto que te quero desde início
Talvez os nossos fim compartilhados.

Porém nossas sementes proliferam
E mordem quem deseja ser feliz.
Os olhos dos demônios que se deram

Invadem tantas glebas e plantios.
Mortalha que nos cobre, negro-anis
De noite se reparte em nossos cios...

2


Bem sei que não existe fingimento
No que tu sentes; minha doce amada...
Eu nunca duvidei nenhum momento
E sei que estás comigo. Busco em cada

Estrela o teu olhar; meu sentimento
Jamais esperaria de uma fada
Nem dúvida nem medo e nem tormento,
Por isso nunca sofra. Enamorada

Dos sonhos deste sol que quer a lua,
Da lua que buscando um claro dia,
Nos versos encantados já flutua

O canto que te fez vir para mim.
Por isso não mais tema esta alegria

3

Bem sei que não me queres, mas eu tento
Vencer tuas defesas, ser só teu.
O sonho que entre trevas se perdeu
Bebendo o temporal mais violento.

O amor que poderia ser ungüento
Em plena tempestade se verteu,
O amor que tanto eu quis, pensara meu,
No fundo vai vazio; exposto ao vento.

Os erros, reconheço, foram tantos,
As ilusões morreram desencantos,
Os olhos sem destino, vão ao leu...

Não jogarei confetes, nem confeitos,
Tentara ter momentos mais perfeitos,
Meu barco naufragou. Era papel...


4

Bem sei que não te importa como estou!
As dores que senti quase mataram...
As noites que sofri, me congelaram.
Do que eu fora, bem pouco me restou!

Mas, felizmente, tudo já passou.
Feridas que cortei, cicatrizaram....
Outras mulheres tive, e já passaram...
O tempo que maltrata, me deixou...

Os templos que conheço, da alegria!
De novo tatuados no meu peito!
A dança, o riso, toda fantasia...

A vida camarada deu seu jeito!
Agora se me veres posso rir!
Desculpas? Nem precisas mais pedir!


5


Bem sei que nunca mais terei teus braços,
A dor que te causei não tem remédio...
Meus erros foram tantos e tão crassos
Desculpe se eu insisto em meu assédio.

Errante, pela vida, perco os passos,
E sei que estás cansada. Sou um tédio...
Mas quero que tu saibas destes laços.
Amor, o que será que mais impede-o?

As falhas cometidas? Meus enganos?
Ausência de teus lábios me matando...
Meus gritos solitários, desumanos...

Bem sei que não me queres, mas; porém,
Eu peço, com minha alma suplicando,
Me queira, pelo menos, algum bem...

6


Bem sei que o fim do mundo é todo dia
Depende de quem vai e de quem fica,
Por isso tantas vezes alegria
Parece sensação boçal. Implica

Em ter todas as gotas de harmonia
Nesta mistura nobre que é tão rica
Um pouco de esperança e fantasia
Encolhe por um lado noutro estica.

Mas vivo na alegria um corte de aço
Fazendo meu sorriso mais profano.
Não digo ser feliz é ser palhaço

Quem pensa desse jeito não resiste
Ao gosto do desejo soberano
E morre mais boçal por ser tão triste.


7

Bem sei que quando eu amo de verdade
Misturo a fantasia com desejos.
Talvez amor em sua intensidade
Aumente essa vontade de seus beijos...

Eu vejo a vida sempre mais bonita
Com olhos distorcidos pelo amor.
A lua que me cobre, tão bendita;
Incrível, vai me enchendo de calor.

Eu te amo com sincera insensatez
E canto com meus versos mais doridos,
Quem sabe; a fantasia tome a vez
Pintando em teu retrato meus sentidos...

Amor tão infinito quão fugaz
A mão da poesia sempre traz?

8

Bem sei que são tão nobres sentimentos
Que trazem alegrias em renúncias.
Sagrados nos permitem bons momentos
Intensos, neste mundo de denúncias.

São vastos os prazeres ofertados,
Em ambos, tanta luz ofusca a treva.
São simples mas, deveras, rebuscados,
Por eles a minha alma já se enleva;

Possível conviverem entre si?
Talvez mas é difícil acontecer.
Depois que tanta coisa eu dividi,
Tal possibilidade; pude ver.

Amada; é minha amiga de verdade.
Contigo, em pleno amor, uma amizade!

9

Bem sei que tanta dor já me acompanha
Dos tempos de menino, o que me resta,
Por mais que a dia venha a noite ganha
E fecha novamente qualquer fresta.

Mas tenho uma esperança na fragrância
Que o vento trouxe em paz, de bem distante...
Quem sabe se reverta o mal da infância
E a vida seja enfim, de novo amante...

Eu quero que este vento me responda
Não use subterfúgios, seja franco,
O mar que me inundou trazendo a onda
Foi sonho que perdeu-se ou dia branco?

Espero que esta noite o vento trague
Um beijo que me toque e que me afague...


10

Bem sei que tantas vezes duvidaste
Do que sinto em minha alma, só por ti,
Se em falsos descaminhos me perdi,
A luz de um sol imenso faz contraste.

Não sei se percebeste e reparaste
Que agora, finalmente estando aqui,
Depois da morte em vida, renasci,
E disto, meu amor; participaste.

Vieste em derradeira redenção,
Cuidando com carinhos e atenção
Daquele que durante a vida inteira

Perdendo as esperanças, se perdeu,
E agora que demonstro ser tão teu
Eu faço deste amor minha bandeira...


11


Bem sei que te fizeram redentora,
Mulher de mil batalhas e de guerra.
A noite que te trouxe, criadora.
Das dores; teu carinho me desterra.

Não posso conceber que quem te adora,
Não vive sem pensar: É bela a Terra.
Dos vales e dos campos és pintora,
Dos pássaros das cores desta serra!

Se tens a mansidão que tanto acalma,
Por certo também tens brilho e ternura.
As linhas do futuro em tua palma,

São flores maviosas qual bromélia.
A vida, em tuas mãos, tanta brandura,
Destino que me trouxe a ti, Amélia!

12


Bem sei que todo amor é passageiro,
Não deixo me iludir, eis a questão.
Porém o meu amor tão verdadeiro,
É mais que sentimento: é coração!

Bem sei que sentimento logo passa,
Não deixo me enganar, eis a verdade.
Assim, em pouco tempo se esfumaça,
Não deixa nada além d’uma saudade...

Bem sei que essa saudade nos maltrata,
Não deixo de saber, eis um dilema;
Mergulhar totalmente em densa mata,
Não há sequer no mundo quem não tema...

Mas nisso eu encontrei explicação,
O meu amor é mais: É MEU CORAÇÃO!


13

Bem sei querida, a dor que sentes; pois
Passei pelas estradas que passaste,
Conheço as cicatrizes do depois
Assim como o cansaço e o desgaste...

Vida que, em alegria, se compôs
Às vezes sente o peso que dobra haste
O corte tão profundo que te expôs,
Tal qual um fino caule, já dobraste...

