Crónicas : 

Crónicas de Monoamor.

 


Por uma última vez, não volto a perguntar se me queres. Ponto final e não ponto de interrogação.
Arre, que um homem tem uma dignidade, tem uma espinha. Parece que quando te sinto, é mais fácil mentir. É na solidão que me desatino, é na tua ausência que passo ao contra ataque a mim próprio. Porra, os sentimentos são tão parvos, tão ao contrário do que quero. Parece que há gente que nunca tem destes problemas. Afinal, quem vive melhor?
Sinto a forma como desvias o olhar, nem sei o que queres dizer. Pareces fugir, ao mesmo tempo como se te desgostasses de não quereres exactamente o querias querer.
Chatice das palavras. E se falássemos por telepatia? - e se nos entendêssemos sem ser preciso falar?
Que tal inventar uma comunicação mental. Bem, isso não era bom, não podia guardar segredos, seríamos nus a todo o instante.
É de tanto te querer que me calo, que emudeço e paro. Uma vez perguntaste se desisti. Nunca, porque não posso, não porque não queira. Que pode fazer alguém se ama? Não se inventou ainda um chá de desamor, que me tire deste todo, dum corpo pegado a um olhar, dum desejo sereno, às vezes louco. É como uma dor que não sai, mesmo que me queira distrair.
É de tanto querer que me dói o teu não? – Não, não é. É mais, de não encostar o teu não na beira da estrada e seguir. É de me embrulhar nesse teu corpo, lindo, desejado, desse teu rosto, desses teus olhos. Nem me lembro se é lindo, porque não existe onde me apoiar, onde comparar.
Sais de mim, com uma simples frase, o teu movimento é um não movimento, as tuas mãos fecham-se escondidas no meio dos teus braços, encostadas nesse teu peito que queria alcançar e sentir.
Tens as mãos nuas, envergonhadas – olho-me no vazio, na estranha sensação do ridículo, nessa tua expressão vazia de quem nada tem para me oferecer.
Olho o teu rosto – não quero o teu beijo prolongado, não quero estar aí, quando te despedires na lembrança de um adeus, cruel.
A minha esperança são os poemas, o acreditares que vou ter sempre essa pequena luz se quiseres regressar – ao menos terei sempre a esperança que voltes, e tu porque a luz brilhará, mesmo fosca, o convite para te deitares, cansada, gasta de procurar quem te ame mais, ao lado desta pobre paixão inacabada.
Há um ar fresco de fim de Verão que se recalca no final das tardes. O Sol esgueira-se, tu permaneces, cercada da soma dos olhares onde nunca mais dançarás a roda, eu por aqui fico falando ao destino destas histórias. O destino aborrecido, diz que sim, pois é, pois é, complacente, cheio – afinal não há nada de novo nesta história..


Jorge

 
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JB
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Enviado por Tópico
Tália
Publicado: 11/09/2007 18:50  Atualizado: 11/09/2007 18:50
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Usuário desde: 18/09/2006
Localidade: Lisboa
Mensagens: 2489
 Re: Crónicas de Monoamor.
Telepatia é melhor não...palavras porque não?
Em vês de escritas faladas, cara a cara, olhos nos olhos... já experimentaste?

A história só não é a mesma quando lhe damos seguimento...

Hoje brindaste-nos com a tua escrita

Obrigada

Beijo

T

Enviado por Tópico
Vera Sousa Silva
Publicado: 12/09/2007 10:48  Atualizado: 12/09/2007 10:48
Membro de honra
Usuário desde: 04/10/2006
Localidade: Amadora
Mensagens: 4098
 Re: Crónicas de Monoamor.
Seria muito bom que se vendesse um chá de desamor, que pudessemos abandonar o que tantas vezes sentimos à beira de uma estrada qualquer, e seguir em frente, a alta velocidade, sem olhar para trás.
Um texto excelente!

Beijo

Enviado por Tópico
Angela
Publicado: 12/09/2007 14:26  Atualizado: 12/09/2007 14:26
Colaborador
Usuário desde: 28/09/2006
Localidade: Caldas da Rainha
Mensagens: 567
 Re: Crónicas de Monoamor.
Adorei o teu texto! Em primeiro lugar, porque está muito bem escrito, porque consegue transmitir com intensidade os sentimentos. Em segundo lugar, porque fala de amor, amor/desamor, paixão amputada... Enfim, temas que tocam o coração!

Um beijinho grande.