Mas saiba que isto passa; minha amiga,
A cura? O próprio tempo se encarrega,
Por mais que tantas vezes se periga

Uma esperança; não desistas mais,
Ferida que se traz; nunca se nega,
Depois da cicatriz, retorna a paz!


14


Bem sinto meu amigo, este torpor
Que toma tua vida por inteiro,
Nestes versos que acabas de compor
Não foste quem conheço, companheiro...

Tu tens a mansidão dentro de ti,
Pacato como o vento mais suave,
A bem de uma verdade eu nunca vi
Criares para alguém qualquer entrave.

Porém se eu te encontrasse desse jeito,
Jogado como as pedras neste rio,
Iria te dizer do amor perfeito,
Que faz o coração ser mais macio.

Nos braços com total sinceridade,
Eu te relembraria da amizade...


16

Bem sinto que não queres mais que eu chame
Teu nome pelas noites, madrugadas...
Amor que tão distante não se inflame
Nas horas mais gostosas e sonhadas...

A brisa que te trouxe levará
Teus passos por estradas mais diversas.
Eu jamais estarei, decerto, lá,
Meu nome não virá nessas conversas...

Esquecido, num canto que deixaste,
Sem ter um só segundo do teu canto...
Meus pés atados quebras a minha haste,
E negas teu carinho e teu encanto...

Mas saibas que o vigor de uma emoção
Jamais derrubará meu coração!

Que luta a cada instante, sem saudade,
Aberto sempre ao vento, liberdade!


17


Bem vindo ao nunca mais retornarás,
Um prisioneiro apenas, nada mais.
O coração sem tréguas aqui jaz
Morrendo pouco a pouco, esquece o cais.

O vento libertário sempre traz
Em gestos delicados, sensuais
O quanto desejei tempos atrás
Nos gozos dos eternos carnavais.

Mas sei que tão somente o quanto tive
Não serve de desculpa, sigo preso
Às algemas da sorte que não vem.

Não tendo mais querer algum que prive
Levito no teu corpo, perco o peso
Até que não me sobre mais ninguém


18

Bendigo a putaria e a sacanagem,
Gostoso requebrado da morena...
No gesto sensual que me envenena
Mudando num momento a paisagem...

Abrindo devagar cada passagem,
Vislumbro, extasiado, a bela cena
Que toda umedecida já me acena.
O resto? Meu amor... Pura bobagem...

Eu não suporto tanta hipocrisia
Ou falsos moralismos de beata
Das velhas mal comidas, decadentes...

Louvando no meu verso, a putaria,
Fazendo no motel, no morro ou mata,
Pantera me cravando, unhas e dentes...


19


Bendigo este prazer que não negaste,
Em trâmites deveras formidáveis.
Na noite que profanas ,tal engaste
Mostrado em teus carinhos, mais amáveis.
Meu coração, querida, mal locaste,
Vieste com teus atos intratáveis.

Depois o tempo passa e tudo esgarça
Arrebentando a corda do querer.
Não falo deste caso como farsa,
Apenas vou querer sobreviver.
A sorte se perdeu por ser escassa,
Sobrando assim, quem sabe, meu prazer.

Mas guardo, mesmo amargo e bem antigo,
O gosto do teu beijo, que bendigo!


20


Bendigo o nosso amor em cada verso
E faço deste canto o meu louvor.
Andando em solidão pelo universo
Colhendo do jardim perfume e flor.

O mundo tantas vezes tão perverso
Ao ter esta alegria a recompor,
Unindo o que se fora mais disperso
Asperge em bom aroma, tentador.

Quem sempre tateara sem destino,
Galgando mil estrelas- pensamento,
Ao ver tal diamante, raro e fino

Permite conceber alumbramento.
Amor quando se mostra cristalino
Não deixa-nos sofrer um só momento...


21


Bendita a tua luz, amada amiga
Que é guia de meus olhos, meu farol.
Permite que eu caminhe e que prossiga
Eterno passageiro rumo ao sol.

Brotando em cada verbo, tal espiga
Que traz toda a semente em arrebol.
Do sonho que construo é firme viga
Por isso te persigo, girassol...

Bendita esta presença soberana
Que traz toda a certeza da vitória,
Bendita a natureza em paz humana

Que mostra teu carinho que não cessa.
Bendita a santidade feita em glória
Sem penitência, clemência e sem promessa!

22

Bendita a vida, mesmo que dorida,
Mesmo que solidão aporte dura
Mesmo que traga sempre despedida,
Mesmo quando entranhada, noite escura...

Bendita a vida, mater dolorosa!
Mesmo que nunca mais seja sincera,
Mesmo que nunca mais venha olorosa
Mesmo que se demonstre uma quimera...

Bendita a vida, tétrica saudade!
Tarântula, serpentes e dragões
Jamais impedirão a claridade...

Bendita a vida, vera companheira
Dos frenéticos, loucos, corações...
Minha primeira amante e derradeira!


23


Bendita e benfazeja floração
Alvíssaras espalha sobre a Terra,
Alquímica esperança traz poção
Na qual a fantasia se descerra...

Do quão cerrada a minha vida
Em cofres esquecidos no meu peito,
Ao ter a minha sorte amanhecida
Encanto se redime, satisfeito.

Do jeito que vier, apenas venha,
Janelas de minha alma, agora abertas,
Da chama da ilusão, amor é lenha
As sendas mais sublimes descobertas,

A vida em esperança já se aflora,
E sinto a chuva mansa e promissora

24

Bendita seja a força em que se emana
O fogo da paixão; tão violento,
Bailando nos consome o pensamento,
Que voando, horas, dias, não engana...

Eu quero te saber cada semana,
E ter o teu carinho, sentimento.
Roçando os teus cabelos, manso vento,
Chamando para a luta soberana

Não quero mais na vida, um abandono
Nem mais seguir sozinho, irei contigo,
No gozo da ventura que persigo,

Percebo-te rainha neste trono,
Amar é caminhar em passos largos,
Na busca interminável sem embargos...


25

"Bendita seja a Mãe que te gerou”
E trouxe à Terra um pouco de esperança.
O amor que nos permite a temperança,
Os braços da mulher acalentou...

A ti devo, em verdade o que hoje sou,
Uma alma transparente, audaz, mas mansa.
E quando o meu olhar, os Céus alcança
São marcas que este encanto me legou.

Delicadezas trazes num sorriso
Que embora assim suave, é tão conciso
Acalma este vulcão que existe em mim...

Outrora em violento frenesi
Bebendo a mansidão que existe em ti
Cultivo em alegrias meu jardim...


26


Bendito nosso amor, que é nosso guia.
Bendita essa alegria que nos toma.
Amar não é somente fantasia
É multiplicação, mais do que soma.

Olharmos para a mesma direção,
Sem nada que distraia a caminhada.
Unidos pelo mesmo coração,
Em busca deste sol, mesma alvorada!

Amar é conhecer o novo dia,
Sem medo do que foi, do que virá.
É desfrutar os gozos da alegria,
Sabendo que, feliz, se bastará.

Amar não é perder e nem ganhar,
Apenas, se preciso, transformar!


27

Bendito quem desfruta da amizade
De quem demonstra uma alma tão sublime,
Alçando com frescor a liberdade,
Teu verso me acarinha e assim redime.

Tu tens em tuas mãos, farto rosal,
Aonde a floração jamais termina
E mesmo na tristeza a triunfal
Beleza sabe em ti, suprema mina.

Amiga; se eu te louvo num poema,
Concebo humildemente o diadema
Que espalhas entre todos, constelar.

Qual lago que enfrentando a turbulência
Conhece desde sempre esta excelência
Da estrela mais brilhante que o luar...


28


Bendito seja amor que a paz semeia
E torna o meu caminho luminoso,
A vida que em amor já se permeia
Permite que se veja a chama e o gozo.

O rio da esperança adentrando a alma
Abrindo em novas sendas, paraísos,
Decerto multiplica enquanto acalma
Trazendo para todos bons sorrisos.

No amor a mais sublime redenção,
Arauto de um momento mais perfeito,
Retendo forte lume na amplidão
Entranha em alegria cada peito.

Na sede de viver felicidade,
O gozo em sedução depressa invade..


29

Bendito seja aquele que se dá
Sem ter e nem querer a recompensa,
Ao perdoar em paz qualquer ofensa,
Concebe Tua glória desde já.

A luz que eternamente brilhará,
Decerto maviosa e mais intensa.
Além de qualquer rito ou mesmo crença
A Deus, tenha a certeza, ela verá.

Manter acesa a chama feita Amor
Glorificando assim, o Salvador
Vertendo o mel que bebe a cada dia.

E mesmo quando o fel for o presente,
Entregar-se ao Amor completamente
Expondo o coração com alegria!


30


Bendito seja o sonho que sonhou
Alguém enamorado em poesia,
Vibrando neste embalo, a fantasia,
O canto da esperança desfrutou.

Vencendo a triste noite que passou,
Refém de uma tristeza, da agonia,
Percebe a claridade em novo dia,
E em pura sedução já se entregou.

Benditos os amantes mais audazes,
Que mostram-se em verdade mais capazes
De terem esperanças inerentes,

E acima da ilusão, louca mulher,
Terá toda alegria que quiser,
Em doces emoções, dias contentes...


31


Bendito seja o sonho que tivemos
Em meio a tantas luas e promessas
De tanto amor que, loucos, já fizemos,
Desejos vêm aos montes, em remessas...

Benditos os teus olhos radiosos,
Solares e repletos de desejos.
Teus lábios carmesins, deliciosos,
Carnudos tão propícios aos meus beijos...

Roçando tua pele em minha pele
Rolando teu prazer com meu prazer,
Aos versos mais sublimes já compele
Vontade tão teimosa de te ter.

E quero-te entranhada sem ter nexo
De cheiros emanados, amor, sexo...


32


Bendito seja o vento que te trouxe
Em meio a tempestades que passei.
Tua presença calma e sempre doce;
O mundo em que vieste me fez rei.

Tu trazes teu sorriso como fosse
A glória de quem ama, como amei.
Com força de quem quer já que remoce
A sorte que se fora em dura lei.

Te quero, benfazeja e mais serena,
Amiga amada, luz que enfim rebrilha.
Menina que sonhei; a vida acena

E traz uma esperança, maravilha,
De ter em cada dia em rara cena,
Uma alegria imensa em bela trilha...


33


Benesses que buscara no passado
Agora são mentiras, disso eu sei,
Enquanto a fantasia fora a lei,
O dia noutro tom, anunciado.

Do povo tanta vez injustiçado
Lamento em solidão eu escutei,
Enquanto cada hipócrita for rei
O corpo do menino, destroçado.

Não posso me calar, por isto insisto
E mesmo que meu verso seja vão
Ainda posso crer na solução

Plantada por Jesus, amado Cristo.
E mesmo distorcida, esta palavra
Um resto de esperança, eu sei que lavra...


34


Bengala justifica uma cegueira
Ao menos uma esmola. Por favor.
Abrindo tuas pernas, a porteira
Demonstra esta delícia feita amor.

O quanto na verdade não se queira
Secando cada lágrima diz dor
A morte carregada na algibeira
Estampa o meu caminho cor a cor.

No púlpito palpita uma pitada
Das hóstias consagradas pelo Demo.
Nas coxas da morena eu já blasfemo.

Pecado é não fazer amor com ela,
Na castidade insana se revela
Imagem que devia ser capada...


35

Beócia poesia morre insossa
E posso até dizer que não procria
Além do vão momento de alegria
Na aorta não atinge nem a crossa;

Adoce a fantasia. A voz se engrossa
Espalhando fecunda hemorragia
Que mata ao mesmo tempo em que sacia
A fome que as libidos; alvoroça.

Telha colonial sobre a palhoça
Botox com certeza já remoça
E o moço se transforma em iguaria

Fazendo sem pudor de uma carroça
A bela carruagem; fina bossa,
Boçalizando a tal da poesia...


36


Besouro vem zunindo da janela,
Abocanhando a luz em presas fortes.
Bocarra da ilusão teimando cortes
Saudade vai entrando sem tramela.

As asas multicores, som revela
Grasnido da emoção rasgando aportes.
No quanto te desejo e não suportes
O peito se amuando perde a vela.

Quem dera algum ourives lapidasse
A mão que esbofeteia a minha face
Deixando carinhosa o que espinhenta.

Um velho coleóptero fugindo
Sabia discernir fatal de lindo,
Sedução não seria violenta...


37

Biparti meus desejos, hoje choro...
Amores não permitem tais propostas.
De lágrimas ferozes me decoro,
Os lanhos deste açoite fazem postas.

Perdão, filha do sonho, eu já te imploro!
Aguardo ansiosamente essas respostas.
Truão, vero canalha, mas te adoro!
Punhais que aprofundei nas tuas costas!

Falar de traição é tão difícil!
É como disparar um torpe míssil
Matando todo amor que sempre deste.

Quem dera não houvesse essa rapsódia!
A dor nunca seria minha veste.
Imploro teu perdão; volta Custódia!


38


Blasonava-se, falsa e mentirosa...
As tardes que se foram não deixaram
Nem, ao menos, o olor da pura rosa.
Os pés cansados nunca caminharam

Essas terras bravias. Perigosa
Mata de frondosa arvore. Deixaram
Perfumes, tuas mãos. Misteriosa
A noite tão selvagem. Entranharam

Os engodos cruéis que nem disfarças.
Poderias negar os teus comparsas?
Viste-me por acaso, em mendicância?

Na vida coleciono discrepância,
As travas dos meus olhos te ressecam,
Urgentemente mentem, negam, pecam...


39


Boca macia, meiga e desejável.
Fazendo mil viagens sobre mim.
Num gesto carinhoso, inexplicável
Mordendo levemente, bem assim.

Amor a se tornar tão inflamável
Numa explosão divina traz enfim
A solução da vida, antes ruim,
Agora mais gostosa e adorável.

Aumentam meus desejos e vontades
De todo o tempo estar junto contigo.
Refletes todo o sonho que persigo

Tramando com amor saciedades,
Passando a conquistar felicidades
Protegendo-me, enfim do desabrigo...


40


Boca rubra, desejo carmesim...
De ter o teu desejo em meu desejo
Vivendo este desejo, sinto enfim,
Desejo de te dar um louco beijo.

No beijo que pretendo, minha amada,
Desejo de ser teu por toda a vida.
Não vejo noutro rumo, noutra estrada,
Sem portal do desejo outra saída...

Anseio teu desejo, companheira,
Teus seios preparados para amor.
Vasculho cada ponto. A verdadeira
Certeza de viver sem ter temor.

Desejo um coração louco e vadio,
Amada, nosso amor em pleno cio...


41


Bocas que se procuram
Famintas, cegas, cruas,
Prazeres que se apuram
Em carnes, doces, nuas,

As noites que se curam,
Pedintes, querem luas,
Os lábios se perduram
Nas pernas, lindas, tuas...

Versejo com vontades,
Procuro belas flores,
Deixando tais verdades,

Que formam tantas dores,
Distantes, nas saudades.
Ah! Sonhos sedutores...

42


Bocas rubras traduzem meu desejo
Em ter o tom mais perto do prazer.
Na boca carmesim eu já prevejo
O mundo que pretendo percorrer...

O mar cheio de esperanças que navego
Sem ondas, sem procela e tempestade.
Selando um sentimento que carrego
De conhecer, enfim, felicidade...

Eu falo dos festins que nos esperam
Nas noites que trouxeram nossos barcos,
Meus sonhos nos teus portos se temperam
Descrevem nos espaços tantos arcos..

Eu falo destas noites delicadas,
As nossas bocas rubras saciadas...



43


Boiando o boiadeiro não sabia
Que a bóia quando abóia não diz nada,
Tramóia diz de Tróia a cada dia,
E a paranóia quer alma lavada.

A jóia que me deste não valia,
Nem sói acontecer outra cilada.
Se dói o que em verdade não doía
Destrói minha alma agora rebelada.,

É factóide diria o mau político
Apenas indefeso e paralítico
O amor que a gente quer vai sifilítico

E morre nas esquinas, cego e cético,
O quanto não se quer amor poético,
Nem mesmo um vão carinho cataléptico...


44

Bom dia, companheiro, o sol nascendo
Trazendo nos seus raios a esperança.
Felicidade, outrora um ledo adendo
Agora, mansamente nos alcança.

E o peito tantas luzes recebendo,
Aguarda a caminhada bem mais mansa,
O brilho matutino convencendo
Quem faz com fantasia esta aliança.

As pedras e os espinhos, os retiro,
A terra ao refazer um novo giro
Decerto mostrará noites escuras.

Porém quem sabe a paz já discernir,
Não teme as variantes do porvir
Derrama no arrebol; claras ternuras...


45


Bom dia; meu amigo. Há quanto tempo!
Não posso me esquecer de antigos dias,
A vida nos prepara em contratempo
Motivos para várias poesias.

Tomando o meu café de manhã cedo,
Saudades de uma infância que se foi,
Se o mundo se tornou assim, azedo,
Rumino esta lembrança feito um boi.

Te lembras da casinha pequenina?
A roupa no varal bebendo o sol,
Cadeiras na calçada e numa esquina
O mesmo amarelado do farol

Dizendo das surpresas desta vida,
Mas todo labirinto tem saída...


46


Bonança após tempesta, eu vou contente
Sentindo o teu perfume, moça bela,
Amor que em farta chamas se revela
É fogaréu na imensidão que atente.

Descubro a tua pele e de repente
O barco adentra o mar soltando a vela
Desenha nosso amor delícia em tela
Num toque de luxúrias envolvente.

Tua nudez promete maravilhas,
Amor ao desarmar as armadilhas
Expressa mil desejos e vontades.

Rapina dos prazeres; sigo intenso
Bebendo deste mel suave e denso
Encontrando afinal felicidades...


47

Bonança em tempestade revigora
O fato consumado; assim te quero
Sem tempo sem destino e sem ter hora
E nele me renovo e regenero.

Espero sempre o tempo de voltar,
Traçando o meu caminho junto ao teu,
Deitando sob os raios do luar
Esqueço que carrego eterno breu.

Porteira arrebentada sigo em frente
Acendo uma fogueira pela estrada
Por mais que a gente pense e sempre tente
Não deixo que se perca quase nada.

Seguindo nosso amor, raro colosso,
A vida segue em paz, sem alvoroço...


48


Bonança que se dá; pós a tempesta...
Trazendo um louco incêndio em nossa cama,
O quanto eu te desejo amor atesta
E para a festa insana já nos chama.

Carícias e carinhos que trocamos,
Cumplicidade eterna que estremece
As estruturas todas; balançamos
Envolvimento em luz, amor já tece.

Amortecendo assim, os desenganos,
Mudando a direção dos velhos ventos.
Nos olhos que rebrilham, novos planos,
Tomando com vigor os sentimentos.

As nossas mãos unidas sempre em prol
Do amor, um deslumbrante e raro sol...


49


Bonina delicada, tua alvura
Graciosa e tão sutil, enfeita a vida!
Melífero desejo traz doçura
Da boca que julguei estar perdida.

Abelha seduzida pela pura
Inocência emanada, decidida,
Procura-te em total e sã loucura.
Menina, aonde vai assim florida?

Nos campos, nos pomares, no jardim,
Suave borboleta sobrevoa.
Pura felicidade vive em mim.

Aos raios deste sol, uma açucena,
Bonina, doce amada vai à toa,
Meus olhos já não têm cor de verbena...


50


Bordando uma ilusão em céu tão claro,
Olhos distantes buscam uma estrela
Que é feita de cristal deveras raro.
Meu Deus, como é difícil poder vê-la...

O gosto da existência, triste, amaro,
Percebe que não posso mais contê-la
Faltando para os passos, anteparo,
Tal sorte, se perdendo em bela tela.

O cheiro de esperança, outono leva.
Não deixa mais um sonho conduzir.
Minha alma solitária tanto neva

Que nada mais farei, senão sonhar,
Quem sabe poderei, enfim pedir,
Um beijo desta estrela... longe... ao mar...


51


Bordar a minha vida em tua vida,
Atando cada laço em forte linha.
Tua palavra amiga que decida
O rumo em que destino nos alinha.
No dia a dia, sempre foste minha,
Agora a nossa sorte decidida

Nos braços deste amor sem fantasia,
Nos olhos de quem sabe o que se quer,
Formando o novo canto em alegria,
Para sempre serás minha mulher,
Guerreira, companheira em sintonia...
Estou contigo venha o que vier...

Na cama, seda, renda e bom veludo,
Aos poucos, tanto amor pr’a mim é tudo...


52


“Braços abertos sobre a Guanabara”
Abençoando a todos... Ah! Quem dera
Se a sensação divina, posto rara
Trouxesse para o povo a primavera!

A dor de uma esperança que é tão cara
Morre na realidade triste fera
Que devora, revolta e nunca pára
De matar nossos sonhos, nossa espera...

Na injustiça que rouba uma esperança,
Na fome de ilusões, velhas favelas,
Na chaga que se estampa na criança

Nos dissabores todos, calo a voz.
Acendo o coração imerso em velas
E peço por favor: Orai por nós...


53


Braços brancos abraçam sem brandura.
Das brumas, borboletas e bromélias.
Nas sebes emboscadas de corbelhas,
Beija, abelha, boninas com bravura.

Belezas se embasando na brancura,
De beatas bacantes, de camélias,
Não sabem que soçobram as Amélias
Em burlas belicosas, sobra jura.

Entretanto tentando sentir, tato,
Em fátuo sentimento de prazer
Fazendo tanto amor só por fazer

Retrato meu dilema em cada fato.
Se amar demais foi sempre meu retrato,
Rechaço, em novo fato, o bem querer.


54


Bradando com certeza o bem querer,
Por toda a minha vida eu te esperei,
Sabendo quanto tempo, procurei
Percebo a maravilha de poder

Beber em tua boca, o meu prazer,
Singrando esta esperança em que tentei
Fazer de uma alegria a nossa lei,
E tudo se perdia, sem saber

Se a vida não podendo ser somente
Aquela que se busca de repente
Não adianta mais sequer sonhar...

Porém quando tu chegas traz luar
Clareia a minha vida num momento,
Transborda em cada verso, o sentimento...


55


Brandura de querer meu bem que quero
Da forma que quiser meu bem querer.
Eu quero teu amor; pois nele espero
Esta querência boa de viver...

Às vezes vou sozinho e, sem querer,
Encontro a solidão que não mais quero
Matando essa tristeza não espero
Que volte e que incomode meu viver.

Entenda como é bom se, por querer,
Eu for um passageiro deste sonho
Que transformará todo esse viver
Num futuro feliz e mais risonho...

Eu quero teu amor, minha mulher,
Nas pétalas do amor do bem-me-quer...


56


Branquicento luar bebe coqueiros
E risca o céu, divino manobrista,
Nas mãos deste cenário, velho artista
Espreita com olhares os ribeiros.

Mergulhos nestes mares que, mineiros
Amineirando a sorte, traz de vista
Os ventos que se foram sem ter pista,
Os passos do poeta são ligeiros.

Vermelho entre azulados dizem sol
Que vem e revoltando este arrebol,
Fecundará palmeiras e sereias.

A moça coxa-a-coxa quer bem mais,
Sovando as esperanças sonha sais
Do boto que num bote invade areias...


57


Brasil este país forte e gigante
É quase um continente, com certeza,
A fome sertaneja, uma constante
Retrato mais fiel desta pobreza

Que é feita de injustiça e roubalheira,
Nas almas nos Congressos e cidades
Cevando sem limites, bandalheira
Impedem que se creia em liberdades.

Na fuga sem paragem, nada tendo,
A morte se aproxima e toma tento.
Enquanto este vazio se tecendo;
Meu olhar de jagunço sempre atento.

Em plena escuridão, como miragem,
Uma esperança toma esta paisagem...


58


Brasil, na mistureba dos sentidos
Orgasmos tropicais são inerentes,
No fogo moteleiro dos nubentes
Viagens por caminhos conhecidos.

Olhando para a moça que se abriu,
Nos convites safadas fantasias,
Carnavelesco sonho, alegorias,
A pátria sempre foi puta e gentil.

Aproximando bem olhos e lupas
-Morena; maravilha quando chupas
Eu estarei aí de manhã cedo.

Hedônicos jograis determinando
O gozo nunca austero e jamais brando
De tanto que adoçou, ficou azedo...


59


Brasil, no seu currículo as medalhas
Que fazem sempre a honra deste povo.
Embora não perceba nada novo,
Nós somos campeões destas batalhas.

Ao vermos injustiças, velhas falhas
Douramos nosso peito, isso eu comprovo
Da prata com orgulho, ainda provo,
De tanto assassinato, fogos, palhas

Na prostituição de qualquer jeito
O bronze que se estampa em nosso peito,
Além de outras conquistas varonis.

A gente ainda ri e vai contente
A cruz que justifica o penitente
Demonstra o desdentado mais feliz...


60


Brincando com destino, num desdém,
Sozinho não vacilo um só segundo.
Bem sei que na verdade sem ninguém,
Meu peito se tornou um mar sem fundo.

Distante da esperança, vou aquém
Daquilo em que não sonho nem me inundo,
Quem dera se pudesse ter o mundo,
Mas sei que depois disso, nada vem.

Porém no decorrer de tantas horas,
Debruço o coração nestas ameias.
Sem nada o que sonhar como incendeias

Um semimorto velho em que te ancoras.
Às vezes me pergunto, isso é demais,
Se são somente sonhos ou reais?


61



Brincando com teu grelo em minha boca,
Chupando devagar até deixar
Bem molhadinha a xana, doce toca,
Que quero bem gostoso penetrar;

Tu gemes de tesão, ficando louca,
Na foda que contigo irei tirar,
Arregaçando, amada, a tua loca
Até que bem tarada, irá gozar.

O teu cuzinho deixa-me com fome,
Pedindo com vontade que eu o come,
Piscando de desejos, louca gruta,

E depois num boquete ejaculando,
Meu leite em tua boca te fartando,
Uma deusa safada, a minha puta...


62




Brincando de emoção, simples criança
Que faz deste barquinho de papel
Aonde uma alegria sempre alcança
Motivos de sorrir, chegar ao céu.

No seu aniversário uma lembrança
De um dia sem igual, no carrossel
Do tempo que decerto vai, avança
Mas sonha docemente com o mel

Da infância que se foi, não voltará,
Festejos que marcaram seu passado,
Estrela que decerto brilhará

A cada novo sonho desfraldado,
O menino renasce e vem mais forte,
Trazendo para o velho algum suporte...


63


Brincando de esconder entre as estrelas,
Correndo por satélites, anéis,
Galáxias distintas, posso vê-las,
Na busca, minha amada por teus méis.

Neste universo imenso que, ao corrê-las ,
Estrelas-maravilhas, canso os pés;
Mas nada me impedindo concebê-las,
Sou barco que, sem ti, perco o convés...

Quero poder te ter aqui, agora;
Deitar o meu desejo esfuziante....
Tu somes e sem ti já se descora

O céu que tanto quis. Que vale a vida
Sem ter essa mulher amada amante...
Estavas dentro em mim... quieta... escondida...


64


Brincando nas estrelas; pular corda
No arco íris depois de tantas chuvas
A vida da menina assim transborda
Correndo atrás da nuvem de saúvas
Meu coração ao vê-la se recorda,
Quintal garapa, cana, vinhos, uvas...

Um tempo que refaz-se. Vida boa..
Morena teus mistérios e segredos
Relembram chuva fina, uma garoa
Do tempo em que viver trazia medos,
Curados por café, carinho e broa.
A vida me levou, outros enredos...

Mas ver tua emoção, tuas magias,
Me diz: tu és feliz e bem sabias...


65


Brincando no quintal de nossa infância,
Sabendo dos canteiros e jardins.
A vida foi moldada em discrepância,
Vingando em tantos sóis, astros afins...

Mas temos nossos lumes, fantasias.
Mas tenho teus perfumes, mansa rosa.
Mas temo tantas vezes, alegrias,
Ao termos melodia glamourosa...

Na tarde eclipsaremos nosso amor
De raios misturados e potentes,
Vivendo sem temer espinho e flor,
Sabemos que nos temos envolventes...

Aos céus nós subiremos no prazer,
Dos braços enlaçados do querer!


66


Brincando sem descanso com o fogo
Juntei meus cacarecos vida afora
Os sonhos em teus braços eu refogo
Sabendo do arvoredo cada tora.

Desejo o teu desejo e desde logo
Não tendo outra palavra, amor decora
O verso que te faço desde agora
Chamando para a festa sem ter rogo.

Se eu interrogo o pobre coração,
Respondo com final exclamação
Que tudo o mais quero é sempre igual.

Um beijo desfrutado em tua boca,
Paixão que mesmo muito não sufoca
Fazendo uma corbelha divinal



67



Brincar de esconde-esconde entre as estrelas,
Vagando entre mil astros, te encontrei.
Ao ver no céu imerso em belas telas,
A mais perfeita delas, eu achei.

Meu barco velejando, abertas velas,
No mar de amor imenso eu naufraguei,
Querida tu também, cedo revelas,
Amor com quem por vezes eu sonhei.

Agora em teu sorriso de criança
A força redentora deste amor.
A perfeição divina já se alcança

Nos braços da mulher onde adivinho,
Inebriante gosto encantador,
Pureza do perfeito e raro vinho...


68

Brincarmos na piscina sob o sol,
Teu corpo delicado e sensual,
Não tem ninguém por perto em arrebol,
Do suor escorrendo, doce sal.

As mãos vão procurando seus caminhos
E afastam teu maiô, achando a mina,
Mergulho sem juízo, em mil carinhos
E toda esta loucura me alucina...

Depois, debaixo dágua uma loucura
Dançamos em acordes tão delicados,
Com força e com vontade e com ternura
Os rumos do prazer são penetrados

E assim, a tarde passa... a noite vem,
Gostosa, na piscina, com meu bem...


69

Brincávamos de sonhos e ilusões
Meninos que cresceram todos juntos.
Assim, ao descobrirmos as paixões
Não tínhamos na vida, outros assuntos.

O tempo te levou, e a mim também
Distância foi cruel em nossas vidas.
Mas ao rever teus olhos, vejo bem
Que aos corações não houve despedidas...

Dispersos neste mundo de Meu Deus
Casamos, separamos... A vida passa.
Se nunca proferimos um adeus
Ainda posso ver sob a fumaça

Meninos que brincavam mal sabiam
Que o amor, mais verdadeiro conheciam...


70


Brindando à nossa glória fartamente
Inebriado sonho ao qual me entrego,
Prazer que em fonte rara não renego,
Expressa o que desejo plenamente.

O quanto é necessário que contente
Um coração outrora vago e cego,
Permite-se dizer que em raro apego
A vida transbordada em tal torrente.

Sagrando cada verso que eu te faço
Ao novo amanhecer sem embaraço,
Nas águas da monção do amor me inundo.

Na bela alegoria em claro véu,
Eu toco num momento imenso céu,
Vivendo o nosso amor, raro e profundo.


71


Brindando nesta data inesquecível
A quem sempre se mostra companheira,
A força da alegria, tão incrível,
Nos olhos desta amiga, verdadeira.

Aniversariando neste dia,
Eu peço que louvemos cada passo,
De quem sabe viver a fantasia
E traz bem mais sincero cada abraço.

Assim, ao derramar amor imenso,
Transforma o nosso mundo, faz bendito
O canto que se fora triste e tenso,
Fazendo da esperança um novo rito.

Feliz aniversário, eu te desejo,
Em cada verso meu, receba um beijo...

72

Brindo outra vez, teimando no martírio,
Bem sei que me fugiste, sem perdão...
Busquei-te nas campinas como a um lírio.
O que causava inveja a Salomão...

Não mais esquecerei, nem em delírio,
As mãos que me afagavam, com paixão...
Não resta em meu altar sequer um círio
Qual fosse o coração, ateu, pagão...

Não mais quero tratar amor tão tétrico,
Nem quero percorrer teu céu sem lua.
Nas minhas serenatas, assimétrico,

O canto repetido te faz nua.
Meu verso vai quebrado, não é métrico.
Por isso tão distante alma flutua.


73


Brinquedos feitos de papel marché,
Guardados nas estantes da lembrança,
Saudade conjurada, fina lança
Falando a cada dia de você.

O sonho de uma casa de sapê,
Recordação de súbito me amansa
E traz no seu sorriso de criança
O quanto desejei sem ter por que.

Posseira das vontades, deusa nua,
Desfila pela casa e continua
Reinando mesmo ausente só por ser

A sílfide que outrora fez-se em verso
Dourando este fantástico universo
Que um dia emoldurou todo o meu ser...


74


Bronzeado cavaleiro sob a lua
Olhando para argêntea maravilha,
Ao vê-la desfilando bela e nua,
Mirando com prazer sublime trilha.

Uma alma bandoleira, alma andarilha,
Vislumbrando bel astro enfim flutua
E bebendo da luz, também já brilha
E a sanha deste encanto continua.

Nos rastros que ela espalha noite afora,
O amor à flor da pele assim se aflora
Tomando este Quixote enamorado.

Porém Lua cigana vai embora
E outra paisagem além ela decora,
Deixando o sonhador abandonado...


75


Bronzeio o coração em girassol,
Cataventando a luz em riso manso.
Amor vai invadindo este arrebol,
Nos pés que titubeiam, logo tranço.
Às vezes discutindo futebol,
Notícias que me mandas; não alcanço.

Remanso estipulado há tantos anos,
Meandros deste mar em sanidade.
Não quero mais mudanças em meus planos.
O medo não terá facilidade,
Vencendo os meus antigos desenganos
Amor que agora eu tenho, é de verdade.

Menina vê se nina o velho peito,
Fazendo do teu modo, do teu jeito...


76


Brotando mesmo em terra mal arada,
As emoções nos tomam totalmente,
A chuva que se fez abençoada
Expressa o brotamento da semente.

Não deixe que a tristeza, assim, te alague;
Irrigue nossa vida em esperança.
Por mais que a fantasia não te afague
Estenda ao coração, a temperança.

Assim, nesta aliança nós iremos
Vencer os mais temíveis temporais.
Unindo nossas mãos, os mesmos remos
Expressam a esperança feita em cais.

Mesmo que anuviado em noite escura
Amor que remedia também cura.


77


Bruxuleantes luzes adentrando
O quarto que se fez em fortaleza,
Não tendo nem porque, talvez ou quando,
Encontro tão somente uma incerteza

Sumária expectativa me tomando
Além do que mais queira quem me preza
Da vida vou perdendo algum comando
E morro a cada dia, frágil presa.

Eviscerado o sonho em que me deste
Contrastes entre cores tão diversas,
Não tendo mais sentido estas conversas

Apenas prenunciam dor e peste.
Partícipes de um jogo sem final,
Morremos pouco a pouco, bem ou mal...


78


Bueno, como te que quero prenda bela
Distâncias eu percorro num segundo
Somente pra dizer o que revela
Amor, um minuano ganha o mundo.

O sonho qual cavalo que se atrela
Meu canto que já fora vagabundo
Ao ver no céu dos pampas esta estrela
Percebe este querer demais profundo.

No amargo de meus dias, na algibeira
Carrego uma esperança sem igual,
Do medo eu distancio, vil bagual

Que um dia maltratara o sentimento.
Paixão que sinto em fogo, verdadeira
Queimando o coração, ardente e lento...


79



Buenos Aires, Gardel, noites de ronda
A lua em plenos raios, argentina
Imensa; a deusa nua, que redonda
O céu dos meus desejos alucina...

Bandaleons convidam para a dança
O vinho em tua boca carmesim,
Tinturas delicadas. Com pujança,
Encontro as rubras rosas, meu jardim.

No vestido vermelho, sensual,
A deusa já flutua entre meus braços.
Um beijo disfarçado e casual,
As pernas se tocando, tangos, passos...

E tudo à meia luz, como convém
Na noite inesquecível de meu bem...


80

Bulino cum meu peito essa morena
De noite no meu quarto, uma beleza!
A gente vai sabeno cum certeza
Da vida mais gostosa e mais serena

O chêro do seu corpo me envenena
Dexano lá pra trás quarqué tristeza,
Carim que a gente faiz, que boniteza
O amô vem machucano e num tem pena.

Martrata um coração que sempre qué
O gosto tão gostoso da muié
Trazeno uma alegria sem iguár.

É como se eu tivesse, de repente
Podê de maginá que a gente sente
Qui nem um passarim, é tar e quár.


81


Buril que se perdeu em noite fria,
Numa álgida presença, solidão.
A morte me fazendo companhia,
As nuvens deslizando em procissão.

A fétida presença da agonia,
O vento se transforma em furacão,
E enquanto a vida passa, tudo esfria,
Percebo que também passei em vão.

Mereceria ao menos uma chance,
Distante vejo amor fora do alcance
E as minhas mãos inúteis vão às cegas...

Teares da ilusão perdendo o fio,
Verdugo tão irônico e sombrio
Gargalha dos meus sonhos tão piegas...


82


Buscando a antiga barca do passado,
Outrora solitário sonhador,
Janela que se abriu mostra em bom grado
O quanto o sol se mostra encantador.

Voando sem parar, chego a teu lado,
É vasto o Paraíso feito flor,
Um canto que desejo enamorado,
Porteira escancarada diz amor.

Tomando as firmes rédeas, minha mão,
Deixei de ser polígamo por ti,
Nas plagas mais distantes, solidão;

Fazendo no horizonte sombra e treva,
Agora que esta sorte eu conheci,
A luz de um novo tempo em paz me leva...

83



Buscando a claridade deste sol,
Qual fosse um helianto, eu me inebrio
Da luz que derramada no arrebol
Transforma em diamante este rocio.

São mágicos momentos com certeza,
Suprema maravilha. Inesquecível
Tradução mais perfeita da beleza
Prismático delírio, fonte incrível

Aonde iridescente poesia
Uma aquarela nobre que recria
Deidades concebidas pelos sonhos.

Jardins e borboletas, água pura,
Na cristalina imagem da ternura
Cenários fabulosos e risonhos...


84

Buscando algum refúgio nos teus braços
Depois de ter sofrido a decepção
Saudade não estica mais os laços
Sou teu e vivo imerso em tal paixão.

Os erros que eu cometo, sei que crassos,
E neles encontrei desilusão.
Seguindo com firmeza assim, teus passos
Verei ao fim da tarde este clarão

Que diz do plenilúnio que me trazes,
A lua deste amor jamais tem fases
E brilha mesmo em tempo mais nublado.

Permita que eu prossiga num ponteio,
Seguindo este caminho que eu anseio,
Cantando o tempo inteiro do teu lado...


85


buscando ancoradouro neste porto
desejos entre lábios e carinhos,
bebendo em tua boca doces vinhos,
no corpo de quem amo, eu me conforto.

descubro a bela senda aonde aporto
delírios que encontrando calmos ninhos
já sabem, reconhecem os caminhos
que trazem calmaria em bom conforto.

confronto meu passado doloroso,
com farto bem estar tão desejoso
e faço deste sonho, puro encanto.

e saibas que eu te quero, bela prenda
segredo que o amor cedo desvenda
permite que enfim diga: eu te amo tanto!


86


Buscando aonde estrela mergulhou
Navego os sete mares num segundo,
Das águas perfumadas eu me inundo,
Num doce paraíso naufragou

Saveiro que esperança me legou.
Do velho coração tão vagabundo,
Estrela que me leve pelo mundo
Colhendo cada flor que amor plantou.

E embora um sonhador sem eira ou beira,
Fazendo da alegria uma bandeira,
Eu posso enfim dizer do amor que trago,

Enfáticas palavras, belo sonho,
Delicadeza extrema em que componho
A doce placidez de um calmo lago...


87


Buscando conhecer quem sou, quem fui,
Procuro em ti querida esta resposta.
De tanto que amizade nos influi
A face que ocultei; em ti exposta.

O tempo tantas vezes tudo pui
E corta um sentimento, aberto em posta
Tudo o que vivemos já conflui
Para quem sabe e mesmo assim nos gosta.

Amiga me conheces muito bem
Valores que carrego, sabes todos...
Uma amizade intensa sempre tem

Poder de nos mostrar quase que inteiros
Não admite nem erros nem engodos.
Espelhos que nos mostram verdadeiros...


88


Buscando neste amor, simplicidade,
Na casa pequenina de sapê
Vontade de saber mais de você
Distante da loucura da cidade.

No quanto se deseja, minha alma crê
Que tudo seja sempre de verdade,
Olhando o firmamento a luz invade
E nela o meu futuro, amor já lê

Você chegou tão manso em minha vida,
A solidão deveras distraída
Não percebeu seu passo em calmaria

Ao ver a minha casa iluminada
Tristeza foi mudando de calçada
Abrindo este caminho pra alegria...


89


Buscando nos cristais a claridade
Que possa traduzir meu claro amor.
Não soube deste dom nem qualidade
Capaz de superar tanto esplendor.

Cristais se derreteram num segundo,
Sem luminosidades definidas.
Amor, em tanto brilho, mais profundo,
Supera as tristes pedras, derretidas...

Em outras pedras, tantas; procurei,
Mas nada de encontrar uma rival
Ao fogo deste amor, que é lema e lei,
Nem mesmo na dureza do cristal...

Apenas uma pedra é tão brilhante,
Quanto amor que te tenho, o diamante



90


Buscando nos teus olhos o reflexo
Dos meus que se perderam e não voltaram,
Misturo nossos lábios num complexo
Desejo. Nossos corpos se tocaram

Fazendo deste amor a nossa meta
Que corta tantos céus; invade o mar,
Tocados pelas mãos e pela seta
Daquele que domina, deus do amar.

Mergulho nos teus olhos, mal disfarço;
Na luz que me alucina e logo cega,
Cedendo ao teu desejo todo o espaço,
Jardins desta esperança, minha alma rega.

E ao ver meus olhos dentro deste olhar,
Percebo o quanto quero e vou te amar...

91





Buscando num jardim flores, camélias,
Jasmins e violeta, dálias rosas,
Achando-te querida, em mil bromélias,
Mais bela que entre todas, orgulhosas,

Recebo o teu perfume, raridade
Que vale toda flor desta jardim,
Amando mais que posso, na verdade,
Guardando teu aroma dentro em mim...

Suaves os desejos mais profanos
De ser o jardineiro preferido
Não vejo nem concebo mais enganos,
Depois de tanto tempo preterido..

Eu quero o teu perfume e t’a beleza
Com doce paladar em minha mesa...



92


Buscando o céu mais claro em pleno azul
Espaços percorrendo num segundo,
Olhar entristecido, o peito blues
Rondando vai ao léu, qual giramundo.

Tua presença está sempre comigo,
Embora não te veja junto a mim.
Imagem deslumbrante que persigo,
Carrego o tempo inteiro, sempre assim.

Olhando para os lados vejo um vulto
Andando passo a passo o tempo inteiro,
Amor sempre presente, embora oculto
Exala em fantasia, aroma e cheiro.

O quanto que eu te quero! Amor imenso;
Não sabes, mas somente nele eu penso...

93


Buscando o paraíso em teu olhar
Recebo a claridade de um farol.
Banhando em pura prata o negro mar
Da lua transformada em vivo sol.

Espalhas esperanças a brilhar
Tocando com belezas o arrebol.
Persigo assim teus olhos sem parar,
Qual fora um helianto, um girassol.

Semeias fantasias onde passas,
Em ti me vanglorio, sou feliz.
Deténs as alegrias e as graças

Meu álibi sagrado, soberano.
Envolto em claras cores, teu matiz,
Amor se faz inteiro, sem engano...

94


Buscando o que encontrara; amor, em ti;
Desabam num segundo, temporais.
A barca de esperança busca um cais,
Que um dia em fantasias, conheci.

Em sonhos, pelo menos, eu venci
As dores e tristezas ancestrais,
Em risos, pesadelos; transformais
Utópica manhã. Eu renasci.

Porém ao acordar, em solidão,
Voltando à mais cruel desilusão
Não tenho outra saída senão esta,

Deixando a porta aberta em esperança
Entrego o coração sem contradança.
A morte, o bem supremo que inda resta.


95


Buscando o que tivera em claras cores
A sorte eu sempre soube caprichosa
Vieste dirimindo minhas dores,
Mostrando a nova vida, maviosa.

De todas as sonhadas, belas flores,
Rainha do jardim, divina rosa
Agora irei contigo aonde fores,
Estrela que me guia, radiosa.

Amor, imenso sonho em plenitude,
Refaz no entardece, a juventude
Não sabe e nem pergunta mais por que.

Tristeza se perdendo em emoção,
A boca que me beija em sedução
Amor em fantasia que se dê.


96

Buscando o teu castelo no sertão
Princesa dos meus sonhos... O luar
Aponta meu caminho e direção
Teu reino enluarado onde encontrar?

Pegadas tão esparsas pelo chão
Distante... Tanto tempo a procurar
Levado pelas mãos do coração...
Princesa mais bonita do lugar!

O vento do querer é o meu guia
Estrelas comandando o meu caminho...
Ao gosto da vontade... A fantasia...

Clareio nos teus braços, na chegada.
Deitando em tua cama meu carinho...
Depois dessa poeira... Tanta estrada...



97


Buscando os braços mansos, magistrais
Da moça que não quer saber de mim,
A flor que descorou o meu jardim
Sem dar uma alegria. Eu quero mais

Que os lábios com certeza sensuais
Dizendo finalmente um simples sim.
A vida detonando este estopim
Demonstra que serei dela jamais.

Não falo de desejos e loucuras
Apenas de carinhos em ternuras.
Amor tão simplesinho, arroz/feijão

Varanda em casa branca, na palhoça
Não falo em Casablanca nem paixão.
Saudade dessa moça, o peito roça...


98


Buscando os teus sinais vasculho a casa
Em meio a vendavais e tempestades
Enquanto a fantasia ainda abrasa
Decifro madrugadas, claridades...

Rompendo as velhas grades do passado,
Liberto passarinho quer asilo
Nos olhos deste ser belo, encantado,
Querendo amanhecer bem mais tranqüilo.

Sem medo, coração batendo forte
Não teme mais algemas nem gaiola,
O tempo cicatriza qualquer corte,

Trazendo esta alegria que não cessa.
Felicidade assim entra de sola,
Realizando em paz, velha promessa...


99


Buscando pela lua espero o teu carinho...
Vagando pelo céu, aguardo o meu repouso
Nos braços de quem amo, um manso e doce ninho
Onde eu encontrarei o meu campo de pouso...

Seguindo a minha rota embora indefinida
Não passo um só minuto estradas bem cuidadas
As pedras, minha cruz, carrego em plena vida,
Nas forças do destino as dores encontradas...

Estou já tão cansado, a noite se aproxima...
Espero te encontrar nas curvas, nas paragens...
Cantando essa ilusão em tosca e triste rima
Minha alma aventureira inteira-se em viagens...

Eu quero tanto amar, embora não mereça...
Eu temo que sozinha, a minha alma envelheça.


3800


Buscando pelos passos de quem amo
Cansei de mergulhar em mar sombrio.
Um velho coração tolo e vadio,
Já não suportará senzala ou amo.

Podando da esperança cada ramo,
O vento que virá decerto frio,
No quanto sempre nego, propicio
A voz na qual, exausto inda reclamo.

Serpentes entre rochas, trevas, locas.
A fantasia foge enquanto tocas
Com tal suavidade que entontece

Desníveis provocados por meus erros,
Olhando no horizontes, negros cerros
Enquanto a poesia se enfurece...
 
Autor
MARCOSLOURES
 
Texto
Data
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